As aulas semanais de português do professor Sérgio Nogueira Duarte viraram livro. Os
segredos da língua, que Sérgio ensina aos leitores de sua coluna no Jornal do Brasil, fo-
ram reunidos no livro Língua viva – uma análise simples e bem-humorada da linguagem
do brasileiro. A leveza das aulas de Sérgio ganha no livro o reforço do traço irreverente de
Jaguar, que ilustra a capa e cada uma das histórias.
Sérgio Nogueira inicia cada coluna com O caso, uma história verdadeira e engraçada, que
dá origem à explicação de uma determinada regra. Depois vêm A dica, A dúvida, Mea cul-
pa – que aponta erros cometidos nas edições do JB – e O desafio, cuja resposta aparece
logo após, de cabeça para baixo.
A humildade de reconhecer as falhas do próprio jornal deixa o professor à vontade para
mostrar os erros dos outros: denuncia a prova de vestibular que usou duas vezes ascen-
são com ç, desconfia da eficácia da placa de trânsito que suprime a crase de “Obedeça à
sinalização” e entrega as pérolas das transmissões esportivas, em que os locutores insis-
tem em “elos de ligação”, “correr atrás do prejuízo” e “reverter o resultado”. Sérgio No-
gueira esclarece ainda questões clássicas como o uso do verbo haver e a diferença entre
palavras como mesmo e igual, eventual e possível.
Sérgio Nogueira pretende contribuir para mostrar às pessoas o valor de falar e escrever
bem. Acusado de informal pelos puristas e de ortodoxo pelos liberais, ele tem a prova de
que está no caminho certo: a maioria absoluta das mais de cem cartas, fax e e-mails que
recebe por semana contém mensagens de apoio misturadas às dúvidas e contribuições.
Dicas de Português do Professor Sérgio Nogueira
Por Fascículo > 1. Vocabulário
A - FALSOS SINÔNIMOS
B - CARGAS CONOTATIVAS
C - SIMPLICIDADE
D - NEOLOGISMOS e ESTRANGEIRISMOS
E - PALAVRAS PARÔNIMAS
F - PALAVRAS HOMÔNIMAS
G - REDUNDÂNCIAS
A - FALSOS SINÔNIMOS
São palavras que parecem sinônimas, mas verdadeiramente não são.
OS CASOS
1. MESMO e IGUAL
Deu no JB: "Este ano, o Senado tem R$ 12 milhões para assistência médica de servidores e
parlamentares. A Câmara tem a MESMA verba para seus funcionários."
Se a verba for realmente a MESMA, significa que Câmara e Senado vão dividir os R$ 12 mi-
lhões. Na verdade, cada casa teria sua verba de R$ 12 milhões. Portanto, não era a MESMA
verba, e sim uma verba IGUAL (=de MESMO valor).
Com muita freqüência, podemos observar este erro. MESMO e IGUAL não são sinônimos.
MESMO é "um só"; IGUAL é "outro". Se você está com o MESMO problema do ano passado,
significa que o seu problema do ano passado não foi resolvido. Se você está com um problema
IGUAL ao do ano passado, significa que você está com outro problema com as mesmas carac-
terísticas do anterior.
Caso a diferença não tenha ficado clara, sugiro um teste que você poderá fazê-lo ainda hoje
quando voltar para sua casa. Primeiro, coma um pão IGUAL ao de ontem e, depois, se possí-
vel, o MESMO pão de ontem. Aquele que já estiver duro é o "mesmo".
Observe um exemplo perfeito: "Fittipaldi explica que pilotos muito mais experientes do que ele
viveram uma situação IGUAL na MESMA corrida e bateram." A situação foi IGUAL, pois fo-
ram várias batidas de muitos pilotos, mas tudo aconteceu em uma única corrida (=na MESMA
corrida).
Se ainda resta alguma dúvida, a minha última esperança fica depositada no casal de velhinhos
que foi visitar uma exposição de animais. Ao ver o touro campeão, o velhinho perguntou ao
proprietário o valor do animal.
Ficou espantado com o valor altíssimo e quis saber por quê. O dono do animal lhe respondeu:
"Num mês ele é capaz de cobrir 30 vacas". Aí, quem ficou espantada foi a velhinha, que ex-
clamou: "Tá vendo, meu velho!?" O velhinho, ofendido, então perguntou: "Mas...é sempre a
MESMA vaca?" "É claro que não", respondeu o proprietário do touro. Então, o velhinho, sen-
tindo-se vingado, devolveu: "Tá vendo, minha velha!?"
2. EVENTUAL, POSSÍVEL, PROVÁVEL e POTENCIAL
Você sabia que EVENTUAL, POSSÍVEL, PROVÁVEL e POTENCIAL não são sinônimos?
Talvez você já tenha lido ou ouvido frases como: "Lula é o EVENTUAL candidato do PT à
presidência da república". Ou "Uma EVENTUAL derrota no próximo domingo deixará o Co-
rinthians em péssima situação".
Com muita freqüência encontramos o adjetivo EVENTUAL fora do seu real significado. E-
VENTUAL significa "esporádico, ocasional, o que ocorre de vez em quando".
Ora, o Lula não é um candidato eventual. Na verdade, ele é o PROVÁVEL candidato do PT.
No segundo exemplo, o autor se referia a uma POSSÍVEL derrota do Corinthians.
Observe outro exemplo: "O eleitor é convidado a expressar sua preocupação com o EVENTU-
AL retorno dos comunistas ao poder." Está errado também. Aqui o autor se referia a um "POS-
SÍVEL ou PROVÁVEL retorno dos comunistas ao poder".
Interessante observarmos também a diferença entre POSSÍVEL e PROVÁVEL.
POSSÍVEL é "o que pode acontecer" e PROVÁVEL é "o que deve acontecer".
Analisando a tabela do campeonato brasileiro de 97, há duas ou três rodadas, poderíamos afir-
mar que a classificação do Grêmio entre os oito primeiros era POSSÍVEL, mas pouco PRO-
VÁVEL. E isso se comprovou. Desta vez, eles estão de fora.
Vejamos um exemplo correto: "Os EVENTUAIS problemas econômicos internos não vão im-
pedir que aquele país se associe também ao Mercosul."
(Problemas EVENTUAIS = problemas "esporádicos, que ocorrem de vez em quando").
Agora vejamos mais exemplos errados:
"A crise se tornará maior com a EVENTUAL perda do título." (O certo é a "POSSÍVEL perda
do título").
"O Chicago Bulls é o EVENTUAL campeão desta temporada." (O certo é o "PROVÁVEL
campeão desta temporada").
Observe agora outro tipo de erro: "O grupo Ecotex é um EVENTUAL candidato à compra".
Nesse caso, EVENTUAL está sendo usado no sentido de POTENCIAL (=o que pode vir a ser,
tem poder de vir a ser). O grupo Ecotex é um candidato POTENCIAL (=pode vir a ser candi-
dato), e não um candidato EVENTUAL (=candidato esporádico, ocasional).
Se a diferença não ficou clara, vamos fazer uma comparação. O departamento da empresa onde
você trabalha apresenta problemas EVENTUAIS ou problemas POTENCIAIS. Os problemas
EVENTUAIS são "aqueles que ocorrem de vez em quando", e os problemas POTENCIAIS são
aqueles casos que ainda não são mas podem tornar-se problemas.
Mas se você ainda não percebeu a diferença, vamos a sua última chance. Responda rápido:
"Qual é a diferença entre um amante EVENTUAL e um amante POTENCIAL? Se você sabe a
resposta, não precisa explicar.
AS DÚVIDAS
1. HINDU ou INDIANO?
Quem nasce na Índia é indiano. Hindu é o seguidor do Hinduísmo. Não devemos confundir na-
cionalidade com religião. Confusão semelhante ocorre com JUDEU e ISRAELENSE. Quem
nasce em Israel é israelense. Judeu é relativo ao povo.
2. EM PRINCÍPIO ou A PRINCÍPIO?
EM PRINCÍPIO significa "por princípio, em tese, teoricamente"; A PRINCÍPIO significa "no
começo, inicialmente".
Em "EM PRINCÍPIO éramos contra o projeto", significa que "EM TESE éramos contra o pro-
jeto". Se queríamos dizer que "INICIALMENTE éramos contra o projeto", a frase está errada.
O certo é: "A PRINCÍPIO éramos contra o projeto".
3. AO INVÉS DE ou EM VEZ DE?
AO INVÉS DE significa "ao contrário de" e só devemos usar quando houver idéia "contrária,
oposta": "Entrou à direita AO INVÉS DA esquerda"; "Subiu AO INVÉS DE descer".
EM VEZ DE significa "em lugar de" e podemos usar sempre que houver idéia de "troca, subs-
tituição", mesmo quando a idéia for "oposta".
A frase "O carioca foi ao shopping AO INVÉS DE ir à praia" está errada.
O certo é: "O carioca foi ao shopping EM VEZ DE ir à praia". É importante observar que
"shopping" e "praia" não se opõem.
Se você comprar o carro "preto AO INVÉS DO branco", está certo. No entanto, se você com-
prar o carro "preto AO INVÉS DO vermelho", está errado. Nesse caso, o correto é comprar o
carro "preto EM VEZ DO vermelho, porque a cor preta se opõe ao branco mas não se opõe ao
vermelho. É interessante observar que não há restrições ao uso de EM VEZ DE. Essa forma
pode ser utilizada mesmo quando houver a idéia de "oposição". Portanto, se você quer facilitar
a sua vida, use sempre EM VEZ DE: Você jamais correrá o risco de errar.
4. DE ENCONTRO A ou AO ENCONTRO DE?
Nossos consultores de Qualidade, com muita freqüência, afirmam:
"Qualidade é ir DE ENCONTRO ÀS expectativas do cliente". Essa qualidade eu não quero! O
que nós temos aqui é um verdadeiro choque. Ir DE ENCONTRO A significa "ir CONTRA as
expectativas do cliente". Nesse caso, o certo é: "Qualidade é ir AO ENCONTRO DAS expecta-
tivas do cliente", ou seja, "ir A FAVOR, estar de acordo, atender às expectativas do cliente".
Responda rápido: um bêbado "caminhando", com uma garrafa de cachaça na mão, vai DE EN-
CONTRO AO poste ou vai AO ENCONTRO DO poste?
Se você respondeu "tanto faz", acertou. Mas não esqueça a diferença: se o bêbado vai DE EN-
CONTRO AO poste, temos um choque; se ele vai AO ENCONTRO DO poste, temos um "a-
braço" e uma garrafa de cachaça salva – o que é muito importante.
Resumindo:
DE ENCONTRO A = ir contra;
AO ENCONTRO DE = ir a favor.
5. TODO ou TODO O?
O uso do artigo definido modifica o sentido do pronome TODO:
"Ele faz TODO trabalho." (=QUALQUER trabalho);
"Ele fez TODO O trabalho." (=o trabalho INTEIRO).
A frase "TODO O contribuinte poderá obter esta espécie de nada-consta" está errada. O certo é
"TODO contribuinte poderá obter esta espécie de nada-consta". "TODO O contribuinte" seria
"o contribuinte inteiro". Na verdade, só pode ser "TODO contribuinte", que significa "qualquer
contribuinte".
Observe a diferença:
"Com o temporal de ontem à noite, TODA cidade ficou inundada." Isso significa "qualquer ci-
dade". O autor, na verdade, queria dizer: "Com o temporal de ontem à noite, TODA A cidade
ficou inundada" (="TODA A cidade" significa "a cidade inteira).
Para você entender melhor, observe outro exemplo:
"Ele é capaz de realizar TODA obra" (=qualquer obra);
"Ele é capaz de realizar TODA A obra" (=a obra inteira).
Portanto, se você conhece alguém que tem o hábito de "beijar TODO colega de trabalho", é
bom alertá-lo: pode ser perigoso "beijar TODO O colega de trabalho".
6. INÚMEROS ou NUMEROSOS?
INÚMEROS não é sinônimo de MUITOS ou NUMEROSOS. INÚMEROS significa "incontá-
veis". Ao ouvir "Romário já fez INÚMEROS gols com a camisa do Flamengo", fico pensando:
será que o Romário fez tantos gols que é impossível contá-los? Com certeza, não. Deve ser um
exagero ou ignorância do repórter. Qualquer emissora de rádio tem seu banco de dados, capaz
de nos dar essa informação com total precisão. O certo, portanto, é: "Romário já fez MUITOS
gols com a camisa do Flamengo."
Creio que a maioria das pessoas usa a palavra INÚMEROS sem saber o seu real significado:
"Fernanda Montenegro já recebeu INÚMEROS prêmios por seu trabalho no teatro, no cinema
e na televisão." Com certeza foram "NUMEROSOS prêmios", mas não inúmeros.
Fico preocupado quando ouço uma adolescente dizer que "já teve INÚMEROS namorados".
Meu Deus! Vá ser "galinha" assim no inferno! Será que foram tantos que já perdeu a conta?
Duvido.
7. CONFISCO ou DESAPROPRIAÇÃO?
A frase "O governo estadual pretende começar no mês que vem o CONFISCO de imóveis para
terminar a linha verde" está errada. Na verdade, haverá "DESAPROPRIAÇÃO de imóveis".
No caso de uma DESAPROPRIAÇÃO existe alguma forma de indenização, o que não ocorre
no CONFISCO.
Observe um uso correto da palavra CONFISCO: "Raoul Wallengerg salvou judeus, mas seu
Banco, na Suíça, guardou riquezas CONFISCADAS."
8. ANAL ou RETAL?
"Para se examinar a próstata, é necessário fazer o toque ANAL ou RETAL?
ANAL é relativo ao ânus; RETAL é relativo ao reto (intestino).
Alguns médicos afirmam que "toque anal" não está errado; a maioria, entretanto, diz que o
termo correto é "toque RETAL", pois o "tal toque" é feito no reto.
9. FRONTEIRA, DIVISA ou LIMITE?
A frase "Os carros eram levados para Foz de Iguaçu, na DIVISA com o Paraguai" está errada.
O certo é: “Os carros eram levados para Foz de Iguaçu, na FRONTEIRA com o Paraguai”.
Entre países, nós temos FRONTEIRAS; as DIVISAS ficam entre os estados.
Por exemplo: "Estamos na DIVISA de São Paulo com o Paraná." Entre o Brasil e o Paraguai,
existe uma FRONTEIRA.
Costumamos ouvir: "Estamos falando diretamente da DIVISA do Rio de Janeiro com São João
de Meriti." É impossível! Não há DIVISA entre a cidade do Rio de Janeiro e São João de Meri-
ti. Entre municípios, há LIMITES. A cidade do Rio de Janeiro faz LIMITE com São João de
Meriti e o estado do Rio de janeiro faz DIVISA com Minas Gerais.
10. PENALIZADO ou PUNIDO?
Deu no JB: "É longa a lista de atletas PENALIZADOS pelo Tribunal Esportivo da Federação
de Futebol do Rio de Janeiro."
Na verdade, "É longa a lista de atletas PUNIDOS..."
PENALIZADO não é sinônimo de PUNIDO. Embora alguns professores defendam o verbo
PENALIZAR no sentido de "punir", prefiro o sentido original:
PENALIZADO fica quem tem "pena, dó, compaixão"; PENALIZAR é "causar pena ou des-
gosto". Observe o exemplo: "A deputada ficou PENALIZADA ao ver tanta miséria." No caso
de: "A lei do Colarinho Branco PENALIZA com reclusão", prefiro "...PUNE com reclusão".
B - CARGAS CONOTATIVAS
OS CASOS
1. A corrupção ENDÊMICA
Na semana que antecedeu a visita do presidente americano ao Brasil, em outubro de 1997, cau-
sou polêmica o uso da palavra ENDÊMICA num documento enviado a empresários america-
nos pelo Departamento de Comércio dos Estados Unidos.
A embaixada americana reconheceu que a frase era inexata, desculpou-se e retirou o adjetivo
da tal frase: "A corrupção é ENDÊMICA na cultura brasileira". Segundo James Robin, porta-
voz do Departamento de Estado americano, a intenção era usar a palavra widespread
(=difundido, comum), sem implicar ofensa alguma.
Aqui está o problema. Não tinha a intenção, mas ofendeu. Existem palavras que possuem car-
gas negativas, ofensivas ou pejorativas. Observe como o verbo MORRER tem um peso maior
que FALECER. Isso não significa que "quem faleça morra menos". É uma questão de carga,
talvez de fundo psicológico ou social. Compare LÁBIO e BEIÇO. BEIÇO é pejorativo e pre-
conceituoso. É usado para ofender e discriminar. É interessante lembrar também o episódio do
"paraíba" do Edmundo (desculpe a ambigüidade).
Devemos ter cuidado com as palavras. Elas possuem "alma".
E a nossa corrupção é ou não ENDÊMICA?
O Brasil reagiu. O nosso presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães, aplaudido até pelos
partidos de oposição, disse que os americanos não têm moral para falar em corrupção. Se eles
têm corrupção, não podem falar da nossa. A nossa corrupção não pode ser ofendida assim, com
uma palavra tão "baixa".
É preciso defendê-la: "a corrupção é nossa e ninguém tasca". Ninguém pode ofender assim um
"orgulho nacional". Eles estão pensando o quê? Que a nossa corrupção é "doente"? Que um di-
a, talvez, ela possa ser erradicada? Não é não! A nossa corrupção é muito "sadia".
Lamentável. Reagimos e exigimos que retirassem o adjetivo, mas o substantivo ficou. Feliz o
dia em que lutaremos contra o substantivo.
Sem ele, não haverá adjetivos e talvez sobre alguma verba para investirmos na educação, na
formação dos professores, na luta contra a miséria cultural.
Em tempo: é interessante lembrar que as ENDEMIAS são doenças de caráter regional, com
causa local, e duradouras.
2. O verbo DETONAR
O verbo DETONAR é, sem dúvida, o campeão. Se fôssemos escolher o maior vício da lingua-
gem jornalística de 1997, o DETONAR já estaria eleito. Eu não estou me referindo ao enorme
número de bombas que, infelizmente, foram detonadas durante este ano. Na verdade, estou a-
ludindo ao mau uso do verbo DETONAR, nos mais variados sentidos. Hoje "detonam" qual-
quer coisa. Eu diria que é o modismo lingüístico do ano, tendo superado até o "famoso" A NÍ-
VEL DE. Durante 1997, tivemos a oportunidade de ler e ouvir "coisas" do tipo:
"Foi a avó que DETONOU nela a verdadeira paixão pela música."
"A estratégia foi suficiente para DETONAR uma intensa propaganda boca a boca."
"O Presidente DETONA o que pode ser um difícil processo de confirmação."
"É o mesmo fator que DETONOU a crise do México em 94."
É interessante observar que o verbo DETONAR ganhou várias acepções:
começar, iniciar, gerar, expandir, crescer, desenvolver...
Isso tudo sem falar na mania de usar o DETONAR como sinônimo de DIZER ou AFIRMAR.
Além da pobreza de estilo (toda metáfora exageradamente repetida perde a expressividade e a
graça), devemos observar as ambigüidades. No exemplo "Foi a avó que DETONOU nela a
verdadeira paixão pela música", o autor queria referir-se ao fato de ter sido "a avó quem DES-
PERTOU nela a verdadeira paixão pela música". Porém, um desavisado poderia imaginar que
"a avó teria DESTRUÍDO a paixão pela música". Fenômeno semelhante ocorre em "É o mes-
mo fator que DETONOU a crise do México em 94". Aqui, o autor se referia "ao fator GERA-
DOR ou ao fator que INICIOU a crise do México em 94". Mais uma vez, o nosso leitor desavi-
sado poderia dar outra interpretação: para ele, é "o fator que ACABOU com a crise do México
em 94".
Sugiro, portanto, que o verbo DETONAR seja detonado, no verdadeiro sentido da palavra. E
aqui, surge um novo problema:
"Terroristas EXPLODEM bomba em hotel lotado de turistas."
É impossível que terroristas tenham "explodido" uma bomba. É a bomba que explode. O verbo
EXPLODIR é intransitivo (=ninguém explode nada, é a coisa que explode). Na verdade, "os
terroristas DETONARAM uma bomba".
Esse é o uso correto do verbo DETONAR.
Agora, uma sugestão: não devemos substituir "detonar crise" por "explodir crise". O problema
é o mesmo.
Cuidado com as metáforas!
Com o desejo de não repetir o verbo DIZER, é freqüente vê-lo substituído não só por DETO-
NAR e EXPLODIR como também por "disparou, fulano", "alfinetou, beltrano", "dinamitou,
sicrano"...
Essa "criatividade" excessiva pode nos levar a "coisas" ridículas, como: "Foram tantos suces-
sos que CATAPULTARAM o grupo para a fila do gargarejo da MPB." Se você não entendeu a
"metáfora", a "tradução" é a seguinte: "o tal grupo estava, na parada de sucessos, em 10º lugar;
entretanto os últimos sucessos foram tantos que o grupo foi para o 1º lugar".
Haja criatividade!
Assim não dá!
Se DETONAR já é difícil de aturar, imagine CATAPULTAR.
C - SIMPLICIDADE
OS CASOS
1. A EMULAÇÃO
Está escrito no nosso novo Código de Trânsito:
Art. 173. Disputar corrida por espírito de EMULAÇÃO.
Infração - gravíssima.
Penalidade – multa (três vezes), suspensão do direito de dirigir e apreensão do veículo.
Medida administrativa - recolhimento do documento de habilitação e remoção do veículo.
Se você não conhece a palavra EMULAÇÃO, não se preocupe que eu vou explicar: EMULA-
ÇÃO é o "ato de emular". Pronto, agora que você já sabe o que é EMULAÇÃO, vamos ao que
interessa. Você já deve ter entendido: se você nunca emulou, não é agora que você vai emular.
Você leu com toda a "clareza": se disputar corrida por espírito de EMULAÇÃO, você vai ficar
sem a carteira de motorista e sem o carro. Portanto, não emule. Está escrito: emular é uma in-
fração gravíssima.
Se você imaginava que EMULAÇÃO é "dirigir como uma mula", quase que acertou. Há quem
tenha buscado a origem da palavra: o prefixo e(x) de emigrar, emergir, emanar, exalar, expor-
tar, externar... significa "movimento para fora". Por esse raciocínio, poderíamos imaginar que
emular fosse "colocar para fora o espírito de mula que existe dentro de você".
Se você está pensando que eu estou brincando, tenho algo a lhe dizer: você tem toda a razão.
Por outro lado, quem escreveu EMULAÇÃO não estava brincando. É lógico que a intenção do
autor é a de que todos entendam o seu texto. Para isso, selecionou palavras bem "simples, aces-
síveis a qualquer leitor".
Tudo isso me fez lembrar uma história que um velho amigo advogado me contou há muitos
anos. Ele telefonou para um cliente e avisou: "Teremos que PROCRASTINAR a assinatura do
contrato". O cliente lhe respondeu: "Tudo bem, o senhor é quem sabe." Então, o advogado lhe
perguntou: "Então adiamos para quando?" O cliente contestou imediatamente: “Por favor, A-
DIAR não pode”.
Para que ninguém imagine que eu seja contra o enriquecimento vocabular, quero deixar bem
clara a minha idéia: o que eu defendo como simplicidade tem por base o conceito de adequação
vocabular, ou seja, o vocabulário de um texto deve ser adequado a quem ele se destina. Não
devemos confundir simplicidade com vulgaridade ou pobreza vocabular:
simplicidade é "se você pode ADIAR, para que PROCRASTINAR?"
Em tempo: segundo nossos dicionários, EMULAÇÃO é "sentimento que incita a imitar ou a
exceder a outrem em merecimento; estímulo; rivalidade." E EMULAR é "ter emulação, com-
petir, emparelhar, rivalizar, disputar...".
Portanto, que fique bem claro: o artigo 173 do novo Código de Trânsito proíbe o que popular-
mente chamamos de "pegas" ou "rachas".
2. A COISA
Após a derrota para o Botafogo, um dirigente do Fluminense afirmou:
"Agora a COISA ficou preta". Como tricolor por parte de filho, lamento que o tal dirigente só
tenha percebido "agora". O mais intrigante, porém, é o uso da palavra COISA. Que COISA
maravilhosa! COISA é uma palavra sensacional: substitui qualquer COISA e não diz COISA
alguma. É a palavra de sentido mais amplo que conheço. Faltou sinônimo, lá vai a COISA. É
como o "trem" para os mineiros. Aqui, nós pegamos as COISAS e esperamos o trem; lá, eles
pegam os "trem" e esperam a COISA. COISA é uma palavra tão versátil que já virou até verbo:
"Eles estão COISANDO".
Lá sabe Deus o que eles estão fazendo! COISA é um substantivo, mas é capaz de ser usado no
grau superlativo absoluto sintético, como se fosse adjetivo: "Não fiz COISÍSSIMA nenhuma".
Por tudo isso, é inadequado o uso da palavra COISA em textos mais cuidados e formais.
Essa análise me fez lembrar a história de um fiscal da carteira hipotecária de um grande Banco
no interior do Paraná. Certo fazendeiro fez um empréstimo no Banco, hipotecou a fazenda e,
um mês depois, morreu. O Banco, preocupado, mandou o nosso fiscal à tal fazenda. Lá che-
gando, ficou feliz ai ver que tudo corria bem. A viúva trabalhava duro, o dinheiro investido já
trazia lucros para a fazenda e o pagamento da hipoteca estava garantido. Ao retornar à sua ci-
dade, o fiscal não teve dúvida e escreveu no relatório que enviou ao seu chefe: "O fazendeiro
morreu, mas o Banco pode ficar tranqüilo porque a viúva mantém a COISA em pleno funcio-
namento". Lá sabe Deus que COISA é essa!?
D – NEOLOGISMOS e ESTRANGEIRISMOS
O CASO
Em outubro de 1997, tivemos em Brasília o Seminário AGRONEGÓCIO de Exportação. O I-
tamaraty, patrocinador do evento, exigiu o uso de AGRONEGÓCIO em vez de AGROBUSI-
NESS, que era o termo preferido pelos empresários do setor.
Ponto para o Itamaraty.
Sem querer ser purista, devemos defender a Língua Portuguesa. O uso desenfreado dos chama-
dos "estrangeirismos", aportuguesados ou não, muitas vezes me parece modismo. Não vejo ne-
cessidade alguma de usarmos o infeliz do startar ou mesmo estartar. Por que não INICIAR,
COMEÇAR ou PRINCIPIAR? Num seminário recente, ouvi do palestrante, após o coffee bre-
ak: "Vamos reestartar."Se não bastasse estartar, agora querem reestartar. É demais!
Outra desgraça é o paper. Além de mal traduzido, ainda está sendo usado num sentido muito
amplo. Tudo virou paper. Quando me pedem um paper, não sei se é um relatório, um fax, uma
carta ou uma proposta. Só falta o paper higiênico.
Também sugiro a substituição de uma péssima performance por um melhor DESEMPENHO
sexual.
É lógico que existem alguns estrangeirismos inevitáveis. SOFTWARE e MARKETING, por
exemplo, são palavras consagradas entre nós. Já tentamos traduzi-las e depois aportuguesá-las.
Luta em vão. São palavras que todos nós usamos e até podemos, hoje, escrevê-las sem aspas
(aqui, no JB, nós costumamos usar os estrangeirismos em itálico, porém os mais consagrados
já dispensam o grifo).
Algumas palavras suscitam polêmica, como é o caso de DELETAR e ACESSAR.
São palavras facilmente aportuguesadas e que, no meu modo de ver, são restritas à área de in-
formática. Imagine uma manchete no JB: "Policial deleta marginal". Seria ridículo! Você diz
que o Presidente teve acesso à tribuna de honra, mas jamais diria que ele "acessou" a tribuna de
honra (o verbo ACESSAR não tem esse sentido genérico de "ter acesso").
Há estrangeirismos cujas traduções são questionáveis ou "não pegam".
KNOW HOW e IMPEACHMENT são exemplos disso. KNOW HOW seria "conhecimento ou
tecnologia", mas eu tenho a certeza de que "quem vende KNOW HOW cobra
mais caro". No caso do IMPEACHMENT ocorre algo curioso. Na Constituição Brasileira, a
palavra é IMPEDIMENTO. Quando se começou a falar sobre o IMPEACHMENT do Collor,
nós bem que tentamos usar o IMPEDIMENTO. Mas não deu. Na época, eu tive a sensação de
que IMPEDIMENTO era pouco, o que se queria era IMPEACHMENT. Parece brincadeira,
mas não é. Há palavras estrangeiras cujas traduções não têm o "mesmo peso". O mesmo IM-
PEDIMENTO que substitui maravilhosamente bem o velho off side no futebol é "fraco" para
substituir o IMPEACHMENT. Alguns alunos detestam quando eu afirmo que há palavras que
"não pegam". Ora, pior é vivermos num país onde existem leis que "não pegam".
Outro problema difícil é o aportuguesamento. Há casos consagrados como FUTEBOL, ABA-
JUR, ESPAGUETE, GRIFE e outros mais. Entretanto, há os problemáticos: XAMPU ou
SHAMPOO? A forma XAMPU já é bastante usada quando nos referimos aos xampus em ge-
ral. Porém, nos rótulos dos shampoos, continua a forma estrangeira. Talvez os fabricantes te-
mam que os brasileiros pensem que se trate de algum xampu vagabundo. Outro exemplo é s-
tress. Eu prefiro ESTRESSE, por ser facilmente aportuguesado e, principalmente, para ser coe-
rente com a forma derivada: ESTRESSADO.
Por outro lado, creio que o aportuguesamento de SHOW é do tipo que "não pega", porque fi-
cou preso à Xuxa, a rainha dos baixinhos e a mãe do XOU.
LEIAUTE é outro aportuguesamento que dificilmente será usado. A forma inglesa é mais po-
derosa.
FEEDBACK é um exemplo curioso. O aportuguesamento FIDEBEQUE ficou horroroso e tra-
duzi-la por retroalimentação é perigosíssimo na linguagem falada: alimentação por onde? RE-
ALIMENTAÇÃO ou RETORNO são boas soluções.
Como você pôde observar, é muito difícil criar uma regra. Cada caso merece uma análise indi-
vidual. Entretanto, uma regra podemos seguir:
para qualquer novo estrangeirismo, primeiro devemos buscar uma palavra correspondente em
português. E antes de usarmos a forma estrangeira, ainda devemos tentar o aportuguesamento.
E - PALAVRAS PARÔNIMAS
São palavras parecidas na forma, mas com significados diferentes.
AS DÚVIDAS
1. TRÁFICO ou TRÁFEGO?
Deu no JB: "Controlador de TRÁFICO aéreo adquire repentinamente poderes paranormais."
Perdoe-nos, o tal controlador paranormal é de TRÁFEGO aéreo.
É bom lembrar que TRÁFICO é um comércio ilegal: de drogas, de escravos, de crianças, de
mulheres, de influência...
Em relação a trânsito, a movimento, devemos usar TRÁFEGO. Grandes "engarrafamentos"
ocorrem em cidades, como São Paulo, onde o TRÁFEGO é intenso.
Aqui vai um teste para os cariocas que conhecem bem a Rua São Clemente no bairro de Bota-
fogo. Responda rápido: "São Clemente é uma rua de muito TRÁFEGO ou de muito TRÁFI-
CO?" Se você respondeu "depende", parabéns.
2. DISCRIMINAR ou DESCRIMINAR?
DISCRIMINAR é "segregar, separar, listar". Uma pessoa pode ser discriminada devido à sua
cor, à sua condição social ou cultural, à sua religião... Uma nota fiscal DISCRIMINADA é a-
quela em que os itens estão "listados, separados".
DESCRIMINAR é "inocentar, tirar a culpa de um crime, deixar de ser crime". Muitos advoga-
dos preferem usar o neologismo DESCRIMINALIZAR.
A frase "O debate pode acabar com o preconceito contra a droga e levar à DISCRIMINAÇÃO
do seu uso" está errada. Nesse caso, o correto é "...levar à DESCRIMINAÇÃO (ou DESCRI-
MINALIZAÇÃO) do seu uso". O autor não se referia à possibilidade de o usuário da droga vir
a ser DISCRIMINADO, e sim ao fato de o uso da droga ser DESCRIMINADO
(=DESCRIMINALIZADO), ou seja, "deixar de ser crime".
3. DESAPERCEBIDO ou DESPERCEBIDO?
Ouvimos freqüentemente: "Muitos detalhes passaram DESAPERCEBIDOS". Está errado! O
correto é: "Muitos detalhes passaram DESPERCEBIDOS".
DESAPERCEBIDO não significa, como muitos imaginam, "aquilo que não foi percebido, no-
tado, observado". DESAPERCEBIDO significa "desprovido, quem não se apercebeu de algu-
ma coisa, quem não está ciente, quem não tomou consciência".
É uma questão de lógica. Observe: "quem não é leal é desleal, quem não está preparado está
despreparado, quem não está prevenido está desprevenido"; portanto, "aquilo que não se perce-
beu passou DESPERCEBIDO".
Em "O auditor estava DESAPERCEBIDO", sugiro que não se utilize a palavra DESAPERCE-
BIDO mesmo no sentido correto (=desprovido, que não tomou ciência). O leitor dificilmente
vai entender, é capaz de imaginar que "ninguém percebeu a presença do auditor, que ele não
foi notado". Não esqueça, portanto, a diferença:
DESPERCEBIDOS (=não percebidos) é derivado do verbo PERCEBER (=notar, observar);
DESAPERCEBIDOS (=não apercebidos) é derivado do verbo APERCEBER-SE (=tomar ciên-
cia, prover-se)
O mais importante é você não esquecer que, para aquilo que não se percebeu, o correto é DES-
PERCEBIDO.
4. DESTRATAR ou DISTRATAR?
DESTRATAR significa "tratar mal";
DISTRATAR significa "romper um trato".
Quando um contrato é rompido, o documento que se assina chama-se DISTRATO.
Portanto, a frase "Ela foi DISTRATADA pelo marido na frente dos vizinhos" está errada. O
certo é: "Ela foi DESTRATADA pelo marido na frente dos vizinhos".
5. ACIDENTE ou INCIDENTE?
ACIDENTE é "um desastre, um acontecimento com conseqüências graves";
"INCIDENTE" é "um acontecimento com conseqüências menores, um episódio".
Observe a diferença:
"Cinco pessoas morreram no ACIDENTE. A Via Dutra ficou interrompida durante quatro ho-
ras."
"Perdoe-nos pelo INCIDENTE de ontem. Esse tipo de discussão não mais se repetirá."
F - PALAVRAS HOMÔNIMAS
As palavras homônimas homófonas (=iguais na pronúncia, com diferença na grafia e sentidos
diferentes) merecem atenção.
AS DÚVIDAS
1. SERRAR ou CERRAR?
SERRAR é "cortar"; CERRAR é "fechar".
A frase "Ele SERROU os olhos e adormeceu" é um absurdo. Na verdade, "Ele CERROU os
olhos e adormeceu".
Este caso me faz lembrar o dia em que certo comerciante ordenou a seus empregados: "Hoje,
eu quero todas as portas da loja SERRADAS às 18:00h".
Foi prontamente atendido. No fim da tarde, todas as portas estavam pela metade.
2. CASSAR ou CAÇAR?
CASSAR significa "anular", portanto ninguém pode ser CASSADO.
A frase "O prefeito pode ser CASSADO a qualquer momento" é inadequada.
Deveríamos dizer: "O MANDATO do prefeito pode ser CASSADO a qualquer momento". Na
verdade, o poder de mando do prefeito é CASSADO (=anulado, perde seu valor, fica sem o
poder). Recentemente, li que uma certa companhia de ônibus de Niterói foi CASSADA. Im-
possível! CASSADA foi a licença ou o alvará da tal companhia de ônibus.
Portanto, deputados, vereadores, prefeitos não podem ser CASSADOS, embora alguns mere-
çam ser CAÇADOS.
G - REDUNDÂNCIAS
O CASO
Com muita freqüência, ouvimos na televisão: "O filme é baseado em FATOS REAIS." Eu a-
credito piamente pois, se não fossem REAIS, não seriam FATOS. Para quem não sabe, todo
FATO é REAL. Não existe "fato irreal".
Uma história pode ser real ou não; mas FATO é o "o que aconteceu".
Portanto, FATO REAL, FATO CONCRETO, FATO VERÍDICO e FATO ACONTECIDO são
redundâncias. É um tipo de pleonasmo. Não são tão grosseiros como os tradicionais SUBIR
PARA CIMA, DESCER PARA BAIXO, SAIR PARA FORA e ENTRAR PARA DENTRO.
Outro pleonasmo que ouvimos muito é: "Zagallo vai pôr o Juninho para ser o ELO de LIGA-
ÇÃO entre a defesa e o ataque." Ora, todo ELO é de LIGAÇÃO.
Bastaria dizer: "Zagallo vai pôr o Juninho para ser o ELO entre a defesa e o ataque." Ou "Za-
gallo vai pôr o Juninho para fazer a LIGAÇÃO entre a defesa e o ataque."
Um leitor de Língua Viva enviou um documento da área médica em que se lia: "Pode haver
HEMORRAGIA de SANGUE." Não entendi o temor. Será que pode haver HEMORRAGIA de
urina ou de esperma.!?
Pior é o professor de matemática que pede ao aluno que divida a figura em DUAS METADES
IGUAIS. É a "redundância da redundância"! Metades são sempre duas e, se não fossem iguais,
não seriam metades. Criança é que tem o hábito de pedir: "A metade maior é minha". Na ver-
dade, ela quer o pedaço maior.
Em 1996, fui convidado para um seminário em São Paulo. Eram duas empresas organizadoras:
uma de eventos e outra da área de Qualidade.
Para ser o palestrante, após muita discussão, recebi a seguinte proposta: "Tiramos toda a despe-
sa e dividimos o lucro em TRÊS METADES."
Imediatamente eu respondi: "Em TRÊS METADES eu não aceito." O representante da empre-
sa de Qualidade, amigo meu, ficou surpreso com a minha recusa: "Se você aceitar, vai ganhar
mais dinheiro." Mas eu fiquei firme na minha posição: "Em TRÊS METADES eu não aceito,
pois a minha religião não permite."
É interessante lembrar que a ênfase, para alguns, justifica tantas redundâncias que ouvimos por
aí: CONSENSO GERAL, PLANEJAMENTO ANTECIPADO, EVIDÊNCIA CONCRETA,
PROTAGONISTA PRINCIPAL, EMPRÉSTIMO TEMPORÁRIO, SURPRESAS INESPE-
RADAS e outros mais.
Por Fascículo > 2. Concordância Verbal
1. A MAIORIA DE / A MAIOR PARTE / GRANDE PARTE DE / BOA PARTE
2. COLETIVOS
3. FRAÇÃO
4. INFINITIVO
5. METADE
6. MIL / MILHÃO / NUMERAIS
7. NÃO SÓ...MAS TAMBÉM / NÃO SÓ...COMO TAMBÉM
8. NEM ... NEM
9. OU
10. PERCENTAGEM
11. SE - PARTÍCULA APASSIVADORA
12. SE - PARTÍCULA INDETERMINADORA DO SUJEITO
13. NOMES PRÓPRIOS no PLURAL
14. TUDO / NADA / NINGUÉM
15. UM DOS QUE
16. VOSSA SENHORIA / SUA SENHORIA
17. Verbo CUSTAR
18. Verbos DAR / BATER / SOAR (aplicado a horas)
19. Verbos HAVER e EXISTIR
20. Verbo FAZER
21. Verbo SER
Regra básica: O verbo deve concordar com o sujeito em pessoa e número.
A) SUJEITO COMPOSTO - rigidamente o verbo deve concordar no PLURAL
"As casas de veraneio e os pescadores COMPÕEM o cenário da região."
"SERIAM NECESSÁRIOS ainda mais de 100 médicos e muitos auxiliares de enfermagem."
"Aos poucos a escatologia e a quantidade de mortos VÃO se multiplicando."
OBSERVAÇÃO 1:
Quando o sujeito composto estiver posposto (=depois do verbo), é aceitável a concordância a-
trativa (= no singular, concordando com o núcleo do sujeito que estiver mais próximo):
"PASSARÁ o céu e a terra, mas minhas palavras ficarão."
"CHEGA hoje ao Rio o presidente e sua comitiva."
A nossa preferência, no JB, é a concordância do verbo no PLURAL:
"ACABAM o acúmulo de aposentadorias e a aposentadoria especial."
"VIAJARAM para Brasília o gerente e o diretor."
OBSERVAÇÃO 2:
Quando o sujeito é composto por duas ou mais orações (=infinitivos), o verbo deve concordar
no SINGULAR:
"Andar e correr FAZ bem."
"Trabalhar durante o dia e estudar à noite ainda não MATOU ninguém."
OBSERVAÇÃO 3:
Quando o sujeito composto tiver núcleos de pessoas diferentes, a 1ª. pessoa é predominante
(Eu e tu = nós; eu e você = nós; ela e eu = nós ):
"Eu, tu e ele RESOLVEMOS o caso."
"O diretor e eu FOMOS à reunião."
A 2ª. pessoa predomina sobre a 3ª.pessoa (Tu e ele = vós):
"Tu e ele DEVEIS comparecer à reunião."
Na linguagem corrente, é freqüente o uso do verbo na 3ª pessoa":
"Em que língua tu e ele FALAVAM?"
Para evitarmos discussão, preferimos substituir TU por VOCÊ (Você e ele = vocês):
"Você e ele DEVEM comparecer à reunião."
B) SUJEITO SIMPLES - o verbo deve concordar com o núcleo do sujeito:
"O preço dos aluguéis, que deram um salto de 208%, já ESTÁ praticamente no mesmo nível."
"A remuneração das cadernetas BAIXOU..."
"As empresas de São Paulo EXPÕEM e VENDEM diretamente seus produtos."
"O índice de óbitos ESTÁ acima dos padrões normais."
"O cumprimento das metas dos programas de reestruturação também TEM SIDO ANALISA-
DO."
"Os preços dos pratos SÃO bem ACESSÍVEIS."
"Apesar de o preço das entradas TER SIDO BARATO..."
"Fios expostos PÕEM em risco a segurança dos alunos."
"BASTAM não mais do que alguns quilômetros para decifrá-lo."
"Esta lei já existe na Suécia e no Canadá onde DIMINUÍRAM os acidentes nas estradas."
Casos especiais:
1. A MAIORIA DE / A MAIOR PARTE / GRANDE PARTE DE / BOA PARTE
(Sujeito simples - núcleo = PARTITIVOS)
"A maioria dos candidatos já DESISTIU ou DESISTIRAM?"
O verbo pode ficar no SINGULAR (concordando com o núcleo do sujeito = MAIORIA) ou no
PLURAL (concordando com o nome plural posposto ao partitivo = CANDIDATOS):
"A MAIORIA dos candidatos já DESISTIU."
OU "A maioria dos CANDIDATOS já DESISTIRAM."
A nossa preferência, no JB, é o verbo no SINGULAR:
"A MAIORIA dos entrevistados REPROVA a administração municipal."
"A MAIORIA dos feridos FOI PISOTEADA."
"A MAIORIA das comunidades isoladas do Norte PODE se aproveitar da biomassa de espé-
cies..."
"Boa PARTE dos problemas TEM sua origem nos 'freemen' (homens livres) chegados dos Es-
tados Unidos."
"Grande PARTE das infecções PODE SER EVITADA ou CURADA."
"A MAIORIA das fraudes É COMETIDA durante longo tempo por empregados."
"A maior PARTE dos recursos VIRÁ da Brahma e da Embratel."
"PARTE das instalações FOI DEMOLIDA."
2. COLETIVOS
Um bando de ...
Um grupo de ...
Uma manada de ...
Embora alguns gramáticos aceitem o verbo no plural quando acompanha um adjunto plural,
nós devemos usar o verbo no SINGULAR:
"Um CASAL de turistas alemães não RESISTIU e CAIU no samba."
"Um GRUPO de artistas ainda iniciantes ALUGOU uma sala."
"Um GRUPO de crianças também É CONVIDADO."
"Um GRUPO de pessoas SAIU mais cedo"
"Um BANDO de marginais FUGIU ontem à noite."
"Uma MANADA de bois FOI VENDIDA para pagar a dívida."
OBSERVAÇÃO 1:
"Um GRUPO de mais de trinta mulheres TRABALHAM como voluntárias."
Nesse caso, devido ao predicativo plural (=voluntárias), preferimos o verbo no plural.
OBSERVAÇÃO 2:
A concordância do verbo com o núcleo do sujeito é indiscutível.
Se você tem dificuldade para identificar o núcleo do sujeito, aqui vai uma dica: "é o substanti-
vo ou o pronome que antecede a preposição de":
"Boa parte dos candidatos já DESISTIU." (o sujeito simples é "boa parte dos candidatos"; o
núcleo é parte)
"Um bando de marginais FUGIU." (o sujeito simples é "um bando de marginais"; o núcleo é
bando)
"Metade dos alunos FOI APROVADA." (sujeito ="metade dos alunos"; núcleo = metade)
"Alguém dentre nós FARÁ o trabalho." (sujeito ="alguém dentre nós"; núcleo = alguém)
"Muitos de nós LERAM o livro." (sujeito ="muitos de nós"; núcleo = muitos)
"O presidente destas empresas VIAJOU para Brasília." (sujeito ="o presidente destas empre-
sas"; núcleo = presidente)
"Os diretores desta empresa VIAJARAM para Brasília." (sujeito ="os diretores desta empresa";
núcleo = diretores)
3. FRAÇÃO
O verbo deve concordar com o numerador:
"UM terço COMPARECEU."
"DOIS terços COMPARECERAM."
"UM QUARTO das empresas pesquisadas PERDEU mais de US$ 1 milhão."
"UM TERÇO da população não TEM acesso a consultas médicas."
"TRÊS QUARTOS das fraudes FORAM COMETIDOS pelos empregados."
"DOIS TERÇOS da frota CIRCULARAM."
4. INFINITIVO
...para RESOLVER ou RESOLVEREM
...de SAIR ou SAÍREM
...a FAZER ou FAZEREM
É um caso muito controvertido que merece várias observações:
A) "Os técnicos estão aqui PARA RESOLVER ou RESOLVEREM o problema?"
É facultativo. A nossa preferência é pelo SINGULAR:
"Os técnicos estão aqui PARA RESOLVER o problema."
"Duas novas ruas estão sendo abertas para FACILITAR o acesso."
"O projeto contempla o direito de pessoas com doenças incuráveis interromperem um trata-
mento doloroso para MORRER dignamente."
"O curso tem reunido economistas do IBGE para CRIAR uma pesquisa mais abrangente."
"Usineiros e representantes estarão em Brasília para PRESSIONAR o governo federal."
"O técnico orientou seus jogadores para PRESSIONAR o Palmeiras."
"Os pais trintões voltam ao Teatro do Leblon para LEVAR seus filhos e CANTAR juntos a tri-
lha de Chico Buarque."
B) "Eles foram proibidos DE SAIR ou DE SAÍREM?"
"Eles foram obrigados A FAZER ou A FAZEREM o teste?"
Não se flexiona o infinitivo com preposição que funcione como complemento de substantivo,
adjetivo ou do próprio verbo principal.
No JB, não discutimos se é facultativo ou não. Preferimos o SINGULAR:
"Eles foram proibidos DE SAIR."
"Eles foram obrigados A FAZER o teste."
"Um em cada cinco enfermeiros está ajudando seus pacientes a MORRER..."
"Os paulistanos foram obrigados a PASSAR quatro horas no saguão do aeroporto."
"O decreto obriga os trens a TRAFEGAR de portas fechadas."
"A falta de informação leva outros meninos a FAZER a mesma coisa todos os dias."
"Um psiquiatra faz sucesso convencendo pacientes a AGIR como crianças."
"A lei proíbe os brasileiros de FUMAR na ponte-aérea."
"Ele proibiu seus músicos de PARTICIPAR de qualquer tipo de trabalho com discos."
OBSERVAÇÃO 1:
Na voz passiva e com os verbos de ligação, devemos usar o infinitivo no PLURAL:
"O TSE liberou duas das quatro parcelas do Fundo Partidário para SEREM DIVIDIDAS por
26 partidos."
"O porta-voz francês informou que as medidas concretas a SEREM TOMADAS contra o terror
são iguais às da Inglaterra."
"As reservas técnicas dos museus reúnem peças quase nunca expostas, mas que dão muito tra-
balho para SEREM CONSERVADAS."
"Elas tiveram que suar muito para SE TORNAREM as campeãs."
"Elas têm que malhar bastante para FICAREM magrinhas."
"As células-mãe são preparadas para SE TORNAREM resistentes."
OBSERVAÇÃO 2:
O verbo no plural enfatiza o agente em vez do fato. Em caso de ambigüidade, sugerimos o plu-
ral para evitar dúvidas:
"Fernando Henrique Cardoso libera os seus ministros para SUBIREM em palanque."
OBSERVAÇÃO 3:
Quando o sujeito está claramente expresso, a concordância é obrigatória:
"Houve uma ordem para os alunos FAZEREM todos os testes."
"O gerente mandou seus subordinados RESOLVEREM o problema."
"O aumento dos zíperes não fez o preço das roupas DISPARAR."
"Só tem espaço para PASSAREM no máximo duas pessoas ao mesmo tempo."
"Qual é a melhor maneira de se CONSEGUIREM bons resultados."
5. METADE
"METADE dos candidatos DESISTIU ou DESISTIRAM ?"
É a mesma regra dos PARTITIVOS (= uso facultativo). Preferimos o verbo
no SINGULAR, para concordar com o núcleo do sujeito:
"METADE dos candidatos DESISTIU." (ou DESISTIRAM)
"METADE dos fumantes do mundo VAI MORRER por causa do tabaco."
"Quase METADE dos executivos não TEM conhecimento..."
"METADE das ruas não TEM coleta de lixo."
"METADE do time não TEM visto."
Observação:
Com a forma MAIS DA METADE (=seguido de um substantivo no plural), o mais usual é o
verbo no plural:
"MAIS DA METADE dos médicos britânicos SÃO a favor..."
"MAIS DA METADE de todos entrevistados ESTÃO no mercado."
"MAIS DA METADE dos eleitores da capital catarinense ainda ESTÃO sem o documento."
"MAIS DA METADE dos dependentes se CONTAMINARAM."
"MAIS DA METADE dos cheques consultados pelos comerciantes em julho, através do tele-
cheque, SÃO PRÉ-DATADOS."
6. MIL / MILHÃO / NUMERAIS
MIL
O numeral que antecede a MIL deve concordar com o substantivo a que se refere:
"Ela é capaz de fazer VINTE E UMA MIL embaixadinhas."
"Ela é capaz de fazer quarenta e UMA mil, SETECENTAS e oitenta e DUAS embaixadinhas."
"DUAS mil pessoas compareceram à reunião."
"Recebeu DOIS mil dólares."
OBSERVAÇÃO 1:
Não use "um mil" ou "uma mil", mas apenas:
"Recebeu MIL REAIS."
"MIL PESSOAS compareceram à reunião."
MILHÃO / BILHÃO / TRILHÃO
O numeral que antecede a MILHÃO fica sempre no masculino.
"Seria capaz de fazer UM MILHÃO e MEIO de embaixadinhas."
"Mais de DOIS MILHÕES de pessoas assistiram ao espetáculo."
OBSERVAÇÃO 2:
Sujeito simples - núcleo = MILHÃO ou BILHÃO ou TRILHÃO
Um milhão de ...
Meio milhão de ...
"Um MILHÃO de pessoas VIVE ou VIVEM na China?"
É um caso facultativo.
"Um BILHÃO de dólares FOI GASTO nesta obra." (ou FORAM GASTOS)
"Um MILHÃO de pessoas VIVE na China." (ou VIVEM)
A nossa preferência é pelo PLURAL:
"Um milhão de doses de vacina FORAM RETIRADAS do mercado."
"Meio milhão de pessoas ESTÃO DESABRIGADAS."
"Mais de um milhão de dólares ESTÃO SENDO USADOS no projeto."
Se o verbo estiver antes, porém, o verbo concordará com MILHÃO ou MILHÕES:
"FOI CONSTRUÍDO um milhão de casas populares só neste bairro."
"FORAM PREJUDICADOS 5 milhões de pessoas."
"EXISTE mais de 1,5 milhão de desempregados."
OBSERVAÇÃO 3:
Cerca de...
Perto de...
Por volta de ...
Em torno de ...
Mais de ...
Menos de ...
O verbo deve concordar com o substantivo (= núcleo do sujeito):
"Cerca de três mil pessoas ENTRARAM em confronto com a polícia."
"Perto de cinqüenta mil torcedores ASSISTIRAM ao jogo."
"Mais de duzentos inscritos FALTARAM à prova."
7. NÃO SÓ...MAS TAMBÉM / NÃO SÓ...COMO TAMBÉM
O verbo vai normalmente para o PLURAL, concordando com o sujeito composto:
"Não só o aluno mas também o professor ERRARAM a questão."
"Não só o público como também os organizadores FICARAM insatisfeitos."
8. NEM ... NEM
Quando o sujeito é SIMPLES, o verbo fica no SINGULAR:
"Nem um nem outro diretor COMPARECEU à reunião."
"Ainda não CHEGOU nem uma nem outra candidata."
Quando o sujeito é COMPOSTO, a concordância é facultativa (singular ou
plural):
"Nem o gerente nem o diretor COMPARECEU ou COMPARECERAM à reunião."
"Nem eu nem você PODE ou PODEMOS viajar neste mês."
OBSERVAÇÃO:
Se houver idéia de alternativa (=o fato expresso pelo verbo só pode ser atribuído a um dos su-
jeitos), devemos usar o verbo no SINGULAR:
"Nem o Pedro nem o José SERÁ ELEITO o presidente do grêmio estudantil."
(=só um pode ser eleito)
9. OU
a) Se houver idéia de "exclusão", o verbo concorda com o núcleo mais próximo:
"Ou você ou eu TEREI de resolver o problema." (=apenas um resolverá o
problema)
"Ou eu ou o diretor TERÁ de viajar para São Paulo." (=apenas um
viajará)
"O Brasil ou Chile SERÁ a sede do próximo campeonato."
b) Se não houver idéia de "exclusão" (=e/ou), a concordância é facultativa:
"O gerente ou o diretor PODE ou PODEM assinar o contrato." (=um ou os dois podem assinar)
"Dinheiro ou cheque RESOLVE ou RESOLVEM o meu problema."
c) Se houver idéia "aditiva" (=e), o verbo deve concordar no plural:
"O pintor ou o escultor MERECEM igualmente o prêmio." (=o pintor e o escultor merecem i-
gualmente o prêmio)
"Futebol ou carnaval FAZEM a alegria do brasileiro."
d) Se houver idéia de "dúvida" (=retificação de número), o verbo deve concordar com o
mais próximo:
"Ladrão ou ladrões INVADIRAM o palacete do Morumbi."
"O assassino ou assassinos já DEVEM estar no exterior."
10. PERCENTAGEM
Sem especificador, o verbo deve concordar com a percentagem:
"1% VOTOU." (até 1,9% = verbo no singular);
"2% VOTARAM." (acima de 2% = verbo no plural).
OBSERVAÇÃO 1:
COM ESPECIFICADOR singular, o verbo pode concordar com o especificador no singular:
"2% da população VOTOU."
"5% do ICMS VAI para os municípios."
"Noventa por cento da produção musical hoje É FEITA em CD."
"Dez por cento da população brasileira É SUBNUTRIDA."
"Trinta por cento da fazenda SERÁ OCUPADA."
"Vinte por cento da água ESTÁ CONTAMINADA."
"Oitenta por cento dessa quantia ERA ENTREGUE a clínicas conveniadas."
"Quase 90% do faturamento da Coleman do Brasil É PROVENIENTE de produtos fabricados
aqui."
"80% da área em torno do parque ESTÁ DESMATADA."
"Segundo a Secretaria dos Transportes, às cinco horas da manhã apenas dois por cento da frota
CIRCULOU."
OBSERVAÇÃO 2:
COM ESPECIFICADOR plural, o verbo deve concordar com o número:
"Em torno de 1% dos viciados MORRE a cada ano."
"40% dos eleitores entrevistados RESPONDERAM que não ESTAVAM INTERESSADOS."
"Quase 90% dos empresários ACHAM que o risco de fraude é maior..."
OBSERVAÇÃO 3:
Quando o percentual é antecedido por um DETERMINANTE, a concordância é feita com esse
determinante:
"Esses trinta por cento da fazenda SERÃO OCUPADOS."
"Os restantes quinze por cento da produção VÃO SER ARMAZENADOS.
11. SE - PARTÍCULA APASSIVADORA
"ALUGA-SE ou ALUGAM-SE apartamentos ?"
Quando a partícula SE é apassivadora, significa que a frase está na voz passiva (=sujeito "so-
fre" a ação verbal). Apartamentos é o sujeito e está no plural. Portanto, o certo é: "ALUGAM-
SE apartamentos".
É um caso de voz passiva sintética ou pronominal. Corresponde a "Apartamentos SÃO ALU-
GADOS".
Quando vejo escrito numa placa "CONCERTA-SE bicicletas", primeiro fico imaginando uma
"sinfonia" de bicicletas e, depois, a necessidade de CONSERTAR a plaquinha. O certo é:
"CONSERTAM-SE bicicletas"(="Bicicletas SÃO CONSERTADAS").
Para que a partícula SE seja apassivadora, é preciso que haja um "objeto direto" para se trans-
formar em sujeito passivo. O verbo deve concordar com o sujeito passivo:
"VENDE-SE este automóvel." ( = Este automóvel é vendido);
"VENDEM-SE automóveis." ( = Automóveis são vendidos).
Vejamos mais exemplos:
"A idéia de SE CONVOCAREM mulheres e seminaristas para um serviço obrigatório alterna-
tivo ..." (="A idéia de mulheres e seminaristas serem convocados...")
"...para que SE USEM os veículos com moderação durante o inverno." (=...para que os veícu-
los sejam usados com moderação durante o inverno).
"Cada vez mais SE FAZEM diagnósticos do vírus."
"Quando SE EXCLUEM as importações de automóveis ..."
"Não faz busca por proximidade onde SE OBTÊM respostas."
"Já SE VÊEM alguns traços do futuro."
"Os sons da África vão revelando histórias que não se VÊEM." (=que não são vistas)
"Não estamos contra que SE TAXEM as propriedades improdutivas."
"MULTIPLICAM-SE os casos de armas em mãos erradas."
"Não SE PERCEBERAM ainda todos os erros."
"Não SE PODEM PROIBIR as pessoas de fazer o que gostam."
"PODEM-SE FAZER passeios de charrete..."
"DEVEM-SE EVITAR as formas repolhudas."
"Estes são os livros que SE PODEM ler." (=...os livros que PODEM ser lidos)
"Estas são as metas que SE DEVEM atingir." (=...as metas que DEVEM ser atingidas)
12. SE - PARTÍCULA INDETERMINADORA DO SUJEITO
Se não houver "objeto direto" para virar "sujeito passivo", a partícula SE é indeterminanadora
do sujeito. O sujeito é indeterminado e o verbo concorda no SINGULAR:
"PRECISA-SE de operários." (de operários = objeto indireto)
"Não SE NECESSITA mais de todos esses dados." (=objeto indireto)
"É necessário que SE RECORRA a soluções de impacto." (=obj.ind.)
"Não SE ACREDITA mais em marcas nacionais." (obj.ind.)
"DEVE-SE aspirar a melhores resultados." (=obj.ind.)
"MORRE-SE de frio e de fome nesta terra." (de frio e de fome = adjuntos adverbiais de causa;
nesta terra = adjunto adverbial de lugar)
"Não SE VIVE mais como naqueles tempos." (VIVER = verbo intransitivo)
"HÁ de SE viver com mais dignidade desta terra." (sem objeto direto)
13. NOMES PRÓPRIOS no PLURAL
Se o nome próprio vier antecedido de artigo plural, o verbo deve concordar no plural:
"Os ESTADOS UNIDOS CONVIDARAM, mas a seleção brasileira corre o risco de não parti-
cipar da Copa Ouro, na Califórnia."
"Os ALPES SUÍÇOS CAUSARAM um grande deslumbramento."
"Os ANDES FICAM na América do Sul."
"Os ESTADOS UNIDOS não ACEITARAM as condições impostas..."
"As MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS CONSAGRARAM Machado de Assis."
OBSERVAÇÃO 1:
Se não houver artigo no plural, o verbo fica no SINGULAR:
"Memórias Póstumas de Brás Cubas CONSAGROU Machado de Assis."
"Santos FICA em São Paulo."
"O Amazonas DESÁGUA no Oceano Atlântico."
OBSERVAÇÃO 2:
Com nomes de obras artísticas, mesmo antecedidas de determinante no plural, preferimos o
verbo no SINGULAR:
"OS LUSÍADAS IMORTALIZOU Camões."
"OS SERTÕES NARRA a luta de Canudos."
OBSERVAÇÃO 3:
Com o verbo SER e o predicativo a seguir no singular, preferimos o verbo no SINGULAR:
"Os Lusíadas É A OBRA MAIOR da literatura portuguesa."
"Os Três Mosqueteiros É UM LIVRO GENIAL."
"Os Estados Unidos É O MAIOR EXPORTADOR do mundo."
"Os Estados Unidos já FOI o primeiro mercado consumidor."
14. TUDO / NADA / NINGUÉM
Antes ou depois de vários substantivos. Verbo no SINGULAR:
"TUDO, jornais, revistas, televisão, só TRAZIA más notícias."
"Livros, canetas, cadernos, TUDO ESTAVA sobre a mesa."
"NINGUÉM, pais, irmãos, primos, VEIO ajudá-lo."
"Bacalhau, vinho, azeite, NADA ESTEVE em sua mesa no último Natal."
15. UM DOS QUE
"Ele é um dos que VIAJOU ou VIAJARAM ?"
Embora alguns gramáticos considerem a concordância facultativa, nós devemos usar o verbo
no PLURAL, para concordar com a palavra que antecede o pronome relativo QUE:
"Ele é um DOS que VIAJARAM."
O raciocínio é o seguinte: "dentre aqueles que viajaram, ele é um".
Um outro motivo que nos leva a preferir o verbo no PLURAL é a concordância nominal. To-
dos diriam que "ele é um dos artistas mais BRILHANTES" (="que mais BRILHAM). Nin-
guém usaria o adjetivo BRILHANTE no singular.
Portanto, depois de UM DOS...QUE, faça a concordância com o verbo no PLURAL:
"Ela foi uma DAS MULHERES que SOCORRERAM as vítimas da enchente."
"É aniversário de um DOS MAIORES HOSPITAIS do país que TRATAM o câncer infantil."
"Uma DAS LINHAS que TRAZEM energia de Itaipu foi desligada ontem."
"Um DOS que a CONVOCARAM foi o senador Rafael Michelini."
"Ela é uma DAS EMPRESAS CREDORAS que COMPÕEM o comitê de negociação."
"Eu fui um DOS que ACHAVAM que o Plano não daria certo."
"Um DOS FATOS que mais CHOCARAM os pesquisadores foi a excessiva quantidade de
prescrições."
"Ele foi um DOS INTELECTUAIS que mais SE DESTACARAM na luta contra o regime dita-
torial."
OBSERVAÇÃO 1:
É interessante lembrar que, caso haja idéia de "exclusividade", o verbo ficará no SINGULAR:
"Senhora é um dos romances de José de Alencar que CAIU no último vestibular." (Nesse caso,
devemos entender que Senhora é o único romance de José de Alencar que CAIU na prova do
vestibular)
OBSERVAÇÃO 2:
Quando o sujeito for o pronome relativo QUE, o verbo deve concordar com o antecedente:
"Fui eu que RESOLVI o problema."
"Fomos nós que RESOLVEMOS o problema."
"Eu fui o primeiro que RESOLVEU o problema." (ou "que RESOLVI ...")
"Nós fomos os últimos que SAÍRAM da sala." (ou "que SAÍMOS ...")
OBSERVAÇÃO 3:
Quando o sujeito for o pronome relativo QUEM, a concordância se faz normalmente na 3ª pes-
soa do singular:
"Fui eu QUEM RESOLVEU o caso."
"Na verdade, são vocês QUEM DECIDIRÁ a data."
Observe que, se invertermos a ordem, não haverá dúvida alguma:
"QUEM RESOLVEU o caso fui eu."
"QUEM DECIDIRÁ a data são vocês."
Entretanto, embora pouco usual, não é considerado erro o fato de o verbo concordar com o
pronome que antecede o QUEM:
"Fomos nós quem RESOLVEMOS o caso."
"Não sou eu quem DESCREVO."
OBSERVAÇÃO 4:
Quando não houver o pronome QUE, o verbo deve obrigatoriamente concordar com o núcleo
do sujeito (=pronome que está antes da preposição DE):
"UM dos casais já TINHA mais de vinte anos de vida em comum."
"NENHUM de nós dois PÔDE comparecer ao encontro."
"ALGUÉM da equipe RESOLVEU o problema."
"QUAL de vocês CHEGOU em primeiro?"
"QUEM dentre nós ESTÁ DISPOSTO a sair?"
"MUITOS de nós LERAM o livro." (Nesse caso poderíamos usar "Muitos de nós LEMOS o li-
vro", se quiséssemos subentender a idéia de "eu também" = ênfase no todo).
16. VOSSA SENHORIA / SUA SENHORIA
"Vossa Excelência DEVE ou DEVEIS viajar ?"
Os pronomes de tratamento (= VOSSA EXCELÊNCIA, VOSSA SENHORIA, VOSSA
SANTIDADE, VOSSA MAJESTADE, VOSSA ALTEZA...) são de 3a. pessoa (=VOCÊ).
"Vossa Excelência DEVE viajar."
"Vossa Senhoria PODE trazer seus convidados."
"Sua Excelência DEVERÁ comparecer à reunião."
OBSERVAÇÃO 1:
São formas rigorosamente femininas. Quando se tratar de homem, é aceitável a concordância
no masculino:
"Vossa Senhoria estava muito CANSADA ou CANSADO."
"Sua Excelência parece PREOCUPADA ou PREOCUPADO."
Se houver aposto, a concordância é obrigatória:
"Sua Excelência, o presidente, parece PREOCUPADO."
OBSERVAÇÃO 2:
VOSSA EXCELÊNCIA deve ser usado quando nos dirigimos à pessoa.
SUA EXCELÊNCIA deve ser usado quando falamos a respeito da pessoa.
17. Verbo CUSTAR
É unipessoal. Só deve ser usado na 3a. pessoa do singular.
"Francamente, CUSTEI a me acostumar e até achei o conjunto um pouco feio."
Embora usual, essa forma não segue rigorosamente a gramática. O correto seria "custou-me",
mas isso é inadequado à fala de qualquer brasileiro.
Podemos substituir por outras formas:
"Francamente, FOI DIFÍCIL eu me acostumar ..."
OBSERVAÇÃO:
Sempre que o sujeito for "oracional", o verbo deve concordar no singular:
"CUSTOU-me perceber a verdade."
"CUSTA a nós aceitar essas condições."
"FALTA chegarem dez convidados."
"No Vestibular, BASTA conseguir três mil pontos."
"É NECESSÁRIO convocar onze craques para poder sonhar com a Copa."
18. Verbos DAR / BATER / SOAR (aplicado a horas)
Quando houver sujeito (=relógio, sino...), o verbo deve concordar:
"O relógio DEU dez horas."
"O sino BATEU doze horas."
Se não houver o sujeito, o verbo concorda com as horas:
"DERAM dez horas."
"BATERAM doze horas."
"BATEU meia-noite."
19. Verbos HAVER e EXISTIR
O verbo HAVER, no sentido de "existir", "ocorrer" ou "tempo decorrido", é IMPESSOAL
(=sem sujeito); por isso só deve ser usado no SINGULAR.
Observe os exemplos:
"Nesta competição não HÁ titulares ou reservas." (=existem)
"Já HOUVE vários acidentes nesta curva." (=ocorreram, aconteceram)
"HAVIA meses que não nos víamos." (=tempo decorrido)
"Mas se não HOUVESSE projetos de lei para a Imprensa."
"Desfez o mito da época em que não HAVIA condições técnicas."
No presente do indicativo, ninguém erra. Ninguém diria: "Hão muitas pessoas na reunião". A
dúvida só existe quando o verbo está no pretérito ou no futuro: "No próximo concurso HAVE-
RÁ ou HAVERÃO muitos candidatos".
O certo é "HAVERÁ muitos candidatos". A regra não muda. É a mesma regra: esteja o verbo
no presente, pretérito ou futuro.
O erro mais grosseiro é o "famoso" houveram. É o caso da manchete de jornal: "Houveram vá-
rios crimes na Baixada". Com certeza o primeiro crime foi contra a língua portuguesa.
OBSERVAÇÃO 1:
Esta regra se aplica também às locuções verbais:
"DEVE HAVER muitas pessoas na reunião." (=devem existir)
"PODERIA TER HAVIDO alguns incidentes." (=poderiam ter ocorrido)
"O país tem centenas de microclimas em que PODE HAVER várias espécies."
"PODE HAVER várias especulações."
"DEVIA HAVER cinco anos que ele foi demitido."
Nas locuções verbais, o verbo principal é sempre o último; os demais são verbos auxiliares. Se
o verbo principal for impessoal (=sujeito inexistente), o verbo auxiliar fica no SINGULAR.
OBSERVAÇÃO 2:
O verbo EXISTIR é pessoal (=com sujeito) e deve concordar com o seu sujeito:
"EXISTEM no Brasil dois tipos de caipiras." (=sujeito plural)
"Na Polícia Federal não EXISTEM fotos dos traficantes."
"Nesta competição não EXISTEM titulares ou reservas."
"Praticamente não EXISTEM mais homens capazes de derrotá-lo."
"Ainda PODEM EXISTIR dúvidas para serem resolvidas."
Os verbos OCORRER e ACONTECER também são pessoais:
"Nesta rua, já ACONTECERAM muitos acidentes." (=sujeito plural)
"Neste julgamento, PODEM OCORRER algumas injustiças."
O verbo HAVER fica no singular porque não tem sujeito (=sujeito inexistente), mas os seus si-
nônimos têm sujeito e devem concordar.
OBSERVAÇÃO 3:
O verbo HAVER pode ser usado no plural, desde que não tenha o sentido "existir", "ocorrer"
ou "tempo decorrido".
Observe os exemplos:
"Os professores HOUVERAM por bem adiar as provas." (=decidiram)
"Os alunos se HOUVERAM bem na defesa de tese." (=apresentaram, "se deram", "se saíram")
20. Verbo FAZER
O verbo FAZER, referindo-se a "tempo decorrido", é IMPESSOAL (=sem sujeito); por isso só
deve ser usado no SINGULAR.
"FAZ dez anos que não nos vemos."
"FAZ sete ou oito minutos que ele não toca na bola."
É interessante lembrar que esta regra se aplica também às locuções verbais. Quando o verbo
principal for o FAZER (="tempo decorrido"), o auxiliar deve ficar no SINGULAR:
"Já DEVE FAZER duas horas que ela saiu."
"VAI FAZER cinco anos que não nos vemos."
21. Verbo SER
a) Quando não tem sujeito (=referindo-se a tempo ou espaço), deve concordar com a palavra
seguinte:
"É uma hora da tarde."
"SÃO duas horas da tarde."
"SÃO treze horas."
"DEVE SER meio-dia e meia."
"PODERIAM SER doze horas e trinta minutos."
"ERAM dez para as três."
"SÃO treze quilômetros até o centro da cidade."
OBSERVAÇÃO:
Quanto aos dias do mês, para evitar a velha polêmica "hoje é ou são treze de maio", sugerimos:
"Hoje É dia treze de maio.
"Amanhã SERÁ dia vinte,"
b) Se o sujeito estiver no singular e o predicativo no plural (ou vice-versa) , a concordância
se faz de preferência no PLURAL:
"Tudo SÃO hipóteses."
"O problema ERAM as chuvas."
"Muitos foram presos. A maioria SÃO menores."
"O resultado da pesquisa FORAM números assustadores."
"Esses dados SÃO parte de um relatório elaborado pela comissão especial do Senado."
"As cadernetas de poupança ERAM a melhor garantia para o futuro."
"Estas providências FORAM a salvação da empresa."
c) Se o sujeito for nome de pessoa ou pronome pessoal, o verbo deve concordar com o SU-
JEITO:
"Beto ERA as esperanças do time."
"Fernando Pessoa É muitos poetas ao mesmo tempo."
"Eu SOU o responsável."
"Ele é forte, mas não É dois."
d) Se o predicativo for nome de pessoa ou pronome pessoal, o verbo concorda com o PRE-
DICATIVO:
"As esperanças do time ERA o Beto."
"O responsável SOU eu."
"Os escolhidos FOMOS nós."
e) Se houver dois pronomes pessoais, o verbo SER concorda com o primeiro:
"Eu não SOU você."
"Ele não É eu."
"Nós não SOMOS vocês."
f) Nas frases interrogativas, o verbo SER concorda com o predicativo:
"Quem SÃO os convocados?"
"Quem FORAM os responsáveis?"
"Que SÃO seis meses?"
g) Quando o sujeito for o pronome relativo que, o verbo fica no SINGULAR:
"Eu moro neste edifício, que em breve SERÁ só escombros."
"Esta empresa, que hoje É só demissões, já foi líder de mercado."
h) Se o predicativo for o pronome demonstrativo o, o verbo SER fica no SINGULAR:
"Inimigos É o que não lhe falta."
"Eleições diretas É o que o povo queria."
h) Antes de muito, pouco, bastante, demais...(=indicação de preço, quantidade, medida, por-
ção ou equivalente), o verbo SER fica no SINGULAR:
"Mil dólares É MUITO por este trabalho."
"Dez quilômetros É DEMAIS para mim."
"Duas lutas SERÁ POUCO para ele ganhar experiência."
Por Fascículo > 3. Concordância Nominal e Plural
Regra básica: Os artigos, os adjetivos, os pronomes e os numerais devem concordar com o
substantivo em gênero e número.
"Mas não é só nos chamados mercados EMERGENTES."
"Muitos contêm bactérias CAUSADORAS de desidratação por diarréia."
"As empresas sentiram o quanto são IMPORTANTES estes encontros."
"Recebeu R$12.419 bilhões LÍQUIDOS."
"Vicentinho pediu EMPRESTADOS um paletó e uma gravata."
"Alguns índios já declaram guerra à espécie de jacaré mais AGRESSIVA que vive no Brasil."
"Os fiscais apreenderam trinta quilos de peixe ESTRAGADO."
"Ele disse ter achado ESTRANHA a demora dos policiais em comunicar a operação aos supe-
riores."
"As bolsas brasileiras acompanharam a tendência americana e fecharam praticamente ESTÁ-
VEIS."
"Pediu EMPRESTADA a quantia de dez mil dólares."
"Ele tachou de ABSURDAS as declarações do deputado."
"O juiz considerou ILEGAIS os dois gols."
"Uma pequena parte do lixo é REAPROVEITADA."
"Devido a este acidente, ele ficou com parte do corpo PARALISADA."
"As praias estavam lotadas. A maioria, PAULISTANA."
ou "Na maioria, PAULISTANOS."
OBSERVAÇÃO 1:
"São cem metros LIVRES." e "São duzentos metros RASOS."
Porém: "São cem metros PEITO ou BORBOLETA."
"Vamos conferir os recordes dos cem metros nado BORBOLETA FEMININO."
"Cleber Machado narra os cem metros PEITO FEMININO."
Sugestão: Se usarmos a palavra NADO expressa na frase, jamais haverá dúvida. Todos os adje-
tivos ficarão no MASCULINO SINGULAR:
"200 metros nado LIVRE MASCULINO"
"200 metros nado BORBOLETA FEMININO"
"200 metros nado PEITO MASCULINO"
"200 metros nado COSTAS FEMININO".
OBSERVAÇÃO 2:
O certo é "Seleção MASCULINA de vôlei", e não "Seleção de vôlei masculino";
"Circuito mundial FEMININO de vôlei de praia, e não "Circuito mundial de vôlei de praia fe-
minino".
OBSERVAÇÃO 3:
Caso o adjetivo se refira a vários substantivos de gêneros diferentes, a concordância deve ser
feita no MASCULINO PLURAL:
"Pêlos, dentes e barbatanas foram ANALISADOS ..."
"Compraram motores e peças ESTRANGEIROS."
"Todo dia, o paulistano enfrenta trânsito e ruas CAÓTICOS."
Se os substantivos forem do mesmo gênero, o adjetivo mantém o gênero e concorda no PLU-
RAL:
"Os garis da Comlurb passaram o dia retirando a lama e as pedras que ficaram ATRAVESSA-
DAS na pista."
"A língua e a literatura INGLESAS foram as escolhidas."
"Estavam NERVOSOS o gerente e o diretor."
OBSERVAÇÃO 4:
Quando o adjetivo vier antes de vários substantivos, ele deve concordar com o substantivo
mais próximo:
"Escolheu MÁ hora e lugar."
"Escrevia LONGAS histórias e relatórios."
OBSERVAÇÃO 5:
Quando o substantivo é qualificado por mais de um adjetivo, tratando-se de seres diferentes, o
substantivo fica no PLURAL (ou no singular, se repetir o artigo):
"Completou OS CURSOS básico e intermediário."
"Completou o CURSO básico e o intermediário."
"Precisam aprender AS LÍNGUAS inglesa, espanhola e alemã."
"Precisam aprender a LÍNGUA inglesa, a espanhola e a alemã."
"Esta é a última semana para inscrição no concurso de Metrô, para AS ÁREAS administrativa
e operacional."
Casos especiais:
1. O AGRAVANTE ou A AGRAVANTE?
AGRAVANTE é palavra feminina.
"Havia UMA AGRAVANTE: o motorista estava alcoolizado."
OBSERVAÇÃO:
ATENUANTE também é palavra feminina:
"O advogado alegou a existência de ALGUMAS ATENUANTES."
2. ALERTA ou ALERTAS?
É invariável.
"Nós ficamos ALERTA para isso."
"Os guardas estavam ALERTA."
ALERTA geralmente é um advérbio. Como adjetivo, alguns autores aceitam a forma plural:
"Nós ficamos ALERTAS e os guardas estavam ALERTAS".
OBSERVAÇÃO 1:
Os advérbios são invariáveis:
"A bola rola MACIO na Supercopa."
"Milhares de brasileiros vivem ILEGAL nos Estados Unidos." (Melhor: "ilegalmente")
OBSERVAÇÃO 2:
TODO (=totalmente) é o único advérbio que se flexiona:
"A Ilha do Governador está TODA reformada."
"A porta está TODA fechada."
3. ANEXO ou EM ANEXO?
É um adjetivo. Deve concordar.
EM ANEXO é invariável.
"O formulário segue ANEXO (ou EM ANEXO)."
"ANEXOS (=ou EM ANEXO) seguem os formulários."
"A nota e o troco vão ANEXOS."
"Encontramos o registro ANEXO à certidão."
4. Plural das palavras terminadas em "ÃO"
a) A maioria muda a terminação "ão" em "ÕES":
anfitriões, balões, botões, espiões, feijões, gaviões, limões, mamões, melões, zangões...
OBSERVAÇÃO 1:
Neste grupo incluem-se todos os aumentativos:
casarões, chapelões, dramalhões, facões, narigões, paredões, pobretões, vozeirões...
b) Um pequeno número de palavras muda "ão" em "ÃES":
afegães, alemães, cães, capelães, capitães, catalães, escrivães, pães, sacristães, tabeliães...
c) Um pequeno número de palavras acrescenta um "s" (=ÃOS):
cidadãos, cortesãos, cristãos, grãos, irmãos, mãos, pagãos, vãos...
OBSERVAÇÃO 2:
Neste grupo incluem-se todas as palavras paroxítonas:
acórdãos, bênçãos, órfãos, órgãos, sótãos...
d) Muitas palavras admitem duas ou até três formas de plural:
alazães ou alazões;
aldeãos, aldeães ou aldeões;
anãos ou anões;
anciãos, anciães ou anciões;
artesãos (=artífice) ou artesões (=adorno arquitetônico);
castelãos ou castelões;
charlatães ou charlatões;
cirurgiães ou cirurgiões;
corrimãos ou corrimões;
ermitãos, ermitães ou ermitões;
faisães ou faisões;
guardiães ou guardiões;
hortelãos ou hortelões;
refrãos ou refrães;
sacristãos ou sacristães;
sultãos, sultães ou sultões;
verãos ou verões;
vilãos, vilães ou vilões;
vulcãos, vulcães ou vulcões.
5. BASTANTE ou BASTANTES?
Como advérbio de intensidade (=muito) é invariável:
"Eles trabalharam BASTANTE para chegar até aqui."
"Eles ficaram BASTANTE cansados." (Neste caso, é preferível usar "MUITO cansados")
OBSERVAÇÃO 1:
Como pronome indefinido (=antes de um substantivo), deverá concordar com o substantivo:
"Está com BASTANTES problemas para resolver." (É melhor: "MUITOS problemas)
"O dia fica aberto, com BASTANTE sol em todas as regiões." (Simplesmente "com sol" seria
melhor)
Devemos evitar o uso de BASTANTE como pronome indefinido.
OBSERVAÇÃO 2:
Como adjetivo (após um substantivo = suficiente), deve concordar com o substantivo:
"Ele já tem provas BASTANTES para incriminar o réu." (É melhor: "provas SUFICIENTES")
"As provas já são BASTANTES para incriminar o réu." (É melhor: "As provas já são O BAS-
TANTE para incriminar o réu." / É preferível: "As provas já são SUFICIENTES para incrimi-
nar o réu.")
6. O CAIXA ELETRÔNICO ou A CAIXA ELETRÔNICA?
O certo é: O CAIXA ELETRÔNICO.
O objeto é substantivo feminino: A CAIXA:
"A CAIXA registradora estava quebrada."
O funcionário pode ser masculino ou feminino, conforme o sexo da pessoa:
O CAIXA ou A CAIXA.
Em expressões como "passe NO CAIXA" ou "vou AO CAIXA", usamos o artigo masculino,
pois nos referimos ao funcionário genericamente, não importando o seu sexo. Em razão disso,
devemos usar O CAIXA ELETRÔNICO.
7. CHAPÉUS ou CHAPÉIS?
O certo é: CHAPÉUS.
As palavras terminadas em "éu" fazem plural em "éus" (=com a desinência "s"): réu / réus; tro-
féu / troféus; fogaréu / fogaréus...
OBSERVAÇÃO:
As palavras terminadas em "el" fazem plural em "éis": papel / papéis;
pastel / pastéis; anel / anéis...
8. O COMA ou A COMA?
COMA é uma palavra masculina:
"Ela entrou em COMA ALCOÓLICO."
9. Plural das palavras COMPOSTAS
a) Quando o substantivo composto é constituído de palavras que se escrevem ligadamente, sem
hífen, somente o último elemento vai para o plural:
aguardentes, pontapés, vaivéns...
b) Quando a palavra composta, com HÍFEN, é constituída de substantivos, os dois vão para o
plural:
abelhas-mestras, amigos-ursos, capitães-tenentes, capitães-aviadores, cartas-bilhetes, cirurgi-
ões-dentistas, couves-flores, decretos-leis, micos-leões, pesos-galos, porcos-espinhos, sacis-
pererês, tamanduás-bandeiras, tenentes-coronéis...
c) Quando a palavra composta, com HÍFEN, é constituída de substantivos e segundo faz papel
de adjetivo, só o primeiro vai para o plural:
bombas-relógio, canetas-tinteiro, carros-bomba, decretos-lei, elementos-chave, homens-
macaco, homens-rã, licenças-prêmio, livros-caixa, mangas-rosa, navios-escola, operários-
padrão, papéis-moeda, peixes-boi, pombos-correio, salários-família, tatus-bola...
OBSERVAÇÃO 1:
A diferença é a seguinte:
Em TENENTE-CORONEL, o segundo substantivo NÃO faz papel de adjetivo (= tenente-
coronel NÃO é um tipo de tenente). O plural é:
TENENTES-CORONÉIS;
Em OPERÁRIO-PADRÃO, o segundo substantivo faz o papel de adjetivo (= operário-padrão é
um tipo de operário). O plural é: OPERÁRIOS-PADRÃO.
Observe que algumas palavras aceitam as duas formas de plural:
DECRETOS-LEIS ou DECRETOS-LEI.
Observe também que muitas palavras NÃO seguem esta regra:
CIDADES-SATÉLITES, MICOS-LEÕES, TAMANDUÁS-BANDEIRAS...
d) Se a palavra composta, com HÍFEN, é constituída de um substantivo e um adjetivo (ou adje-
tivo + substantivo), os dois elementos vão para o plural:
altas-rodas, altos-fornos, amores-perfeitos, batatas-doces, boas-novas, bóias-frias, bons-dias,
cabeças-chatas, cachorros-quentes, dedos-duros, ervas-doces, guardas-civis, lugares-comuns,
mamões-machos, mãos-bobas, marias-moles, matérias-primas, meias-luas, meios-fios, obras-
primas, ovelhas-negras, peles-vermelhas, puros-sangues...
OBSERVAÇÃO 2:
Observe a diferença:
Em LIVRO-CAIXA, LIVRO e CAIXA são dois substantivos. O segundo substantivo
(=CAIXA) faz o papel de adjetivo (livro-caixa é um tipo de livro) = só o primeiro vai para o
plural: LIVROS-CAIXA.
Em CAIXA-PRETA, CAIXA é substantivo e PRETA é adjetivo. Os dois elementos devem ir
para o plural: CAIXAS-PRETAS.
e) Se a palavra composta, com HÍFEN, é constituída de um numeral e um substantivo, os dois
elementos vão para o plural:
primeiros-ministros, segundos-sargentos, terças-feiras, quartas-feiras, quintas-feiras, sextas-
feiras...
f) Se a palavra composta, com HÍFEN, é constituída de um verbo e um substantivo, somente o
substantivo vai para o plural:
Arranha-céus, bate-papos, guarda-chuvas, lança-perfumes, lava-pés, mata-borrões, pára-brisas,
pára-choques, pára-lamas, porta-bandeiras, porta-vozes, quebra-cabeças, quebra-molas, salva-
vidas, vira-latas...
OBSERVAÇÃO 3:
Observe a diferença:
Em GUARDA-CIVIL, GUARDA é substantivo e CIVIL é adjetivo. Os dois vão para o plural:
GUARDAS-CIVIS, guardas-noturnos, guardas-florestais...
Em GUARDA-CHUVA, GUARDA é verbo e CHUVA é substantivo. Só o substantivo vai pa-
ra o plural: GUARDA-CHUVAS, guarda-louças, guarda-roupas, guarda-costas...
g) Se a palavra composta, com HÍFEN, é constituída de dois ou mais adjetivos, somente o úl-
timo adjetivo vai para o plural:
Consultórios MÉDICO-CIRÚRGICOS
Candidatos SOCIAL-DEMOCRATAS
Atividades TÉCNICO-CIENTÍFICAS
Problemas POLÍTICO-ECONÔMICOS
Cabelos CASTANHO-ESCUROS
Olhos VERDE-CLAROS
OBSERVAÇÃO 4:
Os adjetivos compostos referentes a cores são INVARIÁVEIS quando o segundo elemento é
um substantivo: verde-garrafa, verde-mar, verde-musgo, verde-oliva, azul-céu, azul-piscina,
amarelo-ouro, rosa-choque, vermelho-sangue...
Observe a diferença:
1. Olhos VERDE-CLAROS = cor + adjetivo (claro ou escuro);
2. Calças VERDE-GARRAFA = cor + substantivo.
Também são invariáveis: AZUL-CELESTE e AZUL-MARINHO.
h) Se houver uma preposição entre os dois substantivos, só o primeiro elemento vai para o plu-
ral:
amigos-da-onça, bicos-de-papagaio, dores-de-cotovelo, estrelas-do-mar, generais-de-divisão,
grãos-de-bico, joões-de-barro, mulas-sem-cabeça, pais-de-santo, pães-de-ló, pés-de-cabra, pés-
de-moleque, pores-do-sol...
OBSERVAÇÃO 5:
Os FORA-DA-LEI, os FORA-DE-SÉRIE...são INVARIÁVEIS.
i) Se o primeiro elemento for advérbio, preposição ou prefixo, somente o segundo elemento vai
para o plural:
abaixo-assinados, alto-falantes, ante-salas, anti-semitas, auto-retratos, bel-prazeres, contra-
ataques, grão-duques, recém-nascidos, sem-vergonhas, super-homens, todo-poderosos, vice-
campeões...
OBSERVAÇÃO 6:
Os SEM-TERRA, os SEM-TETO...são INVARIÁVEIS.
OBSERVAÇÃO 7:
Se a palavra composta é constituída por advérbio + pronome + verbo, somente o último ele-
mento varia: bem-me-queres, bem-te-vis, não-me-toques...
j) Se a palavra composta é constituída pela repetição das palavras (onomatopéias = reprodução
dos sons), o segundo elemento vai para o plural:
bangue-bangues, pingue-pongues, reco-recos, tique-taques...
k) Casos especiais:
Os arco-íris, as ave-marias, os banhos-maria, os joões-ninguém, os louva-a-deus, os lugar-
tenentes, os mapas-múndi, os padre-nossos, as salve-rainhas, os surdos-mudos...
l) São INVARIÁVEIS:
· compostos de verbo + palavra invariável:
os bota-fora, os cola-tudo, os topa-tudo...
· compostos de verbos de sentido oposto:
os entre-e-sai, os leva-e-traz, os perde-ganha, os sobe-e-desce, os vai-volta...
· expressões substantivadas:
os bumba-meu-boi, os chove-não-molha, os disse-me-disse...
10. CONFORME ou CONFORMES?
Como conjunção conformativa (=segundo, como) é invariável:
"Fez tudo CONFORME os procedimentos estabelecidos."
"CONFORME as leis vigentes, esta é a única solução."
Como adjetivo, deve concordar com o substantivo a que se refere:
"Durante a auditoria, só encontraram produtos CONFORMES."
"Ficaram CONFORMES (=CONFORMADOS) com a atual situação."
11. DEGRAUS ou DEGRAIS?
O certo é: DEGRAUS.
As palavras terminadas em "au" fazem plural com o acréscimo de "s":
degrau / degraus; grau / graus...
OBSERVAÇÃO:
As palavras terminadas em "al" fazem plural em "ais": animal / animais,
canal / canais; igual / iguais...
12. Plural dos DIMINUTIVOS (=em ZINHO ou ZITO)
Nos diminutivos formados com os sufixos -ZINHO e -ZITO, a regra é a
seguinte:
1º) Ponha a palavra primitiva no plural:
PAPEL > PAPÉIS
BALÃO > BALÕES
FLOR > FLORES
2º) Acrescente o sufixo do diminutivo (=zinho, zinha, zito), passando a desinência do plural
(="s") para depois do sufixo:
PAPÉI (s) + ZINHO + S = PAPEIZINHOS
BALÕE (s)+ ZINHO + S = BALÕEZINHOS
FLORE (s)+ ZINHA + S = FLOREZINHAS
OBSERVAÇÃO 1:
Os acentos gráficos (=agudo e circunflexo) não são necessários no diminutivo porque a sílaba
tônica é a penúltima (="zi"): papeiZInhos.
O til permanece pois não é acento (=é sinal de nasalização):
balõezinhos.
Observa mais alguns exemplos:
ANEIZINHOS, ANIMAIZINHOS, AZUIZINHOS, BAREZINHOS, CÃEZITOS, CASAIZI-
NHOS, CORAÇÕEZINHOS, FAROIZINHOS, IGUAIZINHOS, MULHEREZINHAS, PÃE-
ZINHOS...
OBSERVAÇÃO 2:
Quando o diminutivo é formado com o sufixo -INHO, basta acrescentar a desinência do plural
(="s"):
CRUZ + INHA = CRUZINHAS;
LUZ + INHA = LUZINHAS;
LÁPIS + INHO = LAPISINHOS;
PAÍS + INHO = PAISINHOS.
OBSERVAÇÃO 3:
Quando a palavra primitiva forma plural apenas com a desinência "s", basta colocá-la depois
do sufixo diminutivo:
CHAPÉU (s) + ZINHO = CHAPEUZINHOS;
DEGRAU (s) + ZINHO = DEGRAUZINHOS;
PAI (s) + ZINHO = PAIZINHOS;
MÃO (s) + ZINHA = MÃOZINHAS.
Observe a diferença:
ALEMÃ (s) + ZINHA = ALEMÃZINHAS;
ALEMÃO > ALEMÃE (s) + ZINHO = ALEMÃEZINHOS.
13. UM DÓ ou UMA DÓ?
Os dicionários e as gramáticas afirmam que DÓ é palavra masculina:
"Senti UM grande DÓ de você."
"Fiquei com MUITO DÓ das crianças."
14. É PROIBIDO ou É PROIBIDA?
Só concorda com o substantivo se estiver determinado:
"É PROIBIDA a entrada de estranhos."
"É PROIBIDO entrada de estranhos."
"A bebida alcoólica não é PERMITIDA."
"Bebida alcoólica não é PERMITIDO."
"Demissão em massa não é BOM para o governo."
"Sua demissão não foi BOA para o governo."
15. EXTRA ou EXTRAS?
EXTRA, como adjetivo, deve concordar com o substantivo a que se refere:
"Trabalhou muitas horas EXTRAS."
"Fez vários serviços EXTRAS."
16. FAX ou FAXES?
As palavras terminadas em "x" são invariáveis: os clímax, os tórax, os ônix, os telex...
A princípio, devemos dizer:
"Ele recebeu dois FAX."
OBSERVAÇÃO:
Devido a BOXES (=plural de BOX), há quem defenda FAXES (=palavras monossílabas termi-
nadas em "x" fazem plural com o acréscimo de "es")
17. GRAVIDEZ ou GRAVIDEZES?
As palavras terminadas em "z" fazem plural com o acréscimo de "es":
Luz / luzes; cruz / cruzes; rapaz / rapazes; juiz / juízes; gravidez / GRAVIDEZES...
18. O GRAMA ou A GRAMA?
GRAMA (=peso) é masculino:
"Comprou DUZENTOS GRAMAS de mortadela."
"Ela pediu UM QUILOGRAMA de carne."
19. UM GUARANÁ ou UMA GUARANÁ?
GUARANÁ é substantivo masculino:
"Tome UM GUARANÁ."
20. HAJA VISTA ou HAJA VISTO?
É invariável.
"Ele foi demitido HAJA VISTA o problema surgido."
"Ele foi dispensado HAJA VISTA os pontos atingidos."
"Ele foi reprovado HAJA VISTA as notas tiradas."
21. ÍDOLO ou ÍDALA?
ÍDALA não existe. Devemos usar O ÍDOLO, independentemente do sexo:
"Ela é O maior ÍDOLO da nossa música."
22. JUNIORS ou JÚNIORES ou JUNIORES?
O certo é: JUNIORES
As palavras terminadas em "r" fazem plural com o acréscimo de "es":
repórteres, revólveres, açúcares, mares, hambúrgueres, contêineres...
A novidade é a sílaba tônica, que se desloca da vogal "u" para a vogal "o" (=pronuncia-se "ju-
niôres").
Se você não gosta do plural de JÚNIOR, porque acha feio ou estranho, a minha sugestão é
construir a frase evitando o plural: em vez de "seleção de juniores", diga "seleção de futebol
júnior"; em vez de "campeonato de juniores", diga "campeonato da categoria júnior".
OBSERVAÇÃO:
O mesmo se aplica a SÊNIOR. O plural é SENIORES. SÊNIOR vem do latim e tem a mesma
origem de SENHOR, SENIL e SENADOR.
Agora uma curiosidade. Todo senador romano devia ser "velho, de idade avançada", o que sig-
nificava conhecimento e experiência. Já a túnica branca representava a pureza, daí a palavra
candidato, derivada de cândido. Graças a Deus, o ideal romano está vivo entre nós até hoje!
23. JUNTO ou JUNTOS ?
É um adjetivo e deve concordar com o substantivo a que se refere.
"Os fortes sentimentos vêm JUNTOS."
"Em campo, Romário e Ronaldinho JUNTOS."
"Uma vitória que a dupla de atacantes quer comemorar jogando JUNTA por muito tempo ain-
da."
OBSERVAÇÃO 1:
JUNTO A / JUNTO DE (=perto de)
São sinônimos e invariáveis.
"Os dois chutes passaram JUNTO À trave."
"Os reservas estão JUNTO DA comissão técnica."
"Os hotéis ficam JUNTO AO viaduto."
"As casas estão JUNTO DA farmácia."
OBSERVAÇÃO 2:
Devemos evitar o uso de JUNTO A com outro sentido que não seja de "perto de":
"Ele está preocupado com seu prestígio JUNTO À torcida."
É preferível: "...COM a torcida."
"O governo solicitou um empréstimo JUNTO AO Banco Mundial."
É preferível: "...NO Banco Mundial."
24. O LOTAÇÃO ou A LOTAÇÃO?
O LOTAÇÃO é o "veículo de transporte" (=microônibus);
A LOTAÇÃO é o "ato de lotar".
"Entrou NO LOTAÇÃO e sumiu".
"Estamos com A LOTAÇÃO esgotada."
25. MEIO ou MEIA?
Como numeral (=metade), deve concordar:
"Tomou MEIO litro de vodca."
"Tomou MEIA garrafa de vodca."
"Tomou uma garrafa e MEIA."
"Leu um capítulo e MEIO."
"São duas e MEIA da tarde."
"É meio-dia e MEIA."
OBSERVAÇÃO:
Como advérbio (=mais ou menos), é invariável:
"A aluna ficou MEIO nervosa."
"A diretoria está MEIO insatisfeita."
"Os clientes andam MEIO aborrecidos."
26. MELHOR ou MELHORES?
A palavra MELHOR só pluraliza quando for adjetivo (= mais bom):
"Eles foram os MELHORES em campo."
A palavra MELHOR torna-se invariável quando for advérbio (= mais bem):
"Eles analisaram MELHOR os fatos."
"Eles se colocaram MELHOR."
OBSERVAÇÃO 1:
Devemos usar a forma MAIS BEM antes de particípios verbais:
"Os fatos foram MAIS BEM analisados."
"Eles estão MAIS BEM colocados."
"Até os ministros MAIS BEM colocados obtiveram índices baixos."
"Estes são os esqueletos de macaco MAIS BEM preservados(...) será possível estudar ME-
LHOR seus hábitos..."
"O Corinthians tem vinte e oito pontos e completa o grupo dois oito MAIS BEM colocados."
"Aquele projeto é o melhor, o MAIS BEM-FEITO."
"O melhor jogador do mundo não é o MAIS BEM pago."
"Quem será o brasileiro MAIS BEM colocado?"
"Ele provou que estava MAIS BEM preparado."
OBSERVAÇÃO 2:
A mesma regra se aplica a MAIS MAL, MENOS BEM e MENOS MAL.
"Ele é o jogador MAIS MAL pago do futebol brasileiro."
"Nunca vi termo MAIS MAL utilizado que esse."
27. MENOS ou MENAS?
MENAS não existe. Use sempre MENOS.
"Vieram MENOS pessoas que o esperado."
"Isso é de MENOS importância."
28. MESMO ou MESMA?
MESMO (=próprio) é pronome e deve concordar.
"Andréia prefere a salgada e o brigadeiro é ela MESMA que faz."
"Nós MESMOS resolvemos o caso."
"As meninas feriram a si MESMAS."
OBSERVAÇÃO:
MESMO (=até, inclusive) é invariável:
"MESMO a diretoria não resolveu o problema."
"MESMO os professores erraram aquela questão."
29. O MILHAR ou A MILHAR?
MILHAR e MILHÃO são substantivos masculinos.
"NOS MILHARES de linhas que li, não encontrei nada que me interessasse."
"UM MILHÃO de pessoas e DOIS BILHÕES de dúvidas..."
"OS DOIS MILHÕES de mulheres...
OBSERVAÇÃO:
MIL é numeral, por isso, o artigo ou numeral que o acompanhe concordará com o substantivo:
"AS MIL e UMA noites..."
"DOIS MIL candidatos compareceram à prova."
"DUAS MIL pessoas estavam na festa."
30. O MODELO ou A MODELO?
MODELO é palavra masculina (gênero sobrecomum = O MODELO, seja homem ou mulher).
A tendência, hoje, é aceitar a sua transformação em palavra COMUM DE DOIS GÊNEROS
(=O MODELO e A MODELO).
"Ela é A MODELO mais famosa do Brasil."
31. MONSTRO ou MONSTRA?
Todo substantivo, no papel de adjetivo, é INVARIÁVEL.
"Foram realizados diversos comícios MONSTRO."
"O juiz recebeu uma vaia MONSTRO."
OBSERVAÇÃO:
O nome de coisa (=substantivo), usado como cor (=adjetivo), é INVARIÁVEL:
"Comprou uma blusa VINHO."
"Comprou duas camisas LARANJA."
32. OBRIGADO ou OBRIGADA?
As mulheres devem dizer OBRIGADA.
"Muito OBRIGADA, disse ela."
33. O ÓCULOS ou OS ÓCULOS?
ÓCULOS é um substantivo PLURAL.
"Onde ESTÃO OS MEUS ÓCULOS?"
34. UM OMELETE ou UMA OMELETE?
OMELETE é um substantivo FEMININO.
"Ela vai comer UMA OMELETE."
35. O PERSONAGEM ou A PERSONAGEM?
Toda palavra terminada em "gem" é feminina. Deveria ser A PERSONAGEM, não importando
o sexo. Hoje, a tendência é usá-la como substantivo COMUM DE DOIS GÊNEROS: O PER-
SONAGEM MASCULINO e A PERSONAGEM FEMININA.
36. A POETA ou A POETISA?
O feminino de POETA é POETISA.
Há quem atribua juízo de valor à palavra: POETISA (=mulher que faz versos) e A POETA
(=uma autora de méritos).
37. A PRESIDENTA ou A PRESIDENTE?
As duas formas são aceitáveis. Prefiro:
"Nélida Piñon foi a primeira PRESIDENTE da Academia Brasileira de Letras."
38. QUALQUER ou QUAISQUER?
O plural de QUALQUER é um caso especial. É uma palavra composta: QUAL (plural =
QUAIS) + QUER (verbo = sem plural). Portanto, o plural de QUALQUER é QUAISQUER:
"Não pode estar, QUAISQUER que sejam os pretextos."
39. QUITE ou QUITES?
Concorda normalmente com o substantivo a que se refere.
"Eu estou QUITE com meus credores."
"Nós estamos QUITES."
40. SÓ ou SÓS?
SÓ (=somente, apenas) é invariável:
"Nesta sala, SÓ os dirigentes podem entrar."
SÓ (=sozinho) deve concordar:
"Os dirigentes ficaram SÓS."
41. O SÓSIA ou A SÓSIA?
SÓSIA é uma palavra masculina:
"Precisamos de UM SÓSIA para aquela atriz."
42. UM TELEFONEMA ou UMA TELEFONEMA?
TELEFONEMA é substantivo masculino.
"Saiu para dar UM TELEFONEMA."
43. TODO (=totalmente)
É advérbio de intensidade. Rigorosamente é invariável. É o único advérbio que podemos flexi-
onar:
"A empresa está com a sua estrutura TODA montada." ("TODO montada" ou "TOTALMEN-
TE montada")
"A camisa é TODA branca."
"A janela deve ser TODA pintada."
OBSERVAÇÃO:
Como pronome (=antes de substantivo), deve concordar:
"TODA janela deve ser pintada." (=qualquer janela)
"TODA a janela deve ser pintada." (=a janela inteira)
"TODO livro deve ser guardado."
"TODOS os livros devem ser guardados."
44. VOSSA EXCELÊNCIA ficou SATISFEITO ou SATISFEITA?
VOSSA EXCELÊNCIA é um pronome de tratamento do gênero feminino, seja homem ou mu-
lher. Seguindo as regras gramaticais, diríamos: "VOSSA EXCELÊNCIA ficou SATISFEITA".
Entretanto, quando se trata de homem, podemos concordar com a idéia subentendida: "VOSSA
EXCELÊNCIA ficou SATISFEITO". É que chamamos Silepse de Gênero. É uma forma muito
usual e totalmente aceitável.
Ao se dirigir a um juiz, você poderia perfeitamente dizer: "Vossa Excelência foi muito JUS-
TA". Se ele se ofender, de duas uma: ou ele não conhece a nossa gramática ou "não tem lá
muita segurança". Que a concordância no feminino está correta, não há dúvida. Dizem que é
perigoso. Imagine você perguntando a um ministro: "Vossa Excelência esta CANSADA?" E
ele responde: "É verdade, estou MORTA." (???)
45. ZERO GRAU ou ZERO GRAUS?
O numeral ZERO deixa a palavra seguinte no SINGULAR.
"Estava ZERO GRAU."
"É ZERO HORA."
Por Fascículo > 4. Verbos
Uso dos verbos irregulares
Uso do IMPERATIVO
Uso do INFINITIVO
Uso do PARTICÍPIO
Flexões Verbais
Uso dos verbos irregulares
1. Eu ABULO ou ABOLO?
Nenhum dos dois.
O verbo ABOLIR é defectivo (=não possui a 1ª pessoa do singular do presente do indicativo e
nenhuma do presente do subjuntivo):
A solução é "eu estou abolindo".
2. Eu ADÉQUO ou ADEQUO?
Nenhum dos dois. O verbo ADEQUAR é defectivo: no presente do indicativo só apresenta a 1ª
e a 2ª pessoa do plural; nada no presente do subjuntivo; pretérito e futuro são normais.
Portanto, dizer que "isto não se adéqua ou adequa ..." está errado.
A solução é: "isto não está adequado ou não é adequado..."
3. Eu ADIRO ou ADERO?
O certo é ADIRO.
OBSERVAÇÃO 1:
Quando um verbo é irregular na 1ª pessoa do singular do presente do indicativo (ADERIR > eu
adiro), todo o presente do subjuntivo é irregular (que eu adira, que tu adiras...)
OBSERVAÇÃO 2:
A irregularidade de mudar a vogal "e" em "i" (=na 1a pess. do sing. Do presente do indicativo e
em todo o presente do subjuntivo) ocorre em outros verbos: FERIR (firo), AFERIR (afiro),
INGERIR (ingiro), INSERIR (insiro), PRETERIR (pretiro), COMPETIR (compito), REPETIR
(repito), DESPIR (dispo), DISCERNIR (discirno), DIVERGIR (divirjo), ADVERTIR (advir-
to), REFLETIR (reflito), SEGUIR (sigo), SENTIR (sinto), MENTIR (minto), SERVIR (sirvo),
VESTIR (visto), INVESTIR (invisto), IMPELIR (impilo)...
4. Eu APAZÍGUO ou APAZIGUO?
O certo é APAZIGUO (=sílaba tônica é a penúltima: "gu").
Os verbos APAZIGUAR, AVERIGUAR, OBLIQUAR, ARGÜIR... apresentam a vogal "u" tô-
nica, nas formas rizotônicas (=1a, 2ª, 3ª pessoa do singular e 3ª do plural dos tempos do presen-
te):
PRESENTE DO INDICATIVO
PRESENTE DO SUBJUNTIVO (=que...)
OBSERVAÇÕES:
a) Quando a vogal "u" é tônica e seguida de "e" ou "i", devemos usar o acento agudo: que eu
apazigúe, tu apazigúes, ele averigúe, eles averigúem, tu argúis, ele argúi, eles argúem...
b) Quando a vogal "u" não é tônica, é pronunciada e seguida de "e" ou "i", devemos usar o
trema: nós argüimos, vós argüis, que nós apazigüemos, averigüemos, averigüeis...
c) Quando a vogal "u", tônica ou átona, é seguida de "o" ou "a", não devemos usar nem trema
nem acento agudo: apaziguo, averiguo, arguo, apazigua, averigua, argua, apaziguamos, averi-
guamos, arguamos...
5. Eu ARREIO ou ARRIO?
Os dois estão certos.
Eu ARREIO é do verbo ARREAR (=pôr os arreios);
Eu ARRIO é do verbo ARRIAR (=abaixar, descer).
OBSERVAÇÃO 1:
Todos os verbos terminados em "-EAR" (ARREAR, CEAR, FREAR, PASSEAR, PENTEAR,
RECEAR, RECREAR, SABOREAR...) são irregulares: fazem um ditongo "EI" nas formas ri-
zotônicas (1ª, 2ª, 3ª do sing. e 3ª do plural, nos tempos do presente):
OBSERVAÇÃO 2:
Os verbos terminados em "-IAR" (ARRIAR, ANUNCIAR,COPIAR, MIAR, PREMIAR, VA-
RIAR...) são regulares, exceto: ANSIAR, INCENDIAR, ODIAR, MEDIAR, INTERMEDIAR
e REMEDIAR, que são irregulares (= ditongo "EI" nas formas rizotônicas):
Observe a diferença:
PRESENTE DO INDICATIVO
“Ele maquia”.
“Ela remedia”.
PRESENTE DO SUBJUNTIVO
“Espero que ele varie o discurso esta noite”.
“Espero que ela não se maquie exageradamente”.
Portanto, o certo é:
Ele anseia, incendeia, odeia, medeia, intermedeia e remedeia (= irregulares); mas...
Ele arria, anuncia, copia, mia, premia, varia...
O verbo MAQUIAR (=maquilar) também é regular: maquio, maquias, maquia...
6. Eu CAIBO ou CABO?
O certo é CAIBO.
No presente do indicativo, a irregularidade está só na 1ª pessoa do singular: eu CAIBO, tu ca-
bes, ele cabe...
Portanto, todo o presente do subjuntivo será irregular: que eu CAIBA, tu CAIBAS, ele CAI-
BA, nós CAIBAMOS, vós CAIBAIS, eles CAIBAM.
Nos tempos derivados do pretérito perfeito do indicativo, ocorre outra irregularidade:
Pretérito Perfeito do Indicativo: eu COUBE, tu COUBESTE, ele COUBE...
Pretérito Mais-que-perfeito do Indicativo: COUBERA
Futuro do Subjuntivo: quando eu COUBER
7. Eu COLORO ("ô") ou COLORO ("ó")?
Nenhum dos dois.
O verbo COLORIR é defectivo. Não possui a 1ª pessoa do singular do presente do indicativo e
nada no presente do subjuntivo.
A solução é "eu estou colorindo".
8. Eu COMPUTO, tu COMPUTAS, ele COMPUTA?
Nenhum dos três.
O verbo COMPUTAR é defectivo. No presente do indicativo, só apresenta plural:
nós COMPUTAMOS
vós COMPUTAIS
eles COMPUTAM.
O pretérito e o futuro são regulares.
Se a forma ele computa é inaceitável, podemos usar "ele está computando" ou substituir por
um sinônimo (="ele calcula").
9. Eles CRÊM ou CRÊEM?
O certo é CRÊEM.
Os verbos CRER, DAR, LER e VER (=grupo CRÊ-DÊ-LÊ-VÊ) são os únicos que fazem o hia-
to "-ÊEM" na 3ª pessoa do plural:
Ele crê - eles CRÊEM
Que ele dê - eles DÊEM
Ele lê - eles LÊEM
Ele vê - eles VÊEM
OBSERVAÇÃO 1:
Os verbos derivados do grupo CRÊ-DÊ-LÊ-VÊ seguem esta regra: eles descrêem, relêem, pre-
vêem...
OBSERVAÇÃO 2:
Cuidado com o pretérito perfeito do indicativo do verbo CRER: eu CRI, ele CREU, eles CRE-
RAM.
10. Eu DEMULO ou DEMOLO?
Nenhum dos dois.
O verbo DEMOLIR é defectivo (=ABOLIR): não possui a 1ª pessoa do singular do presente do
indicativo e nada no presente do subjuntivo.
A solução é: "eu estou demolindo" ou "eu destruo".
11. Eles DETERAM ou DETIVERAM?
O certo é DETIVERAM.
O verbo DETER, como todos os derivados do verbo TER (=ABSTER, ATER, CONTER,
MANTER, OBTER, RETER...), deve seguir o modelo do verbo primitivo:
Ele teve - ele DETEVE (=absteve, manteve...)
Eles tiveram - eles DETIVERAM (=mantiveram, retiveram...)
Se ele tivesse - ele DETIVESSE (=contivesse, mantivesse...)
Quando eu tiver - eu DETIVER (=obtiver, retiver...)
O VERBO é, provavelmente, um "ser traumatizado". É mal falado desde a infância. As crian-
ças o detestam e os adultos o maltratam, mas todos precisam dele. Sem o VERBO, nossa co-
municação seria muito deficiente.
Os verbos irregulares são os que mais sofrem em nossas mãos. Li recentemente no JB: "Se eles
conterem o emocional chegam à final". Além da rima (emocional e final), podemos observar o
mau uso do verbo CONTER.
O certo é: "Se eles CONTIVEREM o emocional..."
O verbo CONTER é derivado do verbo TER. Deve, por isso, seguir a conjugação do verbo
primitivo (=TER):
"Se eles TIVEREM..." > "Se eles CONTIVEREM..."
Esta regra vale para todos os verbos derivados de TER: CONTER, MANTER, DETER, RE-
TER, OBTER, ABSTER...
Há muito tempo, encontrei esta manchete num bom jornal:
"Policiais não deteram os suspeitos."
Deve ser por isso que eles fogem! Deteram é impossível! O certo é:
"Policiais não DETIVERAM os suspeitos."
A 3ª pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo do verbo TER é TIVERAM. Assim
sendo, temos: eles DETIVERAM, RETIVERAM, OBTIVERAM, MANTIVERAM...
12. Se eu DIZER ou DISSER?
O certo é "se eu DISSER".
O futuro do subjuntivo do verbo DIZER é:
Se eu DISSER
tu DISSERES
ele DISSER
nós DISSERMOS
vós DISSERDES
eles DISSEREM
OBSERVAÇÃO:
Os verbos regulares não fazem diferença entre o infinitivo e o futuro do subjuntivo:
"Ao ENTRAR em campo, o Flamengo foi aplaudido." (=infinitivo)
"O Flamengo exigiu segurança para ENTRAR em campo." (=infinitivo)
"Quando o Flamengo ENTRAR em campo, será aplaudido." (=futuro do subjuntivo)
"Se o Flamengo ENTRAR em campo, será aplaudido." (=futuro do subjuntivo)
Os verbos irregulares fazem diferença:
"Ao SABER a verdade, começou a chorar." (=infinitivo)
"Se SOUBER a verdade, começará a chorar." (=futuro do subjuntivo)
"Ele veio até aqui para DIZER a verdade." (=infinitivo)
"Quando ele DISSER a verdade, ninguém acreditará." (=futuro do subjuntivo)
13. Ele ENTUPE ou ENTOPE?
As duas formas são aceitáveis.
Os verbos ENTUPIR e DESENTUPIR, hoje, são abundantes (=possuem duas formas corretas):
Tu entupes ou entopes; desentupes ou desentopes;
Ele entupe ou entope; desentupe ou desentope;
Eles entupem ou entopem; desentupem ou desentopem.
14. Que ele ESTEJA ou ESTEJE?
O certo é ESTEJA.
A desinência do presente do subjuntivo do verbo ESTAR é "a "(=ter, ser):
Que eu ESTEJA, TENHA, SEJA...
Portanto, quem diz "teje preso" talvez "esteje passando mal" ou "seje inguinorante".
15. Eles EXPORAM ou EXPUSERAM ?
O certo é EXPUSERAM.
O verbo EXPOR, como todos os derivados do verbo PÔR (=APOR, COMPOR, DEPOR, DIS-
POR, IMPOR, PROPOR, SUPOR...), deve seguir o verbo primitivo:
16. Eu EXTORCO ou ESTOU EXTORQUINDO?
Devemos usar ESTOU EXTORQUINDO, porque o verbo EXTORQUIR é defectivo:
não possui 1ª pessoa do singular do presente do indicativo e nada no presente do subjuntivo.
17. Eu FALO ou ESTOU FALINDO?
Eu FALO, se for do verbo FALAR.
O verbo FALIR é defectivo - só possui nós FALIMOS e vós FALIS no presente do indicativo;
nada no presente do subjuntivo; pretérito e futuro são regulares.
A solução para o verbo FALIR é "eu ESTOU FALINDO" ou "eu ESTOU INDO À FALÊN-
CIA".
18. FAZEREM ou FIZEREM?
FAZEREM é infinitivo: "Houve uma ordem para eles FAZEREM o teste."
FIZEREM é futuro do subjuntivo: "Só poderão sair se FIZEREM o teste."
19. HAVEMOS ou HEMOS?
As duas estão corretas.
O verbo HAVER é abundante:
PRESENTE DO INDICATIVO
Eu HEI
Tu HÁS
Ele HÁ
Nós HEMOS ou HAVEMOS
Vós HEIS ou HAVEIS
Eles HÃO
20. Ele INTERVIU ou INTERVEIO?
O certo é INTERVEIO.
O verbo INTERVIR, como todos os derivados do verbo VIR (=ADVIR, CONVIR, PROVIR,
SOBREVIR...), deve seguir o verbo primitivo:
OBSERVAÇÃO:
a) Ele VEM (singular = sem acento); eles VÊM (plural = com acento);
b) Para os verbos derivados:
Ele INTERVÉM, PROVÉM, CONVÉM ... (singular = acento agudo);
Eles INTERVÊM, PROVÊM, CONVÊM ... (plural = acento circunflexo).
21. Que nós LEAMOS ou LEIAMOS?
O certo é LEIAMOS.
A 1ª pessoa do singular do presente do indicativo é: "Eu LEIO".
Conseqüentemente, todo o presente subjuntivo será irregular também:
Que... Eu LEIA
Tu LEIAS
Ele LEIA
Nós LEIAMOS
Vós LEIAIS
Eles LEIAM
22. Se eu MANTESSE ou MANTIVESSE?
O certo é MANTIVESSE.
MANTER é derivado do verbo TER, por isso deve seguir o modelo do verbo primitivo:
Se eu tivesse - MANTIVESSE
Ontem eles tiveram - MANTIVERAM
Quando nós tivermos - MANTIVERMOS
Na triste derrota do Brasil para a Itália (2 x 3) na Copa da Espanha em 1982, ouvi, com mais
tristeza ainda, um de nossos comentaristas esportivos afirmar: "Era necessário que o Brasil
mantesse o empate."
Mas...é por isso que perdemos. Não sabemos nem falar! O certo é : "Era necessário que o Bra-
sil MANTIVESSE o empate."
O verbo TER, no pretérito imperfeito do subjuntivo, fica: "se ele TIVESSE". Logo, devemos
usar: MANTIVESSE, RETIVESSE, CONTIVESSE, OBTIVESSE...
23. Eu MEÇO ou MESSO?
O certo é MEÇO.
MEDIR apresenta a mesma irregularidade do verbo PEDIR:
Eu peço - eu meço
Ele pede - ele mede
Que ele peça - que ele meça
24. Eu MOBÍLIO ou MOBILIO?
O certo é MOBÍLIO (=com sílaba tônica no "bí").
O verbo MOBILIAR só é irregular quanto à sílaba tônica. Nas formas rizotônicas, "bí" é a síla-
ba tônica (=com acento agudo):
[FieldElemFormat=gif]
25. Eu OPTO ou ÓPITO ou OPITO?
O certo é OPTO.
O verbo OPTAR não possui "i":
Eu opto, tu optas, ele opta, nós optamos, vós optais, eles optam.
26. PERCA ou PERDA?
PERDA é o substantivo: "Houve uma PERDA irreparável."
PERCA é verbo (=presente do subjuntivo): "É preciso que você PERCA três quilos."
27. PODE ou PÔDE ou POUDE?
Poude não existe.
Ele PODE (=presente do indicativo);
Ele PÔDE (=pretérito perfeito do indicativo).
28. Se eu POR, PUZER ou PUSER?
O certo é PUSER.
POR (=sem acento) é preposição: "Eu vou POR este caminho".
PÔR é o infinitivo do verbo: "Eu vou PÔR o livro sobre a mesa."
PUSER é o futuro do subjuntivo: "Se você PUSER o casaco, sairemos."
OBSERVAÇÃO:
Nas formas verbais de PÔR, o som "zê" é escrito sempre com "s":
Eu pus, tu puseste, ele pôs, pusemos, puseram, pusesse, pusera, pusermos, puserem...
29. Eu me PRECAVENHO ou PRECAVEJO?
Nenhum dos dois.
O verbo PRECAVER-SE é defectivo:
no presente do indicativo, só possui PRECAVEMOS e PRECAVEIS;
no presente do subjuntivo, nada;
o pretérito e o futuro são regulares (ele se PRECAVEU, ele se PRECAVERÁ).
A solução é "estou me precavendo" ou substituir por sinônimo (="eu me previno", "eu tomo
cuidado"...)
30. PROVEJO ou PROVENHO?
PROVEJO é do verbo PROVER (=abastecer);
PROVENHO é do ver PROVIR (=originar, vir de).
OBSERVAÇÃO 1:
O verbo PROVIR segue o verbo VIR:
Eu venho - eu provenho
Ele vem - ele provém
Eles vêm - eles provêm
Nós vimos - nós provimos (=presente do indicativo)
Nós viemos - nós proviemos (=pretérito perfeito do indicativo)
Eu vim - eu provim
Ele veio - ele proveio
Eles vieram - eles provieram
Se eu viesse - se eu proviesse
Quando eu vier - quando eu provier
OBSERVAÇÃO 2:
O verbo PROVER só segue o verbo VER nos tempos do presente:
Eu vejo - eu provejo
Ele vê - ele provê
Eles vêem - eles provêem
Que eu veja - que eu proveja
No pretérito e no futuro, é REGULAR:
Ele proveu, eles proveram (=pretérito perfeito do indicativo);
Se eu provesse (=pretérito imperfeito do subjuntivo);
Quando eu prover (=futuro do subjuntivo);
Eu proverei (=futuro do presente do indicativo);
Eu proveria (=futuro do pretérito do indicativo).
31. QUIZ ou QUIS?
O certo é QUIS.
Nas formas do verbo QUERER, o som "zê" é sempre escrito com "s":
tu quiseste, ele quis, eles quiseram, se eu quisesse, quando eu quiser...
OBSERVAÇÃO:
QUISER é futuro do subjuntivo: quando eu quiser, se eu quiser...
QUERER é infinitivo: "Fez isso para eu querer sair."
32. Eu REAVEJO ou REAVENHO?
Nenhum dos dois.
O verbo REAVER é defectivo:
no presente do indicativo, só há nós REAVEMOS e vós REAVEIS;
no presente do subjuntivo, nada;
no pretérito e no futuro, segue o verbo HAVER.
A solução é "eu estou reavendo" ou substituir por um sinônimo: "eu recupero".
33. REAVERAM ou REAVIRAM?
É a "famosa" dúvida do nada com coisa alguma. Nenhum dos dois.
O certo é REOUVERAM, porque REAVER é derivado do verbo HAVER:
Ele houve - ele REOUVE
Nós houvemos - nós REOUVEMOS
Eles houveram - eles REOUVERAM
Se eu houvesse - se eu REOUVESSE
Quando ele houver - quando ele REOUVER
REAVER não é "ver de novo". REAVER é "haver de novo", por isso deve seguir o verbo HA-
VER
34. Ele REQUEREU ou REQUIS?
O certo é REQUEREU.
REQUERER não é derivado do verbo QUERER. REQUERER não é "querer de novo":
Eu requeiro (=presente indicativo), que eu requeira (=presente do subjuntivo);
no pretérito e no futuro, REQUERER é regular: eu requeri, tu requereste, ele REQUEREU, e-
les requereram (pret.perf.ind.); se eu requeresse (pret.imp.subj.); quando ele requerer
(fut.subj.)...
Nos tempos do passado e do futuro, o verbo REQUERER deve ser usado segundo o padrão dos
verbos regulares da 2ª conjugação:
35. Que eu ROBE ou ROUBE?
O certo é ROUBE.
O verbo é ROUBAR (=sempre com a vogal "u").
36. SABER ou SOUBER?
SABER é infinitivo: "Estude para você SABER mais."
SOUBER é futuro do subjuntivo: "Se eu SOUBER...", "Quando você SOUBER..."
37. SAIA ou SAÍA?
SAIA (=sem acento agudo) é presente do subjuntivo: que eu SAIA;
SAÍA (=com acento agudo) é pretérito imperfeito do indicativo:
antigamente eu SAÍA...
OBSERVAÇÃO:
O mesmo se aplica ao verbo CAIR:
CAIA (=presente do subjuntivo);
CAÍA (=pretérito perfeito do indicativo).
38. TEM ou TÊM ou TÊEM?
TÊEM não existe.
Ele TEM (=3ª pessoa do singular do presente do indicativo);
Eles TÊM (=3ª pessoa do plural do presente do indicativo).
OBSERVAÇÃO 1:
Os verbos TER e VIR seguem o mesmo esquema:
3ª p. sing. = ele tem - ele vem (=sem acento gráfico);
3ª p. plur. = eles têm - eles vêm (=com acento circunflexo).
OBSERVAÇÃO 2:
Os verbos derivados de TER (conter, manter...) e VIR (intervir, provir...) seguem o seguinte
esquema:
3ª p. sing. = ele contém, mantém, intervém, provém (=com acento agudo);
3ª p. plur. = eles contêm, mantêm, intervêm, provêm (=com acento circunflexo).
39. TRUXE ou TROUXE ou TROUCE?
O certo é TROUXE.
Truxe e trouce não existem.
O pretérito perfeito do indicativo do verbo TRAZER é:
Eu trouxe, tu trouxeste, ele trouxe, nós trouxemos, vós trouxestes, eles trouxeram.
OBSERVAÇÃO:
TRAZER é infinitivo: "Calou-se para não nos TRAZER problemas."
TROUXER é futuro do subjuntivo: "Se eu TROUXER, quando ele TROUXER..."
40. Eu VALHO ou VALO?
O certo é VALHO.
A irregularidade do verbo VALER é apresentar "lh" na 1ª pessoa do singular do presente do
indicativo e, conseqüentemente, em todo o presente do subjuntivo:
“Eu não valho nada!”
OBSERVAÇÃO:
O verbo EQUIVALER segue o verbo VALER:
Que ele VALHA - "É necessário que isto se EQUIVALHA..."
41. Quando você VER ou VIR?
O certo é "quando você VIR o filme".
O futuro do subjuntivo do verbo VER é VIR:
Quando eu VIR, tu VIRES, ele VIR, nós VIRMOS, vós VIRDES, eles VIREM.
O futuro do subjuntivo do verbo VIR é VIER:
Quando eu VIER, tu VIERES, ele VIER, nós VIERMOS, vós VIERDES, eles VIEREM.
OBSERVAÇÃO:
O derivados do verbo VER (=antever, prever, rever...) seguem o verbo primitivo:
Eu vejo - eu prevejo (=pres. ind.)
Ele vê - ele prevê
Eles vêem - eles prevêem
Eu vi - eu previ (=pret. perf. ind.)
Ele viu - ele previu
Eles viram - eles previram
Se eu visse - se eu previsse (=pret. imp. subj.)
Quando eu vir - quando eu previr (=fut. subj.)
Na linguagem coloquial, é freqüente ouvirmos a frase: "Quando a gente se
ver de novo..." O correto é: "Quando nós nos VIRMOS novamente..."
42. VIAGEM ou VIAJEM?
VIAGEM é substantivo: "A VIAGEM foi ótima".
VIAJEM é verbo (=pres. subj.): "Quero que vocês VIAJEM amanhã."
43. VIGENDO ou VIGINDO?
O gerúndio do verbo VIGER (=vigorar) é VIGENDO: "Este contrato ainda está VIGENDO
(=vigorando, valendo, dentro do prazo VIGENTE).
44. VIMOS ou VIEMOS?
"Ontem nós VIMOS o filme." (=pretérito perfeito do indicativo do verbo VER);
"Ontem nós VIEMOS à reunião." (=pret. perfeito do indicativo do verbo VIR);
"VIMOS, por meio desta, solicitar..." (=presente do indicativo do verbo VIR).
45. VEM ou VÊM ou VÊEM?
Ele VEM (=3ª pessoa do singular do verbo VIR);
Eles VÊM (=3ª pessoa do plural do verbo VIR);
Eles VÊEM (=3ª pessoa do plural do verbo VER).
Observe a diferença:
Se você costuma ter essa dúvida ou já perdeu seu tempo com esse problema, observe o esque-
ma abaixo:
1. Grupo do CRÊ-DÊ-LÊ-VÊ
Os verbos CRER, DAR, LER e VER são os únicos que na 3ª pessoa do plural terminam em "-
ÊEM":
Ele crê - eles crêem;
Ele dê - eles dêem (=presente do subjuntivo);
Ele lê - eles lêem;
Ele vê - eles vêem.
Esta regra também se aplica aos verbos derivados:
Ele relê - eles relêem;
Ele prevê - eles prevêem.
2. Dupla TER e VIR
Na 3ª pessoa do singular, não têm acento gráfico; na 3ª pessoa do plural, terminam em "-ÊM":
Ele tem - eles têm;
Ele vem - eles vêm.
3. Verbos derivados de TER e VIR: DETER, RETER, MANTER, CONVIR, PROVIR, IN-
TERVIR...
Na 3ª pessoa do singular, têm acento agudo; na 3ª pessoa do plural, têm
acento circunflexo:
Ele detém - eles detêm;
Ele intervém - eles intervêm.
Cuidado!
"É preciso que vocês CONTEM tudo." (=verbo CONTAR);
"A garrafa CONTÉM gasolina." (=verbo CONTER, 3ª pessoa do singular);
"As garrafas CONTÊM gasolina." (=verbo CONTER, 3ª pessoa do plural).
Outro perigo:
"...que eles PROVEM..." (=verbo PROVAR, no presente do subjuntivo);
"...ele PROVÉM..." (=verbo PROVIR, na 3ª pessoa do singular);
"...eles PROVÊM..." (=verbo PROVIR, na 3ª pessoa do plural);
"...eles PROVÊEM..." (=verbo PROVER, na 3ª pessoa do plural).
Para você não esquecer:
"Eles VÊM." (=verbo VIR)
"Eles VÊEM." (=verbo VER)
Se você vê com "dois olhos", eles VÊEM com "êe".
46. Tinha VIDO ou VINDO?
O particípio do verbo VIR é VINDO (igual ao gerúndio):
"Ele tinha VINDO de outra empresa." (=particípio);
"Ele está VINDO para cá." (=gerúndio).
Uso do IMPERATIVO
"VEM ou VENHA para Caixa você também." ? ? ?
O certo é VENHA.
A 3ª pessoa (=você) deriva-se do presente do subjuntivo (=que você venha - VENHA você);
A 2ª pessoa (=tu) deriva-se do presente do indicativo com a supressão do "s" (=tu vens - VEM
tu).
Embora freqüente na linguagem falada brasileira, devemos evitar a mistura de tratamentos (2ª e
3ª = tu e você).
Ou usamos a 3ª pessoa: "VENHA para Caixa você também"; Ou usamos a 2ª pessoa: "Mas...bá
guri, VEM pra Caixa TU também, tchê".
Há dois imperativos.
1. Imperativo Afirmativo:
a) A 2ª pessoa do singular e a 2ª pessoa do plural são derivadas do
presente do indicativo com a supressão do "s" (exceto o verbo SER).
EXCEÇÃO:
Tu és - SÊ tu
Vós sois - SEDE vós
b) A 3ª pessoa (=você), a 1ª e 3ª do plural são derivadas do presente do
subjuntivo.
2. Imperativo Negativo:
Todas as pessoas se derivam do presente do subjuntivo.
Observe a frase:
"JOGA fora no lixo. MANTENHA a cidade limpa."
Está errada. Há mistura de tratamento: JOGA (tu) e MANTENHA (você).
Há duas opções corretas:
"JOGUE fora no lixo. MANTENHA a cidade limpa." (=você)
ou "JOGA fora no lixo. MANTÉM a cidade limpa." (=tu).
Observe a derivação:
2ª pessoa (=tu) do imperativo afirmativo vem do presente do indicativo (=sem "s"):
Tu jogas - JOGA (tu)
Tu manténs - MANTÉM (tu)
3ª pessoa (=você) do imperativo afirmativo vem do presente do subjuntivo:
Que você jogue - JOGUE (você)
Que você mantenha - MANTENHA (você)
Uso do INFINITIVO
1. "Vocês devem, sempre que possível, FAZER ou FAZEREM o trabalho"???
O certo é: "Vocês DEVEM FAZER o trabalho."
Em locuções verbais, devemos usar o INFINITIVO IMPESSOAL (=não se flexiona):
"Os deputados DEVERIAM ANALISAR o caso com urgência."
"Os contribuintes PODERÃO, a partir da próxima semana, PAGAR antecipadamente o IPTU."
2. "Os técnicos estão aqui PARA RESOLVER ou RESOLVEREM o problema"???
Alguns autores afirmam que é um caso facultativo, outros dizem que devemos usar o infinitivo
não flexionado. No JB, nós não discutimos se é facultativo ou não. A nossa preferência é o
SINGULAR:
"Os técnicos estão aqui PARA RESOLVER o problema."
"Os torcedores vieram ao estádio só PARA VAIAR o time."
"Nós saímos PARA ALMOÇAR."
OBSERVAÇÃO 1:
Quando o sujeito do infinitivo estiver claramente expresso, devemos usar o infinitivo flexiona-
do:
"Houve uma ordem PARA os técnicos RESOLVEREM o problema."
"Houve uma ordem PARA nós RESOLVERMOS o problema."
OBSERVAÇÃO 2:
Em caso de ambigüidade, preferimos o PLURAL (=o verbo no plural enfatiza o agente em vez
do fato):
"O professor liberou seus alunos para IREM ao jogo."
OBSERVAÇÃO 3:
Na voz passiva e com os verbos de ligação (=SER, ESTAR, FICAR, TORNAR-SE...) também
podemos usar o infinitivo no PLURAL:
"Ela trouxe os presentes PARA SEREM ENTREGUES às crianças."
"Eles correram muito PARA SEREM os campeões."
3. "Eles foram proibidos DE SAIR ou SAÍREM"???
O certo é: "Eles foram proibidos DE SAIR".
Não se flexiona o infinitivo com preposição que funcione como complemento de substantivo,
adjetivo ou do próprio verbo principal:
"Os manifestantes foram impedidos DE INVADIR o congresso."
"Eles foram obrigados A FICAR em pé durante duas horas."
"A desinformação leva milhares de pessoas A FAZER a mesma coisa."
4. "O diretor mandou seus funcionários SAIR ou SAÍREM"???
É outro caso discutível.
Quando o infinitivo vem antecedido de um verbo causativo ou sensitivo (=MANDAR, DEI-
XAR, FAZER, VER, OUVIR...), temos um grande problema:
alguns autores consideram um caso facultativo, outros afirmam que o infinitivo não se flexiona
e há, ainda, aqueles que dizem ser obrigatória a flexão do infinitivo.
A minha sugestão é a seguinte:
a) Se o sujeito vier claramente expresso antes do infinitivo, a concordância é obrigatória:
"O diretor mandou seus funcionários SAÍREM."
"O plano fez preços DESPENCAREM."
b) Se o sujeito não vier claramente expresso antes do infinitivo, é facultativo. A preferência é o
SINGULAR:
"Deixai VIR a mim as criancinhas."
"Mandei ENTRAR todos os convidados."
c) Se o sujeito do infinitivo for expresso por um pronome oblíquo (=os, as, nos...), devemos
usar o verbo no SINGULAR:
"Mandei-os ENTRAR."
"Ele não as deixou FALAR."
Uso do PARTICÍPIO
"Ele tinha ENTREGUE ou ENTREGADO os documentos."
O certo é "TINHA ENTREGADO".
Quando o verbo possui dois particípios (=verbos abundantes), a regra é a seguinte:
a) Com o verbo auxiliar TER (ou HAVER), devemos usar a forma regular (=com terminação "-
ado" ou "-ido").
b) Com o verbo auxiliar SER (ou ESTAR), devemos usar a forma irregular.
"Ele TINHA ENTREGADO os documentos."
"Os documentos FORAM ENTREGUES por ele."
OBSERVAÇÃO 1:
A princípio, esta regra se aplica aos verbos GANHAR (ganho e ganhado);
GASTAR (gasto e gastado); PAGAR (pago e pagado) e PEGAR (pego e pegado):
"Ele tinha ganhado, gastado, pagado e pegado";
"Isso foi ganho, gasto, pago e pego".
As formas regulares estão em desuso. Muitos autores aceitam as formas irregulares até com os
verbos TER e HAVER:
"Ele TINHA GANHO, TINHA GASTO, TINHA PAGO e TINHA PEGO".
OBSERVAÇÃO 2:
Os verbos TRAZER e CHEGAR não são abundantes. Possuem apenas um particípio: TRAZI-
DO e CHEGADO. Na linguagem culta, não aceitamos trago nem chego: "Isso foi trago por
mim", "Ele tinha chego atrasado" .
Por Fascículo > 5. Regência
I) Introdução - Que é Regência?
II) Regência Nominal
III) Regência Verbal
IV) Uso das Preposições - Casos especiais:
I) - Introdução - Que é Regência?
A regência dos verbos e dos nomes determina se os seus complementos devem ou não ser pre-
posicionados.
Os nomes (=substantivos, adjetivos e advérbios) pedem os complementos nominais (=sempre
com preposição). A Regência Nominal determina que preposição devemos usar:
"Ele fez referência (=substantivo) a este caso (=compl.nominal)."
Quem faz referência sempre faz referência "a" alguma coisa.
"Ele tem necessidade (=substantivo) de dinheiro (=compl.nom.)."
Quem tem necessidade tem necessidade "de" alguma coisa.
Observe que não há regras. A regência de uma palavra é um caso particular. Cada palavra pede
o seu complemento e "rege" a sua preposição. Ninguém precisa "decorar" que "quem faz refe-
rência faz referência "a" alguma coisa" ou "que tem necessidade "de" alguma coisa".
Na verdade, nós aprendemos regência "de ouvido". O fato de falar, ouvir, ler e escrever em lín-
gua portuguesa é o que nos leva a saber qual preposição devemos usar.
E aqui está o "perigo".
Nosso ouvido nem sempre está "bem-educado". Existe uma regência na linguagem popular que
deve ser evitada em textos formais, em situações que exijam uma linguagem mais cuidada,
mais clássica. O uso do verbo PREFERIR é um "belo" exemplo disso. É freqüente ouvirmos:
"Prefiro muito mais ir na praia do que trabalhar."
Temos aqui um festival de asneiras. A primeira é a mania de "preferir mais". Você já viu al-
guém "preferir menos"? Isso significa que "preferir mais" é uma redundância. E "preferir muito
mais" é "uma asneira muito maior".
O segundo erro é a regência do verbo IR: quem vai sempre vai "a" algum lugar. Devemos ir "à
praia". "IR em algum lugar" é vício de linguagem:
"vou no cinema", "fui no Banco", "vai no banheiro"... Devemos "IR ao cinema, ao Banco, ao
banheiro..." É verdade que muitas vezes, quando queremos ou precisamos ir ao banheiro, não
"dá tempo pra pensar qual é a preposição certa". É recomendável ir logo.
É interessante lembrar também a diferença entre "IR a" e "IR para".
Devemos "IR a algum lugar" se houver a idéia de "volta imediata" e "IR para algum lugar" se
houver idéia de "permanência, ida em definitivo ou sem data para voltar". Se "o diretor vai a
Brasília", entende-se uma viagem rápida, a serviço por exemplo, com retorno no mesmo dia ou
no dia seguinte. Entretanto, se "o diretor vai para Brasília", entende-se que ou "vai morar em
Brasília" ou "permanecer um bom tempo, sem data de volta". Agora você já sabe qual é a dife-
rença entre mandar alguém "a" ou "para" aquele lugar. Se você "mandá-lo para" e ele voltar, é
porque não sabe regência.
Finalmente o terceiro erro: a regência do verbo PREFERIR. Quem prefere sempre prefere al-
guma coisa "a" outra coisa. É um verbo transitivo direto e indireto. Devemos observar que o
objeto indireto deve vir com a preposição "a". O uso de "do que" é característico da regência
popular, e devemos evitar em texto formais que exijam uma regência clássica.
Em textos nos quais se exija uma linguagem mais cuidada, devemos usar:
"Prefiro ir à praia a trabalhar".
Portanto, devemos estudar Regência para tirar algumas dúvidas, por exemplo: "Isto está pró-
ximo "a" ou "de" alguma coisa"? A resposta é "tanto faz". Com o adjetivo próximo, você pode
usar a preposição "a" ou a preposição "de".
Velamos alguns casos especiais:
II) - Regência Nominal
Listamos a seguir alguns substantivos e adjetivos cuja regência merecem atenção:
Acessível a
Acostumado a ou com
Adequado a
Alheio a
Alusão a
Análogo a
Ansioso por
Apologia de
Apto a ou para
Atenção a ou para
Atento a ou em
Ávido de ou por
Benéfico a
Compatível com
Consulta a
Curioso de
Desacostumado a ou com
Desatento a
Desejoso de
Desfavorável a
Desrespeito a
Equivalente a
Falta a
Favorável a
Fiel a
Grato a
Grudado a
Guerra a
Hábil em
Habituado a
Hostil a
Ida a
Impotente para ou contra
Impróprio para
Inábil para
Inacessível a
Incapaz de ou para
Incompatível com
Ingrato com
Intolerante com
Invasão de
Junto a ou de
Leal a
Maior de
Morador em
Natural de
Necessário a
Necessidade de
Nocivo a
Obediente a
Oblíquo a
Ódio a ou contra
Odioso a ou para
Oposto a
Parecido a ou com
Paralelo a
Passível de
Preferência a ou por
Preferível a
Prestes a ou para
Pronto para ou em
Propensão para
Próprio de ou para
Próximo a ou de
Querido de ou por
Residente em
Respeito a ou por
Semelhante a
Simpatia por
Simpático a
Sito em
Situado em
Superior a
União com ou entre
Útil a ou para
III) - Regência Verbal
Quanto à regência verbal, os verbos estão divididos em:
a) TRANSITIVOS DIRETOS: pedem OBJETOS DIRETOS (=complementos verbais sem pre-
posição).
"Eu vejo (TD) o jogo (OD)."
(quem vê sempre vê alguma coisa)
b) TRANSITIVOS INDIRETOS: pedem OBJETOS INDIRETOS (=complementos verbais
com preposição).
"Eu me referi (TI) ao jogo (OI)."
"Eu gostei (TI) do jogo (OI)."
OBSERVAÇÃO 1:
Em caso de dúvida, sugiro um consulta aos nossos dicionários. Muitos não sabem que pode-
mos descobrir a regência das palavras nos bons dicionários.
Se você ficar em dúvida se "deve ajudar o colega ou ao colega", se "deve obedecer o chefe ou
ao chefe", vá ao dicionário. Lá você descobrirá que AJUDAR é transitivo direto e que OBE-
DECER é transitivo indireto. Assim não haverá mais dúvida: devemos "ajudar (TD) o colega
(OD)" e "obedecer (TI) ao chefe (OI)".
Caso o seu objetivo seja um concurso no qual a consulta aos dicionários seja proibida, sugiro
"muitos exercícios" e uma "boa decoreba". Se isso não for feito, você corre o risco de ser enga-
nado por nossas placas de trânsito. Você provavelmente já viu em alguma esquina: "OBEDE-
ÇA O SINAL". Deve ser por isso que muitos não obedecem! Está errado. O certo é: "OBEDE-
ÇA AO SINAL".
OBSERVAÇÃO 2:
Alguns verbos podem ser transitivos diretos ou indiretos. A regência muda segundo o seu sig-
nificado:
ASPIRAR (=transitivo direto): "respirar, cheirar, absorver".
ASPIRAR a (=transitivo indireto): "almejar, desejar".
"Ele aspira (TD) o perfume (OD)."
"O aparelho aspira (TD) o pó (OD)."
"Ele aspira (TI) a este cargo de governador(OI)."
É muito triste encontrarmos "cartas de apresentação" nas quais o candidato diz "aspirar muito
este emprego". O "coitado" ainda não foi contratado e já está "cheirando o emprego".
c) TRANSITIVOS DIRETOS E INDIRETOS: pedem um OBJETO DIRETO e um OBJETO
INDIRETO.
"Eu entreguei (TDI) o documento (OD) ao diretor (OI)."
OBSERVAÇÃO 3:
Devemos tomar cuidado com alguns verbos transitivos diretos e indiretos.
O verbo AVISAR, por exemplo, pode ser usado de duas formas:
"O professor avisou (TDI) a alteração do horário (OD) aos alunos (OI)."
Ou "O professor avisou (TDI) os alunos (OD) da alteração do horário
(OI)."
Quem avisa pode avisar alguma coisa (OD) a alguém (OI) ou avisar alguém
(OD) de alguma coisa (OI).
Devemos, portanto, evitar frases em o verbo transitivo direto e indireto
apresente dois objetos diretos ou dois objetos indiretos:
"O professor avisou aos alunos (OI) da alteração do horário (OI)."
OBSERVAÇÃO 4:
O verbo QUEIXAR-SE é uma exceção pois "pede" dois objetos indiretos:
"O aluno queixou-se do professor (OI) ao diretor (OI)."
Quem se queixa sempre se queixa de alguma coisa a alguém."
d) INTRANSITIVOS: não pedem OBJETO.
"E o trema não MORREU."
OBSERVAÇÃO 5:
Com verbos intransitivos não há objetos, mas pode haver outros "complementos" (=adjuntos
adverbiais):
"Ele morreu ontem à noite (=adj. adv. de tempo), em Los Angeles (=adj. adv. de lugar), de in-
suficiência respiratória (=adj. adv. de causa)."
"O gerente vai a Brasília (=adj. adv. de lugar)."
Regência de Alguns Verbos
1. AGRADAR
TD = "fazer agrado, fazer carinho, acariciar, contentar":
"O pai agradava os filhos."
"A loja agrada seus fregueses com muitas promoções."
TI (agradar a) = "satisfazer":
"O espetáculo não agradou ao público."
"O jogo está agradando ao torcedor."
OBSERVAÇÃO:
Responda rapidamente: "A boa secretária é aquela que agrada o chefe ou ao chefe" ? Se você
respondeu "depende", é porque já percebeu a diferença: 1a) se nos referimos a sua capacidade
profissional, a boa secretária "agrada ao chefe"; 2a) se a boa secretária "agrada o chefe", deve
ser uma secretária "muito boa" e provavelmente usa "outros" atributos"...
2. AGRADECER
TDI (= o objeto direto é coisa, e o indireto é pessoa):
"O dono do restaurante agradeceu a preferência (OD) aos fregueses (OI)."
(Devemos evitar em textos formais: "agradecer os fregueses pela preferência")
3. ALMEJAR
TD - "Ele almejava uma carreira melhor."
4. AMAR
TD - "Ele amava o pai."
5. ANSIAR
TI (ansiar por) - "Ele anseia por uma carreira melhor."
6. APERCEBER-SE
TI (aperceber-se de) - "Ele não se apercebeu das mudanças."
7. ASPIRAR
TD = "respirar, cheirar, absorver, inalar, sorver, haurir":
"Ela adora aspirar o ar do campo."
"O aparelho aspirava o pó do tapete."
TI (aspirar a ou por) = "almejar, desejar muito":
"Sempre aspirei a esse emprego."
"Ele não aspirava a nenhum cargo público."
8. ASSISTIR
TD = "prestar assistência, socorrer, ajudar":
"O médico assiste os doentes."
"Um economista está assistindo o presidente."
OBSERVAÇÃO:
Alguns gramáticos consideram esse caso facultativo (TD ou TI).
TI (assistir a) = "ver, presenciar, ser espectador":
"Cem mil pessoas assistiram ao jogo."
"Ontem assistimos a um belo espetáculo."
TI (assistir a) = "caber":
"Assiste ao prefeito o dever de resolver esse problema."
9. ATENDER
TD = "acolher, receber, recepcionar" (para pessoas):
"O governo atenderá os prefeitos."
"As meninas estão atendendo os visitantes."
"A secretária atendeu o telefone." (=quem telefonou)
"Ela foi atender a campainha." (=quem tocou a campainha)
TI (atender a) = para coisas (pedidos, solicitações, intimações...):
"O diretor não atendeu ao pedido do pais de alunos."
"Eles atenderam aos nossos conselhos."
10. ATINGIR
TD - "A empresa atingiu as metas desejadas."
"A novela ainda não atingiu o clímax."
11. AVISAR
TDI (alguma coisa a alguém ou alguém de alguma coisa):
"Avisamos a data aos participantes."
ou "Avisamos os participantes da data."
OBSERVAÇÃO:
Devemos evitar dois objetos indiretos:
"Avisamos aos participantes da data."
12 CERTIFICAR
TDI (alguma coisa a alguém ou alguém de alguma coisa):
"Ele certificou o incidente ao diretor."
ou "Ele certificou o diretor do incidente."
13. CERTIFICAR-SE
TI (certificar-se de) - "Ele se certificou do horário estabelecido."
14. CHAMAR
TD = "fazer vir, convocar":
"O diretor chamou o aluno à sua sala."
"Estão chamando o diretor ao telefone."
TI (chamar por) = "invocar":
"Ela chamava por Santa Bárbara."
TD ou TI (=caso facultativo) = "considerar, dar nome, rotular...":
"O gerente chamou o empregado / ao empregado (de) incompetente."
"Chamei o médico / ao médico (de) um grande charlatão."
15 CHEGAR
I (chegar a algum lugar) - "Ele chegou a Londres."
OBSERVAÇÃO:
Em textos formais, devemos evitar a preposição "em":
"Ele chegou em Londres."
16. CIENTIFICAR
TDI (alguma coisa a alguém ou alguém de alguma coisa):
"Ele cientificou as mudanças aos empregados."
ou "Ele cientificou os empregados das mudanças."
17. COMPARTILHAR
TD - "Queremos compartilhar a sua alegria."
"Não compartilhamos essa opinião."
OBSERVAÇÃO:
Devemos evitar, em textos formais, o uso da preposição "de":
"Compartilhar da sua alegria, dessa opinião..."
18. COMUNICAR
TDI - o objeto direto é sempre coisa, e o indireto é pessoa:
"A polícia comunicou o acidente (OD) à família (OI)."
"Nós vamos comunicar a nossa decisão ao diretor."
OBSERVAÇÃO:
Devemos evitar, em texto formais:
a) "Os vizinhos comunicaram a polícia sobre o roubo." (=comunicar alguém sobre alguma coi-
sa);
b) "Nós não fomos comunicados do acidente." (=somente a coisa pode ser comunicada; pesso-
as não podem ser comunicadas).
19. CONFIAR
TI (confiar em) = "ter confiança":
"Ele sempre confiou em seus amigos."
TDI (alguma coisa a alguém) = "entregar com confiança":
"Confiou os documentos a você."
20. CONHECER
TD - "Ele não conhecia todos os convidados."
21. CONVIDAR
TD = "pedir o simples comparecimento":
"Convidei muitos amigos."
TI (convidar a) = "atrair, provocar":
"O calor não convida ao trabalho."
TDI = "convocar, solicitar presença a ou para alguma coisa":
"Convidei o engenheiro para palestra."
"Convidou o presidente a tomar a palavra."
22. DECLINAR
TD = "citar nomes, declarar":
"Ele não declinou os nomes dos marginais."
TI (declinar de) = "afastar-se, desviar-se":
"Ele declinou do caminho do bem."
TDI = "eximir-se, fugir":
"Declino de mim essa tarefa."
I = "entrar em decadência":
"A paixão declinava."
23. DESAGRADAR
TI (desagradar a) - "O resultado da pesquisa desagradou ao candidato."
24. DESOBEDECER
TI (desobedecer a) - "Eles estão desobedecendo ao regulamento."
25. ENCARREGAR
TDI (alguma coisa a alguém ou alguém de alguma coisa):
"Encarregamos o serviço ao pedreiro."
"Encarregamos o pedreiro do serviço."
26. ENSINAR
TDI (alguma coisa a alguém ou alguém a fazer alguma coisa):
"Ensinava computação a seus funcionários."
"Ensinava seus funcionários a usar o computador."
27. ESQUECER
TD - "Eu esqueci os documentos".
"Eles esqueceram a data do seu aniversário."
TI (esquecer-se de = forma pronominal):
"Eu me esqueci dos documentos."
"Eles se esqueceram da data do seu aniversário."
28. ESTIMAR
TD - "Ele estima todos os amigos."
OBSERVAÇÃO:
Aceita-se o uso da preposição "a" com verbos transitivos diretos que denotem sentimento:
"Ele estima a todos os amigos."
29. FAVORECER
TD - "Os juízes estão favorecendo o Palmeiras."
30. IMPEDIR
TDI - "O professor impediu o aluno de sair mais cedo."
31. IMPLICAR
TD = "acarretar"
"A sua decisão implica demissões."
"Toda ação implica uma reação igual e contrária."
OBSERVAÇÃO:
Devemos evitar, em textos formais, "implicar em":
"...implica em demissões" e "...implica numa reação igual..."
TI (implicar-se em = forma pronominal) = "envolver-se":
"Ele se implicou em tráfico de drogas."
TI (implicar com) = "ter implicância":
"O professor implicava com todos."
32. INCUMBIR
TDI (alguma coisa a alguém ou alguém de alguma coisa):
"Incumbimos o serviço ao pintor."
ou "Incumbimos o pintor do serviço."
33. INFORMAR
TDI (alguma coisa a alguém ou alguém de alguma coisa):
"Informei aos gerentes as últimas decisões."
ou "Informei os gerentes das últimas decisões."
OBSERVAÇÃO:
A frase "Venho informar aos senhores de que, a partir de hoje, todo pagamento só poderá ser
feito até as 15h" está errada. Há dois objetos indiretos.
Quando um verbo é transitivo direto e indireto, é necessário que haja um objeto direto (=sem
preposição) e outro indireto (=com preposição):
"Venho informar os senhores (OD) de que, a partir de hoje, todo pagamento só poderá ser feito
até as 15h (OI)."
ou "Venho informar aos senhores (OI) que, a partir de hoje, todo pagamento só poderá ser feito
até as 15h (OD)."
34. INVESTIR
TI (investir contra) = "atacar":
"Ele investiu contra os criminosos."
TDI = "dar posse" ou "aplicar":
"O presidente investiu o irmão no cargo de diretor."
"Investi meu dinheiro em ações."
35. IR
I (ir a ou para) - "Vou à praia." (=idéia de transitoriedade);
"Vou para casa." (=idéia de permanência)
OBSERVAÇÃO:
Em textos formais, devemos evitar a preposição "em":
"Vou na praia."
36. LEMBRAR
TD - "Não lembro o seu nome."
"Eles lembraram a data do seu aniversário."
TI (lembrar-se de = forma pronominal):
"Não me lembro do seu nome."
"Eles se lembraram da data do seu aniversário."
TDI (lembrar alguma coisa a alguém ou alguém de alguma coisa):
"Ele lembrou a data do meu aniversário aos meus amigos."
ou "Ele lembrou os meus amigos da data do meu aniversário."
"Lembrei ao pessoal que estava na hora do almoço."
ou "Lembrei o pessoal de que estava na hora do almoço."
TD = "fazer recordar, trazer à memória":
"Seu rosto lembra meu pai."
"Esse empregado lembra o Paulo em tudo."
37. MORAR
I (morar em):
"Ela mora em bairro pobre de São Paulo."
"Moramos numa rua arborizada."
38. NAMORAR
TD - "Ela namorava aquele rapaz."
"Ele está namorando a vizinha."
OBSERVAÇÃO:
Não devemos usar a preposição "com":
"Ela namorava com aquele rapaz."
"Ele está namorando com a vizinha."
39. NOTIFICAR
TDI (alguma coisa a alguém ou alguém de alguma coisa):
"O diretor notificou a decisão aos funcionários."
ou "O diretor notificou os funcionários da decisão."
40. OBRIGAR
TDI - "O governo obrigou os contribuintes a pagar mais impostos."
41. OBEDECER
TI (obedecer a) - "Devemos obedecer aos pais."
"Obedeça ao sinal."
OBSERVAÇÃO:
Embora seja transitivo indireto, o verbo OBEDECER pode ser usado na voz passiva:
"O regulamento deve ser obedecido por todos"
"A fila não foi obedecida."
42. PAGAR
TDI (o objeto direto é sempre coisa, e o indireto é pessoa):
"Ele pagou a dívida aos credores."
"Ele pagou o imposto."
"Ele pagou ao governo."
OBSERVAÇÃO:
A voz passiva é aceitável:
"A dívida foi paga."
"Os credores foram pagos."
"O imposto foi pago."
43. PEDIR
TDI (alguma coisa a alguém):
"Ela pediu um presente ao pai."
"Eu pedi a todos que não faltassem."
OBSERVAÇÃO:
Devemos evitar o uso da preposição "para":
"Eu pedi a todos para que não faltassem."
A norma culta só admite PEDIR PARA quando há idéia subentendida de
"licença" ou "permissão":
"O aluno pediu para sair da sala." (=pediu licença para sair)
"Eu pedi para falar." (=pedi permissão para falar)
44. PERDOAR
TDI (o objeto direto é sempre coisa, e o indireto é pessoa):
"Ele perdoou as dívidas aos seus devedores."
"Eu perdoei os seus erros."
"Eu perdoei aos meus inimigos."
OBSERVAÇÃO 1:
A voz passiva é aceitável:
"As dívidas foram perdoadas."
"Os inimigos foram perdoados."
OBSERVAÇÃO 2: Alguns autores aceitam "pessoa" como objeto direto:
"Ele havia perdoado os inimigos."
45. PERGUNTAR
TDI - "Perguntei a idade ao garoto."
OBSERVAÇÃO:
É aceitável o uso da preposição "por":
"Ele perguntou pelo garoto."
"Perguntaram por ela a mim."
46. PISAR
TD - "Foi a primeira vez que ele pisou um palco."
"Não pise a grama."
OBSERVAÇÃO:
Na linguagem cotidiana é usual:
"...ele pisou num palco" e "não pise na grama".
47. PRECISAR
TD = "ser preciso, indicar com exatidão, determinar":
"Ele precisou a hora e o local do encontro."
TI (precisar de) = "necessitar":
"Ele não precisava de dinheiro."
OBSERVAÇÃO:
A preposição de pode ser omitida quando o objeto é oracional:
"Preciso que todos me ajudem."
48. PREFERIR
TDI (alguma coisa a outra) - "Prefiro cinema a teatro."
"O carioca prefere ir à praia a trabalhar."
OBSERVAÇÃO:
É inaceitável o uso de "do que":
"Prefiro ir à praia do que trabalhar."
49. PROCEDER
TI (proceder a) = "processar, realizar, concretizar":
"Mandou proceder ao recolhimento dos títulos."
"O juiz procederá ao julgamento."
I (proceder de) = "originar-se, derivar":
"Os produtos procedem da Alemanha."
I = "ter validade, ser verdadeiro, ser legítimo":
"Este argumento não procede."
50. PROIBIR
TDI (alguma coisa a alguém ou alguém de alguma coisa):
"Proibiu aos empregados que fumassem no local de trabalho."
ou "Proibiu os funcionários de fumar no local de trabalho."
51. PUXAR
TD - "O pai puxou a sua orelha."
TI (puxar a) = "ter semelhança":
"O filho puxou ao pai."
TI (puxar de) = "mancar":
"A criança puxava de uma perna."
52. QUEIXAR-SE
(...de alguma coisa a alguém):
"Queixava-se do chefe ao diretor."
53. QUERER
TD = "desejar":
"A criança quer bolinhas de gude."
"Queremos todos os gerentes aqui."
TI (querer a) = "amar, estimar, querer bem":
"Queremos bem aos nossos gerentes."
"A criança queria muito ao pai."
54. REPARAR
TD = "consertar":
"Ele precisa reparar os erros cometidos."
TI (reparar em) = "observar":
"Todos repararam no vestido que ela usava."
55. RESPEITAR
TD - "Devemos respeitar as leis."
56. RESPONDER
TD = "dar respostas grosseiras":
"Filho educado não responde os pais."
TD (objeto direto para exprimir a resposta):
"Ele não responderia isso."
"Ele respondeu qualquer coisa."
TI (responder a) = "dar resposta":
"Ele respondeu aos participantes do curso."
"Você deve responder ao questionário em trinta minutos."
OBSERVAÇÃO:
A voz passiva é aceitável:
"O questionário foi respondido rapidamente."
57. SERVIR
TD = "prestar serviço, oferecer":
"Ela ainda não serviu o almoço."
TI (servir a) = "ser útil, convir":
"Esse contrato não serve à nossa empresa."
"Esse homem não serve a uma mulher como você."
58. SIMPATIZAR
TI (simpatizar com):
"Não simpatizei com eles."
59. USAR
TD - "Não devemos usar essas máquinas."
OBSERVAÇÃO:
É aceitável o uso da preposição "de":
"Sempre usou de nossas máquinas."
60. USUFRUIR
TD - "Ele já pode usufruir a herança que recebeu."
OBSERVAÇÃO: Em textos formais, devemos evitar a preposição "de":
"...usufruir da herança..."
61. VENCER
TD - "O Vasco acabou vencendo o Flamengo."
62. VER
TD - "Ele viu o jogo."
63. VISAR
TD = "assinar, rubricar, pôr o visto" ou "apontar, mirar":
"Já visei o cheque."
"O diretor já visou todos os cheques."
"O atleta visou o alvo e atirou."
TI (visar a) = "almejar, desejar muito, aspirar a":
"Muitos políticos visavam ao cargo."
"Suas idéias visavam ao bem-estar dos empregados."
OBSERVAÇÃO:
Seguido de infinitivo, podemos omitir a preposição:
"Muitos políticos visam chegar ao poder."
IV) Uso das Preposições - Casos especiais:
Dúvidas???
1. A nível ou EM nível?
O certo é EM NÍVEL.
"O problema só será resolvido em nível federal."
Tudo deve ser resolvido em alto nível. Você já viu alguma coisa ser resolvida "a alto nível".
OBSERVAÇÃO:
A expressão A NÍVEL DE é um modismo a ser evitado.
"A nível de relatório, suas idéias são excelentes." As idéias podem ser excelentes, mas a sua
linguagem...
"Levou um chute a nível da barriga." Deve ter sido "na altura da barriga".
2. DELE ou DE ELE?
a) DELE corresponde a um pronome possessivo:
"O problema dele é não ouvir os outros."
b) DELE também pode ser a combinação da preposição de com o pronome pessoal oblíquo tô-
nico ele, na função de objeto indireto:
"Eu gosto muito dele."
c) DE ELE é a preposição de e o pronome pessoal reto ele. Só pode ser usado quando ele for
sujeito de uma oração reduzida de infinitivo:
"Cheguei antes de ele sair." (=de que ele saísse)
"Apesar de ele ter confirmado, prefiro aguardar um pouco mais."
O segredo é o verbo no INFINITIVO. Só podemos usar DE ELE quando houver o verbo no in-
finitivo:
"Está na hora de ele chegar."
OBSERVAÇÃO:
Essa regra não é rígida. Muitos autores aceitam a contração da preposição com o pronome co-
mo uma variante lingüística:
"Cheguei antes dele sair."
"Está na hora dele chegar."
Sem dúvida, é assim que a maioria dos brasileiros fala. No JB, porém, nós preferimos usar a
preposição separada do pronome.
Essa regra também se aplica em outros casos:
a) preposição + artigo:
"Ocorreu horas depois de o candidato ter comemorado a vitória."
"Isso acontecerá na hipótese de os Bancos reduzirem os juros."
b) preposição + pronome demonstrativo:
"Assinou contrato, apesar de esses padrões não garantirem uma margem de
segurança."
3. Dormir AO ou NO volante?
"Dormir AO volante" é perigoso, mas com a preposição correta. Pior é "dormir no volante." É
tragédia na certa.
4. Ficar AO ou NO sol?
"Ficar no sol" é um pouco difícil e ninguém agüentaria o calor!
Na verdade, "nós ficamos AO sol", assim como "ficamos AO vento, AO relento, À chuva..."
5. Entrar DE ou EM férias?
Tanto faz. É um caso facultativo.
Você pode "entrar de férias ou em férias", "ficar de férias ou em férias", "sair de férias ou em
férias".
6. Ficar DE ou EM pé?
Tanto faz. É outro caso facultativo.
7. Ganhar e perder DE ou POR?
Empatar EM ou POR?
O correto é ganhar, perder ou empatar POR. Na verdade, um time vence o outro PELO placar
de...
No caso de empatar, é aceitável a preposição EM: "Flamengo e Vasco empataram POR ou EM
..."
8. JUNTO A ou JUNTO DE?
Tanto faz. JUNTO A significa "perto de":
"O depósito fica junto à estrada." (ou "junto da estrada")
"A mesa está junto à estante." (ou "junto da estante")
OBSERVAÇÃO:
É freqüente o uso de JUNTO A substituindo as preposições com ou em: "O problema só será
resolvido junto à gerência."
"Conseguimos um empréstimo junto ao Banco Mundial."
No JB, nós desaconselhamos esse uso. Preferimos:
"O problema só será resolvido com a gerência."
"Conseguimos um empréstimo no Banco Mundial."
9. PARA COM ou POR?
Devemos evitar: "Devemos ter respeito para com o adversário."
É preferível: "Devemos ter respeito pelo adversário."
10. POR ENTRE e POR SOBRE?
Devemos evitar: "Passou a bola por entre as pernas do zagueiro"
"Há muitas nuvens por sobre o autódromo."
Devemos usar: "Passou a bola entre as pernas do zagueiro."
"Há muitas nuvens sobre o autódromo."
Devemos evitar: "Chutou a bola por sobre a trave."
Podemos usar: "Chutou a bola sobre a trave ou por cima da trave."
11. Omissão da preposição.
"NA semana passada ou Semana passada, houve manifestações no Paraná."
a) O melhor é não omitir a preposição:
"NA semana passada, houve manifestações no Paraná."
Mais exemplos:
Em vez de "Vote PZZ", use "Vote no PZZ".
Em vez de "O jogador ficará suspenso quatro jogos", prefira "...por quatro jogos".
b) Caso facultativo - antes da conjunção integrante QUE:
"Certifique-se QUE ou DE QUE não existe uma causa psicossomática para o seu fracasso."
"Não há suspeitas QUE ou DE QUE ele tenha cometido o crime."
c) Preposição desnecessária:
"Nós éramos em seis." Basta: "Nós éramos seis."
"Estavam em quatro à mesa." Basta; "Estavam quatro à mesa."
"Ficamos em cinco na sala." Basta: "Ficamos cinco na sala."
"As vendas caíram em 50%." Basta: "As vendas caíram 50%."
Outra situação em que a preposição é desnecessária:
"A previsão é DE QUE haverá chuvas fortes em todo o estado."
Basta: "A previsão é QUE haverá chuvas fortes em todo o estado."
Com o verbo SER, desaparece a necessidade da preposição DE:
Em vez de "A tendência é DE QUE...", use "A tendência é QUE..."
Em vez de "A possibilidade é DE QUE...", use "A possibilidade é QUE..."
OBSERVAÇÃO:
Não devemos confundir esse caso com aquele em que não se usa o verbo SER:
"Existe a previsão DE QUE haverá chuvas fortes em todo o estado."
"Houve a tendência DE QUE..."
"Comenta-se a possibilidade DE QUE..."
12. Repetição da preposição.
"Agradeço PELO carinho e atenção." ou "Agradeço PELO carinho e PELA atenção."
O melhor é repetir a preposição:
"Agradeço PELO carinho e PELA atenção."
"Houve uma reunião com candidatos do PT e do PDT."
13. TEM DE ou TEM QUE?
Por ser um caso de preposição, deveríamos usar TEM DE. Hoje em dia, porém, o uso de TEM
QUE está consagrado.
Podemos dizer que "Ele tem de resolver o problema" ou "Ele tem que resolver o problema".
Se quisermos optar por uma delas, prefiro TEM DE.
14. Torcer PARA ou POR?
O certo é "torcer POR".
"Eu torço PELO Internacional."
15. TV A cores ou EM cores?
O certo é "TV EM cores". Você já viu "TV a preto e branco"? Se a TV é "EM preto e branco",
também deve ser "EM cores".
Por Fascículo > 6. Crase
I) Introdução
II) Casos Especiais
III) Casos Impossíveis
IV) Dúvidas Finais
I) Introdução
Você sabia que CRASE não é acento?
Crase é a fusão de duas vogais iguais, é a contração de dois aa.
Acento grave (`) é o sinal que indica a crase (a + a = à).
Para haver crase, é necessário que existam dois aa. O primeiro a é preposição; o segundo pode
ser:
a) artigo definido (a/as)
"Ele se referiu a (preposição) + a (artigo) carta." = "Ele se referiu à carta."
"Ele entregou o documento a (preposição) + as (artigo) professoras." = "Ele entregou o docu-
mento às professoras."
b) pronome demonstrativo (a/as):
"Sua camisa é igual a (preposição) + a (pronome = a camisa) do meu pai." = "Sua camisa é i-
gual à do meu pai."
"Ele fez referência a (preposição) + as (pronome = aquelas) que saíram." = "Ele fez referência
às que saíram."
c) vogal a inicial dos pronomes aquele, aqueles, aquela, aquelas e aquilo:
"Ele se referiu a (preposição) + aquele livro." = "Ele se referiu àquele livro."
"Ele fez alusão a (preposição) + aquelas obras." = "Ele fez alusão àquelas obras."
"Prefiro isso a (preposição) + aquilo." = "Prefiro isso àquilo."
OBSERVAÇÃO 1:
Se o verbo for transitivo direto, não há preposição, por isso não ocorre crase:
"A secretária escreveu (TD) a carta (OD)." (a = artigo definido)
"Ele não encontrou (TD) as professoras (OD)." (as = artigo definido)
"A testemunha acusou (TD) a da direita." (a = pronome = aquela da direita)
"Não reconheci (TD) as que saíram." (as = pronome = aquelas que saíram)
"Nós já lemos (TD) aquele livro (OD)."
"Ainda não vi (TD) aquilo (OD)."
OBSERVAÇÃO 2:
Para comprovarmos a crase, o melhor "macete" é substituir o substantivo feminino por um
masculino. Comprovamos a crase se o A se transformar em AO:
"Ele se referiu à carta." (=ao documento)
"Ele entregou o documento às professoras." (=aos professores)
"Sua camisa é igual à do meu pai." (=seu casaco é igual ao do meu pai)
"Ele fez referência às que saíram." (=aos que saíram)
Observe a diferença:
"A secretária escreveu a carta." (=o documento)
"Ele não encontrou as professoras." (=os professores)
"A testemunha acusou a da direita." (=o da direita)
"Não reconheci as que saíram." (=os que saíram)
"Ele se referiu a esta carta." (=a este documento)
"Tráfego proibido a motocicletas." (=a caminhões)
Este "macete" não se aplica no caso dos pronomes aquele(s), aquela(s) e aquilo.
II) Casos Especiais
1. Vou a ou à Brasília?
Vou a ou à Bahia?
O certo é: "Vou a Brasília" e "Vou à Bahia".
Por que só ocorre crase no segundo caso?
Quando vamos sempre vamos a algum lugar. O verbo IR pede a preposição a.
O problema é que o nome do lugar aonde vamos às vezes vem antecedido de artigo definido a,
às vezes não.
Enquanto Brasília não admite artigo definido, a Bahia é antecedida do artigo definido a. Isso
significa que você "VAI À BAHIA" (=preposição a do verbo IR + artigo definido a que ante-
cede a Bahia) e que você "VAI A BRASÍLIA" (=sem crase, porque só há a preposição a do
verbo IR).
Se você quer saber com mais rapidez se deve IR À ou A algum lugar (com ou sem o acento da
crase), use o seguinte "macete":
Antes de IR, VOLTE.
Se você volta DA, significa que há artigo: você vai À;
Se você volta DE, significa que não há artigo: você vai A.
Exemplos:
"Você volta DA Bahia" > "Você vai à Bahia."
"Você volta DE Brasília" > "Você vai a Brasília."
Vamos testar o "macete" em outros exemplos:
"Vou à China." (=volto DA China)
"Vou a Israel." (=volto DE Israel)
"Vou à Paraíba." (=volto DA Paraíba)
"Vou a Goiás." (=volto DE Goiás)
"Vou a Curitiba." (=volto DE Curitiba)
"Vou à progressista Curitiba." (=volto DA progressista Curitiba)
"Vou à Barra da Tijuca." (=volto DA Barra da Tijuca)
"Vou a Copacabana." (=volto DE Copacabana)
No Rio de Janeiro, o nosso metrô é bem interessante: só ocorre crase num caso:
"Vou à Tijuca." (=volto DA Tijuca);
"Vou a Botafogo." (=volto DE Botafogo).
É importante lembrar que este "macete" não se aplica a todos os casos de crase. Na verdade,
ele resolve o problema das "viagens": IR à ou a, DIRIGIR-SE à ou a, VIAJAR à ou a, CHE-
GAR à ou a ...
Vamos testar o "macete".
"Uma estrada liga a Suíça a Itália; outra liga a Espanha a Portugal."
Em que "estrada" ocorre crase?
Você acertou se respondeu a primeira. Por quê?
Porque só há artigo definido antes da Itália.
Observe o "macete": "volto DA Itália" e "volto DE Portugal".
Portanto: "Uma estrada liga a Suíça à Itália; outra liga a Espanha a Portugal."
2. Vou à ou a Roma?
Vou à ou a antiga Roma?
O certo é: "Vou a Roma" e "Vou à antiga Roma".
Podemos usar o "macete" do verbo VOLTAR:
"Volto DE Roma" e "Volto DA antiga Roma".
Observe que não há artigo antes de Roma. O artigo aparece se houver um adjetivo ou termo
equivalente:
"Vou a Paris." (=volto DE Paris)
"Vou à Paris dos meus sonhos." (=volto DA Paris dos meus sonhos)
"Vou a Porto Alegre." (=volto DE Porto Alegre)
"Vou à bela Porto Alegre." (=volto DA bela Porto Alegre)
"Vou a Londres." (=volto DE Londres)
"Vou à Londres do Big Ben." (=volto DA Londres do Big Ben)
3. Vou à ou a terra?
O certo é: "Vou a terra."
A palavra TERRA, no sentido de "terra firme, chão" (= oposto de bordo), não recebe artigo de-
finido, logo não haverá crase.
Observe o macete: "volto DE terra".
Ao viajar de avião, podemos observar a ausência do artigo definido antes da palavra TERRA
(=terra firme). Quando o avião aterrissa, uma das comissárias de bordo vai ao microfone e diz:
"Para vôos de conexão e mais informações, procure o nosso pessoal em terra." Por que não na
terra? Porque é em terra firme, e não no planeta Terra. Em outras palavras, o que ela quer dizer
é o seguinte: "Não me encha o saco a bordo do avião, vá ao balcão da companhia no aeropor-
to."
OBSERVAÇÃO:
Qualquer outra TERRA, inclusive o planeta Terra, recebe o artigo definido. Portanto, haverá
crase:
"Vou à terra dos meus avós." (=volto DA terra dos meus avós)
"Cheguei à terra natal." (=volto DA terra natal)
"Ele se referiu à Terra." (=volto DA Terra / do planeta Terra)
Observe a diferença:
"Depois de tantos dias no mar, chegamos a terra." (=terra firme)
"Depois de tantos dias no mar, chegamos à terra procurada."
4. Vou à ou a casa?
O certo é: "Vou a casa."
A sua própria casa não "merece" artigo definido.
Observe: Se "você vem DE casa" ou se "você ficou EM casa", só pode ser a sua própria casa.
OBSERVAÇÃO 1:
Qualquer outra casa vem antecedida de artigo definido. Isso significa que haverá crase:
"Vou à casa dos meus pais." (=volto DA casa dos meus pais)
"Vou à casa de Angra." (=volto DA casa de Angra)
"Vou à casa José Silva." (=volto DA casa José Silva)
"Vou à casa do vizinho." (=volto DA casa do vizinho)
"Vou à casa dela." (=volto DA casa dela)
OBSERVAÇÃO 2:
Não haverá crase somente quando a palavra CASA estiver sem nenhum adjunto:
"Ele ainda não retornou a casa desde aquele dia."
5. Vou à ou a minha casa?
Tanto faz. É um caso facultativo. Pode haver crase ou não.
A diferença é a presença do pronome possessivo minha antes da casa.
Antes de pronomes possessivos é facultativo o uso do artigo; sendo assim, facultativo também
será o uso do acento da crase:
"Vou a ou à minha casa."
"Fez referência a ou à tua empresa."
"Estamos a ou à sua disposição."
OBSERVAÇÃO 1:
O uso do acento da crase só é facultativo antes de pronomes possessivos femininos no singular
(=minha, tua, sua, nossa, vossa).
Se for masculino, não há crase:
"Ele veio a ou ao meu apartamento"
"Estamos a ou ao seu dispor."
OBSERVAÇÃO 2:
Se estiver no plural,
a) haverá crase (preposição a + artigo plural as):
"Fez referência às minhas idéias."
"Fez alusão às suas poesias."
b) não haverá crase (preposição a, sem artigo definido):
"Fez referências a minhas idéias."
"Fez alusão a suas idéias."
6. Ele se referiu à ou a Cláudia?
Tanto faz. É outro caso facultativo.
Antes de nomes de pessoas, o uso do artigo definido é facultativo.
Portanto, em se tratando de nome de mulher, pode ou não ocorrer a crase.
OBSERVAÇÃO 1:
Quando se trata de pessoas que façam parte do nosso círculo de amizades, com as quais temos
uma certa intimidade, usamos artigo definido. Isso significa que devemos usar o acento da cra-
se:
"Refiro-me à Cláudia." (=pessoa amiga)
Quando se trata de pessoas com as quais não temos nenhuma intimidade, não há o acento da
crase porque não usamos artigo definido antes de nomes de pessoas desconhecidas ou não ami-
gas:
"Refiro-me a Cláudia." (=pessoa desconhecida ou não amiga)
OBSERVAÇÃO 2:
Antes de nomes próprios de pessoas célebres não se usa artigo definido.
Isso significa que não haverá acento da crase:
"Ele fez referência a Joana d'Arc."
"Fizeram alusão a Cleópatra."
7. Ele escreve a ou à Jorge Amado?
Depende. Se ele está escrevendo "para Jorge Amado", não há o acento da crase:
"Ele escreve a Jorge Amado." (=para Jorge Amado)
Se ele escreve "à moda ", "ao estilo" de Jorge Amado, o uso do acento grave é obrigatório:
"Ele escreve à Jorge Amado." (=ao estilo de Jorge Amado)
Usaremos o acento grave sempre que houver uma destas locuções subentendidas: "à moda de",
"à maneira de" ou "ao estilo de":
"Sapato à Luís XV."
"Poesia à Manuel Bandeira."
"Revolução à 1930."
"Vestir-se à 1800."
"Filé à francesa."
"Bife à milanesa."
OBSERVAÇÃO 1:
Em "Moramos em São Paulo de 1958 a 1960", não há crase porque não há artigo definido antes
de 1960.
Em "Elas se vestem à 1960", há acento grave porque subentendemos "à moda de 1960".
OBSERVAÇÃO 2:
Se os nossos cardápios fossem bem escritos, em português é claro, teríamos um "festival de
crase":
"Viradinho à paulista." (=à moda de São Paulo)
"Tutu à mineira." (=à moda de Minas)
"Camarão à baiana." (=à moda da Bahia)
"Churrasco à gaúcha." (=à moda gaúcha)
Observe que neste caso o acento grave deve ser usado mesmo antes de palavras masculinas:
"Churrasco à Osvaldo Aranha." (=à moda de Osvaldo Aranha)
O simples fato de estar no cardápio não garante a crase:
"Filé a cavalo"
"Frango a passarinho."
Não usamos o acento grave nesses dois exemplos. A locução "à moda de" não está subentendi-
da. Um "filé a cavalo" não é um "filé à moda do cavalo". Graças a Deus!
8. Vendeu a ou à vista?
Se alguém "vendeu a vista", deve ter vendido "o olho" (a vista = objeto direto). O desespero era
tanto, que um vendeu o carro, o outro vendeu o rim e esse vendeu a vista.
Se não era nada disso que você queria dizer, então a resposta é outra:
"vendeu à vista", e não a prazo (à vista = adjunto adverbial de modo).
Observe que nesse caso não se aplica o "macete" da substituição do feminino pelo masculino (à
vista > a prazo).
Por causa disso, há muita polêmica e algumas divergências entre escritores, jornalistas, gramá-
ticos e professores.
Após muita pesquisa, mudei meu ponto de vista e assumo a seguinte posição: acentua-se o a
que inicia locuções (adverbiais, prepositivas, conjuntivas) com palavra FEMININA:
À beça
À beira de
À cata de
À custa de
À deriva
À direita
À distância
À espreita
À esquerda
À exceção de
À feição de
À força
À francesa
À frente (de)
À luz ("dar à luz um filho")
À mão
À maneira de
À medida que
À mercê de
À míngua
À minuta
À moda (de)
À noite
À paisana
À parte
À pressa
À primeira vista
À procura de
À proporção que
À queima-roupa
À revelia
À risca
À semelhança de
À tarde
À toa
À toda
À última hora
À uma (=conjuntamente)
À unha
À vista
À vontade
Às avessas
Às cegas
Às claras
Às escondidas
Às moscas
Às ocultas
Às ordens
Às vezes (=algumas vezes, de vez em quando)
OBSERVAÇÃO 1:
As locuções adverbiais indicam lugar, tempo, modo, instrumento:
"Entrou à direita."
"Está à distância de um metro." (=adjuntos adverbiais de lugar)
"Só voltará à tarde."
"À última hora, desistiu." (=adjuntos adverbiais de tempo)
"Saiu andando à toa."
"Falou tudo às claras." (=adjuntos adverbiais de modo)
"Fez o trabalho à mão."
"O marginal foi morto à faca." (=adjuntos adverbiais de instrumento)
OBSERVAÇÃO 2:
Nas locuções prepositivas, só haverá o acento grave com palavras femininas: à custa de, à pro-
cura de, à mercê de, à moda de...
Não há acento grave em locuções com palavras masculinas:
"Falávamos a respeito do jogo de ontem."
OBSERVAÇÃO 3:
As duas locuções conjuntivas (=ligam orações) dão idéia de "proporção":
"A sala fica cheia à proporção que os convidados vão chegando."
"À medida que o tempo passa, ele fica mais irresponsável."
9. A procura ou à procura?
Depende.
Em "A procura dos criminosos durou dez dias", não há o acento da crase porque não há prepo-
sição (A procura dos criminosos = sujeito).
Em "A polícia está à procura dos criminosos", devemos usar o acento grave porque à procura
de é uma locução prepositiva.
Observe outros exemplos:
"A base do triângulo mede 10cm." (=sujeito)
"Ele vive à base de remédios." (=locução prepositiva)
"A moda de 1970 está voltando." (=sujeito)
"Ela se veste à moda de 1970." (=locução prepositiva)
10. Carro a ou à álcool?
O certo é "carro a álcool".
Álcool é uma palavra masculina. A regra das locuções só se aplica a palavras femininas:
"Carro à gasolina"
"Fez o trabalho à máquina"
"Resolveu tudo à bala."
"Pintou o quadro à tinta."
11. Bateu a ou à porta?
Depende. Se você "bateu a porta", significa que você "fechou a porta" (a porta = objeto direto);
se você "bateu à porta", quer dizer que "bateu na porta" (à porta = adjunto adverbial de lugar).
12. Sentou na ou à mesa?
Todos podem sentar "na mesa", mas é falta de educação e a mesa pode não agüentar. Na ver-
dade, nós sentamos à mesa.
Devemos usar o acento da crase porque "à mesa" é um adjunto adverbial de lugar.
13. As vezes ou às vezes?
Usaremos o acento grave somente quando às vezes for uma locução adverbial de tempo (=de
vez em quando, em algumas vezes):
"Às vezes os alunos acertam esta questão."
"O Flamengo às vezes ganha do Fluminense."
Quando não houver a idéia de "de vez em quando", não devemos usar o acento grave:
"Foram raras as vezes em que ele veio aqui." (as vezes = sujeito)
"Em todas as vezes, ele criou problemas." (= não há a preposição a, por isso não ocorre a crase;
temos somente o artigo definido as).
14. Saiu a noite ou à noite?
Depende.
Se "a noite saiu", eu vou entender que quem saiu foi a noite (=sentido figurado): "a noite sur-
giu, apareceu..." ou simplesmente "anoiteceu".
Entretanto, se você "saiu à noite", significa que você não saiu "à tarde ou pela manhã", ou seja,
"à noite" é um adjunto adverbial de tempo.
15. Saiu as 10h ou às 10h?
Só pode ter sido "às 10h".
"Hora" indica tempo e é uma palavra feminina, logo deveremos usar o acento grave:
"A aula começa sempre às 7h."
"A reunião será às 8h."
"A sessão só começará às 16h."
"Ele vai sair às 20h."
16. A reunião será ... das 2h às 4h da tarde ou de 2h às 4h da tarde ou de duas a quatro
horas?
A reunião pode ser "das 2h às h da tarde" ou "de duas a horas".
A reunião que vai "das 2h às 4h" começa exatamente às 2h e termina precisamente às 4h. Para
haver a idéia de "exatidão, precisão", é necessário que usemos o artigo definido. Isso justifica o
uso da preposição de + o artigo definido as (="das 2h") e a crase (= "às 4h").
Não devemos usar "de 2h às 4h".
A outra reunião que vai "de duas a quatro horas" não definiu a hora para começar ou terminar.
Temos apenas uma idéia aproximada da duração da tal reunião. Não há artigo definido, logo
existem apenas as preposições:
"de...a".
OBSERVAÇÃO:
Podemos usar essa "dica" em outras situações:
"Trabalhamos de segunda a sexta." (= de ... a ...)
"O torneio vai da próxima segunda à sexta-feira." (= da ... à ...)
"Leia de cinco a dez páginas por dia." (= de ... a ...)
"Leia da página 5 à 10." (= da ... à ...)
"Ficou conosco de janeiro a dezembro." (= de ... a ...)
"Ficou conosco do meio-dia à meia-noite." (= do ... à ...)
"O congresso vai de cinco a quinze de janeiro." (= de ... a ...)
"O aumento será de 2% a 5%." (= de ... a ...)
17. A reunião será a ou à partir das 14h?
O certo é: "A reunião será a partir das 14h."
Não há crase, porque é impossível haver artigo antes de verbo (=partir).
18. Ele está aqui desde as ou às 14h?
O certo é: "Ele está aqui desde as 14h."
A presença da preposição desde significa que não há a preposição a, logo não há crase. Temos
apenas o artigo definido as:
Vejamos outros casos semelhantes:
"Após as 18h, as nossas portas estão fechadas."
"Ele fez o gol com a mão."
"A reunião ficou para as 16h."
"Ele teve de comparecer perante a justiça."
OBSERVAÇÃO:
Veja a diferença:
"Ela vai à praia."
"Ela vai para a praia."
No primeiro caso, "ela vai a", ou seja, "vai e volta, tem hora pra voltar"; no segundo, "ela vai
para". Isso quer dizer que "ela não tem hora pra voltar, lá sabe Deus se volta".
19. Ele ficará aqui até as ou às 18h?
Para muitos gramáticos e professores, é um caso facultativo.
Devido à presença da preposição até, prefiro a forma sem o acento grave:
"Ele ficará aqui até as 18h."
OBSERVAÇÃO:
O mesmo se aplica no adjunto adverbial de lugar:
"Ele foi até a/à praia." (="Ele foi até o/ao supermercado")
Mais uma vez, prefiro a forma sem o acento grave:
"Ele foi até a praia." (="Ele foi até o supermercado.")
20. A próxima reunião será a ou à uma hora da madrugada?
O certo é: "A próxima reunião será à uma hora da tarde."
"À uma hora da tarde" é adjunto adverbial de tempo formado por palavra feminina. O acento
grave é obrigatório.
OBSERVAÇÃO 1:
Não devemos confundir "à uma hora da tarde ou da madrugada" com "a uma hora qualquer".
No primeiro caso, a palavra uma é numeral (= 1h); no segundo, é artigo indefinido.
"Ele chegou à uma hora da tarde." (="às 13h")
"Ele chegou a uma certa hora." (="a uma hora qualquer")
Antes de artigo indefinido é impossível haver crase, pois não teremos o artigo a que é definido:
"Ele disse que chegaria a uma hora qualquer."
"Referia-se a uma velha história."
"Entregou os documentos a uma secretária."
OBSERVAÇÃO 2:
Em "Todos responderam à uma", devemos usar o acento grave.
"À uma" (="a uma só voz") é uma locução adverbial de modo.
21. Eu fui aquela ou àquela farmácia?
O certo é: "Eu fui àquela farmácia."
Os pronomes AQUELE(S), AQUELA(S) e AQUILO deverão receber o acento grave sempre
que forem complementos de verbos e nomes cuja regência exija a preposição a:
"Eu fui a (=preposição) aquela farmácia." (=Eu fui àquela farmácia)
"Ele não fez referência a (=preposição) aquilo." (=...referência àquilo)
Se o verbo for transitivo direto, não haverá crase:
"Ele viu (TD) aquela farmácia (OD)."
"Ele não leu (TD) aquilo."
Uma certa pessoa (é bom não lembrar o nome), certa vez, ao ser vaiado durante um discurso,
disse: "Pode vaiar. Eu não tenho medo. Eu tenho aquilo roxo." Se você quer saber se o "aquilo"
dele tem ou não o acento da crase, não perca seu tempo querendo ver o "aquilo dele". Se é ro-
xo, amarelo ou rosa, é problema dele. Eu sei que não tem o acento grave por uma razão muito
simples: "quem tem sempre tem alguma coisa", ou seja, o verbo ter é transitivo direto. Portan-
to, "ele tem ou tinha (TD) aquilo roxo (OD)."
OBSERVAÇÃO:
Algumas locuções adverbiais de tempo iniciadas pela preposição em podem ser iniciadas pela
preposição a. Nesse caso se usa o acento da crase:
"Àquela hora tudo estava calmo." (=Naquela hora)
22. A nossa disciplina é semelhante a ou à dos militares?
O certo é: "A nossa disciplina é semelhante à dos militares."
Nesse caso temos a fusão da preposição a (=exigida pelo adjetivo semelhante) + o pronome
demonstrativo a (aquela = a disciplina):
"A nossa disciplina é semelhante a (=preposição) + a (=aquela disciplina) dos militares."
Os pronomes demonstrativos a e as (=aquela e aquelas) geralmente vêm antes da preposição de
ou do pronome relativo que:
"Sua reivindicação é igual à dos metalúrgicos." (=igual a aquela dos metalúrgicos)
"Faça uma linha paralela à do centro." (=paralela a aquela do centro)
"Ele se referiu às que reclamaram." (=ele se referiu a aquelas que reclamaram)
"Essa piada é semelhante à que me contaram ontem." (=semelhante a aquela que me contaram
ontem)
OBSERVAÇÃO:
Se o verbo for transitivo direto, é impossível haver crase:
"Ele chamou a da esquerda." (=chamou aquela da esquerda)
"Não conheço a que saiu." (=não conheço aquela que saiu)
23. Aqui está a obra a ou à que ele se referiu?
O certo é: "Aqui está a obra a que ele se referiu."
Nesse caso não há crase. Temos apenas a preposição a exigida pela regência do verbo referir-se
(=quem se refere sempre se refere a alguma coisa). Não há artigo definido nem pronome de-
monstrativo:
"Aqui está a obra a que ele se referiu" NÃO significa "a obra a aquela que ele se referiu".
24. Aqui está a obra a ou à qual ele se referiu?
O certo é: "Aqui está a obra à qual ele se referiu."
Observe a diferença:
"Aqui está a obra a que ele se referiu."
"Aqui está a obra à qual ele se referiu."
Qual é a diferença? Por que só ocorre a crase no segundo caso?
No primeiro caso, temos apenas a preposição a exigida pelo verbo referir-se.
No segundo, ocorre crase porque, além da preposição a do verbo referir-se, temos o artigo a
que antecede o pronome relativo qual (= a a qual ele se referiu).
Isso significa que deveremos usar o acento grave no artigo a / as que antecede o pronome rela-
tivo qual / quais (=à qual / às quais), sempre que houver também a preposição a:
"Esta é aluna à qual o professor entregou as provas."
"Estas são as funcionárias às quais fizemos referência."
"Não lembro o nome da cidade à qual eles chegaram ontem."
OBSERVAÇÃO:
Se o verbo for transitivo direto, não há a necessidade da preposição e conseqüentemente não
ocorre crase:
"Esta é a aluna a qual vimos (TD) na praia."
"Estas são as funcionárias as quais estamos ajudando (TD)."
Podemos usar o "macete" da substituição da palavra feminina por uma
masculina:
"Esta é a aluna à qual o professor entregou as provas."
(= Este é o aluno ao qual o professor entregou as provas)
"Esta é a aluna a qual vimos na praia."
(= Este é o aluno o qual vimos na praia)
"Estas são as funcionárias às quais fizemos referência."
(= Estes são os funcionários aos quais fizemos referência)
"Estas são as funcionárias as quais estamos ajudando."
(= Estes são os funcionários os quais estamos ajudando)
25. Esta é a aluna à ou a quem o professor entregou as provas?
O certo é: "Esta é a aluna a quem o professor entregou as provas."
Antes do pronome quem jamais haverá artigo. Isso significa que jamais
haverá crase antes do pronome quem.
III) Casos Impossíveis
A seguir, temos alguns casos nos quais, por não haver artigo definido
feminino a / as, é impossível ocorrer crase:
1) antes de palavras masculinas:
"Gostava de andar a cavalo."
"Viajou a serviço."
"Vendeu tudo a prazo."
"Não chegou a tempo de assistir ao início do filme."
"Comprou um fogão a gás."
2) antes de verbos:
"Começou a redigir."
"Prefiro isso a aceitá-lo na empresa."
"Entra em vigor a partir de hoje."
"Estamos dispostos a colaborar."
3) antes de artigos indefinidos:
"Referia-se a uma antiga lei."
"Ofereceu o prêmio a uma velha funcionária."
"Fez alusão a uma poesia romântica."
"Isso ocorreu devido a uma situação excepcional."
4) antes de pronomes indefinidos:
"Entregou o livro a alguém."
"Sempre se refere a qualquer funcionário."
"Começou a toda força."
"Ofendeu a todos."
"A certa altura, todos saíram."
"Não entregue o documento a ninguém."
5) antes de pronomes demonstrativos (=esta, essa, isso):
"Estamos atentos a essa tendência."
"Ofereceu o prêmio a esta aluna aqui."
"Prefiro aquilo a isso aqui."
"Entregou a essa secretária tudo que ela pediu."
6) antes de pronomes pessoais:
"Ofereceu o prêmio a mim."
"Entregou a ela tudo que pediu."
"Ele se referiu a ti."
"Fizeram referência a nós."
"Elas feriram a si mesmas."
"Tudo foi entregue a elas."
7) antes de pronomes de tratamento:
"Entreguei o documento a S.Exa."
"Ele disse a V.Sa que não viria."
"Eu me referia a você."
"Fez alusão a Sua Santidade."
OBSERVAÇÃO 1:
Quando a expressão de tratamento só se refere à mulher, pode ocorrer a crase:
"Falou à senhora." (=Falou ao senhor)
à senhorita."
à doutora."
à madame."
OBSERVAÇÃO 2:
Antes da palavra Dona (que se abrevia D.), não há artigo. Isso significa que nunca ocorrerá
crase:
"Entreguei a chave da casa a Dona Maria."
"Contei tudo a D. Francisca."
8) Antes de palavras no plural (quando o a estiver no singular):
"Não obedecia a leis pouco conhecidas."
"O desentendimento levou-o a situações constrangedoras."
"Referia-se a cidades do interior."
"Não me refiro a mulheres, e sim a crianças."
"Não dê ouvidos a reclamações idiotas."
"A reunião será a portas fechadas."
"Tráfego proibido a motocicletas."
"Foi recebido a tiros."
9) Antes de substantivos repetidos, nas locuções adverbiais:
"Ficou cara a cara."
"Está frente a frente."
"Venceu de ponta a ponta."
"Caía gota a gota."
10) Antes de qualquer nome feminino tomado em sentido genérico ou indeterminado, isto
é, sem artigo definido:
"Não fui a reunião nenhuma." (=Não fui a encontro nenhum)
"Ela é candidata a rainha do carnaval." (=...candidato a rei...)
IV) Dúvidas Finais
1ª) Entrega a domicílio ou à domicílio?
Essa é a famosa dúvida do nada com coisa alguma.
Na verdade, deveríamos fazer "entregas em domicílio", assim como faríamos qualquer entrega
"em casa", "no escritório", "no quarto"...
Pior que usar a preposição a é a crase. Domicílio é um substantivo masculino. Seria um caso de
crase impossível.
2ª) Comida a kilo ou à kilo?
Outra dúvida de nada com coisa alguma.
Primeiro, a letra K, em português, só deve ser usada em abreviaturas: k, km, kg...
Quilômetro e quilograma, por extenso, se escreve com "qu". Portanto, devemos grafar quilo
(=com "qu").
Segundo, quilograma é uma palavra masculina. Isso significa que não há artigo feminino, logo
a crase é impossível.
O certo é: "Comida a quilo".
O que eu não sei é se os donos de restaurantes vão mudar seus cartazes.
O brasileiro está tão acostumado com "comida à kilo", que é capaz de desconfiar da qualidade
do restaurante que anuncie corretamente: "comida a quilo".
Por Fascículo > 7. Pronomes
Parte 1 - Uso dos PRONOMES PESSOAIS
Parte 2 - Uso dos PRONOMES DE TRATAMENTO
Parte 3 - Uso dos PRONOMES POSSESSIVOS
Parte 4 - Colocação dos PRONOMES ÁTONOS
Parte 5 - Uso dos PRONOMES DEMONSTRATIVOS
Parte 6 - Uso dos PRONOMES RELATIVOS
Parte 1 - Uso dos PRONOMES PESSOAIS
Introdução: PRONOMES PESSOAIS RETOS
Observação:
Os pronomes pessoais retos sempre exercem a função de sujeito.
Os pronomes pessoais oblíquos exercem as funções de complemento (=objeto direto, objeto
indireto, complemento nominal...)
Em razão disso, as frases "eu encontrei ele" e "isso é para mim fazer" estão erradas.
No primeiro caso, não podemos usar um pronome pessoal reto (=ele) na função de objeto:
"Eu (=sujeito) encontrei (=verbo transitivo direto) ele (=objeto direto)."
Devemos usar um pronome pessoal oblíquo. Para substituir os objetos diretos, usamos os pro-
nomes o, a, os, as. (Para substituir os objetos indiretos, usaremos lhe, lhes). A solução é:
"Eu o encontrei" ou "Eu encontrei-o"
No segundo exemplo, ocorre o oposto. Usamos um pronome pessoal oblíquo (=mim) na função
de sujeito:
"...para mim (=sujeito) fazer (=verbo no infinitivo)"
Sempre que o pronome pessoal anteceder um verbo no infinitivo e exercer a função de sujeito,
devemos usar o pronome do caso reto (=EU).
O certo é: "...para eu fazer".
OS CASOS
1. O Cacófato
Em "eu vi ela", além do erro gramatical (=pronome pessoal reto ela na função de objeto direto),
ocorre também um caso de cacofonia (=palavra de origem grega que significa "mau som", re-
sultante da aproximação de sílabas de duas ou mais palavras): "vi ela" parece uma pequena via,
uma ruazinha.
Muitos me perguntam se o nome da novela da Globo POR AMOR não forma um cacófato.
Dependendo do modo como pronunciamos o "r" final da preposição por, formaremos um cacó-
fato com a sílaba inicial "a" do substantivo amor. Isso também acontece em "por razões", "por
racismo", "por radar"...
A cacofonia, por ser um fenômeno sonoro, passa despercebida aos olhos de muitos leitores. Is-
so não justifica os nossos descuidos. É importante alertar os nossos profissionais, principal-
mente os de rádio e de televisão.
Durante a Olimpíada de Atlanta, um repórter afirmou com muita ênfase:
"Até hoje, o Atletismo era o esporte que havia dado mais medalhas para o Brasil."
Outro dia, na transmissão do jogo Brasil x Coréia, ouvimos: "Flávio Conceição pediu a bola e
Cafu deu." Assim não dá!
Existem cacófatos famosos que a maioria das pessoas já conhece, mas vale a pena recordar al-
guns: "Ela tinha...", "Uma minha...", "Na boca dela...", "Na vez passada..." e outros.
No meio empresarial corre uma história muito curiosa. Dizem que uma engenheira química,
durante uma visita a uma fábrica em São Paulo, recebeu a seguinte pergunta: "Que a senhora
faria se este problema ocorresse na sua fábrica no Rio de Janeiro?" Ela respondeu secamente:
"Eu mandaria um químico meu." A resposta causou constrangimento. Todos disfarçaram e
continuaram a reunião. Lá pelas tantas, nova pergunta: "E neste caso?" Nova resposta: "Eu
mandaria um outro químico meu." Foram tantos "químico meu", que um diretor "mais preocu-
pado" perguntou:
"Mas...foi a fábrica toda?" Ela deve ter voltado para casa sem saber o porquê de tanto sucesso.
Para terminar, uma historinha verídica. Eu estava ensinando aos meus alunos de Comunicação
da Faculdade Carioca que deveriam evitar manchetes do tipo: "América ganha..." Um aluno,
querendo fazer graça, retrucou:
"Fique tranqüilo, professor, porque o América nunca ganha." Ele não entendeu "o espírito da
coisa"!
CASO 2 - A Dra. Jorgina
Em 1997, no programa Globo Repórter, tivemos a oportunidade de assistir a uma lamentável
entrevista. A doutora Jorgina, advogada, apresentou para todos nós um grande show: foram ar-
gumentos incompreensíveis, justificativas inaceitáveis e um festival de erros gramaticais. Com
certeza, ela nos julga uns verdadeiros idiotas.
Foram tantos "pra mim fazer", "pra mim viver", "pra mim falar" que eu quero, antes de tudo,
parabenizar o entrevistador. Não sei como o Roberto Cabrini resistiu. É o dever da profissão.
No meio da entrevista, a doutora exclamou: "Cara, eu sou advogada!" Em seguida se descul-
pou: "Não fica bem uma advogada dizer cara". Ela tentou "livrar a cara", mas se deu mal. Os
"pra mim" ficaram.
Ela agora poderá aproveitar o tempo de reclusão para um "cursinho" de revisão gramatical.
Como todos são merecedores da nossa caridade, aqui vai uma pequena contribuição:
MIM é pronome pessoal oblíquo. Jamais exercerá a função de sujeito.
Antes de verbo no infinitivo, o pronome exerce o papel de sujeito. É obrigatório o uso do pro-
nome pessoal reto (=EU).
Observe a diferença:
"Ela trouxe o livro para MIM", mas "Ela trouxe o livro para EU ler".
Vejamos mais exemplos:
"Isto é difícil para EU entender."
"Para EU fazer esta entrevista, exigi até dinheiro."
"É duro para EU viver longe dos meus filhos."
Caso 3 - Mistura de Tratamento
Sempre me perguntam onde se fala o melhor português. Só pode ser em Portugal! Já viajei
muito pelo Brasil e já estive em todas as regiões.
Sinceramente, não sei onde se fala melhor. Cada região tem suas qualidades e seus vícios de
linguagem. Confesso que até hoje não tenho opinião sobre o assunto.
No Maranhão, podemos observar o bom uso do pronome TU. No Rio Grande do Sul, também
observamos a presença do pronome TU, porém a concordância é feita geralmente com o verbo
na 3ª pessoa (="tu vai", "tu fez"...).
Dizem que nós, gaúchos, comemos o "s" do plural com picanha e sal grosso (="os pé", "as
mão"...).
Aqui no Rio de Janeiro, graças ao nosso "chiado", pronunciamos bem o "s" final. Isso faz com
que a concordância no plural seja respeitada. Por outro lado, temos um velho vício: a mistura
de tratamento. Tratamos as pessoas, geralmente, por VOCÊ (=3ª pessoa), mas gostamos de "te
encontrar", "ter saudade de ti", "pedir a tua caneta" e queremos "falar contigo".
Assim não dá!
Para usarmos corretamente os pronomes te, ti, contigo, teu, tua..., seria necessário TE tratarmos
por TU (=2ª pessoa).
Se preferimos VOCÊ (=3ª pessoa), devemos: "encontrá-lo", "dizer-lhe", "pedir a sua caneta" e
"falar com você".
Quanto ao famoso "falar CONSIGO", temos um problema. Embora nossos irmãos portugueses
usem com freqüência, sugiro que evitemos usar CONSIGO para substituir COM VOCÊ. Pode
haver mal-entendidos.
CONSIGO significa "com si mesmo". É uma forma reflexiva: "Ele carregava todos os docu-
mentos CONSIGO (=com ele próprio)."
Quando ouço: "O diretor já vai falar consigo." Sinto vontade de ir embora. Será que ele quer
falar comigo ou com si próprio? Será que ele enlouqueceu e quer falar sozinho?
O melhor é "falar COM VOCÊ" ou "COM O SENHOR" ou "COM VOSSA SENHORIA".
Você decide.
AS DÚVIDAS
1. PARA MIM ou PARA EU?
EU é pronome pessoal reto.
MIM é pronome pessoal oblíquo tônico.
Pronome pessoal reto (=EU) sempre exerce a função de sujeito.
Pronome pessoal oblíquo tônico (=MIM) nunca exerce a função de sujeito e obrigatoriamente
deve ser usado com preposição: a mim, de mim, entre mim, para mim, por mim...
Exemplos:
"EU li o jornal." (=sujeito)
"Ela trouxe o jornal para MIM." (=não é sujeito)
Entretanto, observe o exemplo abaixo:
"Ela trouxe o jornal para EU ler."
Nesse caso são duas orações. "Ela trouxe o jornal" é a oração principal e "para EU ler" é oração
reduzida de infinitivo (=para que eu lesse).
Devemos usar o pronome pessoal reto (=EU), porque exerce a função de sujeito do verbo infi-
nitivo (=ler).
Conclusão:
A diferença entre PARA MIM e PARA EU está na presença ou não de um verbo (=sempre no
infinitivo) após o pronome:
"Este documento é PARA MIM."
"Este documento é PARA EU escrever."
Portanto, sempre que houver um verbo no infinitivo, devemos usar os pronomes pessoais retos.
Isso ocorrerá com qualquer preposição:
"Ela chegou antes DE MIM."
"Ela chegou antes DE EU sair."
"Ela fez isso POR MIM."
"Ela fez isso POR EU estar cansado."
Observe a sutileza:
1. "PARA EU viver nesta cidade, foi preciso que os amigos ajudassem."
2. "PARA MIM, viver nesta cidade é um tormento."
Na primeira frase, o pronome pessoal reto (=EU) é o sujeito do infinitivo (=viver); na segunda
frase, a vírgula indica que o PARA MIM está deslocado. Devemos usar o pronome oblíquo
(=MIM), pois não é o sujeito do verbo viver.
Vejamos mais exemplos:
"PARA EU fazer o trabalho, foi a ordem dele."
"PARA MIM, fazer o trabalho foi uma ordem dele."
2. "Não há nada ENTRE EU E VOCÊ ou ENTRE MIM E VOCÊ"?
O certo é: "Não há nada ENTRE MIM E VOCÊ."
Como já foi explicado, EU é pronome pessoal reto e só pode ser usado na função de sujeito.
Para isso, é necessário um verbo no infinitivo: "Não há nada ENTRE EU sair e você ficar em
casa..."
Não havendo o verbo, devemos usar sempre ENTRE MIM e VOCÊ. E não adianta você inver-
ter. O certo é: "Não há nada ENTRE VOCÊ e MIM".
Observe mais exemplos:
1. "A escolha será entre MIM e o meu irmão."
2. "O meu irmão e EU fomos os escolhidos."
No primeiro exemplo, devemos usar MIM porque não é sujeito. O sujeito é "a escolha". No se-
gundo caso, devemos usar EU porque é núcleo do sujeito composto "o meu irmão e eu".
Portanto, "entre eu e você" está sempre errado. Se você não gostou da forma correta (="entre
MIM e você" ou "entre você e MIM"), porque achou "estranho", "feio" ou "porque parece coi-
sa de índio", só me resta uma solução: "A partir de hoje não haverá mais nada ENTRE NÓS."
3. CONOSCO ou COM NÓS ou COM A GENTE?
"Os diretores se reuniram ontem CONOSCO ou COM NÓS ou COM A GENTE."?
Devemos usar CONOSCO.
COM A GENTE é característico de linguagem tipicamente coloquial. Não devemos usar em
texto formais.
COM NÓS deve ser usado antes de: MESMOS, PRÓPRIOS, AMBOS, TODOS, NUMERAIS
e pronome relativo QUE.
Exemplos:
"Ele deixou a decisão CONOSCO."
"Ele deixou a decisão COM NÓS MESMOS."
"Ele deixou a decisão COM NÓS TODOS."
"Ele deixou a decisão COM NÓS DOIS."
"Ele deixou a decisão COM NÓS QUE reclamamos da sua proposta."
4. CONTIGO ou CONSIGO ou COM VOCÊ?
"Espere que o diretor já vem falar CONTIGO ou CONSIGO ou COM VOCÊ"?
O certo é COM VOCÊ.
A frase está na 3ª pessoa (="Espere você..."). Devemos usar a forma VOCÊ, que é de 3ª pesso-
a.
O pronome CONTIGO só deve ser utilizado quando tratamos as pessoas em 2ª pessoa (=TU,
te, ti, teu, tua...)
Exemplos:
"Ele te disse isso, porque deseja viajar CONTIGO."
"Espera que ele já vem falar CONTIGO."
"Cala a tua boca. Ele vai sair CONTIGO."
O pronome CONSIGO é reflexivo - significa COM SI MESMO.
Exemplo:
"Ele trouxe as mercadorias CONSIGO (=com si mesmo)."
Quando tratamos as pessoas em 3ª pessoa (=você, vossa senhoria, vossa excelência, senhor,
doutor...) não devemos usar CONTIGO nem CONSIGO.
Exemplos:
"Ele lhe disse isso, porque deseja viajar COM VOCÊ."
"Cale a sua. Ele vai sair COM VOCÊ."
"Venho informar-lhe que minha reunião com VOSSA SENHORIA está confirmada no seu es-
critório."
5. O ou LHE?
"Eu devo ajudá-LO ou ajudar-LHE"?
"Eu devo obedecê-LO ou obedecer-LHE"?
O certo é:
"Eu devo AJUDÁ-LO" e
"Eu devo OBEDECER-LHE".
O pronome pessoal oblíquo "o" (O, A, OS, AS, LO, LA, LOS, LAS) deve ser usado para subs-
tituir objetos diretos:
"Eu o encontrei."
"Eu devo ajudá-lo."
"Eu não a vi."
O pronome "lhe", como complemento verbal, substitui os objetos indiretos:
"Eu não lhe obedeço."
"Eu devo dizer-lhe a verdade."
"Eu lhe entreguei os documentos."
Quem decide se o objeto é direto ou indireto é o verbo. Em caso de dúvida, vá ao dicionário.
Lá você vai encontrar a regência do verbo (=se pede preposição ou não).
Quem ajuda ajuda alguém. AJUDAR é transitivo direto, por isso "devo ajudá-lo".
Quem obedece obedece a alguém. OBEDECER é transitivo indireto, por isso "devo obedecer-
lhe".
As formas "eu te amo", "eu te vi" e "eu te quero bem" são corretas, desde que o tratamento seja
feito em 2ª pessoa (=tu).
Se o tratamento for em 3ª pessoa (=você), devemos dizer "eu o amo", "eu a vi" e "eu lhe quero
bem".
Em "eu lhe quero bem", o verbo QUERER (=estimar, querer bem) é transitivo indireto, por is-
so devemos usar o pronome lhe (=objeto indireto)
"Eu lhe amo" está errado, porque o verbo AMAR é transitivo direto. Se você acha "eu o amo"
ou "eu a amo" formas esquisitas, diga simplesmente "eu amo você", e eu ficarei duplamente fe-
liz.
6. "Devemos INFORMÁ-LO ou INFORMAR-LHE dos incidentes de ontem."?
O certo é: "Devemos INFORMÁ-LO dos incidentes de ontem."
O verbo INFORMAR é transitivo direto e indireto (= INFORMAR alguma coisa a alguém ou
alguém de alguma coisa).
Devemos evitar dois objetos diretos ou dois objetos indiretos:
"Devemos informá-lo (=objeto direto) os incidentes de ontem (=outro objeto direto)." OU
"Devemos informar-lhe (=objeto indireto) dos incidentes de ontem (=outro objeto indireto)."
O certo é:
"Devemos informá-lo (=objeto direto) dos incidentes de ontem (=objeto indireto)." OU
"Devemos informar-lhe (=objeto indireto) os incidentes de ontem (=objeto direto)."
Parte 2 - Uso dos PRONOMES DE TRATAMENTO
1. "Vossa Excelência DEVE ou DEVEIS viajar"?
VOSSA EXCELÊNCIA, como qualquer pronome de tratamento (=VOSSA SENHORIA,
VOSSA ALTEZA, VOSSA MAJESTADE, VOSSA SANTIDADE...), é de 3ª pessoa. É igual a
VOCÊ.
Portanto, o certo é:
"Vossa Excelência DEVE viajar."
2. "VOSSA EXCELÊNCIA ou SUA EXCELÊNCIA"?
"Eu preciso falar com VOSSA ou SUA EXCELÊNCIA"?
Se você está falando diretamente com a pessoa, deve dizer:
"Eu preciso falar com VOSSA EXCELÊNCIA."
Se você está falando a respeito da pessoa, deve usar:
"Eu preciso falar com SUA EXCELÊNCIA."
VOSSA EXCELÊNCIA, VOSSA SENHORIA, VOSSA MAJESTADE - devem ser usados
quando nos dirigimos diretamente à pessoa.
SUA EXCELÊNCIA, SUA SENHORIA, SUA MAJESTADE - devem ser usados quando nos
referimos à pessoa:
"Falamos sobre SUA EXCELÊNCIA ontem na reunião."
"SUA SANTIDADE esteve no Brasil em 1997."
3. "VOSSA EXCELÊNCIA ou VOSSA SENHORIA"?
"Preciso falar com VOSSA EXCELÊNCIA ou VOSSA SENHORIA"?
Depende da pessoa com quem você quer falar.
Vossa Senhoria = para pessoas graduadas;
Vossa Excelência = para altas autoridades;
Vossa Alteza = para príncipes e princesas;
Vossa Majestade = para reis e imperadores;
Vossa Reverendíssima = para sacerdotes em geral;
Vossa Eminência = para cardeais e bispos;
Vossa Santidade = para o papa;
Vossa Magnificência = para reitores de universidades.
Parte 3 - Uso dos PRONOMES POSSESSIVOS
1. SEU ou VOSSO?
"VOSSA EXCELÊNCIA deve comparecer com SEUS ou VOSSOS convidados à reunião do
dia 20. Estamos a SEU ou VOSSO dispor para mais esclarecimentos"?
VOSSA EXCELÊNCIA é um pronome de tratamento. Os pronomes de tratamento são de 3ª
pessoa.
A concordância deve ser feita em 3ª pessoa:
"VOSSA EXCELÊNCIA (=você / 3ª pessoa) deve comparecer com SEUS convidados à reuni-
ão do dia 20. Estamos a SEU dispor para mais esclarecimentos."
2. O CASO – Ambigüidade
Este caso aconteceu com um velho amigo. Ele, gerente de vendas de uma multinacional, ao
voltar do almoço, encontrou sobre sua mesa um memorando interno no qual estava escrito:
"Encontrei o seu diretor e resolvemos fazer uma reunião em seu escritório às 15h."
Imediatamente ligou para sua secretária e pediu que ela preparasse tudo para a tal reunião,
principalmente a limpeza da mesa e mais algumas cadeiras.
Às 15h em ponto, lá estava ele à espera do seu diretor.
Às 15h10min, nada. Achou estranho, pois o diretor sempre exigiu muita pontualidade de todos.
Às 15h15min, um telefonema. Era o diretor: "Que é que você está fazendo aí que ainda não
veio para a reunião?"
Só então ele entendeu que o "seu escritório" não era o dele próprio, mas sim o do diretor.
Não foi demitido, mas foi obrigado a ouvir algumas "belas" palavras, por não ter percebido a
ambigüidade da mensagem.
É óbvio que quem escreveu a frase também não tinha notado a ambigüidade.
E o que era pior: sabia onde era a reunião. Para o autor a frase estava "claríssima": "Encontrei o
seu diretor e resolvemos fazer uma reunião em seu escritório às 15h" (=no escritório dele, do
diretor).
O meu amigo, ao ler a frase, também não percebeu o duplo sentido. E o que é pior ainda: en-
tendeu "o outro". Para ele, também estava claro:
"Encontrei o seu diretor e resolvemos fazer uma reunião em seu escritório às 15h"(=no seu
próprio escritório, de quem recebe a mensagem, do meu amigo).
Tudo isso comprova o "perigo" das ambigüidades na comunicação interna e externa das orga-
nizações.
Frases ambíguas podem ser interessantes e curiosas, e muito úteis na publicidade. Para fazer
piadas então, são excelentes. O pessoal do Casseta e Planeta que o diga.
É interessante observar que na frase analisada não há erro gramatical. O pronome possessivo
seu é de 3ª pessoa e permite perfeitamente a dupla interpretação:
SEU = dele (de quem se está falando = o diretor) ou SEU = de você (com quem se está falando
= o receptor da mensagem = o meu amigo).
Portanto, cuidado com o "seu"!
Parte 4 - Colocação dos PRONOMES ÁTONOS
Introdução:
Os pronomes átonos (=ME, TE, SE, O, A, LHE, NOS, VOS, OS, AS, LHES) podem ocupar
três posições:
1. antes do verbo = PRÓCLISE;
2. depois do verbo = ÊNCLISE;
3. meio do verbo = MESÓCLISE.
Os pronomes átonos são "fracos" na pronúncia. Por serem átonos, unem-se ao verbo. Não há
hífen na próclise, porque a "união" é maior na ênclise.
Em razão disso, na sintaxe lusitana, a preferência é a ênclise.
DÚVIDAS:
1. "NOS REUNIMOS ou REUNIMO-NOS ontem com o diretor"?
O certo é REUNIMO-NOS.
Segundo a sintaxe portuguesa, não devemos usar o pronome átono no início da frase, embora
seja muito comum no Brasil.
Vejamos outros exemplos:
"Dá-me um cigarro."
"Encontramo-nos com os alemães."
"Tratando-se de dinheiro, não há discussão."
Se você considera a forma REUNIMO-NOS pedante ou artificial, sugiro que você ponha o su-
jeito antes do verbo e use a próclise: "Nós NOS REUNIMOS..."
Devemos, portanto, evitar frases típicas da linguagem coloquial brasileira: "ME considero can-
didato", "SE sente deprimida"...
Podemos usar: "Considero-ME candidato" ou "Eu ME considero candidato";
"Sente-SE deprimida" ou "Ela SE sente deprimida".
2. "Eu O ENCONTREI ou ENCONTREI-O na praia"?
Tanto faz. As duas formas são aceitáveis.
Podemos aceitar a próclise sempre que o sujeito aparece antes do verbo:
"O diretor RETIROU-SE ou SE RETIROU mais cedo."
"Ela ENTREGOU-LHE ou LHE ENTREGOU os documentos."
"O proprietário OFERECEU-ME ou ME OFERECEU um cargo em sua empresa."
3. "Eu não LHE DISSE ou DISSE-LHE a verdade"?
O certo é: "Eu não LHE DISSE a verdade."
Quando há uma palavra de sentido negativo (=não) antes do verbo, a próclise é obrigatória.
A próclise (=pronome átono antes do verbo) é recomendável nos seguintes casos:
a) com palavra negativa: não, nunca, jamais, nada, ninguém:
"Nada ME preocupa mais do que isso."
"Ninguém NOS perturba tanto quanto os governantes."
b) com alguns conectivos: que, se, quando, embora, porque:
"Ele lhe disse que OS dispensaria logo."
"Quando SE trata de política, devemos ter cautela."
"Caso TE ofendam, tem paciência."
c) com alguns advérbios (sem pausa): sempre, já, ainda, agora, talvez:
"Sempre NOS encontramos aqui."
"Ele já LHE disse tudo."
"Isto talvez ME seja útil."
d) com pronomes relativos, demonstrativos e indefinidos:
"Foi ele quem O avisou."
"Aqui está o livro que TE emprestaram."
"Isto NOS é desfavorável."
"Todos A criticaram muito."
"Alguém NOS viu quando chegamos."
e) em frases interrogativas:
"Quem LHES enviou os documentos?"
"Quando NOS encontraremos novamente?"
"Como TE sentes?"
f) em frases exclamativas ou optativas:
"Como VOS respeitam!"
"Quanto TE odeiam!"
"Deus O abençoe!"
"Macacos ME mordam."
g) com verbo no gerúndio antecedido da preposição EM:
"Em SE plantando, tudo dá."
"Em SE fazendo dia, partirei."
h) com formas verbais proparoxítonas:
"Nós O censurávamos."
"Nós A encontráramos antes de ele chegar."
4. "ME TORNAREI ou TORNAREI-ME ou TORNAR-ME-EI o líder do grupo"?
O certo é: "TORNAR-ME-EI o líder do grupo."
"ME TORNAREI" é inaceitável (=pronome átono no início da frase);
"TORNAREI-ME" é inaceitável (=ênclise de verbo no FUTURO está sempre errada).
Quando o verbo está no FUTURO do Presente ou do Pretérito do Indicativo, devemos usar o
pronome átono em MESÓCLISE:
"Encontrar-NOS-emos na próxima semana."
"Realizar-SE-ia hoje a reunião."
5. "Eu ME TORNAREI ou TORNAR-ME-EI o líder do grupo"?
Tanto faz. As duas formas são aceitáveis.
A mesóclise (=Eu TORNAR-ME-EI) está correta porque o verbo está no Futuro do Presente do
Indicativo;
A próclise (=Eu ME TORNAREI) é aceitável porque o sujeito (=eu) aparece antes do verbo.
Vejamos outros exemplos:
"Nós ENCONTRAR-NOS-EMOS ou NOS ENCONTRAREMOS aqui."
"A reunião REALIZAR-SE-IA ou SE REALIZARIA hoje."
6. "Eu não TORNAR-ME-EI ou ME TORNAREI o líder do grupo"?
O certo é: "Eu não ME TORNAREI o líder do grupo."
A palavra negativa (=não) é a causadora da próclise, mesmo com o verbo
no FUTURO. Entre a próclise e a mesóclise, devemos usar a próclise.
7. "O fato VAI-SE REPETIR ou VAI SE REPETIR"?
Tanto faz. As duas formas são aceitáveis.
Segundo a sintaxe portuguesa, um pronome átono não poderia ficar solto (=sem hífen) entre
dois verbos. O certo seria: "O fato VAI-SE REPETIR".
Entretanto, no Brasil, o uso consagrou e muitos autores consideram aceitável pôr o pronome
átono "solto" entre dois verbos: "O fato VAI SE REPETIR" (=próclise do verbo principal).
8. "A secretária não LHE DEVE ENTREGAR ou DEVE ENTREGAR-LHE os docu-
mentos."?
Tanto faz. As duas formas são aceitáveis.
A próclise (=não LHE DEVE ENTREGAR) está correta, devido à palavra negativa (=não);
A ênclise de verbo no INFINITIVO (=não DEVE ENTREGAR-LHE) está sempre correta.
Observe outro exemplo:
"Não posso RECEBÊ-LO."
9. "TINHA-NOS ENTREGADO ou TINHA ENTREGADO-NOS a carta"?
O certo é: "TINHA-NOS ENTREGADO a carta”.
A ênclise de verbo no PARTICÍPIO (=ENTREGADO-NOS) está sempre errada.
Parte 5 - Uso dos PRONOMES DEMONSTRATIVOS
Introdução:
Os pronomes demonstrativos são:
ESTE (S) - ESTA (S) - ISTO
ESSE (S) - ESSA (S) - ISSO
AQUELE (S) - AQUELA (S) - AQUILO
Usamos os pronomes demonstrativos:
a) para indicar LUGAR:
"ESTE aqui." (=perto do emissor);
"ESSE aí." (=perto do receptor);
"AQUELE lá."(=distante);
b) para indicar TEMPO:
"ESTE dia." (=hoje - tempo presente);
c) em referência a algo já citado:
"Não estudava. Por ESSE motivo foi reprovado."
DÚVIDAS:
1. "ESTE ou ESSE relatório que está aqui na minha mesa."?
O certo é: "ESTE relatório que está aqui na minha mesa" (=o relatório está aqui, perto do emis-
sor).
Os pronomes ESTE (S), ESTA (S) e ISTO indicam o que está próximo do EU (= emissor, re-
metente, quem fala ou escreve);
Os pronomes ESSE (S), ESSA (S) e ISSO indicam o que está próximo do TU ou VOCÊ (= re-
ceptor, destinatário, quem ouve ou lê).
Vejamos mais exemplos:
"ESTE departamento é o meu." / "ESSE departamento é o seu."
"ESTA empresa é a nossa." / "ESSA empresa é a do cliente."
"Eu vivo NESTA cidade." / "Você vive NESSA cidade aí."
"Não repita mais ISTO (=que eu disse)." /
"Não repita mais ISSO (=que você disse)."
OBSERVAÇÃO 1:
Os pronomes AQUELE (S), AQUELA (S) e AQUILO indicam o que está distante:
"AQUELE departamento está nos prejudicando."
"AQUILO lá é indesejável."
"Não voltaremos mais ÀQUELA cidade."
2. "Chegou NESTE ou NESSE exato momento"?
O certo é: "Chegou NESTE exato momento." (=agora)
Os pronomes ESTE (S) e ESTA (S) indicam tempo PRESENTE.
Observe outros exemplos:
"Em 1996 houve perdas, em 1997 já houve lucros e para ESTE ano as esperanças são maiores."
( ESTE ano = 1998)
"Entregará o projeto ainda ESTE mês." (ESTE mês = mês em que estamos)
"Resolverá tudo até o fim DESTA semana." (ESTA semana = semana em que estamos)
"O congresso está se realizando por ESTES dias." (ESTES dias = inclui o dia de hoje)
"Haverá Fla X Flu NESTE domingo." (NESTE domingo = domingo mais próximo)
"Chove NESTA sexta-feira em todo o país." (NESTA sexta-feira = sexta-feira mais próxima)
"NESTA madrugada explodiu uma bomba em Chicago." (NESTA madrugada = de ontem para
hoje)
OBSERVAÇÃO 2:
Os pronomes ESSE (S), ESSA (S) e ISSO se referem a alguma coisa já citada na frase anterior:
"Rubinho liderava a prova até a quinta volta. NESSE momento a chuva aumentou. ISSO cau-
sou um grave acidente, e a corrida foi interrompida."
(NESSE momento não é agora, é a quinta volta; ISSO se refere ao fato de a chuva ter aumenta-
do)
"Nossa empresa precisa de Qualidade Total. ESSE projeto já está sendo implantado." (ESSE
projeto = Qualidade Total)
"Os atacantes estavam muito nervosos, mas foram ESSES jogadores que nos deram a vitória."
(ESSES jogadores = os atacantes)
Observe a diferença:
Anúncio publicado no JB, em maio de 1997.
"A partir de novembro haverá mais linhas telefônicas na Barra. A promessa faz parte do proje-
to que será lançado NESTE ou NESSE mês."
Se for NESTE mês, o projeto será lançado em maio (=mês em que estamos);
Se for NESSE mês, o projeto será lançado em novembro (=mês que foi citado na frase anteri-
or).
OBSERVAÇÃO 3:
Nas frases em que não ocorre ambigüidade, alguns autores admitem o uso indiscriminado de
ESTE ou ESSE:
"Ônibus e bonde são meios de transporte, porém ESSE (ou ESTE) se mostrou mais econômico
que AQUELE." (ESSE ou ESTE indicam proximidade = só pode ser o bonde; AQUELE indica
afastamento = só pode ser o ônibus)
"A inflação e o desemprego preocupam o brasileiro. ESSES (ou ESTES) problemas precisam
ser resolvidos imediatamente." (ESSES ou ESTES problemas = só podem ser a inflação e o de-
semprego)
OBSERVAÇÃO 4:
Os pronomes AQUELE (S), AQUELA (S) e AQUILO sempre indicam distância (no espaço,
no tempo ou citação no texto):
"Não se estuda mais como NAQUELES tempos." (=passado distante)
"Não entendi AQUELA idéia que você expôs no primeiro capítulo." (=citação distante)
Parte 6 - Uso dos PRONOMES RELATIVOS
Introdução:
Podem ser pronomes relativos: QUE, QUEM, QUAL, CUJO, ONDE, COMO, QUANDO e
QUANTO.
Os pronomes relativos são conectivos (=ligam orações) e substituem a palavra que vem antes:
"Não gostei do livro QUE você me emprestou."
1ª oração: "Não gostei do livro";
2ª oração: "QUE você me emprestou" (QUE = o livro)
O CASO
Coitada da preposição! Como é maltratada! Quando não é mal usada, é esquecida.
Em nossas rádios, é freqüente ouvirmos:
"Esta é a música que o povo gosta."
Quem não gosta sou eu. Ora, se quem gosta gosta de alguma coisa, o certo é: "Esta é a música
de que o povo gosta."
Se você achou estranho ou feio, há outra opção:
"Esta é a música da qual o povo gosta."
Você decide qual pronome relativo vai usar, mas não esqueça a preposição.
Erro semelhante ocorre num anúncio da Texaco:
"Esta é a marca que o mundo confia."
Eu perdi a confiança! A regência do verbo CONFIAR exige a preposição em.
O certo é: "Esta é a marca em que o mundo confia."
Outro exemplo errado ocorre em cartas comerciais:
"Segue anexo o documento que você se refere em sua última carta."
O verbo REFERIR-SE pede a preposição a. O certo é: Segue anexo o documento a que você se
refere em sua última carta."
Mais um: "E o Flamengo acabou chegando ao gol que precisava." Pelo visto, não precisava
tanto. O gol deve ter sido ilegal. Se quem precisa (=necessita) precisa de alguma coisa, o certo
é: "E o Flamengo acabou chegando ao gol de que precisava."
A DICA
Se você quer saber se deve usar preposição antes dos pronomes relativos, aplique o seguinte
"macete":
"Esta é a quantia ___ que dispomos para o investimento."
1. Todo pronome relativo (=que) possui um antecedente (=quantia);
2. Ponha o antecedente no fim da oração seguinte (=que dispomos para o investimento) >
"...que dispomos DA QUANTIA para o investimento" (=você descobriu a preposição de);
3. Ponha a preposição (=de) antes do pronome relativo (=de que):
"Esta é a quantia de que dispomos para o investimento."
Vamos testar o "macete" em outros exemplos:
"Isto só ocorre nesta sociedade ___ que vivemos."
1. Pronome relativo = que; antecedente = sociedade;
2. "...vivemos NA SOCIEDADE." (preposição = em);
3. "Isto só ocorre nesta sociedade em que vivemos."
"O fato ___ que fizemos alusão não é recente."
1. Pronome relativo = que; antecedente = o fato;
2. "...fizemos alusão AO FATO." (preposição = a);
3. "O fato a que fizemos alusão não é recente."
"Os dados ___ que contamos são insuficientes."
1. Pronome relativo = que; antecedente = os dados;
2. "...contamos COM OS DADOS." (preposição = com);
3. "Os dados com que contamos são insuficientes."
"Aqui está o livro ___ que compramos ontem."
1. Pronome relativo = que; antecedente = o livro;
2. "...compramos O LIVRO ontem." (=sem preposição)
3. "Aqui está o livro que compramos ontem."
DÚVIDAS
1. QUE ou DE QUE
"Qual é a comida QUE ou DE QUE você mais gosta"?
O certo é: "Qual é a comida DE QUE você mais gosta?"
A regência do verbo GOSTAR exige a preposição de (=quem gosta gosta de alguma coisa).
2. DE QUE ou DA QUAL
"Qual é a comida DE QUE ou DA QUAL você mais gosta"?
As duas formas são aceitáveis.
OBSERVAÇÃO:
Os pronomes relativos são substituíveis por QUAL:
"Este é o livro QUE você me emprestou." (="...O QUAL você me emprestou");
"Este é o livro A QUE ele se referiu." (="...AO QUAL ele se referiu");
"Este é o livro DE QUE necessitamos." (="...DO QUAL necessitamos");
"Esta é a cidade EM QUE vivemos." (="...NA QUAL vivemos").
3. QUEM ou A QUEM
"Este é o gerente QUEM ou A QUEM encontrei no congresso."?
O certo é: "Este é o gerente A QUEM encontrei no congresso."
Quando o substantivo antecedente é pessoa (=gerente), podemos usar o pronome QUEM, po-
rém sempre com preposição.
Observe outros exemplos:
"Este é o gerente A QUEM (ou QUE ou O QUAL) sempre respeitei." (=respeitei O GEREN-
TE);
"Este é o gerente A QUEM (ou AO QUAL) fiz referência." (=fiz referência AO GERENTE);
"Este é o gerente DE QUEM (ou DO QUAL) ninguém gosta." (=ninguém gosta DO GEREN-
TE);
"Este é o gerente POR QUEM (ou PELO QUAL) fomos enganados."
Por Fascículo > 8. Ortografia
Parte 1 - Letras
Parte 2 - Hífen
Parte 3 - Acentuação Gráfica
Parte 4 - Trema
Parte 1 - Letras
O CASO
O concurso vestibular de 1998 da UFRJ começou mal.
Na prova de História, por duas vezes, a palavra ASCENSÃO aparece grafada com "ç":
"...nesse processo nota-se a ascenção de valores consagrados pelas revoluções burguesas..."
(Questão 1)
"Entre a ascenção ao trono da Rainha Vitória, em 1837, e o reinado da Rainha Elizabeth, a par-
tir de 1953, a monarquia inglesa percorreu uma longa trajetória política." (Questão 5)
Numa prova de apenas cinco questões, é triste constatarmos o desleixo de alguns educadores
em relação ao bom uso da língua portuguesa.
A repetição do erro nos leva a crer que o autor não tem "dúvida" quanto à grafia da palavra
ASCENSÃO.
Nada justifica a falta de uma revisão mais cuidadosa num instrumento cujo objetivo é avaliar o
conhecimento de candidatos a vagas em uma das nossas maiores universidades. O uso de qual-
quer "corretor ortográfico" teria evitado esse deslize.
Todos nós sabemos dos perigos que existem quanto à ortografia. Todo cuidado é pouco. A lín-
gua portuguesa não é puramente fonética e, muitas vezes, só a etimologia (=estudo da origem
das palavras) é capaz de explicar o emprego das letras.
Isso significa, portanto, que não há regras para você saber que EXCEÇÃO se escreve com "ç"
e que EXCESSO é com "ss".
Na prática, o que nos leva a saber ortografia é o bom hábito de ler e o de escrever. É a nossa
memória visual que nos impede de escrever "caxorro, caza e oje(sem H)". Não hesitamos dian-
te de uma palavra que estamos acostumados a ver e usar. Corretamente, é claro!
Ler é a melhor solução. E, ao escrever, se houver dúvida, não tenha vergonha de abrir um bom
dicionário. Pesquise. Não faz mal a ninguém.
AS DICAS
Não há regras para resolver todos os casos de ortografia, porém algumas dúvidas podem ser ti-
radas com as dicas a seguir.
1. -SÃO ou -SSÃO ou -ÇÃO?
a) Em todos os substantivos derivados de verbos terminados em GREDIR, MITIR e CE-
DER, devemos usar "ss":
AGREDIR > AGRESSÃO
REGREDIR > REGRESSÃO
PROGREDIR > PROGRESSÃO
TRANSGREDIR > TRANSGRESSÃO
OMITIR > OMISSÃO
DEMITIR > DEMISSÃO
ADMITIR > ADMISSÃO
PERMITIR > PERMISSÃO
TRANSMITIR > TRANSMISSÃO
CEDER > CESSÃO
SUCEDER > SUCESSÃO
CONCEDER > CONCESSÃO
b) Em todos os substantivos derivados de verbos terminados em ENDER,
VERTER e PELIR, devemos usar "s":
TENDER > TENSÃO
COMPREENDER > COMPREENSÃO
APREENDER > APREENSÃO
PRETENDER > PRETENSÃO
ASCENDER > ASCENSÃO
VERTER > VERSÃO
REVERTER > REVERSÃO
CONVERTER > CONVERSÃO
SUBVERTER > SUBVERSÃO
EXPELIR > EXPULSÃO
REPELIR > REPULSÃO
c) Em todos os substantivos derivados dos verbos TER e TORCER e seus derivados, de-
vemos usar "ç":
RETER > RETENÇÃO
DETER > DETENÇÃO
ATER > ATENÇÃO
ABSTER > ABSTENÇÃO
OBTER > OBTENÇÃO
TORCER > TORÇÃO
DISTORCER > DISTORÇÃO
CONTORCER > CONTORÇÃO
2. -ISAR ou -IZAR?
a) Escrevem-se com "s" (=ISAR) os verbos derivados de palavras que já possuem o "s":
análise > analisar
aviso > avisar
paralisia > paralisar
pesquisa > pesquisar
b) Escrevem-se com "z" (=IZAR) os verbos derivados de palavras que não possuem a le-
tra "s":
ameno > amenizar
civil > civilizar
fértil > fertilizar
legal > legalizar
normal > normalizar
real > realizar
suave > suavizar
3. -SINHO ou -ZINHO?
a) Escrevem-se com "s" (=SINHO) os diminutivos derivados de palavras que já possuem
a letra "s":
casa > casinha
lápis > lapisinho
mesa > mesinha
país > paisinho
pires > piresinho
tênis > tenisinho
b) Escrevem-se com "z" (=ZINHO) os diminutivos derivados de palavras que não possu-
em a letra "s":
animal > animalzinho
balão > balãozinho
café > cafezinho
chapéu > chapeuzinho
flor > florzinha
pai > paizinho
papel > papelzinho
CURIOSIDADES ORTOGRÁFICAS
Você sabia que o certo é...
Abóbada
Adivinhar
Advogado
Aleijado
Arteriosclerose
Asterisco
Astigmatismo
Aterrissar (o dicionário Aurélio também registra "aterrizar")
Bandeja
Beneficente
Cabeleireiro
Calvície
Caranguejo
Chimpanzé
Cinqüenta
Companhia
Criminologista
Depredar
Descarrilar
De repente
Dignitário
Dilapidar
Disenteria
Empecilho
Enfarte (ou infarto)
Engajamento
Espontaneidade
Estrambótico
Estupro
Freada
Hidrelétrica
Jus
Lagartixa
Macérrima (magérrima é uma forma popular)
Manteigueira
Mendigo
Meritíssimo
Nhoque
Octogésimo
Ovos estrelados
Prazerosamente
Privilégio
Propositadamente
Propriedade
Quatorze (ou catorze)
Receoso
Reivindicar
Seriíssimo
Subumano
Terraplenagem
Trecentésimo
Verossimilhança
DÚVIDAS
1. A ou HÁ?
"Espero que não haja obstáculos à realização das provas, daqui A ou HÁ uma semana" ?
HÁ (=de verbo HAVER) só poderia ser usado caso se referisse a um tempo já transcorrido:
"Não nos vemos há dez dias." (=FAZ dez dias que não nos vemos)
"Há muito tempo, ocorreu aqui uma grande tragédia." (=FAZ muito tempo)
Quando a idéia for de "tempo futuro", devemos usar a preposição "A":
"Espero que não haja obstáculos à realização das provas, daqui a uma semana."
"Só nos veremos daqui a um mês."
Decore a "dica":
Tempo passado = HÁ (=FAZ);
Tempo futuro = A
OBSERVAÇÃO:
Quando a idéia for de "distância", também devemos usar a preposição "A":
"Estamos a dez quilômetros do estádio."
"O estacionamento fica a poucos metros do aeroporto."
2. A CERCA DE ou HÁ CERCA DE ou ACERCA DE?
a) A CERCA DE = A (preposição) + CERCA DE (perto de, aproximadamente):
"Estamos a cerca de dez quilômetros do estádio." (=Estamos aproximadamente a dez quilôme-
tros do estádio - idéia de distância);
ou A CERCA DE = A (artigo) + CERCA (substantivo) + DE (preposição):
"A cerca de arame farpado foi cortada."
b) HÁ CERCA DE = HÁ (verbo) + CERCA DE (perto de, aproximadamente):
"Não nos vemos há cerca de dez anos." (=FAZ aproximadamente dez anos que não nos ve-
mos);
ou "Há cerca de dez pessoas na sala de espera." (=EXISTEM perto de dez pessoas na sala de
espera);
c) ACERCA DE = a respeito de, sobre:
"Falávamos acerca do jogo de ontem."
3. ABAIXO ou A BAIXO?
a) ABAIXO = embaixo, sob:
"Sua classificação foi abaixo da minha."
b) A BAIXO = para baixo, até embaixo:
"Eles puseram o apartamento a baixo."
"Ela me olhava de alto a baixo."
4. ABAIXO-ASSINADO ou ABAIXO ASSINADO?
a) O documento que se assina é um ABAIXO-ASSINADO:
"Entregamos o abaixo-assinado ao diretor."
b) Quem assina o documento é um ABAIXO ASSINADO:
"O abaixo assinado, Dr. Fulano de Tal, vem respeitosamente..."
5. AFIM ou A FIM?
a) Quem tem afinidades são pessoas AFINS:
"As duas têm pensamentos afins.
b) A FIM DE= para, com o propósito de:
"Estuda a fim de vencer a barreira do vestibular."
"Veio a fim de trabalhar."
6. A PAR ou AO PAR?
a) A PAR = estar ciente:
"Ele está a par de tudo."
b) AO PAR = título ou moeda de valor idêntico:
"O câmbio está ao par."
7. AO ENCONTRO DE ou DE ENCONTRO A?
a) AO ENCONTRO DE = a favor, em conformidade:
"Qualidade é ir ao encontro das necessidades e das expectativas do cliente."
"Estamos satisfeitos porque sua decisão vai ao encontro das nossas reivindicações."
b) DE ENCONTRO A = ir contra, idéia de oposição:
"Ficamos insatisfeitos porque a sua proposta vai de encontro aos nossos desejos."
"Discutimos pois suas idéias vão de encontro às minhas."
8. À TOA ou À-TOA?
a) À TOA = "sem fazer nada" (locução adverbial de modo):
"Andava à toa na vida."
"Sempre viveu à toa."
b) À-TOA = "desocupado" (adjetivo - deve acompanhar um substantivo):
"Ela, sem dúvida, é uma mulher à-toa."
"Não passava de um sujeitinho à-toa."
9. BEM-VINDO ou BENVINDO ?
a) A saudação é BEM-VINDO (=bem recebido):
"Seja bem-vindo."
"Ele será bem-vindo a esta cidade."
b) BENVINDO é nome próprio de pessoa:
"Ele se chama Benvindo."
10. BUJÃO ou BOTIJÃO?
BUJÃO (do francês bouchon) é uma bucha com que se tampam buracos ou tampa de atarraxar.
No sentido de recipiente metálico, usado para armazenar produtos voláteis, prefiro a forma
BOTIJÃO. O dicionário Aurélio considera bujão sinônimo de BOTIJÃO, entretanto é impor-
tante lembrar que bujão, no sentido de BOTIJÃO, é uma corruptela (=palavra que se corrompe
foneticamente). As corruptelas, em geral, são formas características da linguagem popular: mi-
lico (de militar), Maraca (de Maracanã), boteco (de botequim), Fusca (de Volkswagen)...
11. EM NÍVEL ou A NÍVEL DE?
a) A NÍVEL DE não existe. Foi um modismo criado nos últimos anos. Devemos evitá-lo:
"A nível de relatório, o trabalho está muito bom."
O certo é: "Quanto ao relatório... ou Com referência ao relatório..."
"Levou um pontapé ao nível do joelho."
O certo é: "Levou um pontapé na altura do joelho."
b) EM NÍVEL só pode ser usado em situações em que existam "níveis":
"Este problema só pode ser resolvido em nível de diretoria."
"Isso será analisado em nível federal."
12. EM PRINCÍPIO ou A PRINCÍPIO?
a) A PRINCÍPIO = inicialmente, no começo, num primeiro momento:
"A princípio éramos contra a venda da fábrica, porém mudamos de idéia devido aos seus ar-
gumentos."
b) EM PRINCÍPIO = em tese, teoricamente:
"Em princípio, todas as religiões são boas."
OBSERVAÇÃO:
Devido às ambigüidades, sugiro que se evite o uso de em princípio. Se você quer dizer "em te-
se ou em teoria", é mais claro dizer:
"Em tese (ou Teoricamente), todas as religiões são boas."
13 EM VEZ DE ou AO INVÉS DE?
a) AO INVÉS DE = ao contrário de:
"Ele entrou à direita ao invés da esquerda.'
"Subiu ao invés de descer."
b) EM VEZ DE = em lugar de:
"Foi ao clube em vez de ir à praia."
"Apertou o botão vermelho em vez do azul."
OBSERVAÇÃO:
Como AO INVÉS DE só pode ser usado quando há a idéia de "oposição", sugiro que se use
sempre EM VEZ DE.
EM VEZ DE pode ser usado sempre que existe a idéia de "substituição, troca", mesmo se for
de "oposição".
14. MAIS ou MAS ou MÁS?
a) MAIS = opõe-se a MENOS:
"Hoje estou mais satisfeito." (=poderia estar menos satisfeito)
"Compareceram mais pessoas que o esperado." (=poderiam ser menos pessoas)
b) MAS = porém, contudo, todavia, entretanto:
"Estudou mas foi reprovado." (=porém)
"Não foram convidados, mas vieram à festa." (=entretanto)
c) MÁS = plural do adjetivo MÁ; opõe-se a BOAS:
"Não eram más idéias." (=eram boas idéias)
"Estavam com más intenções." (=não tinham boas intenções)
15. MAL ou MAU?
a) MAU é um adjetivo e se opõe a BOM:
"Ele é um mau profissional." (x bom profissional);
"Ele está de mau humor." (x bom humor);
"Ele é um mau caráter." (x bom caráter);
"Tem medo do lobo mau." (x lobo bom);
b) MAL pode ser:
1. advérbio (=opõe-se a BEM):
"Ele está trabalhando mal." (x trabalhando bem);
"Ele foi mal treinado." (x bem treinado);
"Ele está sempre mal-humorado." (x bem-humorado);
"A criança se comportou muito mal." (x se comportou muito bem);
2. conjunção (=logo que, assim que, quando):
"Mal você chegou, todos se levantaram." (=Assim que você chegou);
"Mal saiu de casa, foi assaltado." (=Logo que saiu de casa);
3. substantivo (=doença, defeito, problema):
"Ele está com um mal incurável." (=doença);
"O seu mal é não ouvir os mais velhos." (=defeito).
OBSERVAÇÃO:
A frase "Setores da velha guarda aferraram-se aos privilégios e defenderam o estado podre, do
mau-estar social e que foi produzido por regimes ditatoriais" está errada.
O certo é: MAL-ESTAR (=opõe-se a BEM-ESTAR).
Na dúvida, use o velho "macete":
MAL x BEM;
MAU x BOM.
16. PORISSO ou POR ISSO?
PORISSO não existe.
Use sempre POR ISSO:
"Ele trabalha muito, por isso merece uns dias de folga."
17. PORQUE, POR QUE, PORQUÊ ou POR QUÊ?
a) PORQUE é conjunção causal ou explicativa:
"Ele viajou porque foi chamado para assinar contrato."
"Ele não foi porque estava doente."
"Abra a janela porque o calor está insuportável."
"Ele deve estar em casa porque a luz está acesa."
b) PORQUÊ é a forma substantivada (=antecedida de artigo "o" ou "um"):
"Quero saber o porquê da sua decisão."
"A professora quer um porquê para tudo isso."
c) POR QUÊ = só no fim de frase:
"Parou por quê?"
"Ele não viajou por quê?"
"Se ele mentiu, eu queria saber por quê."
"Eu não sei por quê, mas a verdade é que eles se separaram."
d) POR QUE
1. em frases interrogativas diretas ou indiretas:
"Por que você não foi?" (=pergunta direta)
"Gostaria de saber por que você não foi." (=pergunta indireta)
2. quando for substituível por POR QUAL, PELO QUAL, PELA QUAL, PELOS QUAIS,
PELAS QUAIS:
"Só eu sei as esquinas por que passei." (=pelas quais)
"É um drama por que muitos estão passado." (=pelo qual)
"Desconheço as razões por que ela não veio." (=pelas quais)
3. quando houver a palavra MOTIVO antes, depois ou subentendida:
"Desconheço os motivos por que a viagem foi adiada." (=pelos quais)
"Não sei por que motivo ele não veio." (=por qual)
"Não sei por que ele não veio." (=por que motivo - por qual motivo).
18. SENÃO ou SE NÃO?
a) SE NÃO = se (conjunção condicional = caso) + não (advérbio de negação):
"Se não chover, haverá jogo." (=Caso não chova)
"O presidente nada assinará, se não houver consenso." (=caso não haja consenso)
b) Usaremos SENÃO em quatro situações:
1. SENÃO = de outro modo, do contrário:
"Resolva agora, senão estamos perdidos." (=do contrário estamos perdidos);
2. SENÃO = mas sim, porém:
"Não era caso de expulsão, senão de repreensão." (=mas sim de repreensão);
3. SENÃO = apenas, somente:
"Não se viam senão os pássaros." (=somente os pássaros eram vistos);
4. SENÃO = defeito, falha:
"Não houve um senão em sua apresentação." (=não houve nenhuma falha, nenhum defeito).
19. SOB ou SOBRE?
a) SOB = embaixo:
"Estamos sob uma velha marquise."
"Ficou tudo sob controle."
b) SOBRE = em cima de:
"A lágrima corria sobre a face."
"Deixou os livros sobre a mesa." (=em cima da mesa)
20. TAMPOUCO ou TÃO POUCO?
a) TAMPOUCO = nem:
"Não trabalha tampouco estuda. (=nem estuda)
OBSERVAÇÃO:
"Não trabalha nem tampouco estuda." (=nem tampouco é redundante)
Basta: "Não trabalha nem (ou tampouco) estuda."
b) TÃO POUCO = muito pouco:
"Estudou tão pouco, que foi reprovado."
21. TODO ou TODO O?
a) TODO = qualquer:
"Ele realiza todo trabalho que se solicita." (=qualquer trabalho)
"Toda mulher merece carinho." (=todas as mulheres)
"Todo país tem seus problemas." (=qualquer país, todos os países)
b) TODO O = inteiro:
"Ele realizou todo o trabalho." (=o trabalho inteiro)
"Acariciava toda a mulher." (=a mulher inteira)
"Haverá vacinação em todo o país." (=no país inteiro)
OBSERVAÇÃO:
Agora, você não poderá mais reclamar e dizer que não sabia. Se você tem o hábito de beijar to-
do colega de trabalho, não esqueça: "beijar todo o colega" é bem diferente.
Parte 2 - Hífen
O CASO
O uso do hífen é, sem dúvida, uma das maiores "desgraças" da língua portuguesa. É dúvida a-
pós dúvida. Nessas horas, sinto uma inveja imensa da língua espanhola. Para quem não sabe, o
espanhol aboliu o hífen e, pelo visto, não sente a mínima saudade.
No caso dos prefixos, é "coisa pra maluco"! Confira comigo.
Se você quer saber se o certo é INFRAESTRUTURA ou INFRA-ESTRUTURA, deverá co-
nhecer a regra que diz o seguinte: com o prefixo INFRA, só há hífen se a palavra seguinte co-
meçar por "h", "r", "s" ou vogais.
Portanto, o certo é INFRA-ESTRUTURA. Assim sendo, INFRAVERMELHO se escreve sem
hífen, "tudo junto" como se diz freqüentemente (=VERMELHO começa com "v").
Para o prefixo EXTRA, a regra é a mesma. Portanto, devemos escrever EXTRA-OFICIAL
(=com hífen porque a palavra seguinte começa por vogal).
Infelizmente, a dificuldade não está apenas nas regras. Temos ainda as exceções: é bom lem-
brar que EXTRAORDINÁRIO se escreve "tudo junto", sem hífen, embora "ordinário" comece
por vogal.
Outro caso que merece atenção é o uso do prefixo SUB. Segundo a regra, só há hífen quando a
palavra seguinte começa por "b" ou "r": SUB-BASE, SUB-REINO... Isso significa que, se a
palavra seguinte começar por qualquer outra letra, deveremos escrever "tudo junto": subchefe,
subdelegado, subgerente, subsolo, subterrâneo... O grande problema ocorre quando a palavra
seguinte começa por "h" ou vogais. Fica horroroso, mas o certo é escrever junto: subemprego,
subestimar, suboficial... Com "h", fica pior ainda pois, além de ficar junto, temos que tirar o
"h": sub+humano = SUBUMANO, sub+hepático = SUBEPÁTICO...
A DICA
Devido a isso tudo, vejamos algumas regras:
1. Com os prefixos AUTO, CONTRA, EXTRA, INFRA, INTRA, NEO, PROTO, PSEU-
DO, SEMI, SUPRA e ULTRA, devemos usar hífen se a palavra seguinte começar com
"h", "r", "s" ou vogais.
Exemplos:
auto-escola, auto-retrato; porém: autobiografia, autocontrole;
contra-ataque, contra-reforma; porém: contracheque, contrafilé;
extra-oficial, extra-regulamentar; porém: extrajudicial, extracurricular;
infra-estrutura, infra-hepático; porém: infravermelho, infracitado;
intra-ocular, intra-uterino; porém: intramuscular, intravenoso;
neo-republicano, neo-realismo; porém: neoliberal, neoclássico;
proto-história, proto-revolucionário; porém: protofonia, protozoário;
pseudo-artista, pseudo-representação; porém: pseudopoeta,
pseudocientista;
semi-selvagem, semi-interno; porém: semifinal, semideus, seminu;
supra-renal, supra-axilar; porém: supracitado, suprapartidário;
ultra-romântico, ultra-sensível; porém: ultramarino, ultrapassagem.
2. Com os prefixos ANTE, ANTI, ARQUI e SOBRE, devemos usar hífen se a palavra se-
guinte começar com "h", "r" ou "s".
Exemplos:
ante-sala, ante-histórico; porém: anteontem, antepenúltimo;
anti-semita; anti-herói; porém: anticristo, antiinflacionário;
arqui-rabino, arqui-rival; porém: arquiinimigo, arquiduque;
sobre-saia, sobre-humano; porém: sobreloja, sobretaxa, sobrevôo.
3. Com os prefixos HIPER, INTER e SUPER, só haverá hífen se a palavra seguinte come-
çar por "h" ou "r".
Exemplos:
hiper-humano, hiper-raivoso; porém: hipermercado, hipersensível;
inter-regional, inter-humano; porém: interplanetário, interestadual;
super-homem, super-requintado; porém: supermercado, superatleta.
4. Com o prefixo SUB, só haverá hífen se a palavra seguinte começar por "b" ou "r".
Exemplos:
Sub-bibliotecário, sub-ramo; porém: subsecretário, subeditoria.
OBSERVAÇÃO:
Vejamos alguns casos em que não se usa hífen. Devemos escrever "tudo junto":
AERO - aeroespacial
ANFI - anfiteatro
AUDIO - audiovisual
BI(S) - bicampeão
BIO - biofísica
CARDIO - cardiovascular
CENTRO - centroavante
DE(S) - desarmonia
ELETRO - eletrocardiograma
ESTEREO - estereofônico
FOTO - fotossíntese
HEMI - hemiplegia
HEPTA - heptassílabo
HETERO - heterossexual
HEXA - hexacampeão
HIDRO - hidroavião
HOMO - homossexualidade
MACRO - macroeconomia
MEGA - megafone
MICRO - microcomputador
MONO - monobloco
MORFO - morfossintaxe
MOTO - motociclismo
MULTI - multicolorido
NEURO - neurocirurgião
ONI - onipresente
ORTO - ortopedia
PARA - paramilitares
PENTA - pentacampeão
PNEUMO - pneumotórax
POLI - policromatismo
PSICO - psicossocial
QUADRI - quadrigêmeos
RADIO - radioamador
RE - reaver
RETRO - retroagir
SACRO - sacrossanto
SOCIO - sociolingüístico
TELE - telecomunicações
TERMO - termodinâmica
TETRA - tetracampeão
TRI - tridimensional
UNI - unicelular
ZOO - zootecnia
Parte 3 - Acentuação Gráfica
1. DA ou DÁ?
DA = preposição DE + artigo A:
"Ela vem da praia."
DÁ = 3ª pessoa do singular do verbo DAR (presente do indicativo):
"Ele dá tudo de si."
REGRA: Acentuam-se as palavras monossílabas tônicas terminadas em "a", "e" e "o",
seguidas ou não de "s":
A(S): lá, já, gás, má, más (adjetivo)...
E(S): fé, vê, mês, três, vês (verbo)...
O(s): pó, dó, pôs, nó, nós (pronome reto)...
OBSERVAÇÃO 1: Não se acentuam os monossílabos terminados em:
I(S): ti, si, bis, quis...
U(S): tu, cru, nus, pus...
AZ, EZ, OZ: paz, fez, vez, noz, voz...
OBSERVAÇÃO 2: Acentuam-se as formas verbais terminadas em "a", "e" e "o" segui-
das dos pronomes LA(S) ou LO(S): dá-lo, vê-la, pô-los, vê-lo-á...
OBSERVAÇÃO 3: Não se acentuam os monossílabos átonos:
Artigos definidos: o, a, os, as;
Conjunções: e, mas, se, que...
Preposições: a, de, por...
Pronomes oblíquos: o, se, nos, vos...
Contrações: da(s), do(s), na, nos...
Pronome relativo: que.
2. POR ou PÔR?
POR é preposição: "Vou por este caminho."
PÔR é verbo: "Vou pôr o livro sobre a mesa."
OBSERVAÇÃO 1: Este caso é uma das exceções que ficaram após a mudança ortográfica
de 1971, que aboliu a regra do acento diferencial.
OBSERVAÇÃO 2: Somente o verbo PÔR tem acento circunflexo. Os verbos derivados
não têm acento: expor, compor, dispor, contrapor, impor...
OBSERVAÇÃO 3: Somente o verbo PÔR tem acento circunflexo. As demais palavras
terminadas em "or" não tem acento gráfico: cor, for, dor...
3. QUE ou QUÊ?
A palavra QUÊ só tem acento circunflexo quando está substantivada ou no fim
da frase:
"Ela possuía um quê todo especial." (=substantivo)
"Procurava não sabia bem o quê."
"Ele viajou por quê?"
4. TEM ou TÊM ou TÊEM?
"Ele TEM" = 3ª pessoa do singular do verbo TER (presente do indicativo);
"Eles TÊM"= 3ª pessoa do plural;
"TÊEM" não existe.
5. VEM ou VÊM ou VÊEM?
"Ele VEM" = 3ª pessoa do singular do verbo VIR (presente do indicativo);
"Eles VÊM" = 3ª pessoa do plural do verbo VIR (presente do indicativo);
"Eles VÊEM" = 3ª pessoa do plural do verbo VER (presente do indicativo).
OBSERVAÇÃO 1: Só os verbos do grupo "crê-dê-lê-vê" (CRER, DAR, LER e VER)
terminam em "-ÊEM":
Ele crê - eles crêem (presente do indicativo);
Que ele dê - que eles dêem (presente do subjuntivo);
Ele lê - eles lêem (presente do indicativo);
Ele vê - eles vêem (presente do indicativo).
OBSERVAÇÃO 2: Esta regra também se aplica aos verbos derivados: descrer, reler,
prever, rever...
Ele relê - eles relêem;
Ele prevê - eles prevêem.
OBSERVAÇÃO 3: Todas as palavras terminadas em "ÔO(S)" devem receber acento cir-
cunflexo: vôo (verbo = "eu vôo" ou substantivo = "o vôo foi ótimo"), enjôo(s), perdôo,
magôo, abençôo...
OBSERVAÇÃO 4: "Tu côas" e "ele côa" são as únicas palavras em que o hiato "OA"
recebe acento circunflexo: boa, voa, canoa, coroa, pessoa, lagoa...
6. REFEM ou REFÉM?
O certo é REFÉM.
Todas as palavras oxítonas (=sílaba tônica na última sílaba) terminadas em "ÉM (ÉNS)" rece-
bem acento agudo se tiverem mais de uma sílaba: recém, porém, alguém, ninguém, armazéns,
parabéns, tu intervéns, tu deténs...
OBSERVAÇÃO:
As palavras monossílabas terminadas em "ÉM (ÉNS)" não têm acento agudo: bem, trem, ele
tem, ele vem (3ª pessoa do singular)...
7. CONTEM ou CONTÉM ou CONTÊM ou CONTÊEM?
CONTEM = do verbo CONTAR: "É preciso que vocês contem tudo."
CONTÉM = 3ªp.sing. do verbo CONTER: "A garrafa contém gasolina."
CONTÊM = 3ªp.plur. do verbo CONTER: "As garrafas contêm gasolina."
CONTÊEM não existe.
OBSERVAÇÃO:
Todos os verbos derivados de TER (=deter, reter, manter, obter...) terminam em "ÉM" na 3ª
pessoa do singular e em "ÊM" na 3ª pessoa do plural do presente do indicativo: ele detém - eles
detêm;
ele mantém - eles mantêm;
ele contém - eles contêm.
8. PROVEM ou PROVÉM ou PROVÊM ou PROVÊEM?
PROVEM = do verbo PROVAR: "É preciso que vocês provem o que disseram."
PROVÉM = 3ªp.sing. do verbo PROVIR: "O produto provém da Argentina."
PROVÊM = 3ªp.plur. do verbo PROVIR: "Os produtos provêm da Argentina."
PROVÊEM = 3ªp.plur. do verbo PROVER (=abastecer): "Os armazéns se provêem do necessá-
rio."
OBSERVAÇÃO:
Todos os derivados de VIR (=advir, convir, intervir, provir...) terminam em "ÉM" na 3ª pessoa
do singular e em "ÊM" na 3ª pessoa do plural do presente do indicativo: "ele intervém, pro-
vém..." e "eles intervêm, provêm..."
9. CAJU ou CAJÚ?
O certo é CAJU.
REGRA: Só acentuamos as palavras oxítonas terminadas em "a", "e" e "o", seguidas ou não de
"s":
A(S): sofá, sabiá, atrás, aliás...
E(S): café, você, invés, chinês...
O(S): cipó, avô, avós, propôs...
OBSERVAÇÃO 1:
As formas verbais terminadas em "a", "e" e "o", seguidas dos pronomes LA(S) ou LO(S) de-
vem ser acentuadas: encontrá-lo, recebê-la, dispô-los, amá-lo-ia, vendê-la-ia...
OBSERVAÇÃO 2:
Acentuamos a palavra PORQUÊ quando está substantivada ou no fim da frase: "Não sei o por-
quê de tudo isso."
OBSERVAÇÃO 3:
Não se acentuam as oxítonas terminadas em:
I(S): aqui, Parati, anis, barris, dividi-lo, adquiri-la...
U(S): caju, bauru, Bangu, urubus, compus, Nova Iguaçu...
AZ, EZ, OZ: capaz, talvez, feroz...
OR: condor, impor, compor...
IM: ruim, assim, folhetim...
10. GRAJAU ou GRAJAÚ?
O certo é GRAJAÚ.
REGRA: Acentuam-se as vogais "i" e "u" tônicas, formando hiato com a vogal anterior e for-
mando sílaba sozinhas ou com "s":
Gra-ja-ú, ba-ú, sa-ú-de, vi-ú-va, con-te-ú-do, ga-ú-cho, eu re-ú-no, ele re-ú-ne, eu sa-ú-do, eles
sa-ú-dam;
I-ca-ra-í, eu ca-í, eu sa-í, eu tra-í, o pa-ís, tu ca-ís-te, nós ca-í-mos, eles ca-í-ram, eu ca-í-a, ba-
í-a, ra-í-zes, ju-í-za, ju-í-zes, pre-ju-í-zo, fa-ís-ca, pro-í-bo, je-su-í-ta, dis-tri-bu-í-do, con-tri-
bu-í-do, a-tra-í-do...
OBSERVAÇÃO 1:
A vogal "i" tônica, antes de "NH" não recebe acento agudo:
rainha, bainha, tainha, ladainha, moinho...
OBSERVAÇÃO 2:
Não há acento agudo quando formam ditongo e não hiato:
gra-tui-to, for-tui-to, in-tui-to, cir-cui-to, mui-to, sai-a, bai-a, que eles cai-am, ele cai, ele sai,
ele trai, os pais...
OBSERVAÇÃO 3:
Não há acento agudo quando as vogais "i" e "u" não estão isoladas na sílaba: ca-iu, ca-ir-mos,
sa-in-do, ra-iz, ju-iz, ru-im, pa-ul...
11. CÔCO ou COCO?
O certo é COCO.
REGRA: Só acentuamos as palavras paroxítonas (=sílaba tônica na penúltima sílaba) termina-
das em:
I(S): táxi, júri, cáqui, lápis, tênis...
EI(S): jóquei, vôlei, ágeis, fósseis, usaríeis...
US: vírus, ânus, bônus, Vênus...
Ã(S): ímã, órfã, órfãs...
ÃO(S): órfão, sótão, órgãos, bênçãos...
R: caráter, repórter, éter, mártir...
X: tórax, clímax, ônix, látex...
N: hífen, pólen, próton, nêutron...
L: túnel, têxtil, ágil, difícil...
UM (UNS): álbum, álbuns...
ONS: prótons, elétrons, íons...
PS: bíceps, tríceps, fórceps...
OBSERVAÇÃO 1:
Não se acentuam as paroxítonas terminadas em:
A(S): fora, seca, sala, balas...
E(S): este, esses, ele, eles...
O(s): coco, bolos, palito...
EM (ENS): item, itens, ordem, nuvens, hifens, polens, abdomens...
OBSERVAÇÃO 2:
Não se acentuam os prefixos terminados em "i" ou "r":
hiper, inter, super, semi, mini, maxi...
OBSERVAÇÃO 3:
Podemos usar XÉROX ou XEROX.
12. PARA ou PÁRA?
PARA é preposição: "Eu vou para São Paulo."
PÁRA é verbo (3ª pessoa do singular) : "Ele sempre pára aqui."
REGRA: A regra do acento diferencial de timbre (som fechado x aberto) foi abolida em 1971.
Restaram algumas exceções. Vejamos alguns exemplos de palavras que ainda têm acento dife-
rencial de tonicidade:
Tu côas, ele côa (do verbo COAR);
Ele pára (do verbo PARAR - só a 3ªp.sing. do presente do indicativo);
Pôr (só o infinitivo do verbo);
Eu pélo, tu pélas e ele péla (do verbo PELAR);
O pêlo, os pêlos (substantivo = cabelo, penugem);
A pêra (substantivo = fruta - só no singular)
O pólo, os pólos (substantivos = jogo ou extremidade)
OBSERVAÇÃO:
Não se acentuam as palavras átonas (preposições, conjunções...): para (preposição), por (prepo-
sição), pela (s) e pelo(s) (contração)...
13. PÔDE ou PODE?
PÔDE é a 3ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo:
"Ontem ele não pôde resolver o problema."
PODE é a 3ª pessoa do singular do presente do indicativo: "Agora ele não pode
sair."
14. SECRETÁRIA ou SECRETARIA?
SECRETÁRIA é a pessoa; SECRETARIA é o lugar.
REGRA: Acentuam-se as palavras paroxítonas terminadas em ditongo:
SE-CRE-TÁ-RIA, a-é-reo, núp-cias, sé-rie, cá-ries, ób-vio, re-ló-gio, nó-doa, má-goas, á-gua,
tá-buas, tê-nue, o-blí-quo, ár-duos, au-tóp-sia, fa-mí-lia, prê-mio, am-bí-guo, lon-gín-quo, en-
xá-guas, de-sá-guam, mín-güem, bi-lín-güe...
OBSERVAÇÃO:
Não haverá acento se a palavra terminar em hiato:
SE-CRE-TA-RI-A, ele ma-go-a, ele a-ve-ri-gu-a, a-pa-zi-gu-a, ar-gu-o, que eu ar-gu-a, ne-
crop-si-a, ele in-flu-en-ci-a, ele no-ti-ci-a, eu pre-mi-o, ma-qui-na-ri-a ...
15. RÚBRICA ou RUBRICA?
O certo é RUBRICA.
É uma palavra paroxítona terminada em "a". Se fosse proparoxítona teria acento.
REGRA: Todas as palavras proparoxítonas (=sílaba tônica na antepenúltima sílaba) devem re-
ceber acento gráfico: álcool, álibi, amássemos, amávamos, biótipo, cágado, científico, crisân-
temo, depósito, devíamos, dividi-lo-íamos, êxodo, fôssemos, hábito, ímprobo, ínterim, ômega,
pântano, plêiade, protótipo, repórteres, vermífugo...
OBSERVAÇÃO 1:
Embora a forma acentuada seja usual em nossos meios de comunicação, oficialmente as pala-
vras deficit e habitat não têm acento gráfico porque são latinismos (palavras latinas que não fo-
ram aportuguesadas)
OBSERVAÇÃO 2:
Cuidado com algumas palavras que não têm acento gráfico porque verdadeiramente são paroxí-
tonas: avaro, aziago, ciclope, decano, erudito, filantropo, ibero, inaudito, pudico, refrega, rubri-
ca ...
16. APÔIO ou APOIO ou APÓIO?
APÔIO não existe;
APOIO é substantivo: "Preciso do seu apoio."
APÓIO é verbo: "Eu apóio este candidato."
REGRA: Acentuam-se as palavras que apresentam ditongos abertos:
ÉU: céu, réu, chapéu, troféus...
ÉI: papéis, pastéis, anéis, idéia, assembléia...
ÓI: dói, herói, eu apóio, esferóide...
OBSERVAÇÃO 1:
Não se acentuam os ditongos fechados:
EU: seu, ateu, judeu, europeu...
EI: lei, alheio, feia...
OI: boi, coisa, o apoio...
OBSERVAÇÃO 2:
No Brasil, colméia e centopéia são pronunciados com o timbre aberto.
Parte 4 - Trema
O CASO
E o trema não morreu!
É verdade. Embora muitos já o tenham abolido de suas vidas, o trema continua vivo e forte.
Há quem tenha decretado a morte do trema por total desprezo ao seu uso:
"É um sinal inútil", dizem alguns. "Este sinal não existe no meu teclado", afirmam outros.
Na verdade, o coitado do trema foi expulso de muitos lugares. Não conheço supermercado al-
gum que venda lingüiças. A maioria prefere linguiças. E os nossos jornais! Com muita "fre-
quência" leio sobre "sequestros" de "delinquentes" feitos com a maior "tranquilidade". Isso eu
não "aguento"!
Desde 1971, ano da última mudança ortográfica ocorrida na língua portuguesa, tentam acabar
com o trema. Houve várias propostas. A última "reforma", que não entrou em vigor até hoje,
também propunha o fim do trema.
O professor Arnaldo Niskier, presidente da Academia Brasileira de Letras, ao ser consultado a
respeito da "reforma", esclarece: "Ainda não foi assinado pelos sete países da comunidade lu-
sófona o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Na verdade, Brasil e Portugal já se acerta-
ram, mas há algumas nações africanas que resistem à idéia. O Acordo talvez seja assinado este
ano."
Isso significa, portanto, que o trema continua valendo. Quem deseja seguir oficialmente nossas
normas ortográficas devem continuar utilizando o trema.
Existem os moderados que afirmam: "o trema não foi abolido, mas seu uso agora é facultati-
vo". Mentira! O trema só é facultativo se a pronúncia da vogal "u" for opcional, ou seja, pode-
mos falar: líquido ou líqüido, antiquíssimo ou antiqüíssimo, sanguinário ou sangüinário...
Pior que abandonar o trema é usá-lo onde ele nunca existiu. Há quem fale "adqüirir", "disti-
güir" e "por consegüinte". Devemos usar adquirir, distinguir e por conseguinte. Alguns fazem
"qüestão" de falar errado. O certo é questão, questionar, questionário...
Por fim, não esqueça que O TREMA (=palavra do gênero masculino) não é um acento (=não
indica sílaba tônica). O trema é um sinal gráfico cuja função é indicar a pronúncia da vogal
"u".
A DICA
Devemos usar o trema na vogal "u" (pronunciada e átona), antecedida de Q ou G e seguida de
E ou I:
Q E
> Ü <
G I
O objetivo do trema é distinguir a vogal "u" muda (=não pronunciada) da vogal "u" pronuncia-
da:
QUE = quente, questão, quesito; QÜE = freqüente, seqüestro, delinqüente;
QUI = quilo, adquirir, química; QÜI = tranqüilo, eqüino, iniqüidade;
GUE = guerra, sangue, larguemos; GÜE = agüentar, bilíngüe, enxagüemos;
GUI = guitarra, distinguir, seguinte; GÜI = lingüiça, pingüim, argüir.
OBSERVAÇÃO 1:
Não esqueça que jamais haverá trema quando a vogal "u" estiver seguida de "o" ou "a": ambí-
guo, longínquo, averiguar, adequado...
OBSERVAÇÃO 2:
Se a vogal "u" for pronunciada e tônica, devemos usar acento agudo em vez do trema: que ele
averigúe, que eles apazigúem, ele argúi, eles argúem...