Certa vez perguntaram ao escultor Michelangelo como fazia para criar obras tćo magníficas. “É muito simples", respondeu Michelangelo. “Quando olho um bloco de mármore, vejo a escultura dentro. Tudo que tenho que fazer é retirar as aparas". No fundo, a vida é a arte de ver além das aparÄ™ncias. A obra de arte de nossa existÄ™ncia está, muitas vezes, coberta por anos de medos, culpas, indecisões. Mas se nós decidirmos tirar estas aparas, se nćo duvidamos de nossa capacidade, seremos capazes de levar adiante a missćo que nos foi destinada. A seguir, algumas histórias sobre a arte de enxergar melhor o que está acontecendo:
Acreditando sem ver
Um imperador disse ao rabino Yeoschoua ben Hanania: - Eu gostaria muito de ver o vosso Deus. - É impossível - respondeu o rabino. - Impossível? Entćo, como posso confiar minha vida a Alguém que nćo posso ver? - Mostre-me o bolso onde tem guardado o amor por sua mulher. E deixa-me pesa-lo, para ver se é grande. - Nćo seja tolo; ninguém pode guardar o amor num bolso. - O sol é apenas uma das obras que o Senhor colocou no universo e - no entanto - vocÄ™ nćo pode olha-lo diretamente. Tampouco pode ver o amor, mas sabe que é capaz de apaixonar-se por uma mulher ,e confiar sua vida a ela. Nćo lhe parece evidente que existem certas coisas em que confiamos sem ver?
O rosto oculto Nasrudin foi até a casa de um homem rico, pedir dinheiro para obras de caridade. Um pajem veio abrir o portćo. - Anuncie que o mullah Nasrudin esta aqui, e precisa de dinheiro para ajudar os outros - disse o sábio. O pajem entrou, e voltou minutos depois. - Meu senhor nćo está em casa. - Entćo, permita-lhe que eu lhe deixe um conselho, mesmo que ele nćo tenha contribuído para as obras de caridade. Da próxima vez em que nćo estiver em casa, peça-o para nćo deixar o seu rosto da janela - senćo as pessoas podem achar que ele está mentindo.
Vendo a si mesmo
- Quando olhar os seus companheiros, procure enxergar a si mesmo - disse o mestre japonÄ™s Okakura Kakuso. - Mas isto nćo é uma atitude egoísta? - questionou um discípulo. - Se ficarmos preocupados conosco, jamais veremos o que os outros tem de bom para oferecer. - Oxalá sempre conseguíssemos ver as coisas boas que estćo Ä… nossa volta
contestou Kakuso. Mas na verdade, quando olhamos o próximo, estamos apenas procurando defeitos. Tentamos descobrir sua maldade, porque desejamos que seja pior que nós. Nunca o perdoamos quando nos ferem, porque achamos que jamais seríamos perdoados por ele. Conseguimos feri-lo com palavras duras, afirmando que dizemos a verdade quando estamos apenas tentando ocultá-la de a nós mesmos. Fingimos que somos importantes, para que ninguém possa ver nossa fragilidade. “Por isso, sempre que estiver julgando o seu irmćo, tenha consciÄ™ncia de que é vocÄ™ quem está no tribunal."
Contemplando o perigo
O discípulo disse ao mestre: - Tenho passado grande parte do meu dia vendo coisas que nćo devia ver, desejando coisas que nćo devia desejar, fazendo planos que nćo devia fazer. O mestre convidou o discípulo para um passeio.No caminho, apontou uma planta e perguntou se o discípulo sabia o que era. - Beladona. Pode matar quem comer suas folhas. - Mas nćo pode matar quem apenas a contempla.Da mesma maneira, os desejos negativos nćo podem causar nenhum mal se vocÄ™ nćo se deixar seduzir por eles.