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172 VARIA

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Muitas outras passageas havcria a comentar ou sublinhar, mas basta-nos registar que o sr. dr. Valente nos nfio apareceu no seu segundo artigo tfio irreductivel e apaixonado como no pri-meiro. Patando em «apaixonado >,' hd de nos permitir dizer sem oiensa, que sorrimos ao ler as suas alusóes ń nossa «paixfio> em favor do transformismo. Mas o certo i qoe nos felicitamos por ter provocado num professor de história dogmdtica declaraęSes que tendem a estabelecer uma ponte de bom entendimento entre a ciencia. e a religifio. Afinal o rev. Va!ente accita uma exegese do Gdnesis conforme com a ciencia moderna, considera-o uma hisldria popular e reconhece que, escrito numa epoca distante da nossa, concebe certos factos duma maneira hoje inadmissivei. Mas, diz, a sua finalidade ć diferente da da ciencia e o que nele importa nfio sflo aspeclos episddicos, as causas segundas, nfio sc devendo confundir inspircęfio ccm revelaęfio.

Afinal, embora o rev. Valente afirme que a Teologia ć tam-bem ciencia, embora comb&ta o <desprezo» (que nfio perfilhamos) dos positivistas e de alguns cultores das ciencias experimentais, pela niosoiia, pela metafisica c pela rcvelaęflo, embora repita a frase de Moreux, de que o facto da revelaęfio 6 de ordem experi-mental (neste ponto parece que surge uma confusflo entre a anfi-lise <cientifica> da historicidade da revelaędo e o cardcter estri-tamente cientffico que esta possua como mdtodo e fontc do conhecimento), embora nos acuse indevidamente de «relegar para segundo piano* a Teologia e a Pilosofia (que estamos nós a Inzer aqui scnfio filosofia sóbre dados da ciencia ou da fd?), embora diga que os cultores das ciencias fisicas possuem a tenddncia a nfio admilir outras verdades ou certezas que nflo sejam as forne-cidas pela experiencia e pela observaędo externa e sensivel — d dle mesmo que reconhece que a teologia e a revelaęfio se ocupam das causas primdrias, e a cidncia trata das causas segundas, c d dle mesmo que escreve que <a Biblia e a ciencia ndo tdm o mesmo firn nem o mesmo objecto, e ndo usam o mesmo mttodo».

Pxactamente, sr. dr. Valentc! O mdtodo do teólogo, a reve-laęflo, a fd, sdo diferentes do mdtodo que o cientista — no dominio ptiro da Ciincia — segue. Ć legitimo ao cientista filosofar, procurar, sóbre as verdades positivas, experimentais, ascender a problemas de ordem geral, fi metafisica. Podemos ainda considerar dsse esfóręo como cientitico, se bem que em geral conduza a hipd-teses, ndo a condusóes demonstradas como um teorema. Nfio vedado tambćm ao cientista procurar rclacionar as verdades expe-rimentais e essas hipóteses e explicaęóes com os postulados que a f6 religiosa impóe a os crentes, sem a necessidade e a possibili-dade de demonslraęóes cicnlfficas. Estfi ele ainda no seu direito —e, por nós, entendemos que faz bem. Mas, ao entrarmos no doroinio puro da 16 religiosa. j& ndo nos encontramos no campo estrito da ciencia. Isto ndo quere dizer que ndo haja uma ciencia, uma his-tória, uma filosofia das religióes, temas que ocupam simultanea-mente a atenędo do cientista e do crente.

As atitudes, os processos de indagaęfio, as preocupaęóes, do teólogo— como teólogo —e do cientista — como cientista — 6 que se ndo confundem, embora o teólogo possa fazer ciencia e o cientista possa colaborar na teologia.

A prova da diversidade dos dois dominios do penśamento dd a efinal o próprio dr. Valenle, quando mostra que atć palavras do vocabuldrio habilual tomam sentidos diversos na bóca de urn cientista ou na bóca dum teólogo. Ndo precisamos de deitar abaixo das estantes os diciondrios consagrados e os compeadios mais autorizados de ciencia para verificar a legitimidade semantica da nossa comprcensdo de termos como «temerdrio>, «espćcie», <sen-sibilidade*. etc., que, fundado nos seus expositores, o rev. Valente entende de maneira diversa da nossa. Dir-se-ia que lalamos lin-guagens diferentes. O caso de Lapparent, dizendo que, se tivesse de resumir em quarenta linbas. as aquisięóes mais autenticas da Geologia, copiaria o texto do Genesis. 6 simplesmenle lamentdvel. Os seus notdveis tratados de Geologia e Geografia Fisica ndo autorizam a supór que e$sa frase fósse mais do que uma boutade, imprópria do sdbio insigne que foi Lapparent. Nada nesses livros reproduz o esquema do Gćnesis. O próprio dr. Valente reconhece quc o Gćnesis 6 uma «história popular* escrita para uma ópoca em que se nfio sabia o que se sabe hoje! Ao dizer aquela frase, Lapparent esquecera lóda a geodinamica, tóda a tectónica, tóda a cslratigrafia, tóda a geologia moderna.

Pensando precisamente na referida variabilidade de acepęóes vocabulares e lembrando as incertezas de limites na interpretaęfio de textos sagrados como o Genesis, onde, ccmo diz o rev. Valente, o <dia» pode ndo significar *dia», e a distinęfio entre <dguas superiores* e <figuas inferiores* pode nfio corrcsponder a distinęfio nenhuma, nós encerramos, pela nossa parte, esta discussfio cortez e desapaixonada com aquele saccrdote, registando com pra-zer que o mesmo sacerdote reconheceu: nfio ser adverso ii Religifio o «transformismo moderado*; nfio ser Ssie necessfiriamente materialista e mecanicista; haver urn transformismo dos padres da Igreja a que 6 simpdtica a <Criaęfio evolutiva>; nfio poder o



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