Borges Neto
parte da tarde ć dedicada a rcuniócs dc "scntimento e terapćutica", a cargo de
Nas colinas de Cachociras de Macacu, a 90 quitómetros do Rio, cxiste uma nova versio de hotel-fazenda onde a diiria mais cara ć Cz$ 500.“Isto aqui rio ć uma colónia de fćrias", alerta, logo & chegada, Lilia Catio. Eleita hi tres meses presiden-te da Obra de Promoęio dos Jovens, que se propóe a prevenęio e rccuperaęio de toucdmanos e alcoólatras, Lilia quer que a fazę oda, com 63 hectares de irca, ofere-ęa a seus intemos aauilo que os melhores medicamentos e cunicas especializadas nio conseguiram: a capacidade de resistir ao vfcio e i droga, atravćs do trabalho e de uma conduta disciplinada, que contam com a supemsio de psicólogos, terapeu-tas e atć de um padre.
Embora haja lugar para 20, no mo-mento sio apen3s 17 os residentcs da Fazenda Senhor Jesus. Todos sio obriga-dos a scguir i risca o horśrio e as normas da casa, desdc o toque da sineta, is 5h45min, para lesantar, atć as 22h, hora de recolher. Todos tćm uma tarefa a cumprir, no trato da horta, na lavagem da roupa, no preparo das refeśęóes, na cria-ęio dc porcos, coelhos e galinhas, ou na limpeza do roęado, onde pastam 42 vacas.
Suatro ex-dependentcs dc tóxkos, alćm o terapeuta Josć Lufs Rojas Garda, o Pepe.
Apesar de tanto trabalho, nenhum dos intemos sc mostra no entanto tentado a ir embora, mesmo sabendo que a porteira Cca aberta o dia inteiro. Nenhum esconde que sua estada ali representa um grandę esforęo pessoal dc reeducaęio. Mas nenhum scnte saudade do tempo cm que roubava c brigava, em casa e na rua, para poder adquinr suas troiuinhos de maco-nha c papelotes dc coca (na. A maioria aceita que passa por ali o caminho da regcncraęio, que comcęa com o aprendi-zado das coisas mais simples. "Hi droga-dos que só aqui aprenderam a tirar o tenis e a desamarrar o cadaręo", diz a psicóloga Eliane Mcdeiros Vale.
"Aqui tern muita duma, mas eu eon-cordo. Tern que ser assim e sei tambćm que, quando for embora, vou ter que ir i łuta para nfio recair", diz P.C.B., paulista dc 19 anos que, para poder comprar entorpcccntcs, ji chegou a roubar arraas
Hotel comandado por *socialite’ junta ex-drogados e alcoólatras na łuta para deixar o v(cio e voltar a viver
na detcgacia policial onde trabalhava como escnvio. Agora o desejo dclc ć voltar recuperado i sua ddadc c ali "fundar um Nata" (Ndcleo dc Apoio a Toxicómanos e Alcoólatras).
Na fazenda, situada aoito quilómetros da Cachoeiras de Macacu, hi tempo tambćm para se jogar futcbol, sinuca, vółci, pingue-pongue e atć para se praticar hal-teres. Ouanto ao trabalho, 4s vezes parecc ir alćm da própria foręa dos intemos. Mas o mćtodo ć este mesmo: encher o tempo dc todos. lilia Catio alerta que a obra por cla dirigida “nio ć a cura, mas apenas um caminho para fugir da docnęa”. Vale anotar o oue essa ex-socialite ("Pus firn i minha vida social para mc acdicar um pouco aos outros") pondera para aquc!cs que ainda possam ter ilusócs sobre as rcais conscqućncias do consumo dos tóxicos: “A depcndćncia qu(mica de um drogado ć como o diabetes: nio tern cura. mas pode ser controlada". Ainda segundo ela, o toxicómano que conseguiu se libertar do vfdo nunca pode considerar-se um cura-do: “Ele ć como aquelc que tern alergia ao camarao. Enquanto nio comer passa bem, mas se provar, volta a sofrer".
# A dificutdade dc um drogado se libertar do vfcio pode ser medida pelo rcsulta-
A fazenda Senhor Jesus, alćm de uma bela
__ paisagem,
. W} ofcrccc aos & r:J-. hóspcdcs M&'r'[ trabalho e "I disciplina, fundamen-tais para a rccupcraęao de
cx-viciados
do quasc dcsconcertante de pesquisas ini-ciadas hi trćs anos. quando a fzenda comcęou a funcionar no tratamento de drogados. Dc acordo com com a assisten-tc social Susana Bial, dos 80 intemos que por li passaram nesse per (odo, só 28 completaram os nove meses cxigidos para o tratamento que a obra se propóe. E desses 28 só 44% sc graduaram, isto ć, tern mantido contato com a obra e deram mostras dc real aproveitamento, como diz Lilia Catio. “tanto na vida afetiva, como profissional, familiar e social". Os outros 56%, completa a assistente, “ou mone-ram ou recalram ou nio deram mais notfcia".
Apesar de todas as vantagens da fazenda e segundo a psicóloga Eliane, o cx-intemo nao icró condięócs de se manter abstemio se, ao voltar para casa, nio continuar frcqQentando as reunióes que toxicómanos cm recuperaęio e parentes fazem pclo menos uma vez por semana para trocar suas cxperićncias c ofcrcctr apoio iqueles que lutam com mais dificul-dades. "Preciso me apoiar naquelcs que tćm um passado semelhante ao mcu", diz o diretor da fazenda. Iolando Soares Sou-sa, 44, tambćm ete um cx-drogado apa-rentementc sem scqiłclas, masque confcs-sa “ter de lutar para nao voltar a beber".
Dupla Exposięao
j—i Poucas paisagens canocas sc transfor-LJ maram tanto nos dltimostcmpos como a da Pnęa Ouinze. Nos primeiros anos da fundaęio da ddade, ali cxislia apenas o Convento dos Padres Carmelitas • hojc inte-grado i Faculdade Candido Mandes - e, dominando (odo o ccnirio, o ririnho Mos-tdro dc Sio Bcnto quc lcvou quase 200 anos para ficar pronto c 6 considcrado um dos
mais importantes conjuntos arquitetómcos do periodo colonial.
A praęa fen; sua aparincia definida no sćculo seguinte com a transformaęao do Armazćm do Rei. que abrigava a Casa da Mocda, em Paęo Imperial para scrvir de residinda aos rice-gosemadores. En o poru o mais concorrido da cidade, centrali-zando as dcdsócs politkas, cconómicas.
akm de abrigar o mais importante porto do pafs atć a construęSo do Cais da Praęa Staui. neste sćculo.
Assim. a imagem da Pnęa Ouime ratt da Bafa dc Cuanaban foi. durante muito tempo. uma das referćncias intemacionais do Brasil. Ali funeionou tambćm. um hotel mantido pelo francis bonapartista Luis Adolpho Pharoux. famoso principalmente pela qualidade de sua cozinha oue acabou tendo seu nomc assodado ao da praęa: o pier que hojc abriga a estaęio das barcas. atć bem pouco tempo en conheddo como Cais Pharotu.
Ji neste secuh. porćm. antigas ediFtcaędes que compunham o conjunto da Praęa Mani ioram sendo demolidas pan dar lugar a imponentes amnha-cćus. uma tendencia quc sc accntuou nas lUtuim dćcadas, com a valoriuęio dos temnos do Centro da cida-de. Desta forma, as imponentes consiruęócs antigas. mesmo plenamente restauradas per-deram a grandiosidade ofuscadas pela arqui-tetura moderna oue ignorou solumes e di-mensócs do que ioi um dos mais harmónkos conjuntos arquitetónicos do Rio.
(Bruno Thys)
*