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O culto do lume e o seu ritual revela*se ainda de formas frustes, nfio menos significativas, embora de cardcter supersticioso. Tais actos de superstięAo representam a degenerescćncia de culto atdvico, outrora cotn certeza de maior alcance e largueza.
Deste modo, tanto em Portugal como na vizinha Galiza, 6 pecado cuspir no lume, acreditam as gentes que o lume possui alma. O respeito, a veneraęflo da Iareira, mais do que pelo calor irradiado, se torna profundo pela crenęa religiosa. Por analogia, S. Martinho Bispo de Durne, no VI sćculo da era CristA disse que o povo, depois do Diluvio, se csquecera do Deus Criador, para prestar culto a enlidades inferiores . ..<Huns adorflo o Sol, outros a Lua ou as estrelas, huns o fogo, outros a agoa ou as fontes...» (A).
Todas as modalidades expressivas da festa solsticial mostram que, nas regióes opostas e distantes, em diversos agrupamentos ćtnicos, ela reserva o simbolismo agrdrio e protectivo, em que a Agua e o Fogo sfio representativos das potSncias universais.
Os acessdrios nio deixam de se repetir do mesmo modo. As trombetas, os inslrumentos de barro, os tambores, as musicas, os pandeiros, os assobios e os petardos, os estrondos, constiluem outros tantos elementos imprescindiveis de estimulo e de alegria e conferem ao divertimento o cardcter e o ritmo pagfio.
23 de Junho de 1935.
J. Bethencourt Ferreira
(do foitHsIo dc AniropolOjjifl dt Uniicfiiiadc do Porto).
Visitou recentemente Portugal e os Aęores o sr. Paul Le Cour, director da revista parisiense Atlantis, o qual realizou urna confe-rfincia em Lisboa e veio procurar nestas paragens ocidentais elementos de discussSo do eterno problema da Atlantida.
O sr. Paul Le Cour deu-nos o prazer de nos procurar no Pdrto, tendo tido ensejo de e^pminar os allabetiformes de Alvflo, Lerilla, etc. no Instituto de Antropologia. O cepticismo do sinatd-rio sóbre a realidade da Atlantida de PiatAo nao impediu que Ihe
(') Informaęao c cortezia do sr. dr. Carlos Teixeira, de Braga.
causassem urna impressdo muito agraddvel as horas de convfvio intelectual que teve com o sr. Paul Le Cour, pessóa de muita dislinędo e afabilidade, com a qual se encontra conforme no que respeita a elevadas aspiraęóes idealistas e d necessidade de se ndo considerar o Ocidente atravćs da prehistória e da proto-história como móramente tributdrio das culturas orientais.
A propósito, queremos regislar que, tendo-nos recentemente ocupado da Atlantida em vdrios trabalhos (As novas ideias sóbre a Atldntida, «A Terra ». Coimbra, 1934; A Atlantida e as origens de Lisboa, cap. V do livro < Da Biologia d Hislória>, Porto, 1934: e ainda num resumo cm castelhano La Atlantida y los origenes de Lisboa em «Investigación y Progreso>, t. VIII, Madrid, 1934, p. 221), ndo conseguimos exgotar— longe disso! — a vasta bibliografia recente sóbre o assunto. As opinióes de vdrios autores que espuzćmos, teriamos a juntar as de muitos outros que s«5 poste-riormente chegaram ao nosso conhecimento. Ndo acabariamos, porćm, se quizćssemos dar urna informaędo minuciosa. Citaremos apenas algumas publicaęóes, acompanhando essas citaęóes de bre-ves notas sóbre opinióes ou factos referidos naquelas publicaęóes.
JUAN FERNANDEZ AMAOOK DE LOS RlOS — Atlantida — Estu-dio arqueológico, histórico y geografico — Zaragoza, 1925. Ć um voliime compacto de 346 pdgs., cheio de fantasia erudita. Apoia-se sobretudo em etimologias e aproximoęóes onomdsticas. Critica Schulten e outros autores. O Autor prelende que os Tartessios reccberam a sua cultura dos Atlantes seus ascendentes, povo etiope, educador dos Egfpcios e Caldeus, e ensinaram a seu turno o seu saber a Oregos, Cartagincses e Latinos. Para nós tern par-ticular interesse esta passagcm (pdg. 79): < Los hermanos gcmelos Elasippon y Mdstora puede admilirsc que tuvieron sus reinos en Espańa, pues Mestora, chabitante de la Puerta», debia de refe-rirse d la puerta Mcditerrdnea o entrada del Estrecho y el nombre de Elasippón, «el de los buenos caballos>, parece recordar el nombre de lilisippo (sic), hoy Lisboa, famosa como toda la Lusita-nia, por sus caballos». O A. refere-se em seguida d lenda da fecundaędo das ćguas, na Lusitania e perto de Olisipo, pelo venło. Destas passagens se depreende que, antes de nós, jd a atenędo de algućm fóra ferida pela analogia entre Eldsippos e Olisippo. Em-bora o ignordssemos A data das nossas publicaęóes, sempre o supuzemos possivel, Ido impressiva de facto 6 essa afinidade.
NICOLAS DE ASCANIO — UAllantide quaternaire — 2.1 ed.~ Tenerife, 1930. Um fragmcnto de humero humano encontrado por vol(a de 1857, por P. Maffiote, a 2",50 de profundidadc na grandę