Globo 139 a arte de ver (M)


Das coisas visíveis e invisíveis


Certa vez perguntaram ao escultor Michelangelo como fazia para criar obras tćo
magníficas.
“É muito simples", respondeu Michelangelo. “Quando olho um bloco de mármore,
vejo a escultura dentro. Tudo que tenho que fazer é retirar as aparas".
No fundo, a vida é a arte de ver além das aparÄ™ncias. A obra de arte de nossa
existÄ™ncia está, muitas vezes, coberta por anos de medos, culpas, indecisões.
Mas se nós decidirmos tirar estas aparas, se nćo duvidamos de nossa capacidade,
seremos capazes de levar adiante a missćo que nos foi destinada. A seguir,
algumas histórias sobre a arte de enxergar melhor o que está acontecendo:

Acreditando sem ver

Um imperador disse ao rabino Yeoschoua ben Hanania:
- Eu gostaria muito de ver o vosso Deus.
- É impossível - respondeu o rabino.
- Impossível? Entćo, como posso confiar minha vida a Alguém que nćo posso ver?
- Mostre-me o bolso onde tem guardado o amor por sua mulher. E deixa-me
pesa-lo, para ver se é grande.
- Nćo seja tolo; ninguém pode guardar o amor num bolso.
- O sol é apenas uma das obras que o Senhor colocou no universo e - no entanto
- vocÄ™ nćo pode olha-lo diretamente. Tampouco pode ver o amor, mas sabe que é
capaz de apaixonar-se por uma mulher ,e confiar sua vida a ela. Nćo lhe parece
evidente que existem certas coisas em que confiamos sem ver?

O rosto oculto
Nasrudin foi até a casa de um homem rico, pedir dinheiro para obras de
caridade.
Um pajem veio abrir o portćo.
- Anuncie que o mullah Nasrudin esta aqui, e precisa de dinheiro para ajudar os
outros - disse o sábio.
O pajem entrou, e voltou minutos depois.
- Meu senhor nćo está em casa.
- Entćo, permita-lhe que eu lhe deixe um conselho, mesmo que ele nćo tenha
contribuído para as obras de caridade. Da próxima vez em que nćo estiver em
casa, peça-o para nćo deixar o seu rosto da janela - senćo as pessoas podem
achar que ele está mentindo.



Vendo a si mesmo

- Quando olhar os seus companheiros, procure enxergar a si mesmo - disse o
mestre japonęs Okakura Kakuso.
- Mas isto nćo é uma atitude egoísta? - questionou um discípulo. - Se ficarmos
preocupados conosco, jamais veremos o que os outros tem de bom para oferecer.
- Oxalá sempre conseguíssemos ver as coisas boas que estćo Ä… nossa volta

contestou Kakuso.
Mas na verdade, quando olhamos o próximo, estamos apenas
procurando defeitos. Tentamos descobrir sua maldade, porque desejamos que seja
pior que nós. Nunca o perdoamos quando nos ferem, porque achamos que jamais
seríamos perdoados por ele. Conseguimos feri-lo com palavras duras, afirmando
que dizemos a verdade
quando estamos apenas tentando ocultá-la de a nós
mesmos. Fingimos que somos importantes, para que ninguém possa ver nossa
fragilidade.
“Por isso, sempre que estiver julgando o seu irmćo, tenha consciÄ™ncia de que é
vocÄ™ quem está no tribunal."


Contemplando o perigo

O discípulo disse ao mestre:
- Tenho passado grande parte do meu dia vendo coisas que nćo devia ver,
desejando coisas que nćo devia desejar, fazendo planos que nćo devia fazer.
O mestre convidou o discípulo para um passeio.No caminho, apontou uma planta e
perguntou se o discípulo sabia o que era.
- Beladona. Pode matar quem comer suas folhas.
- Mas nćo pode matar quem apenas a contempla.Da mesma maneira, os desejos
negativos nćo podem causar nenhum mal
se vocę nćo se deixar seduzir por
eles.


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