Pistis Sophia
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Pistis Sophia é um importante texto Gnóstico. As cinco cópias remanescentes, que os estudiosos datam do período entre 250 a 300 dC, relatam os ensinamentos Gnósticos do Jesus transfigurado aos apóstolos (incluindo Maria de Magdala, Maria, mãe de Jesus e Marta), quando o Cristo ressucitado havia passado onze anos falando com seus discípulos. Nele as estruturas complexas e as hierarquias celestes familiares nos ensinamentos Gnósticos são reveladas.
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[editar] Os manuscritos
O mais conhecido dos cinco manuscritos de "Pistis Sophia" está amarrado com um outro texto gnóstico numa encadernação intitulada "Piste Sophiea Cotice". Este Códice Askew foi adquirido pelo Museu Britânico em 1795 de um certo Dr. Askew. Até a descoberta da Biblioteca de Nag Hammadi em 1945, o Códice Askew era um dos três códices que continham quase todos os escritos gnósticos que sobreviveram à eliminação dessa literatura, sendo os outros dois o Códice Bruce e o Códice de Berlim. A menos dessas fontes, tudo o que foi escrito sobre o Gnosticismo antes de Nag Hammadi é baseado em citações, caricaturas e inferências a partir dos escritos dos Pais da Igreja, inimigos do Gnosticismo. O objetivo destes textos era polêmico, apresentando os ensinamentos Gnósticos como absurdos, bizarros, egoístas e como uma heresia aberrante do ponto de vista do Cristianismo Paulino ortodoxo.
[editar] Pistis Sophia
O título Pistis Sophia é obscuro e é, às vezes, traduzido como Sabedoria da Fé, Sabedoria na Fé ou Fé na Sabedoria. Uma tradução mais exata, levando em conta seu contexto gnóstico, é "a fé de Sophia", uma vez que Sophia para os gnósticos era a sizígia divina do Cristo, e não uma simples palavra significando sabedoria. Numa versão anterior e mais simples de uma Sophia (Sophia de Jesus Cristo) no Códice de Berlim e também encontrado em um papiro em Nag Hammadi, o Cristo transfigurado explica Pistis de um modo bastante obscuro:
“ |
Novamente, seus discípulos disseram: "Diga-nos claramente como eles desceram das invisibilidades, do imortal para o mundo que morre?" O perfeito Salvador disse: "O Filho do Homem entendeu-se com Sophia, sua consorte, e revelou uma grande luz andrógina. Seu nome masculino é designado Salvador, progenitor de todas as coisas. Seu nome feminino é designado 'Todo-progenitora Sophia'. Alguns a chamam de Pistis". |
” |
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— Desconhecido, Sophia de Jesus Cristo[1] |
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[editar] Autor
O texto é geralmente atribuído à Valentim. Porém, como G.R.S. Mead afirma que:
“ |
Não é por causa de nenhum elemento do pensamento Helênico no estudo dos Aeons, que se sabe ser o caso nos ensinamentos de Valentim, que levou tantos a conjecturar que o texto seria uma derivação valentiana. Foi o algo long episódio do sofrimento de Sophia que os influenciou. Este episódio reflete, num nível mais baixo da escala cósmica algo do intuito (motif) do mito trágico da Anima Mundi, invenção geralmente atribuída ao próprio Valentimm embora ela possa ter possivelmente transformado ou trabalhado sobre material ou noções já existentes. |
” |
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[editar] Conteúdo
O texto proclama que Jesus permaneceu no mundo após a ressurreição por onze anos e foi capaz nesse tempo de ensinar a seus discípulos até o primeiro (isto é, inicial) nível do mistério. Começa com uma alegoria fazendo um paralelo entre a morte e ressurreição de Jesus e decrevendo a descida e a ascensão da alma. Em seguida, prossegue descrevendo figuras importantes na cosmologia gnóstica e então, finalmente, lista trinta e dois desejos carnais que devem ser superados antes que a salvação seja possível, sendo esta superação a própria salvação[3].
Pistis Sophia inclui ainda citações de cinco das Odes de Salomão, encontradas nos capítulos entre o 58 e o 71. Esta era a única fonte conhecida para o texto original de quaisquer das Odes até a descoberta de uma cópia quase completa em siríaco das Odes em 1909. Ainda assim, como a primeira parte está faltando neste manuscrito, Pistis Sophia continua sendo a única fonte para a primeira Ode[3].
[editar] Esquema do texto
Abaixo um esquema do texto proposto por G.R.S. Mead em seu texto Pistis Sophia, escrito em 1924[2]:
Os Membros do Inefável.
I. A Mais Alto Mundo de Luz ou Reino de Luz.
i. O Primeiro Espaço do Inefável.
ii. O Segundo Espaçõ do Inefável.
iii. O Terceiro Espaço do Inefável ou o Segundo Espaço do Primeiro Mistério.
II. O Mais Alto (ou "no Meio") Mundo de Luz.
i. O Tesouro da Luz.
1. As Emanações da Luz.
2. A Ordem das Ordens.
ii. A Região da Direita.
iii. A Região do Meio.
i. A região da Esquerda.
1. O Décimo-Terceiro Aeon.
2. Os Doze Eons.
3. O Destino.
4. A Esfera.
5. Os Governantes dos Modos do "Meio" (mais baixo) 1.
6. O Firmamento.
ii. O Mundo (Kosmos), especialmente a Humanidade.
iii. O Mundo das Profundezas.
1. O Amente.
2. O Caos.
3. As Trevas Exteriores.
[editar] Veja também
Referências
↑ Robinson, James M.. The Nag Hammadi Library, revised edition: The Sophia of Jesus Christ (Trad. de Douglas M. Parrott) (em inglês). São Francisco: Harper Collins, 1990.
↑ a b G.R.S. Mead. Pistis Sophia (em inglês). Sacred Texts. Página visitada em 30/08/2010.
[editar] Ligações externas
A Pistis Sophia Revelada e Textos Gnósticos Cristãos em Gnosticweb, em inglês
Pistia Sophia em Early Christian Writings, em inglês
[editar] Bibliografia
Legge, Francis. Forerunners and Rivals of Christianity, From 330 B.C. to 330 A.D. (em inglês). Nova Iorque: University Books, 1964 (or. 1914). LC Catalog 64-24125, reimpresso em dois volumes encadernados juntos
Barbelo
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O termo gnóstico Barbēlō (Grego Βαρβηλώ) refere-se à primeira emanação de Deus nas diversas formas da cosmogonia gnóstica setiana. Barbēlō é frequentemente mostrada como um princípio feminino supremo, o único antecessor passivo da diversidade da Criação. Essa figura é também referenciada como "Mãe-Pai" (adivinhando sua aparente androginia), 'Primeiro Ser Humano', 'O Triplo Nome Andrógino' ou 'Eterno Aeon'. O seu lugar era tão proeminente entre alguns gnósticos que algumas escolas eram denominadas como barbeliota, adoradores de Barbēlō ou Barbēlō-gnósticos (veja Borboritas)[1]
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[editar] A natureza de Barbēlō
No Apócrifo de João, um tratado na Biblioteca de Nag Hammadi contendo a mais extensa versão do mito de criação setiano, Barbēlō é descrita como "O primeiro poder, a glória, Barbēlō, a glória perfeita nos aeons, a glória do apocalipse."[2]. Todos os atos seguintes de criação dentro da esfera divina (salvo, crucialmente, aqueles do mais baixo aeon, Sophia), ocorrem através de sua ação conjunta com Deus. O texto a descreve assim:
“ |
Este é o primeiro pensamento, imagem dele; ela se tornou o útero de tudo, pois é ela que precede a eles todos, a Mãe-Pai, o primeiro homem (Anthropos), o Espírito Santo, o três-vezes masculino, o três-vezes poderoso, o triplamente nomeado uno andrógino e o eterno aeon dentre os invisíveis e o primeiro a se apresentar |
” |
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— Apócrifo de João[2], |
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Em Pistis Sophia, Barbēlō é chamada frequentemente, mas seu lugar não está claramente definido. Ela é um dos deuses, "um grande poder do Deus Invisível" (373), junto com Ele e as três "Triplamente poderosas divindades" (379), a mão de Pistis Sophia (361) e dos outros seres (49); dela Jesus recebeu Sua "vestimenta de luz" ou corpo celeste (13, 128; cf. 116, 121); a terra é aparentemente a "matéria de Barbēlō" (128) ou o "lugar de Barbēlō" (373)[3].
[editar] Em textos da Era patrística
Ela é descrita obscuramente por Ireneu de Lyon como um "aeon que nunca envelhece e existe num espírito virginal"[4], a quem, de acordo com certos "Gnostici", o Pai inominável desejou se manifestar a ela, e que, quando quatro sucessivos seres - cujos nomes expressam pensamento e vida - emergiram Dele, foi preenchida de alegria pela visão, e por si mesma, deu à luz três (ou quatro) outros seres similares[4]. Ela aparece ainda em passagens vizinhas de Epifânio de Salamis, que em parte deve ter seguido o Compêndio de Hipólito como é demonstrado pela comparação com Philaster (c. 33), mas também por seu conhecimento pessoal das seitas Ofitas especialmente chamadas de "Gnostici" (i. 100 f.). A primeira passagem é num artigo sobre os nicolaítas (i. 77 f.), aparentemente uma referência profética aos seus supostos descendentes, os "Gnostici" (77 A.Philast.). De acordo com a visão deles, Barbēlō vive "acima no oitavo céu;" ela foi 'emanada' (προβεβλῆσθαι) "do Pai;" ela era a mãe de Yaldabaoth (ou de Sabaoth), que insolentemente tomou posse do sétimo céu e se auto-proclamou o único Deus; e quando ela ouviu essa palavra, lamentou. Ela sempre aparecia para os Arcontes numa forma muito bela, pois encantando-os poderia juntar novamente seu poder que fora dispersado.
Outros, Epifânio de Salamis parece dizer (78 f.), contam uma história similar de Sophia, substituindo Caulacau por Yaldabaoth. Em seu artigo seguinte, no "Gnostici" (83 C D), a idéia de juntar novamente os poderes dispersados de Barbēlō, "a Mãe acima", roubado dela pelo "o Arcontes que fez o mundo e os outros deuses e anjos e demônios que estavam com ele", repete-se como foi colocada no apócrifo 'O Pensamento de Norea', a lendária esposa de Noé. Em ambos, Epifânio representa a doutrina como dando origem ao consumo ritual de fluidos sexuais.
Numa terceira passagem (91 f.), enumerando que Arcontes tem tronos em qual céu, ele menciona como habitantes de um oitavo - e superior - céu "ela que é chamada Barbēlō" e o auto-engendrado Pai e Senhor de todas as coisas, e o 'nascido da virgem' (αὐτολόχευτον) Cristo (evidentemente como filho dela, pois de acordo com Ireneu sua primeira cria, "a Luz", era chamado de Cristo[4]); e de maneira similar ele conta como a ascensão das almas através dos diferentes céus terminariam numa região superior, "onde Barbēro ou Barbēlō é a Mãe da Vida" (Genesis 3:20)[5].
Teodoreto (H. F. f. 13) simplesmente parafraseia Ireneu, com algumas poucas palavras de Epifânio de Salamis. Jerônimo inclui diversas vezes o nome Barbēlō em listas de nomes prodigiosos (no mau sentido) que aparecem na heresia espanhola, ou seja, dentre os Priscilianistas; Balsamus e Leusibora aparecendo três vezes associado com ele. (Ep. 75 c. 3, p. 453 c. Vall.; c. Vigil. p. 393 A; in Esai. lxvi. 4 p. 361 c; in Amos iii. 9 p. 257 E).
[editar] Importância
Em narrativas gnósticas sobre Deus, as noções de impenetrabilidade, stasis (do grego Greek στάσις "imóvel, ausência de forças externas") e infalibilidade são de central importância. A emanação de Barbēlō pode ser entendida como sendo um aspecto gerador intermediário do Divino, ou como uma abstração do aspecto gerador do Divino através da sua Plenitude (Pleroma). O mais transcendente Espírito invisível oculto não aparece ativamente participando da criação. Este significado é refletido tanto na aparente androginia (reforçada por vários dos seus epítetos) quanto no nome Barbēlō.
Diversas etimologias plausíveis para o nome (em grego: Βαρβηλώ, Βαρβηρώ, Βαρβηλ, Βαρβηλώθ) foram propostas. Pode ser uma construção ad hoc do copta significando tanto 'Grande Emissão'[6] quanto 'Semente' [7]. William Wigan Harvey (escrevendo sobre Ireneu) e Richard Adelbert Lipsius[8] propuseram anteriormente Barba-Elo, 'A Divindade em Quatro', com referências à tétrade que, pelos reportes de Ireneu, procederam dela. Entretanto, a relação de Barbēlō a esta tétrade não é análoga ao Chol-Arba de Marcus (discípulo de Valentim). A tétrade compõe o grupo mais antigo da sua progenia e é mencionada apenas uma vez.
A raiz balbel muito usada nos Targums (Buxtorf, Lex, Rabb. 309), em hebreu bíblico balal, significando mistura ou confusão, indicando uma derivação melhor para Barbēlō como sendo a semente caótica de várias e distintas existências: a troca de ל para ר não é incomum e pode ser vista na forma alternativa em grego: Βαρβηρώ.
Arconte (gnosticismo)
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Arconte (Grego ἄρχων, pl. ἄρχοντες) é a palavra grega que significa "regente" ou "lorde", frequentemente usada como título de um cargo público. O sufixo do verbo em sua forma masculina do tempo particípio presente, ρχ-, significando "reinar", deriva da mesma raiz que "monarca", "hierarquia" e "anarquia".
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[editar] Arcontes Gnósticos
Ao final antiguidade, o termo Arconte era utilizado no Gnosticismo para se referir aos servos do Demiurgo, o "deus criador" que estava entre a raça humana e o Deus transcendente que podia ser alcançado apenas através da gnosis. Neste contexto, eles tinha o papel de anjos e demônios do Antigo Testamento. Eles emprestam seu nome à seita chamada Arcônticos.
[editar] Hebdomad
Uma característica fundamental da concepção gnóstica do universo é o papel representado em quase todos os sistemas gnósticos pelos sete arcontes criadores-de-mundos, conhecidos por Hebdomad(ἑβδομάς). Certamente há exceções; por exemplo, Basílides acreditava na existência de um "grande arconte" chamado Abraxas que reinava sobre 365 arcontes[1]; no sistema Valentiano, os Sete são, de certa forma, substituídos pelos Aeons. Estes Sete, portanto, são poderes semi-hostis na maioria dos sistemas e são reconhecidos como as últimas e mais baixas emanações da Divindade; abaixo deles - e frequentemente considerado como derivado deles - vêm o mundo dos poderes demoníacos de fato.
A antiga astronomia ensinava que acima das sete esferas planetárias estava uma oitava, a esfera das estrelas fixas. Na oitava esfera, estes autores ensinam, vive a mãe a quem todos estes arcontes devem sua origem, Sophia ou Barbelo. Na língua destas seitas a palavra Hebdomad não se refere apenas aos sete arcontes, mas também às regiões celestes regidas por eles; enquanto Ogdóade (gnosticismo) é utilizado como o conjunto das sete com aquela supracelestial[2].
Os Ofitas aceitavam a existência destes sete arcontes[3]; uma lista quase idêntica é dada no livro Sobre a origem do mundo[4]:
Nome feminino: Pronoia (Premeditação) Sambathas, "semana".
Do Hebreu yalda bahut (Tohu va bohu)[6], "Criança do Caos"? O mais externo que criou os seis outros e portanto o regente chefe e Demiurgo par excellence. Chamado o "Cara de Leão", leonteides, similar ao Mitraico Leontocephaline.
Nome feminino: Senhora.
Profetas: Samuel, Natã, Jonas (profeta), Miqueias.
Nome feminino: Divindade.
Profetas: Elias (profeta), Joel, Zacarias.
O título "Senhor dos Exércitos" no Antigo Testamento era entendido como um nome próprio, daí Jupiter Sabbas (Yahweh Sabaoth).
Astaphanos, ou Astaphaios
Nome feminino: Sophia (Sabedoria).
Astraphaios é sem dúvida o planeta Vênus, pois gemas gnósticas com a figura feminina e a legenda ASTAPHE, cujo nome é também usado em encantos mágicos como o nome de uma deusa.
O Sol.
Nome feminino: Realeza.
Profetas: Isaías, Ezequiel, Jeremias, Daniel (profeta).
Nome feminino: Inveja.
De Elohim, God (El).
Horaios
Na forma helenizada do Gnosticismo ou todos ou alguns destes nomes foram substituídos por vícios personalizados. Authadia (Authades), ou Audácia, é uma descrição óbvia de Yaldabaoth, o presunçoso Demiurgo, que tem a cara-de-leão assim como o arconte Authadia. Dos arcontes Kakia, Zelos, Phthonos, Errinnys, Epithymia, o último obviamente representa Vênus. O número sete é obtido colocando um proarconte ou arconte chefe no comando. Que estes nomes são apenas um disfarce para a "Sancta Hebdomas" é claro, pois Sophia, a mãe deles, retém o nome de Ogdóade, Octonatio. Ocasionalmente (por exemplo, entre os Naassenos) encontra-se o arconte Esaldaios, que é evidentemente El Shaddai (Deus todo-poderoso) da Bíblia, e ele é descrito como o arconte "número quatro" (harithmo tetartos).
No sistema dos Gnósticos mencionado por Epifânio de Salamis podemos encontrar como os Sete Arcontes:
Iao
Saklas (o principal demônio do Maniqueísmo)
Seth (ou Sete)
David
Eloiein
Yaldabaoth (ou número 6 Yaldaboath, número 7 Sabaoth)
O último livro de Pistis Sophia contém o mito da captura dos arcontes rebeldes, cujos líderes aparecem como um quinteto[7]:
Paraplex
Ariouth (femininas)
Iachtanabas (masculinos)
[editar] Arcontes Mandeanos
No Mandeísmo, encontramos uma concepção diferente e talvez mais primitiva dos Sete, de acordo com a qual eles, junto com sua mãe Namrus (Ruha) e seu pai (Ur), pertence, inteiramente ao mundo das trevas. Eles e sua família são vistos como prisioneiros do deus da luz (Manda-d'hayye, Hibil-Ziva), que os perdoa, os coloca em carruagens de luz, e os designa regentes do mundo[8].
[editar] Arcontes Maniqueístas
Os Maniqueístas prontamente adotaram o costume Gnóstico; e seus arcontes são invariavelmente seres malignos. Eles contam como o ajudante do Homem Primordial, o espírito da vida, capturou os arcontes malignos e os amarrou ao firmamento, ou de acordo com outro relato, os esfolou e formou o firmamento com susa peles[9]. Esta concepção está intimamente ligada ao Mandeísmo, embora nesta tradição o número "Sete" de arcontes se perdeu.
[editar] Origens
[editar] Como planetas
Ireneu de Lyon|Ireneu diz: "Sanctam Hebdomadem VII stellas, quas dictunt planetas, esse volunt.". Portanto, é seguro considerar os sete nomes Gnósticos como designando as sete "estrelas", o Sol, a Lua e os sete planetas. No sistema Mandeísta, os Sete são introduzidos com os nomes babilônicos dos planetas. A conexão dos Sete com os planetas é também claramente estabelecida pelas exposições de Celsus e Orígenes[10] e igualmente pelas páginas já mencionadas de Pistis Sophia, onde os arcontes, aqui mencionados como cinco, correspondem aos cinco planetas (sem o Sol e a Lua).
Assim, como em diversos outros sistemas, os restos dos sete planetários foram obscurecidos, mas dificilmente em algum tenha sido totalmente obliterado. O que chegou mais perto foi a identificação do Deus dos Judeus, o Legislador, com Yaldabaoth e sua designação como "criador do mundo", enquanto que anteriormente os sete planetas juntos reinavam sobre o mundo. Contudo, essa confusão foi sugerida pelo fato de que ao menos cinco dos sete arcontes têm nomes de Deus do Antigo Testamento: El Shaddai, Adonai, Elohim, Jeovah e Sabaoth.
Wilhelm Anz (Ursprung des Gnosticismus, 1897) também apontou que a escatologia Gnóstica, que consiste na batalha da alma contra arcontes hostis na sua tentativa de alcançar o Pleroma, tem íntima semelhança com a ascensão da alma na astrologia Babilônica, através dos reinos dos sete planetas até Anu. A religião Babilônica mais tardia pode ser definitivamente apontada como origem destas idéias[11].
[editar] No Zoroastrismo
O Bundahishn nos conta sobre o conflito primordial de Satã contra o mundo-luz. Sete poderes hostis foram capturados e transformados em constelações nos céus onde eles eram vigiados por poderes estelares benéficos e impedidos de fazerem o mal. Cinco dos poderes malignos são os planetas, ainda que aqui o Sol e Lua obviamente não sejam reconhecidos como tais pela simples razão de que na religião oficial Persa eles apareciam invariavelmente como divindades benéficas[12]. É preciso notar também que os mistérios de Mitra, tão intimamente conectados com a religião persa, são familiares com esta doutrina da ascensão da alma pelas esferas planetárias[13]
[editar] Utilização
[editar] No Judaísmo e no Cristianismo
O Novo Testamento menciona diversas vezes a palavra "príncipe" (ἄρχων) "dos demônios" (δαιμονίων), ou "do [deste] mundo", ou "do poder do ar"; mas não usa a plavra verdadeiramente em nenhum sentido cognato. No Levítico (LXX), Αρχων (uma única vez como οἱ Ἄρχοντες em Levítico 20:5) representa, ou melhor, traduz Molech. A verdadeira origem desta utilização porém é Daniel 10:13-21 (seis vezes na tradução de Teodócio; uma claramente na LXX), onde o arconte (שַׂ֣ר, "príncipe") é anjo patrono de uma nação ("Espírito Territorial") da Pérsia, Grécia ou Israel; um nome lhe foi dado apenas no último caso (Miguel).
O Livro de Enoque (vi. 3, 7; viii. 1) denomina 20 "arcontes dentre os" 200 anjos "vigilantes" que pecaram com as "filhas dos homens", como aparece em um fragmentos gregos. O título não é de fato utilizado absolutamente (τ. ἀρχόντων αὺτῶν, Σεμιαζᾶς, ὁ ἄρχων αὐτῶν, bis: conforme ἱ πρώταρχος αὐτῶν Σ.), exceto talvez uma única vez (πρῶτος Ἀζαὴλ ὁ δέκατος τῶν ἀρχόντων), onde o Copta não tem correspondente: mas ele evidentemente acabou se tornando um nome próprio e pode explicar pelo uso peculiar de ἀρχή na Epístola de Tiago (Tiago 1:6).
Os Cristãos logo seguiram o precedente do Judaísmo. No século 2dC, o termo aparece em diversos escritores estranhos ao Gnosticismo. A Epístola de Diogneto (7) fala de Deus enviando aos homens "um ministro ou anjo ou arconte" etc. Justino [14] entende o comando em Salmos 24:7-9 (ἄρατε πύλας οἱ ἄρχοντες ὑμῶν na LXX) para abrir as portas do céu como endereçado "aos arcontes apontados por Deus nos céus". O primeiro espúrio conjunto de epístolas de Inácio de Antioquia enumera "os seres celestes e a glória dos anjos e os arcontes visíveis e invisíveis" [15], e novamente "os seres celestes e as arrumações angélicas e as constituições arcônticas" (ou seja, ordem de províncias e funções), "coisas visíveis e invisíveis"[16]; o sentido sendo desconhecido no tempo do interpolador, que em um caso retira a palavra e em outros, dá a elas um sentido político. As Homilias Clementinas (I Clemente, II Clemente) adotam e estendem (ἐν ᾅδῃ . . . ὁ ἐκεῖ καθεστὼς ἄρχων)[17] o uso do Novo Testamento; e ainda chamam os dois "poderes" bom e mau ("esquerda e direita"), que controlam o destino de cada homem, "regentes" (arcontes[18]), embora mais frequentemente "líderes" (ἡγεμόνες).
Sophia de Jesus Cristo
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A Sophia de Jesus Cristo é um dos muitos textos Gnósticos nos códices da Biblioteca de Nag Hammadi (códice III), descoberta no Egito em 1945. O título é algo misterioso[carece de fontes], pois embora "Sophia" seja Sabedoria em grego, num contexto Gnóstico "Sophia" é a sizígia de Cristo [carece de fontes].
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[editar] Origem
O manuscrito copta foi datado como sendo do século IV dC, embora tenha sido complementado por uns poucos fragmentos em grego datados do século III dC, implicando numa data anterior. O texto tem forte similaridade com a Epístola de Eugnostos, texto anterior no códice III, mas um pouco expandido e com uma "moldura" mais Cristã.
O debate sobre a data do texto é crítico, pois alguns argumentam que ele reflete o "verdadeiro relato dos ditos de Jesus", o que é possível apenas se o texto for datado no século I dC. Outros argumentam que ele é, de fato, consideravelmente mais novo e constitui uma fonte secundária e não confiável (na melhor das hipóteses um rumor post facto).
[editar] Conteúdo
A maioria dos estudiosos argumenta que o texto é de origem Gnóstica, baseado nas similaridades entre os ensinamentos místicos encontrado no texto e os temas padrão dos Gnósticos. Fortemente místico, o conteúdo deste texto relata a criação de deuses, anjos e o universo com ênfase na verdade infinita e metafísica[1].
“ |
O Salvador perfeito disse: "[Você] Vem das coisas invisíveis até o fim daquelas que são visíveis e a emanação do Pensamento irá revelar a vocês como fé naqueles que são invisíveis foi encontrada naqueles que são visíveis, naqueles que pertencem ao Pai Ingênito [ou Não-Nascido]. Aquele que tiver ouvidos para ouvir, ouça! |
” |
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O texto é composto por treze questões dos discípulos (e de Maria), seguidas por breves discursos de Jesus dados em resposta[1]:
Sobre a vaidade e futilidade da busca de Deus.
Como encontrar a Verdade apenas explicando o que ela não é.
Como a verdade foi revelada aos Gnósticos no início dos tempos.
Como é preciso despertar para ver a Verdade.
Sobre o início de tudo.
Sobre a posição de Jesus.
Sobre a identidade de Jesus.
Como o espírito se conecta ao mundo material.
Sobre o número de espíritos.
Sobre a imortalidade.
Sobre aqueles que são imateriais.
A questão final é sobre a origem da humanidade e qual o seu propósito.
Sophia (gnosticismo)
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Sophia (em grego: Σοφία) é aquilo que detém o "sábio" (em grego: σοφός; "sofós"). Na tradição gnóstica, Sophia é uma figura feminina, análoga à alma humana e simultaneamente um dos aspectos femininos de Deus. Os gnósticos afirmam que ela é a sizígia de Jesus (veja a Noiva de Cristo) e o Espírito Santo da Trindade. Ocasionalmente é referenciada pelo equivalente hebreu Achamōth (em grego: Ἀχαμώθ) e como Prouneikos (em grego: Προύνικος, "A Libidinosa"). Nos textos da Biblioteca de Nag Hammadi, Sophia é o mais baixo dos Aeons ou a expressão antrópica da emanação da luz de Deus[1].
Ela é considerada como a responsável pela criação do mundo material, ou uma das responsáveis, dependendo da tradição gnóstica.
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[editar] Mitos de Sophia
Quase todos os sistemas gnósticos do tipo siríaco ou egípcio ensinaram que o universo iniciou com um original, impenetrável (ou incognoscível) Deus, chamado de "Pai" ou Bythos, ou como Mônade por Monoimus. Ele também pode ser equiparado ao conceito de Logos em termos estóicos, esotéricos ou teosóficos (a 'Raiz Desconhecida'), assim como ao Ein Sof da Kabbalah e Brahma no Hinduísmo. Deste começo unitário, o Uno emanou Aeons adicionais, em pares de seres progressivamente 'menores' em sequência. Em conjunto com a fonte que os emanou, eles formam o Pleroma - totalidade - de Deus que, portanto, não deve ser entendido como algo distinto do divino, mas abstrações simbólicas da natureza divina. A transição do imaterial para o material, do numenal ao sensível, foi causado por uma falha - ou paixão ou pecado - em um dos Aeons[1]. Na maior parte das versões dos mitos gnósticos, é Sophia que traz instabilidade ao Pleroma, o que por sua vez provoca a criação da matéria. Assim, uma visão positiva ou negativa do mundo depende, em grande medida, da interpretação das ações de Sophia na mitologia. De acordo com alguns textos, a crise ocorreu como resultado de Sophia ter tentado emanar sem sua sizígia ou, em outra tradição, por que ela tentou quebrar a barreira entre ela e o Impenetrável Bythos. Após cair cataclismicamente do Pleroma, o medo e a angústia de Sophia por ter perdido sua vida (assim como ter perdido a luz do Uno) deixou-a confusa e com uma saudade incontrolável. Por causa dela, matéria (hylē', em grego: ὕλη) e alma (psychē, em grego: ψυχή) acidentalmente foram criadas[1]. A criação do Demiurgo (também chamado Yaldabaoth, "Filho do Caos") também foi um erro ocorrido durante este exílio. O Demiurgo prossegue a criação do mundo físico onde vivemos, ignorante da existência de Sophia, que ainda assim consegue infundir alguma fagulha espiritual (Pneuma, em grego: πνευμα) na criação dele[1]. Em Pistis Sophia[2], Cristo é enviado pelo Uno para trazer Sophia de volta à totalidade (Pleroma). Ele a habilita a ver novamente a luz, dando-lhe o conhecimento do espírito (Pneuma). Cristo é então enviado à Terra na forma de um homem (Jesus) para dar aos homens a Gnose necessária para que se libertem do mundo físico e retornem para o mundo espirítual. Para os gnósticos, o drama da redenção de Sophia através do Cristo (ou o Logos) é o drama central do universo.
[editar] Livro dos Provérbios
A filosofia religiosa judaica se ocupou muito com o conceito da divina Sophia, como uma revelação do pensamento interno de Deus e atribuiu a ela não somente a formação e ordenação do universo natural[3] como também a comunicação de toda percepção e conhecimento à humanidade. Em Provérbios 8:1 e seguintes, Sabedoria (substantivo feminino) é descrita como conselheira de Deus que habitava dentro dele antes da Criação do mundo e que faz muitas coisas diante Dele. De acordo com a descrição dada no Livro dos Provérbios, uma morada foi atribuída a Sophia pelos gnósticos e a sua relação com o mundo superior e também com os sete poderes planetários abaixo dela. As sete esferas planetárias (ou céus) eram para os antigos as regiões mais altas do universo criado. Eles eram entendidos como sete círculos subindo um sobre o outro e dominado por sete arcontes. Juntos, estes círculos constituíam a Hebdomad. Acima do mais alto, e sobre ela, estava a Ogdóade, a esfera de imutabilidade, e que estava próximado mundo espiritual[4]. Diz Provérbios:
“ |
«A sabedoria edificou a sua casa, Cortou as suas sete colunas;» (Provérbios 9:1)[5] |
” |
Estes sete pilares foram interpretados como sendo os céus planetários e a morada de Sophia foi colocada acima da Hebdomad, na Ogdóade[6]. O livro bíblico diz ainda sobre a mesma sabedoria divina:
“ |
«No cume das alturas junto ao caminho, Nas encruzilhadas ela se coloca;» (Provérbios 8:2)[5] |
” |
Na interpretação gnóstica, isso significa que Sophia tinha sua morada "no cume das alturas", sobre o universo criado, no lugar do "meio", entre o mundo superior e o inferior, entre o Pleroma e a ektismena. Ela se senta "Junto às portas, à entrada da cidade", ou seja, nas vias de aproximação aos reinos dos sete Arcontes e é na "entrada" do reino superior de luz que recebe seus elogios. A Sophia (Sabedoria) é portanto o governante superior sobre o universo visível e, ao mesmo tempo, a intermediária entre os reinos. Ela dá forma ao universo mundano com base nos protótipos celestes e forma os sete ciclos estelares com seus Arcontes e sob o domínio deles é colocado - de acordo com as concepções astrológicas da antiguidade - o destino de todas as coisas terrenas, especialmente o homem. Ela é a "Mãe" ou a "Mãe da Vida"[7]. Tendo vindo das alturas, ela é formada pela essência pneumática, a mētēr phōteinē[8] or the anō dynamis,[9] da qual todas as almas pneumáticas se originam.
[editar] Queda
Tentando reconciliar a doutrina da natureza pneumática de Sophia com a morada atribuída a ela nos Provérbios, no reino do "meio", fora portanto do reino superior de luz, foi imaginada uma queda de Sophia de sua morada celeste, o Pleroma, até o vazio (kenōma) abaixo dele. A idéia era a de um confisco ou roubo da luz, ou uma explosão e difusão do "orvalho da luz" até o kenōma, causado por um movimento criador de vida (vivificador) no mundo superior. Porém, ainda que a luz trazida até a escuridão deste mundo tenha sido compreendida e descrita como envolvida em sofrimento, este deve ser considerado como uma punição. Esta inferência é apoiada ainda pela noção platônica de queda espiritual.
[editar] Mitos da Alma
Alienadas de sua morada celeste por sua própria falta, as almas afundaram neste mundo inferior sem ter perdido de todo a lembrança de seu estado original. E, preenchidas pela saudade de sua herança perdida, estas almas caídas ainda se esforçam para subir. Desta forma, o Mito da queda de Sophia pode ser entendido como tendo um significado particular. O destino da "Mãe" foi considerado como protótipo do que seria repetido na história de cada alma individual, que, sendo de origem pneumática celeste, caíram de sua morada - um mundo superior de luz - e acabaram sob a influência de poderes malignos, de quem elas precisam aturar uma longa série de sofrimentos até que um retorno ao mundo superior lhes seja novamente possível. Mais ainda que, de acordo com a filosofia platônica, almas caídas ainda retenham a lembrança de sua morada perdida, esta noção foi preservada de outra forma nos círculos gnósticos. Ensinava-se que as almas dos pneumatici (detentores da Pneuma), tendo perdido a lembrança de sua derivação celeste, precisavam novamente se familiarizar com a Gnose, ou conhecimento desta essência pneumática, para que pudessem retornar à luz. E é nesta obtenção da Gnose que consiste a redenção trazida e confirmada por Cristo. Ensinava-se também que Sophia também precisava da redenção trazida por Cristo, por quem ela seria libertada de sua agnoia e sua pathe, e será, no fim do mundo, novamente trazida de volta à sua morada há muito perdida, o Pleroma superior.
[editar] Gnosticismo Siríaco
O Mito de Sophia sofreu uma série de tratamentos nos vários sistemas gnósticos. O mais antigo, o Gnosticismo siríaco, se refere a Sophia como a formação do mundo inferior e a produção de seus regentes, os Arcontes, e também atribui a ela a preservação e propagação da semente espiritual.
Como descrito por Ireneu, a grande Mãe do universo aparece como a primeira mulher, o Espírito Santo (rūha d'qudshā) se movendo sobre as águas, também chamada de Mãe da Vida. Abaixo dela estão quatro elementos materiais: água, escuridão, abismo e caos. Com ela, se fundem as duas luzes supremas masculinas, o primeiro e o segundo homem, o Pai e o Filho, este último sendo chamado de "Ennoia" do Pai. Desta união nasce uma terceira luz imortal, o terceiro homem, Cristo. Mas incapaz de aguentar a abundante plenitude da luz, a Mãe - no nascimento do Cristo - deixa uma parte desta luz escapar para a esquerda. Então, enquanto Cristo, como dexios (O do lado direito) sobe com sua Mãe aos céus, a outra luz que transbordou do lado esquerdo afunda no mundo inferior e lá dá origem à matéria. E esta é a Sophia, chamada também de Aristera (A do lado esquerdo), Prouneikos (A libidinosa) e a masculina-feminina.
Não há neste mito uma compreensão de "queda" propriamente dita, como no sistema valentiniano. O poder que transbordou à esquerda desceu voluntariamente nas águas inferiores, confiando na posse da fagulha da luz verdadeira. Adicionalmente, é evidente que embora mitologicamente diferente da humectatio luminis (ikmas phōtos, em grego: ἰκμὰς φωτός), a Sophia é ainda nada mais que uma fagulha vinda de cima, entrando neste mundo material e se tornando aqui a fonte de toda criação, tanto das formas superiores quanto inferiores de vida. Ela navega sobre as águas e coloca sua até então imóvel massa em movimento, dirigindo-as ao abismo e toma para si a forma corporal de hylē (matéria). Ela viaja por todos os lados e é carregada com todo tipo de peso e substância material até que, com exceção da fagulha da luz, ela afunda e se perde na matéria. Presa ao corpo que ela assumiu e pesada por causa dele, ela luta em vão para escapar das águas profundas e correr para sua mãe celeste, no alto. Não tendo sucesso nesta empreitada, ela procura preservar, pelo menos, a fagulha de luz de ser danificada pelos elementos inferiores, para isso elevando-se por seus próprios poderes até a região mais alta e se espalha por toda ela, formando com seu próprio corpo o firmamento visível, ainda que mantendo sua aquatilis corporis typus (Imagem das Águas). Finalmente, tomada por uma saudade enorme da luz superior, ela encontra em si, depois de muito esforço, o poder de elevar-se acima do céu de sua própria criação e de abandonar complemente sua existência corporal. O corpo abandonado é chamado de "Mulher da Mulher".
A narrativa prossegue contando sobre a formação dos sete Arcontes pela própria Sophia, sobre a criação do homem, que "a Mãe" (não a primeira mulher, mas Sophia) se utiliza como um estratagema para retirar dos Arcontes sua parte na fagulha de luz, sobre o perpétuo conflito da parte de sua mãe contra os esforços dos egoístas dos Arcontes e sobre a contínua luta de Sophia para recuperar a fagulha de luz escondida na natureza humana. Finalmente, Cristo vem em seu apoio e, em resposta às suas orações, coleta todas as fagulhas para Si, une-se com Sophia como noivo e noiva, desce em Jesus, que tinha sido preparado por Sophia como um "veículo mais puro" para recebê-lo, e retira-se novamente antes da crucificação, ascendendo com Sophia até um mundo imortal[10]. Neste sistema, o significado cosmogônico de Sophia ainda permanece em destaque. A antítese de Cristo e Sophia, como "Ele do lado direito" (ho dexios) e "Ela do lado esquerdo" (hē aristera), como masculino e feminino, não é mais do que a repetição da primeira antítese cosmogônica em outro formato. A Sophia em si nada mais é do que uma cópiada "Mãe da Vida" e é, portanto, chamada "Mãe". Ela é a formadora do céu e da terra, pois a mera matéria só recebe forma através da luz que, vinda de cima, interpenetrou as águas escuras do hylē.
[editar] Prouneikos ("Lasciva")
No sistema gnóstico descrito por Ireneu em Contra Heresias[11], o nome Prouneikos por várias vezes substitui o de Sophia na história. O nome Prouneikos também é dado a Sophia no relato do sistema irmão borborita, apresentado no capítulo anterior do mesmo livro de Ireneu. Celso, que aparenta ter tido contato com algumas obras ofitas, também mostra familiaridade com o nome Prouneikos (Contra Celso)[12], um nome que Orígenes reconhece como sendo valentiano. Que este nome ofita tenha realmente sido adotado pelos valentianos é evidenciado por sua ocorrência num fragmento valentiano preservado por Epifânio[13]. Ele também introduz Prouneikos como um termo técnico no sistema dos simonianos (seguidores de Simão Mago)[14], a quem ele descreve como estando sob o comando dos nicolaítas[15] e ofitas[16].
Nem Ireneu nem Orígenes indicaram saber algo sobre o significado desta palavra e não temos nenhuma informação melhor sobre o assunto, exceto uma conjectura de Epifânio[17]. Ele afirma que a palavra significa "impudica" ou "lasciva", pois os gregos tinham um epíteto para um homem que tivesse devassado uma garota, Eprounikeuse tautēn. Porém, Epifânio estava profundamente convencido da podridão da moral gnóstica e frequentemente interpretava a linguagem deles da pior maneira possível. Se a frase reportada fosse realmente popular, é estranho não encontrarmos exemplos do seu uso em comédias de autores gregos. Não se nega que Epifânio tenha ouvido a frase como empregada, mas é possível que palavras inocentes venham a ser usadas em um sentido obsceno.
À favor da explicação de Epifânio está o fato de que nos mitos cosmogônicos gnósticos, imagens de paixão sexual são constantemente introduzidas. Parece no todo provável que Prouneikos deve ser entendido no mesmo sentido de propherēs, que tem como um de seus significados "precoce com relação aos atos sexuais"[18]. É possível que o nome indique as tentativas de Sophia de atrair a fagulha da luz divina dos poderes cósmicos inferiores[19]. No relato de Epifânio[20], a alusão à atração pelo ato sexual que está envolvido no nome se torna mais proeminente.
[editar] Mētra (Útero)
Relacionada a Sophia está a noção amplamente difundida entre as seitas gnósticas sobre o impuro mētra (útero) de onde todo o mundo supostamente nasceu. De acordo com os valentianos italianos, o Uno abre o mētra de Sophia caída do Pleroma (enthymēsis - pensamento) e provoca a formação do universo[21], personificando assim o próprio mētra. Epifânio reporta que a cosmologia a seguir é a de um ramo dos nicolaítas:
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No início existiam a Escuridão (Trevas), o Caos e as Águas (skotos, kai bythos, kai hydōr), mas o Espírito que vive dentro deles e entre eles os separou. Da miscigenação da Escuridão com o Espírito nasceu o mētra que novamente foi aceso com renovado desejo pelo Espírito; ela deu à luz primeiro a quatro, e então a outros quatro aeons, produzindo assim uma direita e uma esquerda, luz e trevas. Por último nasceu um aischros aiōn, que teve relações sexuais com o mētra. A prole desta relação são os deuses, anjos, demônios e espíritos. |
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Segundo Hipólito em Philosophumena, os setianos[23] ensinaram que, de maneira similar, da primeira simultaneidade (syndromē) dos três primeiros princípios primais emergiram o céu e terra como uma megalē tis idea sphragidos. Eles têm a forma de um mētra com um Onfalos (umbigo) no meio. O mētra grávido contém em si todos os tipos de formas animais, um "reflexo" do céu e da terra, e todas as substâncias encontradas na região do "meio". Este mētra também é encontrado na grande Apophasis atribuída a Simão Mago onde ele afirma que o local onde o homem foi formado como sendo o Paraíso e o Éden.
Estas teorias cosmogônicas foram precedidas por Tiamat da mitologia síria, a mãe-da-vida de quem Berossus deve tanto, ou no "mundo-ovo" do qual, quando partido, procederam o céu, a terra e todas as coisas[24].
[editar] Gnose de Baruque
Um papel similar ao de mētra é desempenhado por Edem, consorte de Elohim no livro gnóstico Baruque[25], onde aparece como um monstro, com cabeça de mulher e corpo de serpente.
Entre os vinte e quatro anjos que ela dá luz de Elohim e que forma o mundo pelos seus membros, a segunda forma angélica feminina é chamada Achamōs (Achamōth).
Similar a esta história contada no Philosophumena sobre a Gnose de Baruque é a que foi relatada por Epifânio sobre uma festa ofita em que eles inventaram que uma serpente do mundo superior havia tido relações sexuais com a Terra na forma de uma mulher[26].
[editar] Achamōth
Tem se debatido se o nome Achamōth (em grego: Ἀχαμώθ) deriva originalmente do hebreu Chokhmah (em hebraico: חָכְמָ֑ה), em aramaico Ḥachmūth, ou se significa 'Aquela que dá a luz" - "Mãe"[27]. A forma siríaca Ḥachmūth foi utilizada por Bardesanes[28], já a forma grega é encontrada apenas entre os valentianos: o nome provavelmente deriva da mais antiga forma de gnosis siríaca.
[editar] Barbeliotas
Ver artigo principal: Barbelo
Muito similar às doutrinas gnósticas relatadas por Ireneu são as crenças dos assim chamados "Barbeliotas"[29]. O nome Barbelo, que de acordo com uma interpretação, é o nome da Tétrade superior, originalmente não tinha nada a ver com Sophia.
Segundo eles, Sophia, um Ser posterior, também chamado de Spiritus Sanctus and Prunikos é a prole do primeiro anjo que está ao lado do Monogenes. Sophia vendo que todos os outros tinham sua sizígia dentro do Pleroma, deseja ardentemente encontrar também um consorte para si. Não encontrando nenhum no mundo superior, ela olha para baixo, nas regiões inferiores, e estando ainda insatisfeita, para lá ela desce, contra a vontade do Pai, até as profundezas. Lá ela forma o Demiurgo (o Proarchōn), uma mistura de ignorância e auto-exaltação. Este Ser, por conta dos poderes pneumáticos roubados de sua mãe, segue então criando o mundo inferior. A mãe, por outro lado, foge para as regiões superiores e passa a morar lá, na Ogdóade.
[editar] Ofitas
Ver artigo principal: Ofitas
Sophia também aparece na literatura ofita, cujo 'Diagrama' é descrito por Celso e Orígenes, assim como entre várias facções gnósticas ofitas mencionadas por Epifânio. Lá, ela é chamada de Sophia ou Prunikos, a mãe superior e o poder superior, e está entronada sobre a Hebdomad (os sete céus planetários) na Ogdóade[30]. Ela também é ocasionalmente chamada Parthenos[31] e, novamente, é identificada como Barbelo ou Barbero[32].
[editar] Bardesanes
Ver artigo principal: Bardesanes
Mitos cosmogônicos também são parte da doutrina de Bardesanes. O locus foedus onde os deuses (ou Aeons) planejaram e construíram o Paraíso[28] é o mesmo que o impuro mētra(útero), que Efrém se envergonhou até de dizer o nome[33]. A criação do mundo aconteceu através do filho "daquele que vive" e de "Rūha d' Qudshā", o Espírito Santo, que é idêntico a Ḥachmūth, mas em combinação com "criaturas", ou seja, seres subordinados que cooperam com eles[34]. Apesar de não estar expressamente indicado, é a inferência mais provável é que assim como a mãe e o pai, também sua prole (filhos "Daquele que Vive" e de Rūha d' Qudshā ou Ḥachmūth) também devem ser consideradas como Sizígias. Ḥachmūth dá a luz à duas filhas, a "Vergonha da terra seca" (mētra) e à "Imagem das águas" (Aquatilis Corporis typus), que é mencionada ligada à Sophia ofita[28]. Ao dela, numa passagem evidentemente em referência a Bardesanes, ar, fogo, água e escuridão são mencionados como aeons[35]. Estas são provavelmente as "criaturas" a quem, em conjunto com o Filho e Rūha d' Qudshā, acredita-se que Bardesanes creditou a criação do mundo. Embora muito ainda permaneça obscuro sobre as doutrinas de Bardesanes, não podemos simplesmente descartar os comentários de Ephraim, que continua sendo a mais antiga fonte siríaca para o nosso conhecimento sobre as doutrinas deste gnóstico siríaco. Bardesanes, segundo Ephraim, também falava sobre a esposa ou virgem que tendo caído do Paraíso Superior, oferece, durante seu abandono, preces pedindo ajuda do alto e, sendo ouvida, retorna aos prazeres do Paraíso Superior[28].
[editar] Atos de Tomé
Ver artigo principal: Atos de Tomé
Os Atos de Tomé preservaram vários hinos cuja composição é do próprio Bardesanes ou obras de sua escola[36]. Na versão siríaca do texto dos Atos[37], encontramos o Hino da Pérola[38], no qual Sophia foi enviada dos céus para capturar uma pérola guardada pela serpete. Uma vez no mundo inferior, ela se esqueceu de sua missão celeste até que relembrada por uma carta da "mãe, pai e irmão", executa então a tarefa, recebe de volta suas vestes gloriosas e retorna para sua antiga casa. Dos demais hinos, que estão preservados em grego e são mais fiéis que a versão siríaca, que sofreu uma revisão católica, o primeiro que merece atenção é Ode a Sophia[39], que descreve o casamento de uma "virgem" com o seu noivo celeste e a sua introdução no Reino Superior de Luz. Esta "virgem", chamada "filha da luz", não é - como supõe o revisor católico - a Igreja, mas Ḥachmūth (Sophia), acima da qual o "rei", ou seja, o Pai de toda a vida, está entronado; o noivo dela é, de acordo com a interpretação mais provável, o filho do Vivo (ou "Aquele que Vive"), Cristo. Com ela, os Vivos (as almas pneumáticas) entram no Pleroma e recebem a gloriosa luz do Pai Vivo e o adoram juntamente com o "espírito vivo", o "pai da verdade" e a "mãe da sabedoria". A Sophia também é invocada na Primeira Oração de Consagração[40]. Ela é ali chamada de "mãe piedosa", "consorte do masculino", "reveladora dos mistérios perfeitos", "mãe das Sete Casas" (Hebdomad) que "encontra repouso na oitava casa" (Ogdóade). Na segunda Segunda Oração de Consagração[41] ela é chamada de "perfeita Misericórdia" e "Consorte do Masculino", mas é também chamada de "Espírito Santo" (Rūha d' Qudshā) "Revelador de Mistérios de toda Magnitude", "Mãe escondida", "Aquela que sabe os Mistérios dos Eleitos" e "aquela que participou dos conflitos do nobre Agonistes" (Cristo[42]). Há ainda mais adiante um resquício direto da doutrina de Bardesanes quando ela é invocada como a "Pomba Sagrada" que deu à luz aos dois gêmeos (as duas filhas de Rūha d' Qudshā)[43].
[editar] Simão Mago
Helena de Tróia por Evelyn de Morgan; uma encarnação da Ennoia no sistema de Simão Mago
Ver artigos principais: Simão Mago e Simonianismo
O Mito da Alma e sua descida até o mundo inferior, com seus vários sofrimentos e mudanças de sorte até a libertação final aparece também no sistema simoniano sob a forma da "Mãe de Todos" é emitida como primeiro pensamento do Hestōs ou poder maior de Deus. Ela geralmente tem o nome de Ennoia, mas também é chamada de Sabedoria (Sophia), Regente, Espírito Santo, Prunikos e Barbelo. Tendo caído dos mais altos céus até as regiões mais profundas, ela cria anjos e arcanjos e estes, por sua vez, criam e governam o universo material. Aprisionada pelo poder deste mundo inferior, suas tentativas de voltar ao reino do Pai são frustradas. De acordo com uma das representações, ela sofre toda sorte de insultos dos anjos e arcanjos, presos à força seguidamente em renovados corpos terrestre e compelidos por séculos a vagar em cada vez numa nova forma corpórea. De acordo com outro relato, ela é em si incapaz de sofrimento, mas é enviada a este mundo inferior e submete-se à perpétuas transformações para excitar com sua beleza os anjos e poderes, para impeli-los a engajarem-se na luta perpétua e assim privá-los do seu estoque da fagulha (luz) celeste. Em algum momneto, Hestōs desce do mais alto céu num corpo fantasmagórico para libertar a Ennoia sofredora e para redimir as almas presas em cativeiro dando-lhes a Gnosis (Conhecimento).
A forma mais frequente de denominar a Ennoia entre os simonianos é "a perdida" ou "ovelha vagante". As divindades gregas Zeus e Atena já foram interpretados como significando Hestōs e sua Ennoia, e de forma similar, os deuses de Tiro, o deus-sol Herakles-Melkart e a deusa-lua Selene-Astarte. E também a homérica Helena, como sendo a causa da guerra entre os gregos e os troianos, já foi considerada como sendo a Ennoia. A história que os pais da Igreja nos deixaram sobre a relação sexual entre Simão Mago e sua consorte Helena teve provavelmente sua origem nesta interpretação alegórica[44]
[editar] Valentim
"Plérome de Valentin," from Histoire critique du Gnosticisme; Jacques Matter, 1826, Vol. II, Plate II.
Ver artigos principais: Valentim e Valentianismo
O mais importante desenvolvimento do Mito de Sophia é encontrado no sistema valentiano. A queda de Sophia do Pleroma é atribuída à maneira de Platão de "cair", e como causa final desta queda é apontado um estado de sofrimento que penetrou no próprio Pleroma. Sophia ou Mētēr é, na doutrina de Valentim, o último, ou seja, o décimo-terceiro Aeon no Pleroma, do qual tendo caído, num estado de saudade profunda do mundo melhor que ela perdeu, deu à luz aos Christus "com uma sombra" (meta skias tinos). Enquanto Christus retorna ao Pleroma, Sophia forma o Demiurgo e todo o mundo inferior, criado a partir do skia, um princípio dual de esquerda e direita[45]. Para a redenção de Sophia, ou o próprio Christus[46] ou o Soter[47] descem para ajudá-la a retornar ao Pleroma e uni-la novamente com a seu syzygos. O motivo da queda de Sophia foi definido de acordo com o ensinado pela escola de Anatólia, de que pelo seu desejo de saber o que havia além dos limites do cognoscível, ela se colocou num estado de ignorância e sem forma. Seu sofrimento então se estendeu por todo o Pleroma. Por isso, ela acabou separada dele e deu à luz fora dele (através da sua ennoia, suas lembranças do mundo superior), ao Christus, que imediatamente ascende ao Pleroma. Em seguida, ela produz um ousia amorphos, a imagem de seu sofrimento, do qual o Demiurgo e o mundo inferior se originam. Por fim, olhando para cima em sua condição miserável e implorando pela luz, ela finalmente dá a luz a spermata tēs ekklēsias, as almas pneumáticas. Na sua obra de redenção, o Soter desce, acompanhado por anjos masculinos que deverão se tornar os futuros syzygoi das almas (femininas) dos Pneumatici. Então, ele introduz Sophia e estes Pneumatici na câmara nupcial celeste[48].
[editar] Ptolomeu (gnóstico)
Ver artigo principal: Ptolomeu
A escola italiana destacou uma Sophia dualista, a ano Sophia e a katō Sophia (ou Achamoth). De acordo com a doutrina de Ptolomeu e de seus discípulos, a primeira se separou de sua syzygos, o thelētos, por causa de seu corajoso desejo de uma Comunhão imediata com o Pai de tudo, caiu para uma condição de sofrimento e iria derreter-se totalmente neste desejo, não tivesse Horos a purificado de seu sofrimento e a restabelecido no Pleroma. A sua enthymēsis, por outro lado, o desejo que ganhou controle sobre ela e o sofrimento causado por ele se tornaram um amorphos kai aneideos ousia, que também é chamado de ektrōma, foi separado dela e colocado num lugar além dos limites do Pleroma[49].
[editar] Pistis Sophia
Apoteose de Homero. A direita do altar, da esquerda para a direita, História, Poesia, Tragédia e Comédia, então Natureza (Physis), Virtude (Arete), Memória (Mneme), Boa fé (Pistis), Sabedoria (Sophia). Relevo em mármore, provavelmente feito em Alexandria, Egito ptolemaico, 225-205 aC. de Bovillæ na Via Appia.
Ver artigo principal: Pistis Sophia
Um desenvolvimento especial e ricamente escrito aparece na forma mítica de Sophia no livro gnóstico Pistis Sophia[50]. Os dois primeiros livros desta obra, muito bem nomeada Pistis Sophia, tratam em grande parte[51] da queda, arrependimento e redenção de Sophia. Ela tinha, por ordem dos poderes maiores, obtido uma visão breve de sua morada no mundo espiritual, o thēsauros lucis que fica além do décimo terceiro Aeon. Através de seus esforços em direcionar para lá a sua ascensão, ela acaba atraindo a inimizade de Authadēs, Arconte do décimo-terceiro Aeon, e dos Arcontes do décimo-segundo também, que estavam sob ele. Por eles, ela é atraída até as profundezas do caos e atormentada de uma enorme variedade de formas para que perca a sua natureza de luz. No limite de suas necessidades, ela endereça treze preces penitentes (metanoiai) para a Luz Superior. Passo-a-passo ela é erguida até Christus nas regiões mais altas, embora ela ainda esteja ofendida pelos ataques dos Arcontes, e seja, após lhe ser oferecido morada no décimo-terceiro (Metanoia), mais veementemente atacada do que nunca, até que enfim Christus a leva para um lugar intermediário abaixo do décimo-terceiro Aeon, onde ela permanece até o fim do mundo, oferecendo hinos de gratidão aos céus. O trabalho terreno de redenção tendo sido completado, a Sophia então retorna à sua morada celeste.
A característica peculiar desta representação está no desenvolvimento adicional das idéias filosóficas que geralmente já fazem parte do Mito de Sophia. Aqui ela não é meramente, como em Valentim, representativa da saudade que um espírito finito sente pelo conhecimento do infinito, mas também a um tipo de padrão de fé, arrependimento e esperança[52].
Mais um resquício da Sophia dos antigos sistemas gnósticos também pode ser encontrado em Pistis Sophia na figura da "Donzela-Luz" (ou "Donzela de Luz" - parthenos lucis), que é claramente distinta de Sophia e aparece como um arquétipo de Astraea, a constelação de Virgo.
[editar] Nag Hammadi
Ver artigo principal: Biblioteca de Nag Hammadi
Na obra Sobre a origem do Mundo, Sophia é mostrada como sendo a destruidora final do universo material, Yaldabaoth e todos os seus céus:
“ |
Ela [Sophia] irá jogá-los no abismo. Eles [os Arcontes] serão obliterados por conta de sua iniquidade. Pois eles serão como vulcões e consumirão uns aos outros até que perecerão nas mãos do principal entre seus pais. Quando ele os tiver destruído, ele irá se voltar contra si mesmo e se destruirá até que deixe de existir. E seus céus irão cair cada um sobre o próximo e suas forças serão consumidas pelo fogo. Seus reinos eternos também serão derrubados. E seu céu irá cair e partir-se-á em dois. Seus [...] irão cair sobre o [...] os suporta; eles irão cair no abismo, e o abismo será derrubado. A luz irá [...] a escuridão e obliterá-la: será como algo que nunca foi |
” |
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— Sobre a origem do Mundo[53], |
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[editar] Maniqueísmo
Ver artigo principal: Maniqueísmo
A "Donzela-Luz" (parthenos tou phōtos), de Pistis Sophia, também é encontrada entre os maniqueístas excitando os desejos impuros dos demônios e assim libertando a luz que até então tinha sido aprisionada pelos poderes das trevas[54]. POr outro lado, o lugar da Sophia gnóstica entre os maniqueístas é tomado pela "Mãe da Vida" (mētēr tēs zōēs) e pela World-Soul (psychē hapantōn), que frequentemente se distingue da Mãe-Vida, e é considerada como difundida em todas as criaturas vivas, cuja libertação do reino das trevas constitui toda a história do mundo[55].