ETIMOLOGIA
[Do gr. etymología, pelo lat. etymologia.]
S. f. E. Ling.
1. O estudo das palavras, de sua história, e das possíveis mudanças de seu significado.
2. Origem e evolução histórica de um vocábulo.
O termo é isopsefisma. Li na obra Concepções sobre a escrita na Roma antiga, de Françoise Desbordes (São Paulo: Ática, 1995, p. 70-1). A referência é extraída de um certo Dornseiff, F., Das Alphabet in Mystik und Magie, de 1922. Segundo Desbordes, “o isopsefisma é uma especulação na qual se dá a cada letra de uma palavra ou de um verso um valor numérico, em princípio aquele que ela tem no sistema grego onde as letras do alfabeto servem também para representar número; considera-se que as palavras ou os versos que dão o mesmo total entretêm correspondências mais ou menos misteriosas. Esse tipo de especulação, relativamente natural para os gregos, era muito menos para os latinos que tinham um sistema diferente de enumeração: assim, Suetônio (Vida de Nero, 39), citando um epigrama grego antineroniano, não se deu conta, talvez, de que ele continha um isopsefisma (o “total” do nome Nero seria igual ao de uma frase significando “ele matou sua própria mãe”).”
Como você vê, o isopsefisma é algo semelhante ao que hoje em dia se chama numerologia. Também não encontrei o vocábulo em nenhum dicionário. A referência, entretanto, é consistente.
O livro de Desbordes integra uma coleção muito interessante, de nome Múltiplas escritas, dirigida pela Emília Ferreiro e publicada, no Brasil, pela Ática.
A propósito, interessante o fato de que o sistema grego de numeração se valia dos mesmos caracteres que representavam as letras. Isso explica que a palavra grama signifique, em grego, letra e, por extensão, escrita (daí, como você sabe, a gramática), e em português se use também como unidade de medida de massa (um grama, cinqüenta gramas, etc.).
Já reparou na inscrição I.N.R.I. que os romanos colocaram na cruz de Jesus Cristo? A inscrição significa Iesvs Nazarenvs Rex Ivdaeorvm (pronunciado iésus nazarenus reks iudeórum - Jesus Nazareno Rei dos Judeus). Iesvs, Ivdaeovrvm? Pois é. A maioria de nossas 23 letras tem milhares de anos, mas o J e o U não. Mal completaram cinco séculos. O J é a última letra incorporada ao abecedário e à língua escrita.
O filósofo e matemático francês Pierre de la Rameé - 1515-1572 - (que também era conhecido como Petrus Ramus - Pedro Ramo, em português) em 1549 introduziu a letra u e o j no alfabeto. Ao publicar seu tratado Críticas à dialética aristotélica em 1543, Petrus foi duramente atacado e proibido, por um edito real, de publicar novas obras. Ao converter-se ao protestantismo, teve que abandonar a França. De regresso a Paris (1571), morreu assassinado no massacre da noite de são Bartolomeu.) os introduziu no alfabeto latino e conseqüentemente em todas as línguas neolatinas em 1549. Até então usava-se I no lugar do J e V no lugar do U. O jota foi construiu fundindo-se o i com a letra grega iota (ι). Assim a letra jota tem pingo porque o i possui. Esta letra, inclusive, é conhecida como “letra ramista” em homenagem a Ramus.
E daí? Os pragmáticos podem perguntar. Que me interessa saber tudo isso sobre o jota? Que possível utilidade prática teria uma informação inócua como essa?
Várias utilidades. Por exemplo: O quê determina o uso da palavra São ou Santo? A inicial do nome seguinte. Se iniciar por consoante, usa-se São: São Paulo, São Bento, São Carlos. Se for por vogal, usa-se Santo: Santo Antônio, Santo André, Santo Onofre.
Pergunta (irrespondível para quem nunca ouviu falar de Petrus Ramus): Por que se pode dizer tanto São Jó quanto Santo Jó? Resposta: Porque até 1459 o nome do santo era grafado Ió (e era portanto chamado de São Ió) e a partir de então, passou a ser Jó (Santo Jó). Gostou dessa? Tenho uma melhor, mas fica para a próxima semana:
Acentuação. Na coluna pretérita contei a historinha de Petrus Ramus, que em 1549 introduziu a letra u e o j no alfabeto latino, então muito utilizado (o latim era o inglês da idade média). Pois é, um pouco de erudição é como caldo de galinha, não pesa no estômago (cérebro) e só faz bem. Às vezes até deixa um gostinho bom na boca da gente. Certas coisas são inexplicáveis para quem não possui o conhecimento necessário. Bem, prometi provar que a chamada cultura inútil pode ser muito útil. Eis o “causo:”
A gente nunca sabe de quem são filhos nossos alunos. Numa aula em uma cidade do interior de Santa Catarina um pupilo indagou: “Professor, `Visse' a placa do novo fórum? Escreveram FORUM, sem acento. Não tem acento mesmo?” “Tem sim, meu orgulho. Álbum, cádmium, cécum, factótum, médium, sérum e te-déum têm acento por serem as raras paroxítonas terminadas em -um do português, por que fórum não teria?”
Mal sabia este desinformado professor, um leigaço em questões de alta sociedade, que outro aluno era filho de um juiz, o qual para meu azar despachava do novo “forum”. O indignado pater enviou-me uma missiva cheia de expressões em latim nada elogiosas. Tinha “stultus”, tinha “nescius” e outros amáveis adjetivos dirigidos a minha “ignorância” por não saber que o tal Forum não tinha acento porque estava escrito em latim, e será que eu era tal “stultus” que nem ao menos sabia que não havia acentos em latim?”
Quem me salvou foi o velho Petrus*, inventor extraordinário de letras. Respondi ao nobre e meritíssimo magistrado: “Data venia, devo discordar de sua afirmação de que Forum não leva acento por estar escrito em latim. Leva-o sim, senhor, pois está escrito em português! Estivesse grafado em latim, seria FORVM, ou sois tal “stultus” que nem ao menos sabeis que não havia “u” nem “j” em latim?” Conheceu papudo?
* O “u” é 20ª letra do alfabeto latino, com valores vocálico e consonântico; sempre pronunciada /u/ em latim clássico; pode ser breve ou longa, anotados ù ou ú; o valor consonântico gerou desdobramento fonético que só passou a ser representado tardiamente por v ou V, chamado vê, de emprego sistematizado por Pierre La Ramée, dito em latim Petrus Ramus, filósofo francês (1515-72 ) donde, juntamente com o j ou J que indica desdobramento fonológico paralelo do/ i/ consonântico, ser chamada letra ramista;
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Curiosidades Lingüísticas.
Idéias, fragmentos, curiosidades
Abreviação ou redução: redução de uma palavra até o limite de sua compreensão. A parte suprimida é imprevisível. A palavra derivada é sinônima da derivante, apenas mais coloquial: vestiba, Sampa, granfa, delega, moto, metrô, extra (só sobrou o prefixo);
míni por minissaia, micro por microcomputador, vídeo por vídeocasssete, análise por psicanálise. Neste caso a redução se fez pelos constituintes da composição, enquanto que nos primeiros exemplos ela foi assistemática.
Nos casos de derivação regressiva, a supressão é sempre de uma seqüência fônica tomada como sufixo ou desinência e a palavra resultante não tem o mesmo significado da derivante.
sarampo por sarampão (onde este seria um ataque forte de sarampo); outras boteco < botequim; barraco < barracão; pornô, gel, apê,
Portanto, seriam pneu e cine, cinema derivação regressiva ou redução? Opto por redução.
brechó < Belchior
abobado (parassintética)
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Vamos parar de fazer gênero?!
Às vezes é muito difícil saber o gênero de uma palavra (se usamos “a” ou “o” com ela). As gramáticas e os dicionários não se entendem, a mídia usa o gênero que lhe dá na cabeça e fica o pobre usuário da língua sem uma orientação segura. Nas palavras que se seguem, anteponha o ou a e depois verifique o resultado:
___ musse
___ omelete
___ somatório
___ cólera
___ coma
___ vernissage
___ guaraná
___ cal
___ personagem
___ soja
___ diabete
Musse não consta no VOLP98 (http://www.academia.org.br/ortogra.htm)
São do gênero feminino: grafite, omelete, musse;
São masculinos: o somatório, o champanha (ou champanhe);
Diabete tanto pode ser o / a diabete(s).
Outras coisas difíceis: a pronúncia do “e” em obeso e obsoleto. A pronúncia de nenhuma das duas palavras aparece no VOLP. O AurélioXXI também não dá a pronúncia de obeso, só de obsoleto (é)!! (Onde foram coletar esse “é” aberto? Todos as pessoas cultas que conheço a pronunciam obsolêto.) No AXXI não consta “somatória” enquanto no VOLP ela aparece bela e formosa: somatória (sf). Durma-se com um barulho desses.
Bibliografia
Nossa Gramática: Teoria; Sacconi, Luiz Antonio; Atual, 1990.
Curso de Gramática Aplicada aos Textos; Infante, Ulisses; Scipione, 1996.
Novíssima Gramática da Língua Portuguesa; Cegalla, Domingos Paschoal; Editora Nacional, 1993
Gramática da Língua Portuguesa; Cunha, Celso Ferreira da; Fename, 1982
Dicionário Aurélio Século XXI Eletrônico V. 3.0; Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda; Editora Nova Fronteira / Lexikon Informática, 1999