Introdução:
O gnosticismo chegou a seu ápice cerca de 150 d.C. Portanto, a heresia combatida no NT principalmente nos livros de Colossenses, 1ª Timóteo, e 1ª João era um precursor do gnosticismo pleno. Porém as sementes que brotaram mais tarde nesta heresia perigosa que negava os essenciais da fé cristã já estavam lançadas na época dos Apóstolos Paulo e João.
O gnosticismo era um sincretismo entre:
(1) a filosofia grega (o dualismo platônico);
(2) as religiões orientais;
(3) o monoteísmo judaico;
(4) o cristianismo;
Uma biblioteca gnóstica descoberta em Nag Hammadi no Egito, inclui 52 tratados sobre o gnosticismo, incluindo os chamados "evangelhos valentinianos" - o Evangelho de Tomé, o Evangelho de Filipe, o Evangelho da Verdade - e outros escritos gnósticos cristãos como o Apócrifo de Tiago, os Atos de Pedro e dos Doze Apóstolos, o Tratado da Ressurreição, o Tratado Tripartite, e o Apócrifo de João. Todos mostram esta natureza sincretista do pensamento gnóstico.
Existiam dois ramos do pensamento gnóstico:
1. Iraniano = refletia um dualismo horizontal associado com o culto zoroastriano. A luz e as trevas eram conceituadas como as "divindades primordiais" com as trevas capturando algumas partículas da luz. Para resgatá-las, a luz emanou uma série de divindades subordinadas que batalharam com as subdivindades geradas pelas trevas. "O objetivo da luta é conquistar os seres humanos que contêm as partículas de luz, e efetuar sua libertação da prisão deste mundo, de modo que possam reentrar na esfera da luz celestial".
2. Sírio = surgiu na Síria, Palestina e Egito e refletia um dualismo vertical que admitia somente "um princípio superior bom". O mal entrou quando a Deidade Boa (a Profundeza Ulterior) emanou o processo de nascimentos de deidades em pares. O último par de deidades - Sofia (sabedoria) - não ficou contente, desejando um relacionamento com a Profundeza Ulterior. Esta concupiscência inaceitável da Sofia foi extraída dela e excluída das regiões celestiais (o pleroma = plenitude). Mas com isso a Deidade perdeu parte da sua natureza divina e agora busca a recuperação da luz decaída, a Sofia inferior. Esta Sofia inferior emanou demiurgos (seres inferiores - anjos -, intermediários entre a natureza divina e humana), relacionados com os planetas, e também criou o mundo mediante o "Criador-Demiurgo Javé".
Através de um ardil, o "mensageiro divino" (Cristo) conseguiu que Javé soprasse no homem o fôlego de vida, as partículas de luz divina. Comendo o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, o homem-luz se tornou superior a Javé, descobrindo que ele é um ciumento demiurgo, inimigo da Profundeza Ulterior. Em contra-ataque, Javé sepultou o homem-luz num corpo terrestre de morte e esquecimento. O mensageiro divino, Cristo, "adotou" (no batismo de Jesus) e "deixou" (imediatamente antes da crucificação de Jesus), um corpo semelhante ao homem para poder despertá-lo do seu sono de esquecimento, para iluminá-lo através do conhecimento e assim reuni-lo à Profundeza Ulterior no "pleroma".
Os gnósticos, então, eram as pessoas espirituais (os pneumatikoi) que, através do seu conhecimento, já possuíam as partículas de luz, e precisavam somente ser despertados. Os cristãos eram as pessoas psíquicas (os psychikoi) que precisavam trabalhar para merecer a salvação. Todos os outros eram as pessoas materiais pertencentes a este mundo (os sarkikoi - sarx = carne) que estão destinados à destruição. Ao morrer fisicamente, os gnósticos deixaram à mortalidade, e passando pelo "purgatório" dos planetas, chegaram finalmente ao limite (horos) onde, destituídos de todo mal, receberam as boas-vindas na esfera eterna. [10]
·Definições doutrinárias do gnosticismo:
1. Gnoses = grego para "conhecimento, ciência" (Cl.2.3); "epignosis" = "pleno, completo conhecimento" (Cl.1.9,10; 2.2,10).
2. Gnósticos = pessoas iluminadas que possuíam certos conhecimentos secretos que serviam afinal para unir a alma com Deus. Os gnósticos eram um "clube fechado dos iluminados" na igreja que se orgulhavam de possuir segredos, doutrinas, senhas, etc., escondidos da multidão, por meio dos quais iriam escapar a vigilância dos guardiões demiurgos dos planetas e das estrelas no seu vôo ao céu para se reunir com Deus. O gnosticismo se apegou ao cristianismo como um parasita.
3. Dualismo de Platão = (427-347 a.C.), dividiu tudo em duas partes - o bem e o mal.
Bem = Coisas invisíveis - Deus - Espírito - Idéias;
Mal = Coisas visíveis - Mundo - Corpo - Matéria;
4. Alma = uma "fagulha da divindade" aprisionada no corpo humano.
5. Salvação = a libertação da alma da sua "contaminação corporal", da sua prisão corporal, para ser absorvida por sua Fonte Divina. Efetuada através de um complexo de seres intermediários que eram progressivamente menos divinos chamados "eons" (demiurgos).
6. Cristo = Ao descer de Deus, o Cristo passou pelas potestades e principalidades (os demiurgos dos planetas), entregando alguma parte da "autoridade e divindade dele" a elas, até, quando em fim chegou à terra, ficou sem poder e autoridade. Sua morte comprovou a "inferioridade" e incapacidade em relação aos anjos e demônios, sendo que os demônios fizeram-no sofrer. Em Colossenses, Paulo contra-atacou o gnosticismo com:
a. A plenitude de Cristo (Cl.1.15-19; 2.9,10);
b. O Senhorio cósmico de Cristo (Cl.2.8-15);
c. O verdadeiro conhecimento mostrado pelo amor (Cl.1.9,10; 2.1-4,16-18; 3.12-4.1).
·Resultado:
Houve um grande erro doutrinário em termos de Cristologia e grande erro na prática da vida cristã.
1. Cristologia - dois extremos:
a. Docetismo - Estes negaram a encarnação de Cristo (1Jo.4.1-3; 2Jo 7). Ensinaram que Jesus não tinha um corpo físico; Ele era um fantasma, apenas um "espírito" (Lc.24.37-40). Alegavam que Deus não podia sofrer numa cruz.
b. Cerintianismo (veio de Cerinto) - Estes afirmavam que Jesus era apenas homem e que um espírito chamado Cristo veio sobre Ele no batismo e o deixou antes de sua morte na cruz (Cl.1.15-19; 2.8-10).
2. Prática - dois extremos:
a. Ascetismo - suprimir, negar, mortificar os desejos da carne porque o corpo é mau (1Tm.4.1-5).
b. Antinomismo - libertinagem, sensualismo, entregar-se a qualquer e a toda paixão sem restrição, pois as coisas que o corpo faz não podem afetar a alma que é intrinsecamente boa. A matéria é irreal e inconseqüente (2Tm.3.1-9).
O gnosticismo era um dualismo filosófico religioso que professava a salvação através de conhecimento secreto, ou gnoses. O movimento alcançou o ápice de seu desenvolvimento durante o século II d.C. nas escolas romanas e alexandrinas fundadas por Valêncio. Estudiosos têm atribuído as origens do gnosticismo a várias fontes: os cultos de mistério gregos; Zoroastrismo; a Cabala do Judaísmo; a religião egípcia. Os cristãos cedo consideraram Simão Mago (At.8.9-24) o fundador do gnosticismo. A doutrina dele, assim, como de outros mestres gnósticos, não tinha nada em comum com o conhecimento dos mistérios de Deus que Paulo chamou de "sabedoria" (1Co.2.7).
Líderes cristãos olharam o gnosticismo como uma ameaça sutil, perigoso para a cristandade durante o segundo século, um tempo marcado por aspirações religiosas e preocupações filosóficas sobre as origens da vida, a fonte de mal no mundo, e a natureza de uma deidade transcendente. O gnosticismo foi percebido como uma tentativa de transformar o cristianismo em uma filosofia religiosa e substituir a fé nos mistérios da revelação por explicações filosóficas.
As seitas gnósticas dividiram seus ensinos em sistemas complexos de pensamento. Uma característica da posição deles era a doutrina de que toda a realidade material é má. Uma das convicções centrais era que a salvação é alcançada pela libertação do espírito do seu encarceramento físico. Explicações elaboradas eram dadas sobre como este encarceramento veio a acontecer e como a libertação da alma seria realizada. O Deus transcendente foi removido de tudo que era material por uma sucessão de seres eternos intermediários chamados de "aeons". Os aeons emanavam como pares (macho e fêmea); a série completa (normalmente 30) constituía o "Pleroma", a abundância da Divindade. Além do Pleroma, havia o universo material e os seres humanos a serem salvos.
No pensamento gnóstico, uma semente divina havia sido encarcerada em cada pessoa. O propósito da salvação era libertar esta semente divina da matéria na qual estava aprisionada e perdida. Os gnósticos classificavam as pessoas em três categorias:
(1) Gnósticos, ou aqueles cuja salvação era certa, porque estavam debaixo da influência do espírito (pneumatikoi);
(2) Aqueles que não eram completamente gnósticos, mas capazes de obter a salvação através do conhecimento (psychikoi);
(3) aqueles tão dominados pela matéria que estavam além da possibilidade ordinária de salvação (hylikoi).
Os gnósticos frequentemente praticavam um ascetismo excessivo, porque eles acreditavam que haviam sido liberados assim pelo espírito.
O gnosticismo foi denunciado pelos teólogos Irineu, Hipólito e Tertuliano. No terceiro século, Clemente de Alexandria tentou formular um gnosticismo Cristão ortodoxo, com o objetivo de explicar a diferença em perfeição alcançada por indivíduos em suas respostas ao Evangelho. Gradualmente o gnosticismo fundiu-se com o Maniqueísmo. Hoje, os Mandeanos são a única seita sobrevivente de gnósticos. A pesquisa dos estudiosos do gnosticismo foi grandemente enriquecida desde 1945, quando uma biblioteca cóptica de gnósticos foi descoberta perto de Nag Hammadi, no Egito superior.