Como falar e ser entendido

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COMO FALAR E SER ENTENDIDO



A pronunciação do sermão deve ser brilhante e tranqüila, observe os seguintes

pontos:

Força e convicção;

Existe um limite de rapidez que não deve ser ultrapassado;

Manter contato visual com o auditório;

Simpatia.

Observe o comportamento do auditório, pois este serve de base para avaliação do

desenvolvimento e recepção do sermão.

O olhar, os braços, a expressão facial, a postura do ouvinte são elementos que nos falam e

transmitem mensagens em códigos que quando bem captadas lhe dá uma visão geral de seu
desempenho e do andamento da pregação. Assim poderá se adequar ao momento e até mesmo
dar um outro rumo em sua pronunciação.


A figura ao lado nos fornece alguns códigos como:

1 – A menina, como um todo, oferece grande resistência;
2 - As pernas presas aos pés da cadeira revela que a menina está segura em
sua posição e não abre mão do seu ponto de vista;
3 – Os braços cruzados indicam resistência, proteção ou dúvida;
4 – O rosto mostra que a menina não te olha nos olhos, desinteresse, receio,
acanhamento ou medo;
5 – Os olhos indicam desconfiança.

É importante destacar que estas posições nem sempre acontecerão ao mesmo tempo.
Em alguns casos somente alguns destes elementos estarão presentes. O pregador deve

estar atento ao comportamento geral dos ouvintes.

Em grandes auditórios, com muitos ouvintes, não se pode observar características

isoladas, mas o todo.

Quando muitos ouvintes estão folheando a bíblia ou outras literaturas podem estar

procurando algo mais interessante ou importante, para eles, do que ouvir a mensagem;

Conversação geral é desinteresse ou cansaço psicológico da congregação;

Movimentos constantes com o corpo, bem como levantar-se a todo momento, é sinal de

cansaço físico pelo tempo da programação;

A forma como estão sentados (postura).

Obtenha sempre uma resposta do público.

FALA

Comunicar vem do latim “comunicare” que significa por em comum. A forma de emitir

os sons vocálicos caracteriza a nossa voz.

Para ser um bom comunicador da palavra de Deus é preciso saber utilizar a fala como um

grande instrumento. Apresentaremos alguns exercícios e atividades para uma boa postura da voz.

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RELAXAMENTO:


Antes de falar é ideal fazer um relaxamento dos ombros, cabeça e pescoço. Para passar

do silêncio para o som, as cordas vocais estarão se aproximando para realizarem uma vibração,
por isso, comece a falar com cuidado, suavemente, para não dispender demasiada força.

INTENSIDADE:

Cuidado para não usar a intensidade de forma inadequada. Ex.: Falar excessivamente

alto em situações onde não é exigido este esforço como, ao telefone ou com uma só pessoa.

Leia uma lista de palavras ou texto com voz suave, como quem não quer acordar ninguém.
Fale, mas não sussurre.


ALTURA


Classifica-se em grave, média e aguda. Devemos empregar o registro médio para falar.

As vozes bem impostadas não apresentam diferenças de timbre na passagem de um registro para

o outro.
Fale a seqüência de dias da semana prolongando a última vogal. Ex.: Segunda, a,a,a,..

Observe o tom que você emitiu e tente gravá- lo na memória.

TIMBRE


É a melodia da voz. O timbre é proporcionado pelo sistema de resistência e depende das

qualidades físicas do falante.

Preservação da voz:

a) não beber bebidas alcoólicas
b) não ficar exposto ao ar condicionado
c) não beber gelado
d) não beber quente
e) não falar alto
f) não falar demasiadamente
g) falar naturalmente no tom médio
h) ficar um período em silêncio
i) Tomar mel
j) Fazer gargarejo ( água e sal, romã, aspirina, gengibre)

RITMO

Movimentos com sucessão regular de sons fortes com relação a elementos fracos.

É pela observação do ritmo da respiração e identificação com a pulsação que se pode obter uma
harmonia adequada, tanto ao movimento como a fala.

Diga “Por favor, poderia repetir o seu nome” rapidamente, lentamente e normalmente.

INFLEXÕES

As inflexões são ondulações da voz que se elevam ou se abaixam, quando expressamos o

nosso pensamento.

Toda frase falada descreve uma curva melódica.

Vejamos “Bom dia!” pronunciado com várias modulações:

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1 – Indiferente
2 – Natural
3 – Atencioso
4 – Alegre
5 – Surpresa
7 – Raiva

O pregador precisa saber interpretar e exprimir bem os sentimentos para que sua pregação

tenha mais “vida”. Saber expressar o que está escrito no texto e seus próprios sentimentos.

Procure exprimir com clareza os seguintes sentimentos de acordo com as frases:

VONTADE – “Hei de vencer, haja o que houver” . “Tudo posso naquele que me fortalece”.
ALEGRIA – “Como é boa a vida!”. “Jesus me libertou!”
CORAGEM – “Irei e enfrentarei a situação.” “Se Deus é por nós quem será contra nós?”
MEDO – “Estão nos perseguindo”
ORGULHO – “Consegui uma promoção por bons serviços prestados”
HUMILDADE – “Quem sou eu, meu caro amigo”
SURPRESA – “Tirei em primeiro lugar no concurso”


IMPORTANTE:

1 – Não fale com muita intensidade, reserve forças para o ponto culminante.
2 – Não deixe que a voz caia nas últimas sentenças das palavras.
3 – Respire de forma disciplinada
4 – Varie a força, a velocidade e o ritmo da voz para não cansar a platéia.
5 – Leitura do sermão somente em solenidade ou formaturas especiais.

ATENÇÃO: Durante a pregação não se deve citar as palavras que representam as partes
da estrutura do sermão como, introdução, corpo, tópico e conclusão.
Errado: “O primeiro tópico é...”, “Conclusão da mensagem” ou “ponto um”
CORRETO: “Em primeiro lugar...”,

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Os âmbitos da argumentação

É em função de um auditório que qualquer argumentação se desenvolve. O discurso ou

texto está sempre condicionado, consciente ou inconscientemente, por aqueles a quem pretende

se dirigir. Assim o orador (pode ser também escritor ou qualquer outro que queira argumentar e

persuadir) é sempre obrigado a se adaptar ao seu auditório. Mudando-se o auditório, muda-se o

tipo e o estilo da argumentação, que visa semp re agir eficazmente sobre os espíritos.

Para julgar o valor da argumentação temos de levar em conta a qualidade dos espíritos

que ela consegue convencer. Isto aponta mais uma vez para a importância do auditório e mais

ainda para aqueles dentre os que o compõem que foram convencidos pela argumentação.

Apesar de toda importância atribuída ao auditório cabe ao orador decidir sobre qual

auditório ele pretende atuar para, a partir de sua argumentação, persuadir. O orador pode

simplesmente abandonar a intenção de buscar convencer um auditório que a ele não convém.

Para nós, há seres com os quais qualquer contato pode parecer supérfluo ou pouco desejável,

com os quais não nos preocupamos em dirigir a palavra. Isto pode ocorrer inclusive em situações

em que somos obrigados a travarmos contato cotidiano com estes mesmos seres. É o caso, por

exemplo, de relações do tipo patrão / empregado ou mesmo a relação professor / aluno. Neste

tipo de relação pode até ordenar e obedecer, mas nem por isso trava-se relações em que uma das

partes tenta persuadir ou argumentar com a outra.

Na Idade Média havia duelos que eram travados entre homens que buscavam recuperar

ou manter seu status e sua honra. Mas havia alguns insultos ou injúrias que não levavam a

duelos, pois os ofendidos não se sentiam ameaçados pelos agentes que os enunciavam. Assim

como não se duelava com qualquer um, também não se utiliza de argumentação para toda e

qualquer pessoa. Só argumentamos para aqueles a quem temos apreço ou interesse em mudar seu

ponto de vista. Aristóteles dizia que discutir com certar pessoas é inconveniente pois corre-se o

risco de se perder a própria qualidade da argumentação: “não se deve discutir com todos, nem

praticar a dialética com o primeiro que aparecer, pois, com respeito a certas pessoas, os

raciocínios sempre se envenenam” (Tópicos, livro III, cap. 14, 164b).

Assim como não se duelava com qualquer um também não se deve jogar pérolas aos

porcos. Isto pode ser deduzido da recomendação de Aristóteles.

Quando elegemos alguém ou algum grupo para se transformar em alvo de nossas

argumentações é sinal de que este grupo ou pessoa tem importância, ou seja, que neste momento

assumimos uma posição de modéstia ao reconhecer o valor do outro a quem se dirige algum tipo

de argumentação. Argumentar em si já é sinal de modéstia, pois está reconhecido implicitamente

que o nosso ponto de vista não é incontestável, pois ele é pensável a partir de uma ordenação de

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argumentos, dispostos de forma a persuadir nosso(s) interlocutor(es). Só argumentando é que

talvez poderemos persuadir e influenciar o ponto de vista daquele(s) que elegemos como alvo de

nossos discursos, e que nesta condição, por alguma razão, é alvo de nosso interesse e

preocupação.

Um cuidado a ser tomado em qualquer tipo de argumentação é conseguir manter a

atenção do interlocutor para o nosso discurso. A maior parte das formas de publicidade e de

propaganda se preocupa, acima de tudo, em prender o interesse de um público indiferente,

condição indispensável para o andamento de qualque r argumentação.

Talvez um dos erros mais graves de qualquer orador é conceber o auditório de forma

inadequada. Assim concebido, seja em função de ignorância ou por qualquer outra circunstância,

as conseqüências podem ser desastrosas. Argumentar sobre as medidas necessárias para diminuir

a tensão social para um auditório que quer exatamente o contrário, ou sobre ética para um

auditório habituado à corrupção, traz resultados frustrantes. A um eleitor que consagra o ditado

“rouba, mas faz” é impossível argume ntar levando em conta basicamente a idéia de ética,

cidadania e responsabilidade em relação ao erário público. O pensador latino Cícero dizia que

uma coisa era falar para homens ignorantes e grosseiros que sempre preferem o útil ao honesto,

outra é falar para pessoas esclarecidas e cultas que põem a dignidade moral acima de tudo. O

conhecimento daqueles que se pretende conquistar ou influenciar é pois uma condição prévia de

qualquer argumentação eficaz.

A questão do conhecimento sobre o auditório que se pretende persuadir pode ser

transposta inclusive para os próprio objetivos pessoais de cada agente. Sócrates tinha como lema

fundamental de todo ser humano o ditado “conhece-te a ti mesmo”. Sem auto-conhecimento

sequer podemos saber acerca de nossas verdadeiras propensões e inclinações de modo a

perseguir com segurança e mais clareza os objetivos que acreditamos ser efetivamente aqueles

pelos quais devemos lutar nesta vida.

Isto tudo dito é natural que se pense que a cultura de cada auditório transparece através

dos discursos que lhe são dirigidos.

Muitas vezes é necessário persuadir um auditório heterogêneo, sendo neste caso

necessário se utilizar de múltiplos argumentos, para conquistar os diferentes elementos que

compõem este auditório. O grande orador é aquele que leva em conta esta possibilidade e

desenvolve os meios para atingir estes elementos, persuadindo um grande auditório heterogêneo.

Conhecer um auditório é também conhecer os meios suscetíveis de influenciá-lo. O

grande orador se certifica antecipadamente destes meios e além disso parece animado pelo

próprio espírito do auditório. Postura muito diferente daquele orador apaixonado que só se

preocupa com o que ele mesmo sente. O homem apaixonado quando argumenta o faz sem levar

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em conta o auditório ao qual se dirige. Empolgado por seu entusiasmo, imagina o auditório

sensível aos mesmos argumentos que o persuadiram. Por isso é que na maioria das vezes a

paixão do orador não é suficiente para empolgar o auditório. O auditório é que deve definir o

básico da argumentação. Isto, no entanto, sem deixar de lembrar que o orador pode deixar de

querer persuadir um auditório que só se deixa convencer por razões que causam repulsa ao

orador, por exemplo, discursar para um conjunto de larápios, utilitaristas, imorais, etc.

A argumentação visa à persuasão e é diferente neste sentido da demonstração que visa

promover a convicção. Na persuasão o indivíduo se contenta com razões afetivas e pessoais,

diferentemente da convicção que atua mais por meio de raciocínios demonstrativos. Alguém

pode estar convencido de que comer rápido ou fumar fazem mal à saúde e nem por isso se sente

persuadido a mudar de hábito. Na convicção a pessoa pode ter algum tipo de certeza que ela

talvez não tenha na persuasão. Enquanto a persuasão está ligada à emoção e à ação, a convicção

está ligada à certeza, à demonstração, ao raciocínio e à inteligência.

Há três tipos básicos de auditório: o universal, constituído pela humanidade inteira; o

particular, constituído pelos interlocutores aos quais os oradores se dirigem; e, finalmente, o

auditório pessoal, formado pelo próprio sujeito. Cada indivíduo ou cultura tem a sua concepção

do que seja o auditório universal. Muitas vezes o auditório universal é o auditório de elite,

constituído quando os va lores dos dominantes se transformam em valores dominantes. Neste

momento ocorre que um auditório particular se transforma no auditório universal.

Argumentação e persuasão fazem parte da nossa vida cotidiana. Presente nas mais

diversas formas de terapia, na fofoca, nas conversas intersubjetivas, etc. Vive até mesmo em

nossos pensamentos mais íntimos quando tentamos esclarecer a nós próprios aspectos de nossas

vidas buscando a auto-justificação e o auto-convencimento.

A argumentação na educação e na vida cotidiana

Diferentemente do propagandista, o educador tem um papel ambíguo, pois ele deve

persuadir ao mesmo tempo em que deve reproduzir os valores culturais mais importantes e se

apoiar em evidências que não necessitam de nenhum tipo de persuasão. Seria ridículo buscar

persuadir alguém de que a neve é branca. O mesmo vale para todas as outras evidências. Quanto

aos valores culturais de nossa cultura, cabe ao educador inculcá- los de modo tal que idéias como

igualdade, justiça e ética tenham possibilidade de serem mantidas nas gerações futuras. O papel

do educador democrático é dispor os alunos de modo que possam compreender o ponto de vista

do outro. Cabe a ele também indicar quais teses são argumentáveis e quais não são em sua

cultura.

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A argumentação é uma forma de tentar coagir de forma não violenta, através de

argumentos e exposição ordenada de pontos de vistas específicos.Ela não recorre à força e busca

tratar o outro como igual, apelando para a sua liberdade de juízo.

Fatos, verdades, presunções, etc.

Ao lancarmos mão de qualquer tipo de argumentação recorremos a fatos, verdades e

presunções. Pode-se definir fato como aquilo que é comum a vários entes pensantes e que

poderia ser tido como comum a todos eles, por exemplo a constatação do fato de que chove neste

momento. O fato portanto é tudo aquilo que pode ser tido como não controverso e assim ser

postulado como algo que permite um acordo universal. Tudo o que foi dito acerca de fatos

poderia ser aplicado ao conceito de verdade (no sentido puramente fatual e não moral). Verdades

são sistemas mais complexos que envolvem uma cadeia entrelaçada de fatos, por exemplo, a

série de fatos que permitem a precipitação pluviométrica mais conhecida como chuva.

Presunções são fatos esperados mas não efetivos e que se originam a partir da

pressuposição de que algo ocorrerá com um alto grau de certeza. Por exemplo a presunção de

que a qualidade de um ato manifesta a da pessoa que o praticou, a presunção de credulidade

natural que nos leva a pensar que sempre nos dizem a verdade enquanto não tivermos motivo

para desconfiar, a presunção de interesse, segundo a qual concluímos que todo enunciado levado

ao nosso conhecimento supostamente nos interessa, a presunção de que o normal é o que

ocorrerá e assim pode ser a base com a qual contamos em nossos raciocínios, etc. Vale dizer que

a idéia de normal se opõe à idéia de excepcional e está sempre vinculada a um grupo de

referência e de suas práticas mais gerais e comuns.

Valores são conceitos ou idéias que possuem uma considerável estima ou apreço junto ao

auditório ao qual se dirige o orador. Nesta condição são mobilizados no sentido de motivar o

ouvinte a fazer certas escolhas em vez de outras, ao mesmo tempo em que servem para justificá-

las. Estes conceitos ou idéias estão inseridos num sistema de crenças e neste sentido podem ser

tratados como fatos ou verdades. Alguns destes valores tais como o verdadeiro, o belo, o bem, o

absoluto só são aceitáveis por um auditório universal com a condição de que não lhes seja

especificado o conteúdo, ficando assim sempre na generalidade.

Em muitas argumentações normalmente ocorre o fato de lançarmos mão de hierarquias.

Todos os elementos do real podem formar uma hierarquia sistematizada, de acordo com

princípios específicos vigentes numa determinada sociedade. No Ocidente, por exemplo, o que é

causa e princípio ocupa uma posição superior ao que é efeito e conseqüência. Nem sempre as

hierarquias estão dispostas de maneira explícita numa argumentação. Quando se diz, como o fez

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Isócrates, que é melhor emitir sobre assuntos úteis uma opinião razoável do que, sobre

inutilidades, conhecimentos exatos, temos aí uma hierarquia que estabelece uma hierarquia

valorativa entre o útil e o inútil, favorecendo o primeiro e desprezando o segundo. Um exe mplo

mais longo e que versa sobre o mesmo tema:

Aos espíritos atormentados pela sede do divino, é em vão que se oferecerão os

conhecimentos mais exatos relativos às leis dos números ou à disposição deste universo.

Propensos para um objeto que não se deixa capturar por eles, esforçam-se por soerguer um canto

do véu, muito felizes de perceber, às vezes até sob espessas trevas, algum reflexo da luz eterna

que deve iluminá- los um dia. A estes, os menores conhecimentos atinentes às realidades mais

elevadas parecem desejáveis do que as certezas mais completas atinentes aos menores objetos.

Lugares de quantidade

Lugares são premissas de ordem muito geral, que permitem fundar valores e hierarquias.

Existem os lugares-comuns e os lugares específicos, próprios de uma ciência particular. Os

lugares-comuns se caracterizam por sua imensa generalidade e são utilizáveis em todas as

circunstâncias. Os lugares formam um arsenal indispensável, do qual, de um modo ou de outro,

quem quer persuadir deverá lançar mão. Exemplos: lugar de quantidade que afirma ser alguma

coisa melhor do que outra por razões quantitativas. Um maior número de bens é preferível a um

menor, o que serve a um maior número é preferível ao que ser a um número menor. Existe um

grande número de lugares: de qualidade, de ordem, de essência, etc.

Mais exemplos de lugares de quantidade:

Os atletas são inferiores aos educadores, porque se beneficiam sozinhos de sua força ao passo

que os homens que pensam são proveitosos a todos (Isócrates).

O orador fala aos deputados, o publicista aos homens de Estado, o jornal aos seus assinantes,

o panfleto a todos... Onde o livro não penetra, o jornal chega. Onde o jornal não chega, o

panfleto circula (Timon).

O todo é melhor do que a parte.

Dizíamos que há mais num mo vimento do que nas posições sucessivas atribuídas ao móvel,

mais num devir do que nas formas atravessadas sucessivamente, mais na evolução da forma do

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que nas formas realizadas uma após a outra. A filosofia poderá, portanto, dos termos do primeiro

gênero, tirar os do segundo, mas não do segundo o primeiro... Como, tendo enunciado a

imutabilidade sozinha, extrairemos dela a mudança? (Bergson).

É também mais desejável o que é mais útil em todas as ocasiões ou na maior parte do tempo:

por exemplo, a justiça e a temperança são preferíveis à coragem, pois as duas primeiras são

sempre úteis, ao passo que a coragem só o é em certos momentos (Aristóteles).

É preferível de duas coisas, aquela que, sendo possuída por todos, nos suprimiria a

necessidade da outra... Se todos fossem justos, a coragem de nada serviria, ao passo que, se todos

fossem corajosos, a justiça ainda seria útil (Aristóteles).

O lugar da quantidade, a superioridade do que é admitido pelo maior número, é que

fundamentam certas concepções da democracia e, também, as concepções da razão que

assimilam esta ao senso comum.

Podemos considerar como lugares de quantidade a preferência concedida ao provável sobre o

improvável, ao fácil sobre o difícil, ao que há menos risco de nos escapar.

As coisas completas por si sós são preferíveis às que necessitam do concurso de outras coisas,
as que estão em nosso poder às que estão em poder dos outros, as que são estáveis às que são
inseguras, as que não nos podem ser tiradas às que o podem ser (Cícero).

O que se apresenta mais amiúde, o habitual, o normal, é objeto de um dos lugares utilizados

com mais freqüência, a tal ponto que a passagem do que se faz ao que é preciso fazer, do normal

à norma, parece, para muitos, ser natural. Apenas o lugar da quantidade autoriza essa

assimilação, essa passagem do normal, que expressa uma freqüência, um aspecto quantitativo

das coisas, à norma que afirma que tal freqüência é favorável e que cumpre conformar-se a ela.

Enquanto todos podem entender-se sobre o caráter normal de um acontecimento desde que

estejam de acordo sobre o critério do normal que será utilizado, a apresentação do normal como

norma, exige, ademais, o uso do lugar da quantidade. Desse tipo de raciocínio pode-se tirar

argumentos paradoxais:

Os homens são tão necessariamente loucos, que seria ser louco, com outro tipo de loucura,
não ser louco (Pascal).

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O normal, a norma se opõe ao excepcional e tal oposição retira o valor estimado da norma do

lugar de quantidade implícito nos argumentos que se propõe a estigmatizar o excepcional

Entre várias opiniões igualmente aceitas, só escolhia as mais moderadas; não só porque são
sempre as mais cômodas para a prática e, verossimilmente, as melhores, pois todo excesso
costuma ser mau...(Descartes)

Lugares da qualidade

Os lugares da qualidade aparecem na argumentação quando se contesta a virtude do número.

Calvino, um dos reformadores do cristianismo rejeitou certos costumes. Ele opunha ao número a

qualidade da verdade garantida por Deus:

Em oposição a toda essa multidão é enviado Jeremias, para denunciar, da parte de Deus, que a
Lei perecerá entre os Sacerdotes, o conselho será retirado dos sábios e a doutrina, dos
Profetas.

O verdadeiro não pode sucumbir, seja qual for o número de seus adversários: estamos em

presença de um valor de ordem superior, incomparável. O lugar da qualidade redunda na

valorização do único que, assim como o normal, é um dos pivôs da argumentação.

Considerar entes como permutáveis, não ver o que produz a especificidade de suas

personalidades e desvalorizá-los. O caso de que algo tem preço já o torna inferior àquilo que não

tem preço, que não se sujeita a um valor de troca, ainda que muito alto, pois se algo tiver preço

ele é comparável a tudo o mais na mesma condição. Para Gabriel Marcel o valor de um encontro

com um ser nasce de esse encontro ser “único em seu gênero”. O que é único não tem preço, e

seu valor aumenta pelo próprio fato de não ser avaliável. Por isso Quintiliano aconselha ao

orador não cobrar a sua colaboração, porque “a maioria das coisas pode parecer sem

importância, apenas por se dar um preço a elas”.

É preferível violentar um ser que se possuiu realmente do que praticar uma benevolência
anódina a números sem rosto (Martin Buber).

O valor do único pode exprimir-se por sua oposição ao comum, ao corriqueiro, ao vulgar.

Este seria a forma depreciativa do múltiplo oposto ao único. O único é original, distingue-se, por

isso é digno de nota e agrada mesmo à multidão. É a valorização do único que permite distinguir

as pessoas, segundo o lugar da qualidade. Cumpre evitar repetir-se, cumpre parecer inesgotável,

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misterioso, não classificável com facilidade. Mesmo o grande número aprecia o que se distingue,

o que é raro e difícil de realizar.

O mais difícil é preferível ao que o é menos, pois apreciamos mais a posse das coisas que não
são fáceis de adquirir (Aristóteles).

Apresentar uma coisa como difícil ou rara é um meio de valorizá-la.

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