Microsoft Word Franklin W Di Renato(1)

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A Casa do Rochedo

Franklin W. Dixon




















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1

Espionando por Telescópio


– Então, meninos, querem ajudar-me em outro caso? – indagou Fenton Hardy, detetive

mundialmente famoso, sorrindo para seus filhos adolescentes.

– Pai, o senhor disse que está trabalhando em um caso muito misterioso, neste exato

momento – respondeu Frank. – Não teria um ângulo qualquer que eu e Joe pudéssemos
explorar?

O Senhor Hardy olhou pela janela do seu estúdio, no segundo andar, como se estivesse

procurando a resposta em algum lugar da cidade de Bayport, onde vivem os Hardys. Finalmente,
virou-se e observou cuidadosamente os dois filhos.

– Está bem. Vocês gostariam de descobrir alguns contrabandistas?
Os olhos de Joe Hardy brilharam:
– Fala sério, pai?
– Espere um pouco. – O detetive ergueu as mãos. – Eu não disse prendê-los. Disse

apenas procurar encontrá-los.

– Já é uma grande coisa. Obrigado por nos entregar o caso – respondeu Frank.
O ágil e atlético detetive caminhou até um dos cantos do estúdio, onde uma comprida e

estreita maleta estava encostada. Abrindo-a, disse:

– Meninos, vocês aprenderam a manipular este telescópio muito bem. Que tal levá-lo

para aquele alto promontório do litoral e assestá-lo para alto-mar? O lugar a que me refiro dista
três quilômetros do norte do fim da baía e doze daqui.

– Seria genial – disse o loiro Joe, de dezessete anos, com os olhos faiscando por

antecipação.

Frank, que era um ano mais velho e menos impetuoso do que o irmão, perguntou num

tom de voz muito sério:

– Pai, o senhor tem alguma idéia quanto à identidade de algum dos contrabandistas?
– Sim, tenho – respondeu o Senhor Hardy ao seu filho alto e moreno. – Tenho grandes

suspeitas de que um homem chamado Felix Snattman está operando neste território. Vou contar
a você a coisa toda.

O detetive prosseguiu dizendo que tinha sido contratado por uma companhia

farmacêutica internacional para tentar localizar o paradeiro de cargas roubadas, constituídas por
valiosas drogas. Os relatórios sobre os roubos procediam de várias partes dos Estados Unidos.
As polícias regionais já tinham trabalhado no caso, mas até então não haviam conseguido prender
nenhum suspeito.

– A matriz da firma é na índia – explicou aos rapazes. – Foi por seu intermédio que,

afinal, fui consultado. Estou certo de que os roubos são o resultado de contrabandos
cuidadosamente realizados. É essa a razão pela qual suspeito de Snattman. Ele é um conhecido
marginal envolvido anteriormente em crimes de contrabando. Esteve preso por muito tempo e,
desde que deixou a cadeia, desapareceu de circulação.

– E o senhor acredita que ele esteja trabalhando nas proximidades de Bayport? – Joe

perguntou. E assobiou. – Isso não torna o local muito agradável ou saudável para se viver.

– Nós vamos transformá-la num local agradável – declarou o Senhor Hardy, com um leve

tom de severidade na voz.

– Onde fica exatamente esse lugar, de onde usaremos o telescópio? – perguntou Frank,

ansioso.

– Fica em Pollitt. Vocês verão o nome, na entrada. Um homem chamado Felix Pollitt

viveu lá, sozinho, por muito tempo. Foi encontrado morto na casa há um mês aproximadamente
e, desde então, o lugar está vazio.

– Parece que de lá teremos uma espetacular visão para cima e para baixo da praia e de

quilômetros de oceano adentro – observou Frank.

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O Senhor Hardy olhou para o relógio.
– É uma e trinta agora. Vocês devem ir até lá, já, passar o maior tempo possível fazendo

observações e voltar para casa a tempo de jantar.

– Isso será fácil – respondeu Joe. – Nossas motocicletas podem realmente “comer” a

estrada.

Seu pai sorriu, mas advertiu:
– Este telescópio é muito valioso. Quanto menos ele for sacudido, melhor.
– Já entendi – disse Joe, perguntando a seguir: – Pai, é necessário que as informações

sobre os contrabandistas fiquem em segredo conosco, ou podemos levar o pessoal da turma,
também?

– É claro que não quero que as informações sejam transmitidas pela televisão, mas estou

certo de que podemos confiar em seus amigos. Podem chamá-los.

– Que tal Chet e Biff? – Joe perguntou a Frank. Quando seu irmão fez um gesto de

consentimento, ele disse: – Leve o telescópio para sua moto. Eu vou telefonar.

Chet Morton é um rapaz impetuoso e bem intencionado que adora comer. Além disso,

gosta de acompanhar os Hardys e participar de suas aventuras entusiasmantes, embora em
algumas ocasiões, quando as coisas se complicam, ele prefira estar bem longe. Chet também é
amigo das máquinas e passa horas seguidas trabalhando na sua “máquina”, sempre envenenando
cada vez mais o motor, a fim de obter “aquela” força.

Contrastando com Chet, Biff Hooper é alto e desajeitado.
Para diversão e alegria dos outros rapazes, usa as pernas como o faz uma aranha,

cobrindo distâncias enormes no chão e pulando cercas.

Minutos mais tarde, Joe reuniu-se a seu irmão, na garagem, e disse-lhe que os dois haviam

concordado. Chet, esclareceu, se desculpara por não poder oferecer a sua máquina – o Queen –
porque seu motor estava espalhado por todos os cantos da garagem. – Como sempre – observou
Frank, enquanto, com seu irmão, tomava lugar na moto, para iniciar a aventura.

Inicialmente, os Hardys pararam na residência de Biff Hooper. Ele correu à porta para

cumprimentá-los, instalando-se imediatamente na garupa de Joe. Chet vivia num sítio nos
arredores de Bayport, quinze minutos de estrada a partir da casa de Hooper. O rapaz já se tinha
dirigido para a estrada e estava à espera dos amigos. Ajeitou-se como pôde na motocicleta de
Frank.

– Nunca vi um telescópio possante – comentou. – A que distância se pode ver com essa

coisa?

– Depende das condições atmosféricas – respondeu Frank. – Em dias claros pode-se ver

uma pessoa à distância de trinta e oito quilômetros.

– Puxa – exclamou Chet. – Acho que será fácil descobrir esses contrabandistas.
– Não me arrisco a afirmar isso – interrompeu Biff. – Os contrabandistas têm barcos

exatamente iguais a todos os outros. Que distância se necessita para identificar uma pessoa?

– Mais ou menos uns quatro quilômetros – explicou Joe.
As motos pipocaram ao longo da praia, enquanto Frank observava seu velocímetro

cuidadosamente.

– Estamos quase chegando à casa de Pollitt. Mantenham-se atentos, companheiros.
Os rapazes avançavam em silêncio. De repente, todos exclamaram ao mesmo tempo:
– Lá está a casa.
Na entrada de uma pequena estrada, ladeada de árvores e arbustos, havia um marco de

pedra no qual a palavra “Pollitt” fora gravada. Frank e Joe viraram e prosseguiram pela pequena
estrada. A única parte da casa que podiam ver era a ponta da cumeeira. Finalmente, depois de um
gramado excessivamente crescido, eles chegaram à casa, um edifício alto, decadente. Parecia uma
gigantesca ave de rapina, sobressaindo acima do mar. Ouviam-se os ruídos das ondas
arrebentando lá nas rochas.

– Este lugar parece abandonado – observou Biff.

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Uma grama alta tomava conta de tudo, embaixo de gigantescas árvores. Raízes e

trepadeiras ameaçavam invadir totalmente a casa.

– Assustadora, é o que eu acho – murmurou Chet. – Não sei por que alguém desejaria

morar aqui.

A casa propriamente dita precisava urgentemente de consertos. Construída de madeira,

apresentava grandes rachaduras, e a pintura praticamente não existia mais.

– O coitado do Senhor Pollitt provavelmente estava muito doente para poder cuidar das

coisas – comentou Frank, enquanto olhava os canteiros de flores completamente tomados de
mato.

Para desapontamento dos Hardys, o céu estava encoberto, e eles concluíram que a

visibilidade tinha ficado bastante reduzida. Mesmo assim, Frank abriu a maleta, enquanto se
dirigia para a frente da casa.

Abertas as fechaduras, Joe ajudou o irmão a tirar o telescópio e o tripé, apanhando

primeiro a parte da ocular.

Biff e Chet soltaram uma exclamação de prazer.
– Menino, essa coisa é um estouro – observou Chet.
Ele e Biff olhavam fascinados, enquanto Joe e Frank montavam o telescópio. Primeiro

retiraram a fita que mantinha juntos o tubo e o tripé. Joe abriu o tripé, ajustando as extensões à
altura desejada. Frank uniu as pernas do tripé com uma corrente, para evitar que se abrissem
mais.

– E agora? – perguntou Chet.
– Para equilibrar o tubo do telescópio, é preciso deslocá-lo entre esta braçadeira, na

direção da ocular, assim. – Feito isso, Frank apertou as borboletas, fixando firmemente a peça ao
tripé.

Joe apanhou o peso de compensação, ajustando-o no lado direito do telescópio, a uma

distância aproximada de um terço da ocular.

– Isso manterá a peça equilibrada – salientou.
– Para que serve este pequeno telescópio ao lado do grande? – inquiriu Chet.
– É um guia – explicou Frank. – Na realidade, é um pequeno telescópio-piloto que ajuda

o observador a localizar o objeto no campo do telescópio propriamente dito com mais facilidade.

– Para mim está explicado: transparente como barro – disse Chet com ironia. Olhou

cuidadosamente pelas duas extremidades, tanto do telescópio grande como do pequeno, e
concluiu: – Não consigo ver nada.

Joe riu gostosamente e disse:
– Nem conseguirá ver, enquanto eu não colocar uma das oculares no adaptador do

telescópio grande e outra no adaptador do guia.

Em poucos minutos os Hardys tinham o equipamento funcionando. Virando um

pequeno botão, Frank girou vagarosamente o telescópio da esquerda para a direita, e cada um dos
rapazes fez seu turno de observações no mar a distância.

– Nenhum barco à vista – disse Chet, desapontado.
Frank acabava de iniciar seu segundo turno de observação, quando exclamou

entusiasmado:

– Estou vendo algo.
Começou, então, a fazer um pequeno relatório do que estava observando.
– Não está muito claro... mas vejo um barco... deve estar a uma distância de oito a nove

quilômetros.

– Que tipo de barco? – perguntou Joe.
– Parece um navio de passageiros... ou um cargueiro... Está parado... Você quer dar uma

olhada, Joe?

O irmão de Frank trocou de lugar com ele.
– Ouçam, alguém está saindo pelo lado, descendo por uma escada... e, oba, há um

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barquinho menor embaixo. O homem está entrando nele.

– Você está vendo o nome, ou algum número, no barco maior? – perguntou Frank

excitado.

– Não, o barco está numa posição difícil, que não permite a visão de nomes ou símbolos.

Mesmo que o tempo estivesse mais claro e aberto, não haveria possibilidade de ver com clareza.

– Para que lado o homem do barco menor está seguindo? – perguntou Biff.
– Aparentemente ele se dirige para a baía de Barmet.
Joe abandonou seu posto para Biff:
– Mantenha-o em observação por algum tempo. O barco grande também. Talvez mude

de posição, e então você poderá ler o nome ou um número de código.

Chet estivera silencioso por algum tempo. Então, perguntou:
– Você acha que eles podem ser os contrabandistas?
– Talvez – respondeu Frank. – Acho que devemos comunicar isso a papai, pelo primeiro

telefone que...

Suas palavras foram interrompidas pelo repentino e terrível grito de um homem.
– De... de onde veio isso? – Chet perguntou com um ar assustado.
– Aparentemente, veio dali de dentro – respondeu Frank.
Os rapazes olharam imediatamente para a casa do penhasco. Pouco depois ouviram um

grito de socorro. Foi seguido de novo grito.

– Alguém está lá e em perigo – exclamou Joe. – É melhor que descubramos o que está

acontecendo.

Abandonando o telescópio, os quatro rapazes correram para a porta da frente, tentando

abri-la. A porta estava trancada.

– Vamos dar a volta e procurar outra porta – sugeriu Frank.
Joe e Frank dirigiram-se para um dos lados da casa, enquanto Biff e Chet se dirigiam para

o outro lado. Encontraram-se nos fundos da velha casa, onde descobriram uma outra porta. Ela
também estava trancada.

– Há uma janela quebrada, aí do lado – disse Biff. – Vamos entrar por lá?
– Acho melhor – disse Frank.
No momento em que se aproximaram da janela, vindo aparentemente da biblioteca da

casa, ouviram um novo grito.

– Socorro, depressa, socorro. – Era uma súplica agonizante.

2

Ladrão em Atividade


Joe foi o primeiro a passar pela janela quebrada.
– Esperem um pouco, companheiros, enquanto destranco isto.
Rapidamente, soltou os trincos e levantou a janela, permitindo que os outros três rapazes

entrassem na biblioteca. Ali não havia ninguém, e, por isso, todos correram para o saguão central
da casa.

– Ó de casa – gritou Frank. – Onde é que você está?
Não houve resposta.
– Talvez a pessoa que pediu socorro já esteja morta ou desmaiada – sugeriu Joe. – Vamos

dar uma olhada.

Os rapazes espalharam-se em várias direções e investigaram a sala de estar com sua

mobília antiquada, a sala de jantar, com sua velha mobília entalhada de carvalho, a cozinha e o
que parecia ter sido o quarto da empregada, no passado. Estava agora entulhado de caixas vazias
e caixotes. Não havia ninguém nas dependências, e os Hardys e seus dois amigos reuniram-se
novamente, no saguão.

– O homem deve estar lá em cima – decidiu Frank.

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Começou a subir pela escada da frente, seguido pelos outros. Havia vários dormitórios.

De repente, Chet voltou correndo. Queria continuar com os companheiros, mas a casa o
atemorizava. Biff e os Hardys investigaram cuidadosamente todos os quartos, chegando,
finalmente, ao último.

– Ninguém aqui também. O que é que você acha? – perguntou Biff, intrigado.
Chet, que se reunira novamente ao grupo, observou:
– Talvez o lugar seja mal-assombrado.
Os olhos de Joe procuravam atentamente encontrar a entrada para o terceiro andar.

Como não visse nada, abriu três portas existentes no hall superior, na esperança de encontrar
uma escada para cima. Não havia.

– Esta casa deve ter um sótão – disse, acrescentando: – Como será que se chega lá?
– Talvez haja uma entrada no interior de um dos quartos – sugeriu Frank. – Vamos

procurar.

Os rapazes separaram-se para investigar. De repente, Frank chamou os outros:
– Venham, já encontrei.
Os outros correram para onde ele acabara de descobrir uma porta atrás de um velho

casaco pendurado no interior de um armário embutido. Ali havia uma escada, e o grupo subiu
apressadamente, Chet em último lugar.

A dependência do sótão era enorme. Jornais e revistas velhas estavam espalhados por

toda parte, entre velhas malas e baús, mas não havia nenhuma pessoa à vista.

– Acho que aquele grito de socorro não partiu desta casa – insinuou Biff. – Que faremos

agora? Vamos investigar lá fora?

– Acho que é o que devemos fazer – respondeu Frank.
Frank começou a descer a escada. Chegando embaixo, tentou abrir a porta, que se fechara

sozinha. Para espanto seu, não conseguiu.

– Que é que há? – perguntou Chet, lá do alto.
– Parece que estamos trancados – disse Frank.
– Trancados? – indagou Chet. – Essa não.
Frank tentou empurrar e puxar a porta, com toda força. Ela nem se abalou.
– É engraçado – observou. – Eu não me lembro de ter visto nenhuma fechadura, do

outro lado.

Repentinamente, toda a seriedade daquela situação pareceu ter invadido as mentes dos

rapazes. Alguém, deliberadamente, trancara-os ali. Os gritos por socorro haviam sido apenas uma
armadilha para atraí-los ao interior da casa.

– Você acha que alguém está brincando com a gente? – perguntou Biff.
– Brincadeira mais besta – disse Chet.
Frank e Joe estavam inclinados a crer que havia algo mais do que uma brincadeira

envolvido na situação. Alguém vislumbrara a possibilidade de roubar um valioso telescópio e
duas motos último modelo.

– Precisamos sair daqui – disse Joe. – Frank, meta o ombro na porta. Eu o ajudo.
Felizmente, a porta não era particularmente dura, e cedeu com relativa facilidade. Frank

olhou para trás e percebeu dois grandes ganchos que antes não notara. Evidentemente, ambos
foram arrancados da estrutura, com o impacto do arrombamento da porta.

Os outros rapazes correram, saltando rapidamente sobre o lixo que juncava o caminho,

dirigindo-se imediatamente para o pavimento térreo. Praticamente arrombaram a porta de
entrada, deixando-a aberta quando saíram. Para grande alívio seu, o telescópio continuava
montado ali adiante, apontando para alto-mar.

– Graças a Deus – disse Joe. – Seria terrível ter de dizer a papai que o telescópio estava

perdido.

Frank apressou-se a fazer uma completa observação do instrumento. Ocorreu-lhe que

algum associado dos contrabandistas poderia tê-los visto espionando. Ele poderia, simplesmente,

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tê-los atraído à casa durante os momentos em que se processava uma operação de contrabando
no campo visual do telescópio.

Quando Frank chegou à ponta do penhasco e tentou olhar pelo telescópio, sentiu-se

frustrado. As oculares, tanto do telescópio, como do guia, haviam desaparecido.

Quando se virou para contar a novidade para o grupo, os rapazes não estavam ali. Pouco

depois, Joe veio correndo do lado da casa, gritando:

– As motos estão salvas. Ninguém as roubou.
– Graças a Deus – acrescentou Frank.
Chet e Biff chegaram logo, e todos deitaram-se na grama para discutir os misteriosos

acontecimentos e elaborar um plano de ação.

– Se esse ladrão está escondido na casa, vou encontrá-lo – declarou Joe, afinal.
– Concordo – disse Frank, levantando-se de um pulo.
– E você, Biff, quer cuidar das motos, enquanto Chet toma conta do telescópio? Assim as

portas da frente e de trás também estarão cobertas, para o caso de o ladrão sair.

– De acordo – disseram os amigos dos Hardys.
Quando Frank e Joe entravam pela porta dianteira, Joe observou:
– Há uma escada na parte de trás. Se não encontrarmos ninguém no térreo, eu vou por

ela e você sobe pela escada da frente.

Frank concordou e a busca foi iniciada. Não apenas o térreo, mas o primeiro andar e o

sótão foram cuidadosamente investigados, sem resultados.

– Só deixamos de olhar em um lugar – disse Frank. – O celeiro.
Nessa área também não foi encontrado o ladrão.
– Acho que o homem conseguiu fugir – sustentou Frank. – Não, talvez ele tenha descido

o rochedo escapando num barco – sugeriu Frank.

Desgostosos e insatisfeitos, os Hardys contaram seu malogro a Biff e Chet. A seguir

desmontaram o telescópio, instalando-o novamente na moto de Frank.

– Acho que podemos ir para casa – disse Joe desanimado. – Vamos ter de apresentar um

relatório muito desagradável a papai.

– Desagradável? – disse Biff. – Há seis meses não me acontecia coisa tão entusiasmante.
Os rapazes subiram nas motos. No momento de dar partida, os quatro gelaram. De

alguma parte embaixo do rochedo, emergiu uma gargalhada demoníaca. Involuntariamente, os
quatro tremeram.

– Vamos... vamos sair daqui – pediu Chet.
Frank e Joe arrancaram com suas máquinas, e correram na direção de onde viera a

gargalhada.

– Pode ser outra armadilha. – disse Chet. – Voltem.
Mas os Hardys continuaram. Quando acabaram de chegar à beira do penhasco, ouviram,

com completo assombro, que a risada provinha agora de uma direção completamente oposta. Na
realidade, vinha de sua retaguarda.

– Que está acontecendo? – perguntou Joe.
– Ajude-me. – gritou Frank. – O fantasma deve ter um associado.
Os irmãos aproximaram-se da beira do rochedo, observando à sua volta. Só o que

puderam ver foram rochas que brilhavam no meio da espuma das ondas, lá embaixo.

Frank e Joe voltaram às motos, desapontados e chateados porque não conseguiram

descobrir nada e não podiam explicar a segunda gargalhada.

– De qualquer jeito, alegra-me que tenha parado – disse Chet. – A coisa me assustou e

provocou arrepios e um friozinho desagradável na espinha.

Biff olhou para o relógio.
– Tenho mesmo de ir para casa, companheiros. Lamento ter de interromper esta caçada

humana. Talvez vocês possam levar-me até um ônibus, e depois vocês voltam.

Os Hardys não concordaram, e disseram que era melhor mesmo irem embora

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imediatamente.

Tinham percorrido pouco mais de um quilômetro e meio, quando o motor da moto de

Frank falhou e parou completamente.

– Ótima hora para quebrar – disse com amargura, pedindo a Joe que parasse.
Joe fez meia volta e parou ao lado de Frank.
– Que está havendo?
– Não sei – respondeu Frank. – Não é falta de gasolina. O tanque está cheio.
– Que sorte – disse Joe com ar patético. – Vamos dar uma olhada no motor. Melhor

pegar suas ferramentas.

Ao abrir a caixa de ferramentas de sua moto, uma expressão de raiva e admiração

apareceu no rosto de Frank.

– Minhas ferramentas – gritou – desapareceram!
Os outros se aproximaram. A caixa de ferramentas estava, mesmo, completamente vazia.
– Você tem certeza de que elas estavam aí, quando você saiu de Bayport? – perguntou

Chet.

– Claro que tenho. Nunca vou a lugar algum sem elas.
Biff sacudiu a cabeça:
– Suponho que quem levou as oculares do telescópio roubou as suas ferramentas

também.

Joe examinou a caixa de ferramentas de sua própria moto e exclamou com ar

profundamente desanimado:

– As minhas também desapareceram.

3

Deslizamento


– É uma pena, companheiros – disse Chet Morton. – Sem dúvida, hoje foi o seu dia de

má sorte. Primeiro as oculares do telescópio; agora as ferramentas das motocicletas.

– E tudo feito pela mesma pessoa, tenho certeza – observou Frank com amargura.
– Um sujeito rápido e eficiente, não importa quem seja – acrescentou Joe, aborrecido.
Chet enfiou as mãos nos bolsos da calça, deles tirando dois alicates, uma chave de fenda e

uma chave universal.

– Eu estava trabalhando no Queen hoje cedo – explicou. – Foi bom ter posto isto nos

bolsos.

– Concordo – disse Frank, agradecido, e apanhou as ferramentas, entregues por Chet.
Desparafusou a capa do motor e iniciou uma observação cuidadosa de cada porca e

parafuso da máquina. Finalmente, voltou a cabeça e anunciou:

– Acho que encontrei a causa do problema: uma ligação malfeita.
Frank apertou as peças, e logo depois o motor funcionava normalmente. A capa foi

recolocada, as ferramentas de Chet foram devolvidas com agradecimentos e os quatro rapazes
mais uma vez iniciaram a viagem de volta.

– Esperemos que nada mais aconteça ate chegarmos em casa – disse Biff com um sorriso

pouco convincente.

– É, vamos esperar – acrescentou Joe com ênfase.
Por cinco minutos o grupo avançou em silêncio, com os pensamentos parcialmente

voltados para o panorama que os cercava, mas principalmente intrigados com os mistérios nos
quais se viam envolvidos.

A idéia de Joe corria com sua moto. Em poucos minutos distanciara-se bastante da

máquina de seu irmão. Frank não ousava correr mais, temeroso de causar danos ao telescópio
amarrado à moto.

Joe acabara de atingir um trecho da estrada que ocupava um corte efetuado na encosta à

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direita. Havia uma curva acentuada no local. A moto acompanhava bem a curva, mas Joe e Biff
mal atingiam seu final, quando ouviram um terrível estrondo, atrás.

– Que foi isso? – gritou Joe.
Biff voltou-se para olhar por cima do ombro.
– Um deslizamento de terra – respondeu.
Pedras e todas as variedades de sujeira despregadas pelas recentes tempestades rolavam

pela ribanceira com incrível velocidade.

– Frank – gritou Joe, aterrorizado. Apertou o freio e desligou imediatamente o motor.

Quando voltou para advertir o irmão, Joe percebeu que já era tarde. Biff correra bastante e
ambos só conseguiram olhar assustados, quase sem respiração.

Frank e Chet vinham fazendo a curva em boa velocidade e foram inteiramente apanhados

pelo deslizamento. O barulho terrível fora encoberto pelo arrebentar das ondas, embaixo, e pelo
ruído da própria moto. Os dois rapazes, a moto e o telescópio foram apanhados em cheio pela
avalancha de pedras e de terra. Quando finalmente acabou a chuva de detritos, Joe e Biff se
aproximaram.

– Frank! Chet! – gritaram ao mesmo tempo. – Vocês estão bem?
Frank e, depois, Chet sentaram vagarosamente. Além de parecerem um pouco

estonteados, não sofreram maiores danos.

– As rochas não me acertaram a cabeça – disse Frank, finalmente.
– Levei uma descarga forte no ombro – disse Chet, enquanto passava a mão sobre a

região.

– Vocês tiveram sorte – disse Biff. Joe concordou, aliviado.
– Aconteceu alguma coisa com o telescópio? – perguntou Frank, preocupado. – Dê uma

espiada, sim, Joe?

A caixa amassada, retirada das cordas que a prendiam firmemente à motocicleta, estava

no chão, coberta de pedras e poeira. Joe examinou-a. Abriu a caixa cuidadosamente e verificou se
tudo estava em ordem com o telescópio.

– Parece que está tudo bem – disse aliviado. – Claro que só poderemos saber com certeza

quando tentarmos com outras oculares. Mas pelo menos parece que não há nada quebrado.

A essa altura Frank e Chet já estavam de pé, e Biff observou:
– Enquanto vocês dois se recuperam, eu e Joe podemos ir tirando do caminho as pedras

maiores. É possível que algum motorista se aproxime em alta velocidade e quebre o pescoço ou,
pelo menos, amasse o carro, se este lugar não for limpo.

– Eu estou bem – insistiu Chet. – A pedra que me atingiu foi como um tranco daqueles

grandalhões do futebol. Eu já levei muitos trancos como esse, antes.

Frank também disse que não estava sentindo nada. Juntos, os rapazes rolaram pedra por

pedra para o descampado que ficava entre a estrada e a água e, ajudando-se uns aos outros,
carregavam as mais pesadas.

– Acho que agora acabamos – disse Frank. – Biff, acho que você não vai ter outro jeito, a

não ser chegar atrasado em casa – acrescentou, pilheriando: – Quem é ela?

Biff ficou um pouco vermelho:
– Como é que você sabe? Eu marquei um encontro com Sally Sanderson. Só de

brincadeira, e ela é muito boazinha. Não tem importância que ela espere um pouco mais.

Mais uma vez, os rapazes ligaram as motos e arrancaram. Logo depois um barulho que

vinha da direção do mar atraiu a atenção de Frank, e ele ficou observando ao longe, sobre as
águas marulhantes. Um poderoso barco a motor apareceu de trás de um pequeno rochedo quase
dois quilômetros adiante. A pouca distância vinha outro barco igual, mas de tamanho maior.
Ambos navegavam em alta velocidade.

– Parece que é uma corrida – exclamou Joe. – Vamos observá-los.
Os Hardys levaram as motos para debaixo de algumas árvores, onde pararam, para dali

caminharem até a praia.

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Aparentemente os barcos não estavam participando de uma corrida muito amistosa. O

primeiro serpenteava de forma peculiar, enquanto o perseguidor se aproximava cada vez mais.

– Vejam, o segundo barco está tentando pegar o outro – gritou Frank.
– É, está sim. O que será que está acontecendo? – perguntou Joe, tenso. – Pena o

telescópio não estar funcionando. Algum de vocês consegue ler os nomes dos barcos?

– Não – responderam todos juntos.
Os dois homens que estavam de pé na proa do barco perseguidor sacudiam os braços

agitadamente. O primeiro barco fez uma curva fechada, como se tomasse a direção da praia.
Então, aparentemente, o piloto mudou de idéia, porque em um minuto a proa de sua lancha
voltou-se como se fosse na direção do alto-mar.

Mas aquele momento de hesitação deu aos perseguidores a oportunidade que estavam

esperando. Rapidamente a distância que separava os dois barcos foi diminuindo, e logo ambos
corriam lado a lado. Estavam tão próximos que parecia iminente um choque.

– Vão todos morrer, se não tomarem cuidado – murmurou Frank, enquanto continuava

acompanhando atentamente.

No barco menor, o único homem que o ocupava estava completamente inclinado sobre a

direção. Um dos homens que vinha no de trás levantou o braço direito. Num segundo lançou
alguma coisa no ar. O objeto caiu no compartimento do motor do barco pequeno, e
imediatamente o outro se afastou em alta velocidade.

– Que era aquilo? – perguntou Chet. – Eu...
De repente, uma língua de fogo se desprendeu da lancha. Houve uma explosão enorme e

imediatamente uma densa nuvem de fumaça se espalhou pelo ar. Pedaços de destroços foram
atirados a distância, e, entre eles, os rapazes viram o corpo do homem caindo na água.

Repentinamente, o barco inteiro pegou fogo. As chamas se estendiam da proa à popa.
– O homem – gritou Frank. – Ele está vivo.
Os rapazes podiam vê-lo, lutando contra as ondas, tentando nadar até a praia.
– Ele não vai conseguir – disse Joe. – Vai afundar.
– Precisamos salvá-lo – gritou Frank.

4

O Salvamento


Os Hardys sabiam que não tinham tempo a perder. Era evidente que o homem tinha sido

ferido pela explosão e não conseguiria nadar muito mais.

– Não conseguiremos alcançá-lo – disse Chet, enquanto os quatro corriam e saltavam por

cima das pedras e do capim, para chegar à água.

Então, Frank avisou:
– Estou vendo um barco a remo ali na praia. – Seus olhos penetrantes tinham descoberto

um pequeno barco a remo quase inteiramente escondido numa pequena caverna, na encosta do
rochedo. – Chegaremos mais depressa com aquilo.

Uma enorme rocha que brotava das águas separava a entrada da caverna da parte

acessível da praia.

– Teremos de subir na pedra e descer do outro lado – observou Joe. – Acho mais simples

ir nadando, por trás.

– Também acho – disse Biff.
Os dois se atiraram na água e começaram a avançar na direção do homem ferido.
Enquanto isso, Frank e Chet tinham ultrapassado a rocha e começavam a correr, descida

abaixo, rumo ao barco a remo.

– Aquele homem ainda está boiando – gritou Frank, olhando rapidamente para a água.
Joe e Biff, que decidiram nadar até onde estava o homem, avançavam rapidamente, mas

ainda tinham uma grande distância pela frente, principalmente depois que a maré começou a

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baixar, afastando-o ainda mais.

Escorregando e rolando, Frank e Chet conseguiram descer a encosta, com algumas

pedras e muita areia descendo pela frente. Finalmente chegaram onde estava a canoa, que
examinaram cuidadosamente. Era desbotada e velha, mas, aparentemente, podia ser usada com
segurança. Havia dois pares de remos.

– Segure firme – disse Frank a Chet.
Os rapazes arrastaram a canoa sobre as toras e lançaram-na à água. Rapidamente fixaram

os remos e sentaram-se. Remando com força, Frank e Chet dirigiram-se para onde estava o
nadador ferido. A caminho, apanharam Joe e Biff, que subiram a bordo. O homem vira o grupo e
pedia por socorro, febrilmente.

– Mais depressa – disse Joe. – Ele parece a ponto de afundar.
A lancha, a distância, ainda queimava, e as chamas se elevavam no ar. Estava

completamente destruída.

Os rapazes remavam como melhor podiam e a canoa sulcava o mar. Quando estavam a

alguns metros apenas do homem, ele perdeu as forças e afundou.

– Ele está afundando – gritou Chet, dobrando-se para acionar o remo.
Joe deu um longo e profundo mergulho, desaparecendo no local em que o homem

afundara momentos antes. Frank e Chet remaram até o ponto exato e inclinaram-se na borda,
para examinar a água.

Nesse exato momento, Joe e o desconhecido apareceram na superfície. O rapaz

sustentava seu corpo, apanhando-o por baixo do braço. A cabeça do desconhecido estava caída.

– Ele está desmaiado – Biff disse com dificuldade, enquanto ajudava a colocar a vítima na

canoa. O homem jazia no fundo da canoa, mais morto do que vivo.

– Vamos tentar reanimá-lo. Depois vamos levá-lo para um hospital – sugeriu Frank.
Fizeram um pouco de respiração artificial, forçando a saída de um pouco de água que se

alojara nos pulmões do afogado, mas o desconhecido não recuperava a consciência.

– Acho que ele desmaiou de cansaço – afirmou Joe. Frank e Chet tiraram suas japonas,

enrolando-as naquela figura ensopada.

– Que tal se nós o levássemos para aquela fazenda lá na beira da estrada? – sugeriu Chet.
Os outros concordaram. Enquanto Frank e Chet remavam na direção da fazenda, os

rapazes discutiam o mistério. Quem seria a vítima da explosão e por que os dois homens do
outro barco tentaram matá-lo?

O homem que salvaram jazia deitado de frente, no fundo da canoa. Era um homem alto,

magro, de cabelos escuros e de semblante e feições duros e bem definidos. Usava roupas baratas
e velhas. Biff procurou uma identificação em seus bolsos, mas não encontrou nenhuma.

– Acho que não é daqui. Nunca o vi nas redondezas – disse Joe.
Os outros rapazes disseram a mesma coisa. Ninguém o conhecia.
O barco já estava perto da praia. Joe e Biff pularam fora e arrastaram o casco,

parcialmente, para a areia. Então os quatro rapazes carregaram o homem desmaiado, pela praia
rochosa, até a fazenda.

Quando se aproximavam, uma rechonchuda mulher veio correndo para encontrá-los. Do

pomar, nas proximidades, surgiu um homem encasacado.

– Meu Deus! O que aconteceu? – perguntou a mulher, aproximando-se rapidamente.
– Acabamos de tirar este homem do mar. Vimos a sua casa e... – explicou Frank, nervoso.
– Levem-no para dentro – disse o fazendeiro. – Vamos logo para dentro.
A mulher adiantou-se, mantendo a porta aberta para que pudessem passar. Os rapazes

levaram o homem para dentro, colocando-o numa cama arrumada no quarto existente no
pavimento térreo. A mulher do fazendeiro correu para a cozinha, para preparar uma bebida
quente.

– Façam massagens nas suas juntas, principalmente nos punhos, e tirem dele essas roupas

molhadas – disse o fazendeiro. – Isso ajudará a reativar a circulação. Vou buscar um pijama seco.

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– Não é melhor chamar um médico? – perguntou Frank.
– Não será necessário. Tudo sairá bem – disse o fazendeiro.
Logo a vítima estava coberta e aquecida. Frank e Joe continuaram massageando seus

punhos.

Afinal, o desconhecido respirou profundamente. Moveu os lábios, mas não disse

nenhuma palavra. Então abriu os olhos e olhou fixamente para os que estavam à sua volta, como
se não estivesse vendo nada.

– Onde estou? – perguntou baixinho.
– Está salvo – garantiu-lhe Frank. – Está entre amigos.
– Vocês me recolheram?
– Sim.
– Eu estive... muito perto... da morte? – perguntou.
– Você quase se afogou, mas agora está tudo em ordem.
Quando tiver vontade de falar, pode contar-nos toda a história – disse Frank. – Enquanto

isso, vamos chamar a polícia ou a guarda costeira, para fazer acusação contra aqueles homens que
tentaram assassiná-lo.

O homem estremeceu e olhou, assustado, para a janela.
– Não. Não. Não façam isso.
Os rapazes ficaram chocados.
– Por que não? – quis saber Joe.
O homem permaneceu silencioso e pensativo por algum tempo, depois disse:
– Obrigado, mas prefiro deixar as coisas como elas estão. Tomarei providências assim

que tiver forças novamente. – Voltando-se para o fazendeiro, acrescentou: – Pode permitir que
eu fique aqui, por esta noite? Eu pagarei por isso, é claro.

O homem estendeu a mão e disse:
– Meu nome é Kane e você é bem-vindo para permanecer aqui enquanto precisar.

Ninguém jamais poderá dizer que eu expulsei um homem necessitado. E o seu nome, como é?

O desconhecido hesitou um instante, mas logo disse:
– Jones. Bill Jones.
Era um nome tão evidentemente falso que os Hardys se entreolharam com ares de

suspeita. Kane não pareceu compreender que seu hóspede estava tentando esconder sua
identidade.

A Senhora Kane apareceu com uma sopa quente e pão torrado. Sugeriu que o marido e

os rapazes deixassem o homem descansar um pouco. Quando se reuniu a eles, na sala de visitas,
convidou os rapazes para comerem alguma coisa. Chet aceitou rapidamente, falando em nome de
todos.

A “alguma coisa” consistia de sanduíches de presunto preparado em casa, queijo, copos

de leite fresco e torta de limão, coberta com merengue. Chet se deliciou.

– Senhora Kane, a senhora deveria abrir um restaurante. Eu seria um freqüentador

assíduo. A senhora faz torta melhor do que qualquer pessoa que eu conheço.

Frank, Joe e Biff riram, pois, afinal, não era a primeira vez que ouviam aquele inveterado

esfomeado dizer a mesma coisa. Mas, no caso específico, tinham que concordar com ele, e
confessaram-no à Senhora Kane.

Ela sorriu e disse:
– É o mínimo que posso fazer por vocês, rapazes, que acabaram de salvar a vida de um

homem.

Seus jovens hóspedes não disseram nenhuma palavra a respeito da aventura que tinham

vivido pouco antes na Vila Pollitt, mas Frank perguntou casualmente aos Kanes se tinham
conhecido o falecido proprietário e se alguém estava vivendo na casa, na oportunidade.

– Lógico que conheci Felix Pollitt – respondeu o fazendeiro. – Homem de pouca fala,

aquele miserável, mas certa vez eu o ouvi dizer alguma coisa a respeito de um mau sobrinho.

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Pollitt disse que se tratava de seu único parente vivo e acreditava que teria de deixar a
propriedade ao sobrinho.

– Mas quem desejaria um lugar daqueles? – perguntou a Senhora Kane. – Está caindo aos

pedaços, e sua reconstrução custaria uma fábula.

Joe concordou, acrescentando:
– Parece uma casa mal-assombrada.
– Curioso você dizer isso. – A Senhora Kane encarou Joe: – Outro dia, uma família parou

aqui. Desejava comprar ovos. Uma das meninas menores disse que tinham tido um grande susto.
Pararam perto da Vila Pollitt para um pequeno piquenique, mas foram dissuadidos de suas
intenções por ruídos, choros, lamentações e gargalhadas assustadoras, que partiam da casa.

– A imaginação da criança, logicamente, desempenhou importante papel nesse caso –

disse o fazendeiro.

– Não tenho tanta certeza assim – disse a Senhora Kane. – É provável que moleques

tenham ido lá para assustar os outros.

Depois que Frank, Joe e seus amigos partiram da fazenda, discutiram os estranhos

barulhos que ouviram na Vila Pollitt sob esse novo ângulo.

Biff ficou furioso:
– Se forem fantasmas de Bayport, certamente terão agora muito motivo para gozação.
– E como têm – respondeu Chet. – Não quero nem saber deles na próxima segunda-

feira.

Frank e Joe não se convenceram. Depois que deixaram seus companheiros nas

residências dos Mortons e dos Hoopers, discutiram as estranhas e barulhentas aventuras do dia, a
caminho de casa.

– Sempre soube que esse negócio de fantasmas não é só uma brincadeira – declarou

Frank.

– Concordo – disse o irmão. – Acabo de ter uma idéia, Frank. Talvez não tivesse

ninguém na casa. Alguém pode ter ido lá e instalado um gravador com controle remoto. Que tal
voltarmos em outra oportunidade e darmos uma boa olhada na casa toda?

– Estou de pleno acordo.
A essa altura os rapazes já estavam avançando pela longa estrada que leva até a residência

dos Hardys, uma grande, espaçosa e bonita casa de madeira, de três andares, localizada na esquina
das ruas High e Elm. A grande garagem de dois andares, localizada no fundo do quintal, no
passado fora um celeiro.

Frank e Joe estacionaram suas motocicletas, desataram a caixa do telescópio e levaram-na

para a varanda. Quando entraram na cozinha encontraram a mãe, uma mulher bonita, de feições
delicadas e grandes olhos azuis. Estava preparando o jantar.

– Alô, meninos – disse alegremente. – Passaram um bom dia? Encontraram algum

contrabandista?

Os dois beijaram-na e Frank disse:
– Temos um montão de coisas para contar à senhora e ao papai.
– Ele está no estúdio, lá em cima. Subo já, e poderemos conversar bastante, enquanto

assa o frango e as batatas tostam.

Os três subiram depressa, dirigindo-se ao aposento em que o Senhor Hardy estava

ocupado, pesquisando entre as fichas de um grande arquivo metálico em que guardava
importantes informações. O detetive suspendeu o trabalho e ouviu atentamente, enquanto Frank
e Joe contavam, com pormenores, as suas aventuras do dia.

– Claro, nós caímos direitinho naquela do grito pedindo ajuda – explicou Joe. – Sinto

muito quanto às oculares do telescópio que nos roubaram.

– Espero não ser prejudicado por ter sido apanhado pelo deslizamento de terra – disse

Frank. – Certamente o senhor me despediria de sua equipe de detetives.

– Nada disso – replicou o pai. – Mas agora vamos analisar o que vocês viram pelo

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telescópio. Você disse que focalizou um homem que descia pela escada de um navio, embarcando
numa pequena lancha. Poderia ser esse o homem que se diz chamar Jones?

– Não conseguimos ver bem – disse Joe. – Mas acho que poderia ser.
Frank estalou os dedos.
– Sim, e também poderia ser um contrabandista.
– Mas quem foi que jogou a granada em sua lancha? – perguntou Joe. – Ninguém da sua

própria quadrilha, é lógico. E aqueles caras que estavam na outra lancha certamente não eram
homens da guarda costeira, nem mesmo disfarçados. Eles não usariam granadas.

– Joe está certo – disse o Senhor Hardy. – Mas, mesmo assim, Jones poderia ser um

contrabandista.

– O senhor quer dizer que ele poderia ter feito alguma coisa que irritou seu chefe, e este

mandou aqueles dois homens para matá-lo? – perguntou Joe.

O detetive concordou.
– Se essa teoria for certa e nós conseguirmos convencer Jones a falar antes de ele se

reconciliar com a quadrilha ou antes de decidir vingar-se, poderemos convertê-lo em testemunha
de acusação.

Os rapazes ficaram entusiasmados. Ambos levantaram-se de suas cadeiras agitadamente e

Joe exclamou ansioso:

– Vamos falar com ele, já. Ele vai embora amanhã cedo.

5

Peter Pretzel


– Um momento – disse a Senhora Hardy. – Vamos primeiro jantar.
– Podemos comer quando voltarmos de nossa conversa com Jones – respondeu Joe. –

Mamãe, ele pode decidir ir embora a qualquer momento.

A Senhora Hardy falou então com o marido:
– Fenton, o que você diz?
O detetive sorriu compreensivamente para a mulher e então disse a Frank e Joe:
– Vocês não disseram que Jones está muito abatido?
– Sim, pai – respondeu Frank.
– Duvido, então, que ele tente deixar a casa dos Kanes antes da hora que ele mesmo

marcou: amanhã cedo. Tenho certeza que podemos calmamente tomar aquela sopa gostosa que
só a mamãe sabe fazer, e ainda assim teremos tempo suficiente.

Joe concordou e, para deixar a mãe mais satisfeita, disse sorrindo:
– Acho que posso arquivar o segredo mais um pouco. Pra dizer a verdade, com o vazio

que estou sentindo no estômago, posso tomar até dois pratos de sopa.

A Senhora Hardy deu um puxão de orelha no filho – de brincadeira, como era seu

costume há muitos anos. Ele sorriu afetuosamente e perguntou se podia ajudar a terminar a janta.

– Pode por água nos copos e preparar leite batido para você e Frank – respondeu a

Senhora Hardy, enquanto descia a escada ao lado de Joe.

Durante o jantar, como acontecia freqüentemente na casa dos Hardys, a conversa girou

em torno daquele mistério. Frank perguntou ao pai se tinha feito algum progresso em suas
investigações sobre os contrabandistas.

– Muito pouco – respondeu o detetive. – Snattman é um indivíduo muito esperto. Faz

desaparecer as pistas com maestria. Mas já descobri alguma coisa. A administradora que cuida dos
assuntos do velho Pollitt não conseguiu localizar o sobrinho para quem a propriedade foi
deixada.

– O Senhor Kane disse que ouviu Pollitt insinuar que o sobrinho não prestava –

observou Frank.

– É exatamente esse o ponto – interrompeu o Senhor Hardy. – Os advogados da firma

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foram informados pela polícia que se trata de um vagabundo sobre o qual pesam várias acusações
de roubos e pequenos crimes.

Frank assobiou.
– Isso deixa o sobrinho em má situação, não é? Se ele aparecer para reclamar a herança,

será apanhado pela polícia e acusado como criminoso.

– Exatamente – concordou o pai.
– O que acontecerá com a casa? – quis saber Joe.
Seu pai disse que acreditava na possibilidade de os executores do testamento deixarem a

casa vaga como estava, mas também existia a possibilidade de ela ser alugada.

– Poderiam alugá-la sem contrato, cobrando aluguéis adiantadamente, proporcionando

assim uma renda mais à herança.

– O que não ajudaria muito o sobrinho, se ele estivesse na cadeia – observou seriamente a

Senhora Hardy.

– Tudo dependeria da duração da pena que lhe fosse aplicada – contestou o marido. – Ele

pode não ser um criminoso perigoso. É possível que se tenha metido com más companhias e
convertido em cúmplice não intencional de pequenos roubos ou assaltos.

– Nesse caso – disse Frank –, ele pode ter chegado à conclusão de que não passará muito

tempo na cadeia. Poderá mais tarde reclamar a propriedade, aceitar o castigo, e, depois de
cumprida a pena, poderá levar uma vida tranqüila e agradável na antiga residência do tio.

– É isso o que eu espero que aconteça – acedeu o pai. – O que infelizmente costuma

acontecer é que um jovem se junte a um bando de criminosos e marginais, tornando se cúmplice
e objeto de chantagem para o resto da vida, mesmo que tente agir direito. – Sorrindo,
acrescentou: – A melhor maneira de evitar essa situação é não se envolver nela.

Nesse momento o telefone tocou. Frank atendeu e chamou:
– Pai, é com o senhor. – E voltou para a mesa do jantar.
O Senhor Hardy passou cerca de quinze minutos conversando com a outra pessoa.

Enquanto isso, os rapazes e a Senhora Hardy acabaram de tomar a sopa e jantaram. Depois,
enquanto comiam a sobremesa, Hardy contou à família algumas das informações que acabara de
receber por telefone.

– Mais drogas desapareceram – disse nervoso. – Estou absolutamente convencido de que

Snattman está metido nisso.

– As drogas foram roubadas aqui por perto? – indagou Frank.
– Ainda não sabemos – foi a resposta do pai. – Uma empresa farmacêutica do centro-

oeste estava esperando um embarque de drogas raras da índia. Quando a encomenda chegou,
havia só a metade. Ficou claro que alguém abriu a embalagem, removeu parte do conteúdo e
refez os pacotes com tamanha perfeição que nem os funcionários da alfândega, nem os do
correio desconfiaram que a encomenda fora violada.

– Como é que as drogas foram enviadas para cá? – quis saber Joe.
– Por via marítima.
– Qual o porto de destino?
– Nova York. Mas o navio parou em Bayport.
– Há quanto tempo foi isso?
– Aproximadamente dois meses. Aparentemente a empresa farmacêutica só precisou usar

as drogas agora, quando abriu os pacotes e descobriu a fraude.

– É possível, então, que as drogas tenham sido removidas da embalagem nas próprias

dependências da empresa e o caso não seja de contrabando – observou, seriamente, Joe.

– Pode ser – interrompeu o Senhor Hardy. – Cada vez que se tem conhecimento de

novos desaparecimentos de drogas, surgem novos e diferentes ângulos da questão. Embora eu
esteja convencido de que Snattman está por trás disso tudo, o nó do problema é descobrir a
maneira de prová-lo.

O Senhor Hardy explicou, então, que a informação que acabara de receber a respeito de

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Snattman, segundo a qual ele estaria na região de Bayport, era merecedora de todo crédito.

– Vou contar a vocês um pequeno segredo. Tenho um excelente amigo nas docas. Ele

recolhe uma infinidade de diferentes informações para mim. Seu nome é Peter Pretzel.

– Peter Pretzel?! – Frank e Joe gritaram ao mesmo tempo. – Que nome!
– Esse é seu apelido nas docas – disse o Senhor Hardy. E sorriu. – Nos últimos anos

tenho comprado tantos dos palpites que ele vende que acho que sou seu melhor freguês.

Nessa altura, o pai dos rapazes já tinha acabado de comer sua sobremesa e sugeriu que

fossem imediatamente para a fazenda dos Kanes. Tirou o carro da garagem e os rapazes entraram
logo. Rapidamente cobriram os nove quilômetros de estrada até o local onde Jones ia passar a
noite.

– Vejam, a casa está escura – disse Frank, intrigado.
– Talvez todos estejam dormindo – observou Joe.
– A esta hora? – protestou Frank.
O Senhor Hardy avançou até as proximidades da casa. Não havia sinal da presença de

ninguém. Frank sugeriu a possibilidade de o casal Kane ter saído para um passeio ou algum
compromisso social.

– O que me surpreende é o fato de eles terem deixado Jones sozinho, em seu estado –

acrescentou.

– Estou certo de que não o fariam – disse o Senhor Hardy. – Sinto muito, mas, se

estiverem dormindo, acho que teremos de acordá-los.

Desceu do carro junto à porta da cozinha. Frank saiu do carro rapidamente, seguido de

Joe. Bateu à porta, mas ninguém atendeu.

– Vamos tentar a porta da frente – sugeriu Joe. – Talvez tenha uma campainha ou

qualquer coisa do gênero.

Os rapazes caminharam pelo lado, dirigindo-se à parte da casa que ficava de frente para o

mar. Embora batessem com bastante força, nem assim tiveram resposta.

– Os Kanes devem ter saído – disse Joe.
– E Jones, onde está? Deve ter ficado em casa.
– Provavelmente está muito fraco para vir até a porta – acrescentou Frank. – Mas ele

poderia, pelo menos, responder. Não consigo entender.

Os rapazes voltaram à porta da cozinha e contaram ao pai o que acontecera. Então,

depois que Joe bateu novamente e com insistência, sem obter resposta, um sentimento tomou
conta dos dois irmãos.

– Imagino que Jones, sentindo-se melhor, decidiu ir embora. Fomos iludidos – disse Joe.
– Experimente a maçaneta. É possível que a porta não esteja trancada – ordenou o

Senhor Hardy. Pelo tom de sua voz, os rapazes compreenderam que ele desconfiava da mesma
coisa.

Frank girou a maçaneta e a porta se escancarou. O Senhor Hardy procurou um

interruptor de luz, tateando a parede.

– Vamos entrar – murmurou. – Se Jones estiver aí, falaremos com ele.
O detetive localizou o interruptor e acendeu a luz. Com a claridade, surgiu diante deles

uma cena que os assustou. Na sua visita anterior, os rapazes ficaram impressionados com a
limpeza e a ordem existentes naquela dependência da casa. O lugar parecia, agora, varrido por um
furacão.

Havia pratos e panelas espalhados por todo o chão. A mesa estava revirada. Num canto

havia uma cadeira de pernas para cima. Cacos de pires e xícaras espalhavam-se por toda a
cozinha.

– Que aconteceu? – exclamou Frank aturdido.
– Houve uma briga, ou algo parecido – sugeriu o Senhor Hardy. – Vejamos como está o

resto da casa.

Os rapazes abriram a porta que dava para a sala de visitas, ao lado. Frank encontrou logo

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o interruptor e acendeu as luzes. Os Hardys ficaram, então, chocados com uma cena horrível.

O fazendeiro e sua mulher, bocas e mãos atadas, estavam amarrados às cadeiras, bem no

meio da sala.

Rapidamente, Frank, Joe e o pai correram para junto dos Kanes. Eles estavam amarrados

com fortes cordas e suas bocas estavam tão bem atadas que nenhum dos dois podia nem mesmo
emitir um som. Num minuto os Hardys soltaram as cordas e retiraram as ataduras.

– Graças a Deus – disse a Senhora Kane com ar de alívio e esticando os braços.
Seu marido, furiosamente irritado, levantou-se de um golpe e atirou longe as cordas.
– Aqueles canalhas – exclamou furioso.
Frank apresentou apressadamente o pai e perguntou:
– O que houve?
Por algum tempo o Senhor e a Senhora Kane estavam demasiado emocionados para

poderem relatar o que acontecera. Afinal, o fazendeiro aproximou-se da janela e apontou para a
estrada da praia.

– Eles fugiram naquela direção – disse. – Sigam-me.
– Eles quem?
– Aqueles cafajestes que nos amarraram. Eles levaram Jones.

6

Mensagem Estranha


– Quando se foram os seqüestradores? – Frank perguntou rapidamente aos Kanes.
– Há mais ou menos uns dez minutos – respondeu o fazendeiro. – É possível que ainda

os encontrem, se se apressarem.

– Venha, papai – gritou Frank. – Vamos atrás deles.
Não foi preciso chamar duas vezes. Hardy e seus dois filhos saíram imediatamente da

casa, pulando para o interior do carro.

– Coisa chata – disse Joe ao pai quando viravam para a estrada da praia. – Invadir uma

casa, amarrar seus proprietários e seqüestrar um sujeito.

– É – concordou o pai. – Parece que seu amigo Jones está envolvido em alguma espécie

de encrenca. Aqueles homens deviam estar desesperados para se arriscarem a entrar numa casa
ocupada.

O pai dos rapazes podia seguir as marcas deixadas pelos pneus de um outro carro na

estrada poeirenta. Logo, no entanto, surgiram marcas de um segundo carro que entrou na estrada
da praia, e as marcas ficaram confusas.

Os Hardys passaram o caminho que levava à Vila Pollitt e continuaram até o alto de uma

colina. Daquele ponto podiam observar cuidadosamente a estrada, que serpenteava por muitos
quilômetros ao longo do litoral. Não havia nem sinal de carro.

– Acho que não conseguiremos – disse Frank desapontado, enquanto o pai encostava o

automóvel.

– Eles saíram com uma boa vantagem de tempo – observou Joe. – Se pelo menos

tivéssemos chegado antes à fazenda. Bom, acho que podemos voltar.

O Senhor Hardy concordou, fez a volta com o carro e dirigiu-se novamente à fazenda

dos Kanes. A caminho, discutiram o misterioso seqüestro, especulando quanto à identidade dos
responsáveis.

– Aposto como aqueles homens da lancha viram quando salvamos Jones, ou alguém lhes

contou, não sei bem por que nem como, que o homem tinha sido levado para a casa dos Kanes –
insinuou Joe.

– Se forem eles os seqüestradores, não quero nem pensar no que pode estar acontecendo

a Jones, neste instante – disse Frank, muito sério. – Eles tentaram matá-lo uma vez.

– Talvez eles apenas o mantenham preso – disse o Senhor Hardy, muito pensativo. –

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Provavelmente tinham medo que ele dissesse tudo que sabe e, por isso, não podiam deixá-lo na
fazenda.

Quando chegaram de volta à casa dos Kanes, encontraram o fazendeiro e sua mulher já

quase recuperados do choque daquela horrível experiência. A Senhora Kane estava ocupada em
restabelecer a ordem na cozinha.

– Não foi possível encontrá-los – informou Frank com tristeza.
– Aqueles vagabundos tinham um carro poderosíssimo e não perderam nem um pouco

de tempo. Consegui acompanhar os movimentos deles, quando desciam para a estrada da praia.
Nossa janela estava aberta – revelou o fazendeiro, bufando de raiva ao lembrar.

– Por favor, Senhor Kane, diga-nos exatamente o que aconteceu – pediu Joe.
– Eu e Mabel estávamos aqui na cozinha – começou o homem. – Mabel estava lavando

os pratos do jantar quando aquele camarada veio para a porta. Era um homem alto e magro, de
rosto fino.

– Perguntou-nos se estávamos cuidando do homem que quase se afogara horas antes –

interrompeu a mulher do fazendeiro. – Quando dissemos que sim, o sujeito nos disse que Jones
era seu irmão e que viera para levá-lo.

– Suspeitei de alguma coisa – continuou o Senhor Kane. – Ele não se parecia nem um

pouco com Jones. Perguntei-lhe onde morava.

– Então – interrompeu a mulher –, ele entrou na casa, seguido por outro camarada.

Agarraram meu marido. Henry brigou muito bem, mas foi dominado porque lutava contra dois.
Quando tentei ajudar, um terceiro homem apareceu, nem sei de onde, e me agarrou.

– Eles nos arrastaram para a sala de visitas, amarraram-nos nas cadeiras e colocaram as

bandagens em nossas bocas – acrescentou o fazendeiro. – Então, ouvimos barulho no quarto em
que estava Jones. Logo depois eles o levaram para o carro, onde uma quarta personagem estava à
direção.

– Jones lutou enquanto o levavam? – perguntou Frank.
– Tentou. Gritou por ajuda, mas, é claro, eu não podia fazer nada e ele, aparentemente,

estava muito fraco para qualquer coisa.

– Isso tudo é muito curioso – observou o Senhor Hardy.
– Talvez Jones esteja envolvido nas operações de contrabando que se desenvolvem aqui.

Mas estou curioso para saber quem seriam os quatro homens.

A Senhora Kane sacudiu a cabeça.
– Só sei é que estamos muito contentes porque o senhor e os seus filhos decidiram vir

aqui nesta noite. É impossível prever quanto tempo ficaríamos amarrados ali até que alguém nos
descobrisse.

– Também nos alegramos de ter vindo – disse Frank.
– Vocês disseram que seu nome é Hardy? – indagou o fazendeiro. – Alguma relação com

Fenton Hardy?

– Eu mesmo – sorriu o detetive.
– Satisfação em conhecê-lo – exclamou Kane emocionado, estendendo a mão. – Se há

alguém capaz de desvendar essa história, é o senhor.

– Vamos tentar – prometeu o pai dos rapazes.
Os Hardys desejaram boa noite ao fazendeiro e sua mulher. Prometeram voltar à fazenda

dos Kanes assim que tivessem qualquer nova informação, e o Senhor Kane, por sua vez,
prometeu comunicar-lhes qualquer pista que descobrissem, de Jones ou de seus seqüestradores.

Quando chegaram à sua casa, os rapazes acompanharam o pai até o estúdio.
– O que acha disso tudo, pai? – perguntou Joe.
O Senhor Hardy sentou-se ao lado de sua mesa de trabalho. Fechou os olhos, inclinando-

se para trás em sua cadeira por alguns momentos, em silêncio.

– Tenho apenas uma opinião – disse, finalmente. – Os seqüestradores, provavelmente,

são amigos de Snattman. Isso significaria que vocês descobriram o fato de existir toda uma

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quadrilha de contrabandistas nas redondezas.

Os irmãos sentiram-se importantes pelo progresso.
– O que faremos a partir de agora, pai? – perguntou Joe.
– Quero avaliar este caso sob todos os ângulos – respondeu o pai. – Vou pensar a

respeito e depois volto a falar com vocês. – Com essa resposta os rapazes tiveram de se sentir
satisfeitos pelo resto do fim de semana.

Quando os rapazes desceram na manhã de segunda-feira, a Senhora Hardy estava

preparando a mesa para o café.

Em resposta às perguntas dos rapazes, disse:
– Seu pai saiu de carro bem cedo, hoje de manhã. Não disse quando voltará. Mas, como

ele não levou nenhuma mala, acredito que voltará hoje mesmo. – A Senhora Hardy estava
acostumada aos vaivens do marido nas horas mais estranhas em conseqüência de sua profissão, e
jamais fazia perguntas.

Frank e Joe ficaram desapontados. Eles esperavam ansiosos para reiniciar a discussão do

caso com o pai.

– Imagino que estejamos novamente por nossa conta para tentar descobrir alguma coisa a

respeito de contrabando – observou Frank, com endosso de Joe.

Mais tarde, quando chegaram ao Colégio Bayport, os rapazes viram Iola Morton nos

degraus da escada. Com a encantadora morena Iola Morton estava sua amiga Callie Shaw, uma
loira muito viva, de olhos castanhos, que era a favorita de Frank entre as centenas de colegas de
escola.

– Como estão os caçadores de fantasmas? – perguntou Callie com um sorriso

zombeteiro. – Iola me contou as aventuras de vocês no sábado.

– Chet estava mesmo assustado – Iola observou. – Acho que alguém fez uma boa

brincadeira com vocês.

– Quem quer que tenha sido, deveria nos devolver as oculares do telescópio e as

ferramentas das motocicletas – disse Joe enfaticamente.

Mas, na medida em que o dia ia passando, sem que ninguém mais os amolasse com

gozações, ambos se convenceram de que o “fantasma” fora uma realidade e não apenas uma
brincadeira de mau gosto.

– Não foi nenhuma brincadeira – disse Joe a Frank, quando voltaram para casa. – Se

tivesse sido uma brincadeira de alguém da escola, certamente todos estariam nos gozando a esta
altura.

– Acho que sim – concordou Frank. – Joe, você acha que os seqüestradores-

contrabandistas tiveram algo a ver com o que aconteceu na Vila Pollitt?

– Pode ser – exclamou Joe. – Aquela casa abandonada no penhasco poderia

perfeitamente ser um esconderijo ideal. Fazendo com que a casa pareça mal-assombrada, os
contrabandistas mantêm o local livre de curiosos.

– Gostaria que o Velho estivesse em casa, para que pudéssemos discutir com ele essa

possibilidade – observou Frank, pensativo.

Mas o Senhor Hardy não voltou para casa naquele dia. Freqüentemente ele permanecia

em viagem por períodos de tempo sempre variáveis e imprevisíveis, mas naquele dia, como não
levara nenhuma bagagem, os rapazes ficaram apreensivos e ansiosos.

– Não vamos deixar mamãe preocupada por causa disso – disse Frank. – Mas, se o Velho

não voltar até quarta-feira, acho que deveremos fazer algumas investigações. Talvez Peter Pretzel
possa nos ajudar.

Joe concordou. Quarta-feira começariam as férias de verão e eles poderiam dedicar o

tempo inteiro à procura do pai.

Na tarde de terça-feira a ausência do Velho Hardy assumiu aspectos estranhos. Frank e

Joe voltaram da escola e encontraram sua mãe sentada na sala de visitas, estudando
cuidadosamente uma mensagem que, aparentemente, acabara de receber.

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– Venham aqui, meninos – disse a Senhora Hardy, num tom apreensivo. – Vejam isto e

digam-me o que acham – disse, entregando a mensagem a Frank.

– O que é? – perguntou imediatamente. – Algum recado de papai?
– Parece que sim.
Os rapazes leram o bilhete. Fora escrito a máquina, num pedaço de papel rasgado, e a

assinatura parecia a de Fenton Hardy. A mensagem dizia:

“Não voltarei para casa por vários dias. Não se preocupem. Fenton”.
Só isso. Nada havia que identificasse onde se encontrava o detetive. Nada que indicasse

quando o bilhete fora escrito.

– Quando recebeu isto, mãe? – perguntou Frank.
– Veio pelo correio da tarde. Estava endereçado a mim, e no envelope havia um carimbo

de Bayport.

– Por que está preocupada? – indagou Joe. – Pelo menos tivemos notícias de papai.
– Mas não tenho certeza de que ele tenha enviado a nota.
– Como assim? O que quer dizer?
– Seu pai e eu temos um acordo. Sempre que ele escreve para mim, coloca um sinal

secreto embaixo da assinatura. Fenton sempre teve medo de que alguém falsificasse sua
assinatura em cartas ou mensagens, logrando, dessa forma, documentos e informações em seu
nome.

Frank apanhou novamente o papel.
– Aqui não há nenhuma marca. Apenas a assinatura de papai.
– É possível que seja sua assinatura. Mas, se não for, certamente é uma excelente

falsificação – disse a Senhora Hardy, muito preocupada.

– Se papai não escreveu este bilhete – perguntou Joe –, então, quem foi?
– Seu pai tem muitos inimigos... criminosos que ele ajudou a pôr na cadeia. Se há alguma

implicação séria, o bilhete foi enviado para nos distrair a atenção e atrasar qualquer investigação a
respeito.

– Implicação séria? – exclamou Joe, alarmado. – Então a senhora acredita que tenha

acontecido alguma coisa com papai?

7

A Pista Escondida


Joe passou o braço pelo ombro da mãe.
– Frank e eu começaremos a procurar papai amanhã, logo cedo – disse o rapaz, para

consolá-la.

Na manhã seguinte, enquanto se vestiam, Joe perguntou:
– Por onde começaremos, Frank?
– Lá embaixo, nas docas. Vamos tentar encontrar Peter Pretzel e procurar saber se papai

conversou com ele na segunda-feira. É possível que ele nos dê alguma indicação.

– Boa idéia.
Os rapazes chegaram bastante cedo às docas de Bayport. Mas já havia uma grande

movimentação. Um petroleiro estava descarregando barris de petróleo e os estivadores rolavam-
nos pelo porto, levando-os para caminhões estacionados à espera da carga.

Havia um navio de passageiros atracado logo adiante. Carregadores percorriam o local

apressadamente, levando malas e pacotes até as proximidades de uma longa fila de táxis.

Muitos marinheiros andavam pelas ruas repletas de gente. Alguns entravam em

restaurantes, outros nas casas de divertimentos.

– Gostaria de saber onde encontrar Peter Pretzel – disse Frank. Ele e Joe já tinham

caminhado quatro quarteirões, sem ver qualquer sinal do homem.

– Talvez não esteja usando o uniforme – Joe sugeriu. – Sabe, aquele que o velho

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descreveu?

– Vamos voltar e caminhar na outra direção, para lá do petroleiro. – disse Frank.
Os rapazes mudaram de direção e foram atravessando as docas atravancadas de gente e

de mercadorias, andando seis quarteirões.

De repente, Joe avisou:
– Aí vem vindo nosso homem.
Avançando na direção dos rapazes, exibindo a mercadoria que tinha para vender, vinha

um indivíduo de aparência cômica. Usava um terno de algodão branco, com um paletó muito
folgado. Ao redor do pescoço um lenço vermelho muito vivo, com âncoras bordadas.

As calças do vendedor ambulante estavam presas à altura da canela com grampos de

bicicleta, para impedir que arrastassem no chão. Em conseqüência, acumulavam-se as dobras e o
resultado era um grande amontoado de pano em redor do corpo.

O homem usava um chapéu branco, enfiado até as orelhas. Na fita marrom, larga, seu

nome gravado: Peter Pretzel.

– Menino, o careta é o fim – murmurou Frank.
A aparência de Peter era bizarra, mas sua expressão facial era honesta.
Parou de gritar o seu pregão: “Rosquinhas. Rosquinhas quentes. As melhores do

mundo”. Sorriu para os Hardys e colocou no chão o aquecedor de metal que carregava. Da parte
superior deste saíam três enormes espetos, nos quais estavam colocadas as rosquinhas fritas.

– Vocês gostam quentes ou preferem frias? – perguntou.
Joe sorriu e disse:
– Se forem gostosas, posso comer de qualquer jeito. – E falou baixinho: – Somos filhos

do Senhor Hardy. Queremos falar com você.

Naquele exato momento passava um grupo de marinheiros.
Peter nada disse enquanto eles estavam muito perto para ouvir. Então, falou:
– Venham comigo até aquele armazém.
Os irmãos o acompanharam pela rua e com ele entraram, por uma porta entreaberta, num

enorme barracão que no momento estava praticamente vazio.

– Vocês têm um recado de seu pai para mim? – perguntou o vendedor.
Rapidamente, Frank explicou o que estava acontecendo e disse:
– Achamos que talvez você possa ter noticias de papai.
– Sim, eu tive notícias dele – respondeu Peter Pretzel. – Mas não me preocupei, porque

sempre pensei que os detetives de vez em quando desaparecem deliberadamente, para confundir
as pessoas.

– Às vezes isso acontece, sim – respondeu Joe. – Mas parece diferente agora. Papai nos

disse que vem aqui com freqüência para obter informações com você (porque você sempre tem
excelentes palpites), e por isso achamos que talvez pudesse ajudar-nos agora.

– Sim, eu estive com ele.
– Quando?
– Na manhã de segunda-feira.
– Foi quando ele desapareceu.
– Humm – fez o homenzinho, pegando uma rosquinha de um dos espetos. Ofereceu aos

rapazes: – Sirvam-se.

Frank e Joe pegaram cada um uma rosquinha. Assim que eles deram as primeiras

mordidas, Peter continuou:

– Agora quem está preocupado sou eu. Seu pai é um grande sujeito e eu não gostaria que

lhe acontecesse nada. Vou lhes indicar um lugar onde poderão procurá-lo.

Peter Pretzel disse que tinha recebido uma série de informações que indicavam que um

marinheiro indiano de nome Ali Singh poderia estar envolvido num contrabando. O ambulante
não sabia informar em que navio estava o marinheiro, mas sabia que o homem descera a terra
para uma reunião secreta de uma quadrilha.

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– Essa reunião – acrescentou – estaria sendo realizada em algum ponto do litoral, nas

proximidades da estrada da praia. Provavelmente numa fazenda abandonada em Hillcrest ou lá
perto. Não me lembro se era estrada, rua ou sei lá o que.

– A reunião seria na última segunda-feira? – perguntou Frank ansioso.
– Não, isso foi há três semanas, mas quando contei a seu pai ele se mostrou muito

interessado e disse que provavelmente iria até lá espiar.

Joe interrompeu:
– Papai provavelmente pensou que o resto da quadrilha poderia viver aqui. Talvez eles o

tenham capturado.

– Espero que não – disse Peter preocupado. – Mas é melhor que vocês dêem um pulo até

lá, para terem certeza.

Os rapazes agradeceram a Peter pela informação e foram imediatamente para casa. A

Senhora Hardy não estava e, por isso, não havia a possibilidade de lhe contar o que estava
acontecendo.

– Deixaremos um recado – decidiu Frank, que rapidamente escreveu um pequeno bilhete.
Esperançosos, os irmãos Hardy ligaram suas motos e saíram rapidamente à procura do

pai. Naquela altura, já estavam bastante familiarizados com a estrada da praia, mas não se
lembravam de ter visto nenhuma placa com o nome “Hillcrest”.

– Imagine que não exista nenhuma indicação – disse Joe. – Jamais encontraremos o lugar.
Frank segurou firme nas manoplas e disse:
– Se papai encontrou o lugar, nós não desistiremos, enquanto não o encontrarmos.
As motos deixavam para trás, rapidamente, umas após outras, as estradas laterais. Quanto

mais distantes ficavam de Bayport, mais distantes entre si ficavam as estradas secundárias.

Logo se aproximaram da fazenda dos Kanes e sentiram desejo de parar para perguntar se

eles sabiam onde ficava Hillcrest. Então Joe viu, pouco adiante, quando um carro manobrou para
entrar na estrada da praia. Aparentemente, procedia de trás de uma grande moita de arbustos e
árvores.

– Vamos, Frank. Vamos investigar aquilo ali.
Os rapazes aceleraram suas máquinas, esperando poder conversar com o motorista do

carro. Mas ele tomou a estrada na direção oposta, em alta velocidade. Quando Frank e Joe
chegaram ao ponto de onde aquele carro apareceu, viram que existia uma estrada de terra que
dificilmente alguém poderia perceber passando rapidamente pela estrada principal.

– Vamos dar uma espiada, pra ver se descobrimos para onde vai – disse Frank, que

desligou a moto, desceu e começou a caminhar pela velha e abandonada estrada, agora coberta de
capim. – Estamos com sorte, Joe. Estou vendo uma placa de madeira com a inscrição “Hillcrest
Road”.

Os rapazes esconderam as motos entre as árvores e arbustos e começaram a percorrer a

estrada, quase intransitável.

– Não há marca de pneus – observou Joe. – Acho que aquele sujeito que acaba de sair

daqui tinha deixado o carro na entrada.

Frank concordou com um gesto e sugeriu, em voz baixa, que se aproximassem daquela

casa vazia de fazenda em silêncio, pois algum elemento da quadrilha poderia estar lá.

– Na realidade, acho melhor não ficarmos nesta estrada, e continuarmos por entre as

árvores.

Joe disse que estava de acordo e, em silêncio, os Hardys escolheram seus caminhos entre

as árvores, protegidos pela vegetação mais baixa. Em cinco minutos chegaram a uma clareira
onde existia uma casa de fazenda semidestruída. Pela aparência, fora abandonada há muitos anos.

Os jovens permaneceram imóveis, observando cuidadosamente o edifício decadente. Não

havia o mínimo sinal de atividade, nem dentro, nem fora da casa. Depois de esperar vários
minutos, Frank decidiu que era tempo de dar uma boa olhada pelas redondezas, para se certificar
de que não havia mesmo ninguém. Apanhou uma pedra bem grande e lançou-a com força e

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precisão contra a porta da frente. O impacto foi violento e ruidoso. A pedra caiu secamente no
chão do alpendre empoeirado.

A iniciativa de Frank não provocou nenhum movimento na casa, e, finalmente, ele disse a

Joe:

– Acho que não tem ninguém lá. Vamos dar uma olhada.
– Vamos – respondeu Joe –, e, se papai estiver preso lá, poderemos salvá-lo.
Os rapazes avançaram pela clareira. Não havia fechadura na porta e eles entraram

imediatamente. Havia apenas quatro dependências térreas e todas estavam vazias. Um pequeno
sótão e uma adega à qual se chegava por uma escada sob um alçapão também estavam vazios.

– Não sei se devíamos ficar contentes ou tristes por não encontrar papai aqui – disse

Frank. – Pode ser que ele tenha conseguido escapar da quadrilha, se é que foi capturado, e esteja
escondido em alguma parte, sem possibilidade de nos enviar um recado qualquer.

– Ou pode ser que continue preso em algum outro lugar – acrescentou Joe. – Vamos ver

se encontramos por aqui alguma pista.

Os rapazes efetuaram uma revista sistemática do lugar. Encontraram apenas uma

indicação que talvez pudesse ajudar. Um pedaço rasgado de toalha no qual aparecia a palavra
“Polo”.

– Isto poderia ter vindo de um clube qualquer onde se pratica pólo – imaginou Frank.
– Ou talvez de um haras de cavalos para pólo – acrescentou Joe.
Intrigado, Frank colocou aquele trapo no bolso, e os irmãos começaram a descer o

caminho de volta para onde deixaram suas motos. Retiraram-nas de entre os arbustos e deram
partida.

– O que acha que devemos fazer agora? – perguntou Joe.
– Ver Collig, o chefe de polícia de Bayport – respondeu Frank. – Acho que devemos

mostrar a ele este pedaço de toalha. Talvez ele possa identificá-lo.

Meia hora depois, ambos estavam sentados no escritório do chefe de polícia. O alto e

irrequieto homem se interessava muito pelos irmãos Hardy e freqüentemente trabalhava junto de
Fenton Hardy em seus casos. Collig observou cuidadosamente aquele trapo e bateu forte no
tampo da mesa.

– Encontrei – exclamou satisfeito. – É o pedaço de uma toalha do “Marco Polo”.
– O que é isso?
– Um navio de passageiros que atraca em Bayport de vez em quando.
Joe e Frank deram um pulo. Seus pensamentos se concentraram imediatamente em Ali

Singh, contrabandistas, uma quadrilha reunida na casa abandonada de Hillcrest Road.

O telefone de Collig tocou. Os rapazes esperaram educadamente enquanto ele

conversava, esperando discutir com ele os fatos. Repentinamente, no entanto, ele desligou o
telefone, pôs-se de pé e declarou:

– Emergência. Tenho de sair imediatamente. – E saiu correndo pela porta afora.
Frank e Joe levantaram-se e, muito desapontados, deixaram a delegacia. Voltaram para

casa e contaram tudo à mãe, mas, ao vê-la tão perturbada, Frank disse, para confortá-la:

– Aquele recado que você recebeu com o nome de papai pode ter sido realmente escrito

por ele.

A Senhora Hardy sacudiu a cabeça negativamente.
– Fenton jamais se esqueceria de colocar o sinal. Eu sei disso.
Rapidamente todos em Bayport sabiam que o famoso Fenton Hardy tinha desaparecido.

Na manhã seguinte, bem cedo, um homem robusto, de ombros largos, apareceu na casa dos
Hardys e disse que tinha algo a lhes contar. A Senhora Hardy fê-lo entrar e ele ficou de pé no
vestíbulo, revirando nervosamente um boné. Quando Frank e Joe apareceram, o homem se
apresentou como Sam Bates.

– Sou motorista de caminhão – disse. – O motivo pelo qual vim até aqui é que ouvi dizer

que estão procurando o Senhor Hardy. Talvez eu possa ajudá-los.

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8

Um Boné no Cabide


– O senhor viu meu pai? – Frank perguntou ao motorista.
– Sim, eu o vi na segunda-feira – disse Sam vagarosamente –, mas não sei dizer onde está

agora.

– Entre, sente-se e comece a contar tudo o que sabe – disse Frank.
Os quatro foram para a sala de visitas, e o Senhor Bates se ajeitou como pôde numa

grande poltrona.

– Onde foi que o senhor viu meu marido? – perguntou a Senhora Hardy.
Sam Bates não estava com pressa.
– Sou motorista de caminhão, sabe? Em geral eu dirijo em Bayport, mas às vezes vou

também a outras cidades. Por isso aconteceu de eu estar por lá, naquela manhã.

– Lá, onde?
– Na estrada da praia. Estou seguro de que era segunda-feira, porque quando voltei para

casa, para o jantar, vi que minha mulher acabara de fazer a faxina da casa, e ela sempre faz isso na
segunda-feira.

– Foi quando papai partiu – exclamou Joe.
– Por favor, continue – interrompeu Frank, nervoso. – Onde foi que o senhor o viu?
O motorista explicou que seu patrão o mandara a uma cidade do litoral para entregar

alguns móveis.

– Eu estava a uma distância de pouco mais de quilômetro e meio da velha Vila Pollitt,

quando vi um homem caminhando ao lado da estrada. Fiz um aceno para ele, como
normalmente eu faço para as pessoas que vejo à beira das estradas. Foi quando vi que era o
Senhor Hardy.

– O senhor conhece meu pai? – Frank perguntou.
– Somente de fotografia. Mas estou seguro de que era ele.
– Papai saiu daqui num automóvel – observou Joe. – O senhor não viu um carro por

perto?

– Não, não vi.
– Que roupa usava esse homem? – indagou a Senhora Hardy.
– Vejamos se me lembro. Acho que calça marrom-escura e uma jaqueta preta e marrom.

Não usava chapéu, mas, se não me engano, tinha na mão um boné marrom.

A Senhora Hardy ficou branca.
– Sim, era meu marido. – Após uma pequena pausa, acrescentou: – Pode nos dizer

alguma coisa mais?

– Acho que não, dona – disse o motorista. – Eu estava com alguma pressa naquela

manhã, e por isso não reparei em mais nada. – Levantou-se para ir embora.

– Muito obrigado por ter vindo nos contar isso, Senhor Bates – disse a Senhora Hardy.
– Certo, o senhor nos deu uma boa indicação. Agora sabemos onde é preciso procurar

papai – disse Frank.

– Espero que ele apareça logo – observou o motorista. – Avisem-me se houver algo que

eu possa fazer.

Quando o homem saiu, Joe dirigiu-se a Frank, intrigado:
– Você acha que o Velho tinha escondido o carro e estava indo a pé para a Vila Pollitt? E

se for o caso, por que?

– Talvez ele tenha encontrado alguma pista na casa abandonada de Hillcrest Road que o

tenha levado à Vila Pollitt. Se deixou o carro em algum lugar, escondido, e porque desejava
investigar a casa sem ser visto – sugeriu Frank.

– Aconteceu alguma coisa – gritou Joe. – Frank, aposto que ele foi à Vila Pollitt e foi

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apanhado pelo falso fantasma. Vamos procurar papai imediatamente.

Mas a Senhora Hardy interrompeu-os. Sua expressão era firme.
– Não quero, meninos, que vocês vão sozinhos àquela casa. Talvez seja melhor informar

a polícia para que ela faça uma busca.

Os rapazes se entreolharam. Finalmente, vendo como ela parecia assustada, Frank disse:
– Mãe, é possível que papai apenas esteja lá, observando as atividades em alto-mar. Talvez

esteja tudo bem e ele simplesmente não possa afastar-se para lhe telefonar. O telefone daquela
casa deve estar desligado. Se eu e Joe formos até lá e o encontrarmos, poderemos voltar com
informações tranqüilizadoras.

A Senhora Hardy deu um sorriso de mofa.
– Você é muito convincente, Frank, quando coloca a coisa nesse pé. Está certo. Estou de

acordo, mas vocês não devem ir sós.

– E por que não, mãe? Nós já sabemos nos cuidar – disse Joe.
– Levem alguns dos rapazes com vocês. Sabe, há uma certa segurança nos números, na

quantidade – disse a mãe.

Os rapazes concordaram com o plano e começaram imediatamente a telefonar para os

colegas. Chet Morton e Biff Hooper concordaram imediatamente e sugeriram que se convidasse
Tony Prito e Phil Cohen, dois outros amigos dos Hardys na escola de Bayport. Phil tinha uma
moto. Ele e Tony disseram que estavam dispostos a ir.

Pouco depois do almoço o grupo se reuniu. Chet foi com Frank, Biff com Joe e Tony

com Phil. As três motocicletas saíram de Bayport, passaram pelo Solar da Torre e prosseguiram
pela estrada da praia.

Passaram a fazenda dos Kanes, Hillcrest Road e, finalmente, avistaram o grande penhasco

que se levantava da baía de Barmet e era coroado pela estranha e abandonada casa em que vivera
Felix Pollitt. Durante todo o tempo, procuraram atentamente pelo carro de Fenton Hardy, sem
descobrir nem sinal dele.

– Seu pai o escondeu bem – observou Chet.
– É possível que tenha sido roubado – disse-lhe Frank. Quando os rapazes se

aproximavam da Vila Pollitt, Phil disse a Tony: – Lugar mais solitário esse, não?

– Se é. É o tipo da casa preferida pelos fantasmas – respondeu o outro.
Quando estavam quase atingindo o caminho interno da propriedade, Frank, que liderava

o grupo, encostou e fez sinal para que os outros também parassem.

– Qual o problema? – perguntou Chet.
– É melhor avançar separadamente e sem fazer barulho. Se avançarmos um pouco mais e

o fantasma estiver lá, certamente ouvirá as motos. Acho melhor deixá-las aqui, sob as árvores, e
caminhar até lá.

Os rapazes esconderam suas máquinas numa moita de arbustos ao lado da estrada e,

então, os seis investigadores seguiram para a mansão.

– Vamos nos dividir, aqui – decidiu Frank. – Três seguem por um lado do caminho e os

outros três pelo outro lado. Mantenham-se o mais próximo possível da vegetação. Quando
chegarmos à casa, todos devem deitar-se por uns momentos, para observar as coisas. Quando eu
assobiar, todos podem sair do meio das plantas, dirigindo-se, então, para a casa.

– Boa idéia – disse Joe. – Biff, Tony e eu vamos pelo lado esquerdo do caminho.
– Está certo. Vamos.
Os rapazes penetraram nas sebes e na vegetação rasteira que havia de ambos os lados do

caminho, e em poucos minutos tinham desaparecido de vista. Ocasionalmente, apenas os ruídos
de folhas e galhos secos quebrados sugeriam sua presença. Os seis jovens avançaram
rapidamente, aprofundando-se na vegetação. Depois de dez minutos, Frank levantou a mão –
uma advertência a Chet e Phil. Acabara de avistar a casa através da densa vegetação.

Progrediram cautelosamente, até atingir o fim dos arbustos, por detrás da tela de folhas,

olharam para o velho edifício. Uma expressão de surpresa marcou o rosto de Frank.

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– Tem alguém morando aí – exclamou admirado.
De onde estavam os rapazes, foi quase impossível reconhecer o lugar. O mato que cobria

os canteiros de flores da última vez que estiveram na casa tinha sido completamente removido.
As folhas secas e gravetos que antes se espalhavam por toda parte tinham sido recolhidos e a
grama estava aparada.

Na própria casa ocorrera uma mudança parecida. As persianas quebradas tinham sido

consertadas e os vidros quebrados das janelas da biblioteca foram substituídos.

– O que será que aconteceu? – murmurou Chet.
– Vamos esperar um pouco mais – disse Frank surpreso.
Os rapazes permaneceram onde estavam, observando a casa. Pouco depois saiu da casa

uma mulher carregando uma cesta de roupas. Caminhou até onde havia um varal esticado entre
duas árvores e começou a pendurar a roupa para secar. Pouco depois apareceu um homem, que
atravessou o pátio até o depósito de lenha, onde encheu uma cesta com pequenos toros.

Os rapazes se entreolharam admiradíssimos. Esperavam encontrar o mesmo lugar sinistro

e deserto que tinham visitado anteriormente. Ao contrário, encontraram apenas uma cena de
tranqüilidade doméstica.

– Não há razão para continuarmos escondidos – murmurou Frank. – Vamos até lá.

Quero fazer algumas perguntas a essa gente. – Assobiou como estava combinado.

Os outros três rapazes saíram e o grupo inteiro caminhou junto e despreocupadamente

pelo caminho, até o pátio. O homem, no depósito de lenha, foi quem os viu primeiro e se
levantou rapidamente, olhando-os com expressão de amolação. A mulher, no varal, ouviu seus
passos e voltou-se para encará-los, com as mãos nos quadris. Seu rosto enrugado tinha uma
aparência desagradável.

– Que desejam? – perguntou o homem, saindo do telheiro.
Era baixo e magro. Tinha os cabelos encaracolados e curtos. Estava sem fazer a barba.

De compleição atarracada, tinha olhos estreitos debaixo de pesadas sobrancelhas negras.

Simultaneamente, outro homem saiu pela cozinha, permanecendo de pé na escadinha.

Era forte, ruivo e tinha um grande bigode.

– Ei, quem são vocês? – perguntou.
– Não sabíamos que tinha gente morando aqui – explicou Frank, dirigindo-se à porta da

cozinha. Ele queria dar uma espiada para dentro da casa, se fosse possível.

– Nós estamos vivendo aqui agora e não gostamos de estranhos – disse o ruivo,

asperamente.

– Não somos estranhos e não somos vagabundos – replicou Frank. – Estamos apenas

procurando um homem que desapareceu de Bayport.

– Ah, sei – grunhiu a mulher.
– Por que acha que ele estaria por aqui? – o magrinho perguntou.
– A última vez em que foi visto estava nestas proximidades.
– Como é ele?
– Alto e moreno. Estava usando calças marrons, jaqueta e boné da mesma cor.
– Ninguém apareceu por aqui desde que alugamos a casa e nos mudamos para cá – disse

o ruivo.

Parecia não haver perspectivas de obter nenhuma informação daquelas três desagradáveis

personagens, e, por isso, os rapazes começaram a se afastar. Mas Frank conseguira chegar à porta
da cozinha. Numa rápida olhada para dentro, encontrou sua primeira pista. Pendurado num
cabide, lá estava um boné marrom.

Era exatamente igual ao de seu pai – o que estava usando na manhã em que fora visto

pela última vez.

9

Plano de Ataque

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– Estou com muita sede – Frank disse rapidamente para os novos ocupantes da Vila

Pollitt. – Posso tomar um copo de água?

O ruivo e a mulher se entreolharam. Obviamente, ambos queriam ver-se livres dos

visitantes o mais depressa possível. Mas não podiam recusar um pedido tão razoável.

– Venha até a cozinha – disse o ruivo, meio bronqueado.
Frank acompanhou-o através da porta. Ao passar pelo boné, deu uma boa olhada,

observando os pormenores, cuidadosamente. Era o boné de seu pai, e havia nele algumas
pequenas manchas que pareciam de sangue.

O ruivo indicou uma pia do outro lado da cozinha. Havia um copo de plástico.
– Sirva-se – disse estupidamente.
Frank atravessou a cozinha, abriu a torneira e apanhou um pouco de água. Enquanto

erguia o copo à boca, suas idéias reviravam na cabeça. Ao sair, observou novamente o cabide.

O boné não estava mais lá.
Frank não deu nenhum sinal de ter percebido qualquer coisa. Caminhou para o pátio,

unindo-se aos outros rapazes.

– Acho melhor irmos andando – disse normalmente.
– É, é melhor mesmo – disse a mulher. – Posso lhes garantir que não há ninguém de

Bayport por aqui.

Os rapazes começaram a descer o caminho de volta. Quando estavam a uma considerável

distância da casa, Frank parou e disse, tenso, aos companheiros:

– Sabem o que vi naquela cozinha?
– O que?
– O boné de papai, pendurado num cabide.
– Então, ele esteve lá – gritou Joe. – Eles estavam mentindo.
– Sim – continuou Frank –, e havia manchas de sangue no boné.
– Manchas de sangue! – exclamou Joe. – Isso significa que ele provavelmente está em

algum enguiço. Frank, temos de voltar lá.

– Claro, mas primeiro eu queria contar-lhes o que descobrira.
– O que acha que podemos fazer? – perguntou Chet.
– Perguntarei àqueles caras da casa a respeito do boné, forçando uma definição – disse

Frank quase desesperado. – Temos de descobrir onde papai está.

Resolutamente, os rapazes voltaram para a Vila Pollitt. Chegando às proximidades, viram

os dois homens e a mulher, conversando animadamente sob o telheiro. A mulher percebeu a
presença deles e logo contou ao ruivo.

– E agora, o que é que vocês querem? – perguntou, dirigindo-se ao grupo.
– Queremos algumas informações a respeito daquele boné marrom que estava pendurado

na cozinha – disse Frank com firmeza.

– Que boné? Não há nenhum boné lá.
– Agora não há, mas antes havia. Estava pendurado num cabide, quando entrei para

tomar água.

– Não sei de nada a respeito de nenhum boné – insistiu o homem.
– Talvez seja melhor pedir à polícia para dar uma olhada – sugeriu Joe.
O ruivo olhou insistentemente para a mulher. O outro homem adiantou-se.
– Sei de que boné este rapaz está falando. É meu. Qual é o problema?
– Não é seu e o senhor sabe disso – interrompeu Frank. – Ele pertence ao homem que

estamos procurando.

– Eu lhes disse que o boné é meu – contestou o homenzinho, mostrando os dentes

amarelados, numa espécie de sorriso sem graça. – Você está insinuando que eu sou um
mentiroso?

O ruivo tomou a palavra.

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– Você está enganado, Klein. Sei de que boné eles estão falando. É aquele que eu

encontrei na estrada há alguns dias.

– Acho que é isso, Red – concordou Klein.
– Vocês o acharam? – perguntou Frank, incrédulo.
– Sim, claro. É um boné marrom com algumas manchas de sangue.
– Esse mesmo. Mas por que você o escondeu quando eu estava bebendo água?
– Para ser honesto, aquelas manchas de sangue me deixam nervoso. Eu não sei bem por

que, mas sempre imaginei que elas tivessem alguma relação com encrenca, por isso achei melhor
esconder aquele boné.

– Onde o achou? – perguntou Frank.
– Pouco mais de um quilômetro daqui.
– Na estrada da praia?
– Sim. Estava caído bem no meio da estrada.
– Quando foi?
– Há alguns dias... logo depois que nos mudamos para cá.
– Deixem-nos ver o boné – sugeriu Chet Morton. – Queremos ter certeza.
Quando Red se dirigia hesitante para a cozinha, a mulher disse:
– Não sei porque tanta confusão só por causa de um boné. Perturbando gente honesta,

por causa disso.

– Desculpe-nos se estamos aborrecendo – disse Joe –, mas trata-se de um caso muito

sério.

Red saiu da cozinha, trazendo o boné, que entregou a Frank.
O rapaz virou o boné pelo avesso, e lá estava o que ele queria encontrar: as iniciais F. H.

impressas em letras douradas, na barra de couro.

– É mesmo o boné de papai.
– Não gosto dessas manchas de sangue – disse Joe em voz baixa. – Provavelmente ele foi

seriamente ferido.

– Tem certeza de que isto foi encontrado na estrada? – perguntou Frank, ainda

suspeitando.

– Você não acha que eu mentiria a respeito disso, acha? – respondeu Red com

hostilidade.

– Não posso contradizê-lo, mas vou entregar isso à polícia. Se sabe mais alguma coisa

sobre o boné, é melhor dizer agora.

– Ele não sabe de nada sobre o boné – a mulher respondeu asperamente. – Vá embora e

não nos aborreça mais. Já não está dito que o boné foi encontrado na estrada? Bem que eu lhe
disse para queimar isso. Mas ele queria lavá-lo, para o poder usar.

Os rapazes fizeram meia volta, com Frank segurando o boné.
– Vamos, turma, vamos embora daqui.
Quando começaram a descer pelo caminho, os rapazes deram uma última olhada para o

pátio da casa. A mulher e os dois homens estavam exatamente onde tinham sido deixados. A
mulher estava imóvel, com as mãos nos quadris. Red estava de pé, com os braços cruzados, e
Klein, o magrinho, estava encostado numa árvore. Os três olhavam firmemente e em silêncio a
partida dos rapazes.

– Tenho certeza de que aquela gente sabe mais alguma coisa sobre o boné de papai e não

quer dizer – observou Frank com pessimismo, enquanto tomavam lugar nas motos para voltar a
Bayport.

– O que pretende fazer agora? – perguntou Phil emparelhando sua motocicleta com a de

Frank.

– Vou direto a Collig, para lhe contar a história toda – respondeu Frank.
– Está bem, vamos juntos.
A turma foi diretamente para a delegacia de polícia, deixando as motos no

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estacionamento. Collig observou os seis rapazes, quando o grupo, afinal, tomou de assalto seu
escritório.

– Vejam só, uma delegação. Que posso fazer por vocês?
Com Frank e Joe se alternando na narrativa às vezes interrompida para ilustrações pelos

outros, a história foi afinal inteiramente narrada e o boné colocado nas mãos do Chefe Collig.

Ele assumiu uma expressão grave.
– Essa história não me agrada. Precisamos encontrar seu pai, imediatamente. Este boné é

uma boa pista. Vocês sabem que a área em que se localiza a Vila Pollitt está fora da jurisdição de
Bayport, e por isso meus homens não podem operar lá. Vou me comunicar com o Capitão
Ryder, da polícia estadual, para que ele indique alguns de seus homens para o caso.

Os rapazes agradeceram a Collig pela colaboração e saíram. Chet, Tony, Biff e Phil foram

cada um para seu lado, enquanto Frank e Joe voltavam para casa. Decidiram que não iriam
aborrecer ainda mais sua mãe com a história das manchas de sangue no boné, mas simplesmente
comunicar-lhe que a busca de Fenton Hardy estava agora entregue à polícia estadual.

– Ainda acho que existe alguma relação entre o desaparecimento e o problema dos

contrabandos e a casa do rochedo – declarou Frank.

– O que me intriga – disse Joe – é saber de onde saíram aqueles dois barcos, no dia em

que Jones foi atacado. Não os vimos anteriormente no mar; pelo menos, não vimos os dois.

– Tem razão. É possível que ambos tenham saído exatamente de baixo do penhasco.
– Pode ser. Acho que é isto o que se passa. Papai suspeita que haja contrabandistas

trabalhando neste território, de uma base que ele ainda não conseguiu descobrir. – Abrindo os
braços, exclamou: – A base é a velha Vila Pollitt. Que mais está faltando?

– Mas a casa é no alto de um penhasco.
– É possível que exista uma passagem secreta, da casa até um porto existente na base do

rochedo.

– Boa noite, Frank. Isso parece razoável.
– Isso também explica por que os seqüestradores deram sumiço tão rápido a Jones no

sábado. Se eles saíram da fazenda dos Kanes apenas alguns minutos antes de lá chegarmos,
teríamos pelo menos visto o carro. O que não aconteceu.

– Você quer dizer que eles talvez tenham feito uma conversão na altura da Vila Pollitt?
– Por que não? Talvez Jones esteja escondido lá.
– E talvez papai também – gritou Joe.
– Tem razão. Olhe, não me agrada ficar aqui sentado à espera de que a polícia estadual o

encontre. Que tal pedirmos emprestado o barco de Tony, para investigarmos a base daquele
penhasco?

– Ótimo! – disse Joe com entusiasmo. – Se descobrirmos alguma coisa, levaremos ao

conhecimento da polícia estadual, para que ela dê uma batida na Vila Pollitt.

10

O Túnel


Quando chegaram em casa, Frank e Joe garantiram à mãe que brevemente a polícia

estadual encontraria o Senhor Hardy. Um pouco da ansiedade que se estampava em seu rosto
desapareceu ao ouvir as palavras otimistas dos filhos.

Quando ela se dirigiu à cozinha para começar os preparativos do jantar, os irmãos deram

um telefonema para Tony Prito. Depois que Frank lhe explicou seu plano, imediatamente ele
concordou em permitir que usassem seu barco, o “Napoli”, desde que pudesse acompanhá-los.

– Não deixaria de participar por nada no mundo – disse. – Mas só posso ir à tarde. Tenho

algumas coisas para fazer para papai, de manhã. Eu os encontro no ancoradouro, às duas da
tarde.

– Ótimo, Tony. Eu também tenho o que fazer, de manhã.

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Chet telefonou logo depois. Quando Frank acabou de lhe narrar os planos, soltou um

assobio.

– Vocês têm muita coragem e disposição. Mas não deixem de me incluir na conta, sim?

Eu estou com vocês desde o começo e acho que não devo abandonar a aventura, agora.
Precisamos encontrar seu pai.

Depois que Chet se despediu, Joe perguntou ao irmão:
– O que você pretende fazer de manhã?
– Quero voltar às docas para falar novamente com Peter Pretzel. É possível que ele tenha

alguma pista. Também quero descobrir quando o “Marco Polo” é esperado aqui novamente.

Joe entendeu a situação.
– Acho que peguei. Você é de opinião que novas coisas poderão acontecer aqui, nessa

ocasião, não é?

– Exato. E se conseguirmos encontrar papai e levar a guarda costeira aos contrabandistas

antes de o navio atracar...

– Menino, essa é uma boa pedida.
Às nove da manhã seguinte Joe e Frank já estavam nas docas de Bayport. Peter Pretzel

ainda não aparecera.

– Precisamos agir cautelosamente ao perguntar sobre a próxima visita do “Marco Polo”.

Os contrabandistas, provavelmente, terão espiões por perto, e nós dois devemos ser conhecidos.

Atuando como se não tivessem nenhum problema na cabeça, Frank e Joe caminhavam

despreocupadamente, assobiando. Momentaneamente, juntaram-se a um grupo de curiosos que
observavam um camelô. O homem exibia sua mercadoria – pequenos animais saltadores. Frank e
Joe riram gostosamente e compraram um macaco e um canguru.

– Iola e Calhe vão gostar à beça destes bichinhos – predisse Joe. – Veja, Frank, aí vem

Peter Pretzel.

Disfarçando, para o caso de alguém estar ouvindo, Frank e Joe avançaram, dizendo, em

voz alta, que estavam com fome e muito satisfeitos de ver Peter por perto.

– Ninguém faz rosquinhas como as suas – exclamou Joe. – Quero uma dúzia. Duas para

a boca e dez para os bolsos.

Rindo, Peter Pretzel apanhou um saco de celofane para entregar o pedido, enquanto

Frank perguntou, num murmúrio:

– Alguma novidade?
– Nada, filho – Peter respondeu, sem mover os lábios. – É possível que tenha novidades,

amanhã.

– Que novidade?
– O “Marco Polo” vai atracar realmente muito cedo: cinco da manhã. Ouvi dizer que Ali

Singh está na tripulação. Vou tentar um contato com ele.

– Grande, Peter. Nós o veremos, então.
Os rapazes se afastaram e, para não levantar dúvidas quanto aos motivos de sua presença

na área, dirigiram-se ainda ao mercado de peixes.

– Mamãe ficará surpresa com nossa pescaria da manhã – disse Joe sorrindo, ao apanhar

um grande linguado.

Os rapazes não discutiram a importante informação que lhes dera Peter Pretzel, enquanto

não se encontravam na segurança de sua própria casa. Então, Joe explodiu:

– Frank, se o “Marco Polo” se aproximar durante a noite, terá de permanecer ao largo até

a hora de atracar.

– O que dará aos contrabandistas uma excelente oportunidade de apanhar tranqüilamente

a mercadoria – acrescentou Frank. – Talvez devamos levar nossas suspeitas à guarda costeira.

– Ainda não – objetou Joe. – Tudo o que temos como fundamento são as declarações de

Peter Pretzel sobre Ali Singh. Talvez descubramos alguma coisa mais hoje à tarde e, então,
poderemos fazer uma declaração.

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– Acho que você tem razão – concluiu Frank. – Se esses contrabandistas estão prendendo

papai, e se descobrem que demos informações à guarda costeira, certamente se vingarão nele.

– É, tem razão.
Quando Frank e Joe chegaram à garagem de barcos dos Pritos, às duas horas, Tony e

Chet já estavam esperando. Tony estava “afinando” o motor, que parecia em perfeita ordem.

– Nada sobre seu pai, ainda? – perguntou Tony. Os Hardys sacudiram a cabeça, enquanto

subiam para bordo.

O “Napoli” era um barco elegante e potente, de linhas muito bonitas. Era o orgulho de

Tony. Dirigiu-se vagarosamente para as águas da baía de Barmet, acelerando daí para frente,
rumo ao mar alto.

– Mar bravo – observou Frank, enquanto grandes ondas quebravam sobre a proa do

barco. Respingos salgados se espalhavam por toda a cabina do “Napoli” enquanto ele se
balançava sobre a espuma branca. Bayport logo se tornou apenas um ponto aninhado na curva da
baía em formato de ferradura. Ao atingir mar alto, Tony virou para o norte. Os rapazes podiam
ver a linha branca acompanhando a praia – a estrada litorânea –, subindo e descendo montanhas
e colinas. Depois de três quilômetros, enxergaram o rochedo sobre o qual estava a Vila Pollitt.
Ela parecia distante e proibitiva sobre as rochas, com o telhado e as chaminés em silhueta contra
o céu.

– Penhasco bem íngreme – observou Tony. – Não consigo entender como alguém

poderia fazer esse caminho, ida e volta, do mar à casa.

– Talvez seja por isso que ninguém suspeitou que o lugar pudesse ser uma base para

contrabando – respondeu Frank. – Mas talvez encontremos uma resposta, quando olharmos do
outro lado.

Tony dirigiu o barco para mais perto da linha costeira, para que não ficasse ao alcance da

vista de quem quer que estivesse na Vila Pollitt. Então reduziu a velocidade, para que o ruído do
motor não chamasse a atenção, e o barco avançou para a base do penhasco.

Havia correntes que exigiam grande perícia em navegação, mas Tony conduziu o

“Napoli” por entre elas com perícia, e logo o barco estava acompanhando tranqüilamente aquele
paredão de pedras.

Avidamente, os rapazes examinaram em pormenores a formidável parede de pedras. Ela

era rachada e corroída e a base tinha sido erodida pelo incessante quebrar das ondas. Não havia
nenhuma indicação da existência de uma passagem.

Repentinamente, Tony virou o timão com força. O “Napoli” girou rapidamente para o

lado. Acelerou e a embarcação se inclinou com um quase rugido.

Tony olhou para a frente, tenso e alerta. Outra virada do timão e o barco virou

novamente.

Então, Chet e os Hardys perceberam o perigo. Havia muitas rochas na base do penhasco.

Uma delas, negra e escarpada, como um dente horrível, despontava da água, quase tocando o
bordo do barco. Somente o olho atento e aguçado de Tony conseguiu evitar um choque.

Eles tinham, na realidade, entrado no meio de uma linha de recifes que se alongava por

vários metros. Os passageiros de Tony quase perderam a respiração e ninguém dizia uma palavra.
Parecia impossível que conseguissem atravessar aquela linha de pedra, sem despedaçar o casco do
barco.

Mas eles estavam com sorte. O “Napoli” contornou a última pedra perigosa e deslanchou

em águas calmas, novamente.

Tony encostou o corpo, com alívio.
– Quase, pessoal! – exclamou. – Eu não vi aquelas pedras. Só percebi quando estávamos

praticamente em cima. Se tivéssemos batido numa delas, era uma vez...

Frank, Joe e Chet concordaram solenemente. De repente, Frank soltou um grito:
– Volte, acho que descobri o caminho.
Tony fez uma curva fechada. A abertura que Frank descobrira era um túnel longo e

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estreito. Ia direto para o interior do penhasco.

– É possível que seja a entrada secreta – exclamou Joe.
– Acho que tem largura suficiente para o barco passar – disse Tony. – Vocês querem

tentar?

Frank concordou, muito tenso:
– Vamos em frente.
O “Napoli” atravessou aquela abertura e logo depois estava numa espécie de lago de

tamanho considerável. Encostas inclinadas cobertas de árvores deformadas e pequenos arbustos
chegavam à beira da água. Mas não havia caminho, nem a menor indicação de que alguém tivesse
estado ali.

De repente, Frank teve uma expressão de surpresa e disse:
– Olhem à minha direita, companheiros.
Entre os arbustos, na base da mais íngreme das encostas, estava um homem. Era muito

alto, o rosto estava molhado e seus lábios finos pareciam cruéis. Permanecia em silêncio, apenas
observando os rapazes, sem a mínima sombra de expressão no rosto.

Quando percebeu que estava sendo observado, o homem gritou:
– Saiam já daqui.
Tony afogou o motor e Frank disse:
– Não causaremos problemas.
– Eu disse para sair. Isto é uma propriedade particular.
Os rapazes hesitaram. Imediatamente, como se quisesse dar autoridade ao que dissera,

aproximou a mão, perigosamente, de sua cartucheira.

– Virem esse barco e acelerem – disse. – E jamais voltem aqui. Se é que vocês sabem o

querem.

Os rapazes compreenderam que, conversando, nada conseguiriam. Vagarosamente, Tony

virou completamente o barco.

– Está certo – disse Frank, concordando.
O desconhecido nada mais disse. Permaneceu olhando fixamente para eles, a mão

esquerda apontando para a saída, a direita sobre a cartucheira, quase acariciando o revólver,
enquanto o barco seguia seu rumo, pelo túnel.

– Parece que ele não queria a nossa presença – observou Tony ironicamente, assim que o

“Napoli” entrou em águas abertas outra vez.

– É, parece que não – exclamou Frank. – Eu já estava esperando que ele disparasse aquela

arma, a qualquer momento.

– Suas razões devem ser muito fortes. Quem ou o que vocês acham que ele seja? –

perguntou Tony, curioso.

– Companheiros, acho que aquele era Snattman – disse Frank.

11

Observando o Rochedo


– Frank, acho que você está certo. Aquele homem não tinha razões para agir da forma

como agiu, a menos que esteja encobrindo alguma coisa – disse Joe.

– Alguma coisa como contrabando, é o que você insinua – disse Chet. – É possível que

seja Snattman, ou alguém de sua quadrilha.

– O fato – acrescentou Frank – de estar naquela caverna indica que ele tem alguma coisa

a ver com a casa do rochedo.

– Snattman, o rei do contrabando – disse Tony, assobiando espantado. – Vocês têm uma

estranha capacidade de se meter em situações diferentes.

– Aposto que é um dos caras que raptaram Jones, ou um dos que o atacaram com o

explosivo – observou Joe.

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– Um dos que quiseram matar Jones – concluiu Frank.
– Vamos embora daqui – pediu Chet.
– Por que devemos ir agora? – quis saber Frank. – Acabamos de descobrir alguma coisa

importante. Aquele lado subterrâneo pode ser exatamente a base dos contrabandistas.

– Mas, se eles usam a casa, como é que chegam a ela? – perguntou Tony. – Aquelas

encostas ao redor do lago eram muito inclinadas.

– Tem de existir um caminho qualquer que nós não vimos – disse Joe. – Olhem, acho

que devemos ficar por aqui um pouco mais, para ver o que podemos descobrir.

Tony assimilou o entusiasmo dos Hardys e concordou em permanecer com o barco nas

proximidades do penhasco.

– Aquele cara deve estar nos observando, e nós não queremos que ele saiba que estamos

investigando o local – observou Frank. – Voltemos para a baía. Voltaremos aqui depois de
navegarmos um pouco sem destino.

Chet suspirou:
– Ainda bem que ninguém resolveu discutir com o homem.
– É. Assim como aconteceu, ele deve ter pensado que nós estávamos apenas passeando

um pouco e entramos no túnel por engano – disse Joe.

Bem mais tarde, Tony levou o “Napoli” novamente para perto daquele lugar suspeito.

Mantendo-se bem longe do ponto onde as ondas se quebravam, continuou navegando em volta
do penhasco. Os quatro não perderam de vista, nem por um minuto, o lugar onde o túnel
desembocava. Quando o barco passava por perto, eles já conseguiam distinguir facilmente o lugar
exato da abertura.

– Logo não conseguiremos mais entrar lá – disse Tony. – A maré está começando a subir,

e tenho certeza de que com a maré alta aquele túnel fica completamente cheio de água.

De repente Tony virou o barco para a direita com tanta violência que os outros perderam

o equilíbrio.

– Desculpem. Eu vi uma tora de madeira e... Desligou o motor rapidamente e deitou-se

sobre a borda do barco, para observar alguma coisa na popa. Seus companheiros puseram-se de
pé, indagando, curiosamente, o que acontecera.

– A hélice começou a prender, enrolando num arame ou qualquer outra coisa, naquela

tora. – Tony começou a se despir imediatamente. – Pegue dois alicates para mim.

Frank abriu um compartimento e pegou dois alicates. Tony agarrou-os e mergulhou. Um

minuto depois, apareceu à tona e subiu no barco.

– Estou com sorte, mas muita sorte mesmo. Um minuto mais e todo aquele arame estaria

enrolado no eixo e a tora impediria qualquer movimento.

– Boa noite – disse Frank pilheriando. – Seria um bom pedaço para a gente nadar, de

volta para casa.

Joe deu uns tapinhas nas costas de Tony e disse:
– Bom serviço, menino. Eu não gostaria de ver o “Napoli” fora de operações.
Chet e Frank puseram a tora a bordo, para que não prejudicasse nenhum outro barco.
– É um mourão de cerca com arame farpado. Ainda bem que você o viu a tempo de

evitar maiores problemas.

Tony vestiu-se novamente e colocou o motor em movimento. Ficou rodando ali por

perto mais de uma hora, mas ninguém viu sinais de vida nas imediações da base do penhasco.
Podiam ver a Vila Pollitt mas, para sua surpresa, não viram luzes depois que escureceu.

– Por quanto tempo vocês acham que ainda ficaremos por aqui? Estou começando a ficar

com fome – disse Chet.

– Tenho aí algumas rosquinhas e um doce, o que não é o suficiente para nós quatro –

observou Joe.

– Ahã... Tenho uma pequena surpresa, pessoal. Eu roubei um pouco de comida antes de

partirmos – disse Tony, exibindo um saco plástico que tirou de dentro do porta-luvas. Havia um

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sanduíche de queijo, um pedaço de bolo de chocolate e uma garrafa de soda para cada um.

– Você merece uma medalha! – respondeu Chet, antes de abocanhar um pedaço de

sanduíche.

– Sem dúvida – acrescentou Frank. – Acho que devemos ficar aqui por algum tempo,

apenas observando. Tenho o palpite de que os contrabandistas vão trabalhar esta noite. Não se
esqueçam de que o “Marco Polo” vai atracar amanhã bem cedo.

– Entendi – disse Chet —, e acho que, se o navio permanecer ao largo durante a noite, ou

se entrar na baía bem lentamente, dará a Ali Singh a oportunidade de lançar ao mar algumas
sacolas plásticas que Snattman apanhará.

– Correto – respondeu Frank.
Tony olhou intensamente para os Hardys.
– Vocês pretendem impedir que Snattman se encontre com Ali Singh? E seu pai? Pensei

que tivéssemos vindo aqui para descobrir uma maneira de encontrá-lo e resgatá-lo.

Os irmãos trocaram olhares indagadores e então Joe disse:
– Claro que é esse nosso principal objetivo, mas, se for possível, faremos as duas coisas.
O lusco-fusco converteu-se em escuridão, e dava para distinguir uma outra iluminação,

através de uma fraca neblina. O penhasco era apenas um grande sombreado negro e a casa, lá em
cima, continuava escura.

De repente os rapazes ouviram um ruído surdo. Tony desacelerou o “Napoli” e os quatro

escutaram atentamente.

– É um outro barco – murmurou Tony.
O ruído parecia vir das proximidades do penhasco. Fixando o olhar naquela direção, logo

conseguiram distinguir, pelo menos, uma pálida luz.

– Você pode avançar um pouquinho naquela direção, Tony? – perguntou Frank em voz

baixa, acrescentando: – E, por favor, apague as nossas luzes.

– Claro. Lá vamos. O vento vem de terra, e isso impedirá que o nosso motor seja ouvido

na praia.

Os rapazes estavam tensos e emocionados, quando o barco se dirigiu para aquela pálida

luz em movimento. Quando o “Napoli” se aproximava do penhasco, distinguiu-se a silhueta de
uma outra lancha. Aparentemente, o barco parecia estar avançando cuidadosamente, saindo
diretamente da frente do rochedo.

– Provavelmente veio daquele túnel – Joe murmurou a Frank.
– Acho que sim.
O “Napoli” chegou bem perto, correndo o perigo iminente de ser descoberto, ou lançado

violentamente às rochas. Afinal a outra lancha foi diminuindo a velocidade aos poucos, até parar.
Então ouviu-se o ruído característico de remos e vozes baixas. Evidentemente, a lancha acabara
de se encontrar com um barco a remo.

Logo depois, e com grande barulho, a lancha virou instantaneamente, dirigindo-se para

alto-mar, com velocidade cada vez maior.

– Para onde estará indo? – perguntou Tony intrigado.
– Será que vai encontrar-se com o “Marco Polo”?
– Provavelmente – disse Frank –, e acho que jamais conseguiremos pegá-lo. Gostaria de

saber para onde foi o barco a remo.

Os quatro rapazes permaneceram em silêncio por bastante tempo. Então deu para ouvir

novamente o ruído de remos. O ruído estava cada vez mais perto. O barco vinha na direção do
“Napoli”.

– O que faremos, agora? – perguntou Tony.
– Desligue o motor – ordenou Frank, e Tony obedeceu.
Em meio ao enorme silêncio, de repente distinguiu-se a conversa que vinha do barco a

remo.

– Cem libras – foi o que ouviram alguém dizer precipitadamente, mas perderam o resto

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da frase. Houve um prolongado som de vozes e então escutaram:

– Não sei, é muito arriscado...
O vento parou completamente naquele instante e então puderam-se distinguir claramente

duas vozes. Um dos homens disse:

– A parte de Ali Singh...
– Tem razão, podemos deixá-lo de lado – respondeu uma voz rouca.
– Espero que se saiam bem.
– Porque está se preocupando? Claro que farão tudo direito.
– Já nos localizaram, você sabe?
– Acho que não passa de imaginação sua. Ninguém suspeita de nada.
– Aqueles rapazes lá na casa...
– Moleques inconseqüentes. Se meterem o nariz novamente, damos-lhes umas pancadas e

pronto.

– Não me agrada essa barra pesada. É muito perigoso.
– Ou nós o fazemos ou acabaremos na lona. Que há com você hoje? Parece um bocado

nervoso.

– Estou preocupado. Algo me diz que devíamos cair fora daqui.
– Ei, um momento! – gritou o outro. – Você está ficando louco. Este lugar é mais

garantido que uma igreja. – O homem riu sarcasticamente. – Todos os curiosos estão trancados.
Além disso, faremos hoje o grande negócio, a cartada final, e depois nos mandamos, para sempre.

– Talvez você tenha razão. Mas, mesmo assim...
Sua voz desapareceu, exatamente quando o barco entrou no túnel.
Joe agarrou o braço de Frank.
– Você ouviu isso? Todos os curiosos estão trancados? Aposto que papai é um deles e

está preso aqui por perto.

– Sem dúvida isto é um esconderijo de Snattman e dos outros contrabandistas que ele

estava procurando – acrescentou Frank.

– Isto não me agrada. Vamos cair fora e chamar a polícia – disse Chet.
Frank sacudiu a cabeça, negativamente.
– Levaremos tanto tempo que provavelmente acabaremos perdendo tudo. O que vamos

fazer é o seguinte: Joe e eu vamos seguir aquele barco no interior do túnel.

– Como?
– Andando ou nadando. Não creio que seja profundo, nas margens.
– E você está dizendo que eu e Chet devemos esperar aqui?
– Não – respondeu Frank —, vocês dois voltam imediatamente para Bayport e notificam

a guarda costeira. Contam a eles que estamos atrás de alguns contrabandistas e pedem para eles
mandarem alguns homens até aqui.

– Não se esqueçam de revelar nossas suspeitas a respeito de Ali Singh e do “Marco Polo”.

Eles podem passar um rádio ao capitão, para que observe o indiano – concluiu Joe.

– Bem. Vamos fazer assim. Primeiro, deixe-me desembarcar vocês.
– Não chegue muito perto. Você pode bater nas rochas e quebrar o barco – advertiu

Frank. – Joe e eu podemos nadar até terra firme. Chegaremos até o túnel e veremos o que será
possível fazer. Se descobrirmos alguma coisa, ficaremos na entrada, para mostrar aos homens da
guarda costeira o caminho que deverão seguir, assim que chegarem aqui.

Tony aproximou o barco o mais que pôde da praia, sem as luzes. Rapidamente Frank e

Joe tiraram as calças e os sapatos. Enrolaram tudo direitinho e, com barbantes que Tony lhes
forneceu, amarraram os pacotes na cabeça. Então deslizaram para a água, enquanto o “Napoli” se
afastava rapidamente.

Frank e Joe estavam a poucos metros da linha costeira e, depois de um pequeno

mergulho, emergiram no meio das rochas.

– Vamos lá – murmurou Joe, dirigindo-se para o túnel.

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12

Passagem Secreta


Cautelosamente, Frank e Joe avançaram pelas pedras escorregadias. De repente ouviu-se

o ruído característico de quem cai na água. Joe perdera o pé nas pedras e rolara para a água.

– Está tudo bem? – perguntou Frank, num murmúrio, aproximando-se do lugar onde o

irmão ficara, na base das rochas.

– Sim. Inicialmente me pareceu que tinha quebrado ou torcido o tornozelo, mas parece

que não houve nada.

– Dê-me a mão – murmurou Frank, que, rapidamente, ajudou Joe a subir nas pedras

novamente.

Os Hardys atingiram o litoral num ponto distante aproximadamente vinte metros da

entrada do túnel, mas o caminho sobre as rochas pontudas e escorregadias era tão árduo que a
distância parecia muito maior. Estava muito escuro na base sombria do íngreme penhasco. O
quebrar das ondas contra as rochas produzia um som assustador.

– Diabo de noite. Nunca chegamos a esse túnel? – disse Joe.
– Calma, menino. Pode ser ainda muito mais longe – respondeu Frank.
– Espero que Tony e Chet voltem logo com ajuda. Isto aqui não é fácil e esse pessoal não

está para brincadeiras.

– Se houver alguém tomando conta do lugar, certamente vamos ficar em posição de

desvantagem. Observe cuidadosamente – advertiu Frank, falando tão baixo que mal dava para
escutar.

Já tinham chegado à entrada do túnel. Depois de alguns passos muito cuidadosos,

descobriram que a estreita faixa de terra entre as rochas e a água estava coberta por uma espécie
dura de vegetação rasteira.

Dirigindo-se a Joe, Frank disse:
– Se tentarmos caminhar sobre esse mato todo, é quase certeza que acabarão ouvindo

nossos passos. Isto é, se aqueles dois sujeitos estiverem por aí em algum canto.

Joe concordou e perguntou:
– O que faremos, então?
Experimentando, Frank pôs um pé na água, descendo da pedra sobre a qual pisava.
– Não é fundo. Acho que podemos ir a pé pela água.
Encostados ao muro de rochas, os rapazes iniciaram a caminhada cuidadosamente.

Felizmente a água chegava apenas até os joelhos e por todo o caminho havia um verdadeiro
tapete de conchas cobrindo uma espécie de plataforma rochosa. Podiam-se ouvir as batidas de
seus corações. O que iriam descobrir, dali para a frente?

Desde que entraram no túnel, os rapazes não ouviram o mínimo som de vozes e nenhum

outro ruído. Tudo indicava que os homens que estavam no barco a remo tinham ido para algum
outro esconderijo.

– Acho melhor acender a lanterna – disse Frank, baixinho, quando chegaram ao lago

interior. – Sem a luz é impossível descobrir qualquer coisa.

Apanhou uma lanterna que sempre carregava numa bolsa à prova de água e ligou-a. O

raio amarelado brilhou sobre a superfície do lago. Não havia sinal do barco a remo.

– Como será que aqueles homens saíram daqui? Será que existe outra passagem? –

perguntou Joe, curioso.

Frank dirigiu o facho da lanterna para as paredes rochosas à sua volta.
– Não vejo nenhuma. Meu palpite é que aqueles homens esconderam o barco em algum

lugar por aí. Vamos procurar cuidadosamente.

Devagar, os irmãos começaram a percorrer toda a volta do lago, abrindo caminho com as

mãos por entre os arbustos e às vezes penetrando um pouco pelas margens. Já estavam a ponto

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de desistir, sem esperanças, quando chegaram à parede mais distante do túnel. Então, quando a
luz de sua lanterna atingiu um ponto à frente, exclamou Frank:

– Veja.
– Uma porta – murmurou Joe, nervoso.
A porta era tão bem disfarçada, que, mesmo com a luz diurna, não poderia ser

distinguida, a não ser bem de perto. O brilho da lanterna, no entanto, ressaltou contra o negro
das rochas aquela moita artificial de vegetação.

– Isso explica tudo – disse Frank. – Os homens e o barco passaram por aí. Gostaria de

saber para onde vai isso.

Para não ser descoberto, Frank apagou a lanterna antes de tentar abrir a porta. Foi

abrindo com muito cuidado e vagarosamente, sempre esperando encontrar luz e gente por perto.
Mas só havia escuridão. Felizmente a porta não fez nenhum ruído. Frank acendeu novamente a
lanterna.

À frente havia uma espécie de canal marítimo de três metros de largura por sete ou oito

de comprimento, com um corrimão em um dos lados. Ao fundo um pequeno ancoradouro, com
o barco a remo a ele amarrado.

– Fantástico. E é provável que exista há muito tempo. Você acha que existe ligação com a

Vila Pollitt? – indagou Joe.

– Se existe, pode significar que o velho Felix Pollitt tinha ligações com os contrabandistas

– exclamou Frank. – Escute: você acha que o tal Snattman pode ser o sobrinho desaparecido?

Entusiasmados com esse possível novo ângulo do caso Frank e Joe agarraram-se ao

corrimão e rapidamente avançaram para o ancoradouro. Observaram o que havia à sua volta e, ao
apontar o facho da lanterna para a parede do fundo, Joe disse, assustado:

– Pare um momento.
Exatamente à frente havia um arco cortado na rocha nua. Por trás dele podia-se distinguir

um primeiro lance de uma escada de pedra. Ambos ficaram entusiasmados e, ao mesmo tempo,
tensos.

– Descobrimos – disse Frank. – Esta deve ser a passagem secreta.
– Parece. E, pela distância que percorremos, diria que estamos exatamente embaixo da

casa do penhasco – concordou Joe.

– Vamos subir.
A luz da lanterna projetava estranhas sombras na passagem pelas rochas. Das paredes e

do teto pingava água. Os rapazes hesitaram um pouco, mas avançaram cuidadosamente para
cima.

Quando subiam os degraus de pedra, Frank dirigia o jato de luz para a frente, para

iluminar o caminho. Logo perceberam que a escada acabava numa pesada porta. A moldura
estava firmemente fixada ao umbral de rochas. Acima de suas cabeças, apenas um teto rochoso.

Frank adiantou-se, encostou o ouvido à porta e escutou atentamente. Não havia nenhum

ruído, além.

Desligou a lanterna e olhou cuidadosamente à volta toda, observando especialmente toda

a porta, à procura de um pequeno claro de luz que indicasse a existência de iluminação do outro
lado. Havia apenas escuridão.

– Acho que não há ninguém lá. Vamos ver se conseguimos abrir – disse a Joe.
Frank tentou de ambos os lados, mas a porta não se moveu.
– Deve estar trancada – murmurou.
– Tente novamente. Pode estar só emperrada.
Frank colocou a mão na maçaneta novamente e ajudou a empurrar com o ombro. De

repente, com um barulho que ecoou de ponta a ponta do lago e da escadaria, a maçaneta cedeu e
a porta ficou entreaberta.

Joe se adiantou, mas Frank impediu-o, com a mão.
– Espere, o barulho pode ter atraído alguém – advertiu.

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Nervosos e tensos, ficaram alerta à escuta de qualquer som. Mas nada aconteceu.

Esperando que não houvesse ninguém pela frente, Frank acendeu a lanterna.

O raio de luz atravessou as sombras e revelou uma imensa sala cortada na rocha viva, em

pleno centro daquele enorme penhasco. A caverna estava repleta de caixas, caixotes, sacos e
diferentes embalagens, distribuídos pelo chão e empilhados de encosto às paredes.

– Mercadorias contrabandeadas – os dois pensaram ao mesmo tempo.
O fato de a maioria das caixas ter embalagens estrangeiras parecia confirmar suas

suspeitas.

Convencidos de que não havia ninguém ali, os rapazes atravessaram a porta e procuraram

a localização de uma segunda porta. Mas nada encontraram. Seria ali o fim da linha?

– Não é possível. Aqueles caras foram para algum lugar – pensaram.
Peças de seda muito bonitas estavam espalhadas sobre os caixotes e havia muitos tapetes

valiosos abandonados por toda parte. Num dos cantos havia quatro caixas empilhadas.
Acidentalmente, Frank esbarrou o cabo da lanterna em uma delas, provocando um som curioso.

– Está vazia – murmurou.
Surgiu-lhe então a idéia de que talvez aquelas caixas tivessem sido empilhadas apenas para

esconder uma passagem de saída daquele armazém subterrâneo. Mencionou a suspeita a Joe.

– Como poderiam os homens empilhar as caixas ali, depois de saírem? – perguntou o

irmão.

– Esta quadrilha é suficientemente sabida para fazer qualquer coisa. Vamos tirar as caixas

dali e ver o que descobrimos.

Frank agarrou a primeira caixa. Ela era muito leve, e ele a retirou com a máxima

facilidade.

– Foi isso mesmo que pensei – disse Frank com satisfação. A luz da lanterna revelou a

parte superior de uma porta que estivera escondida atrás das caixas.

Os rapazes não perderam tempo e removeram imediatamente as outras três caixas. Então

Joe descobriu como as caixas podiam ser empilhadas naquela posição, a despeito de as pessoas
primeiro passarem e depôs fecharem a porta.

Na base da porta havia uma pequena plataforma de madeira fina sobre a qual ficavam as

caixas.

– Muito interessante. Cada vez que alguém sai da caverna e fecha a porta, as caixas

acompanham o movimento e ficam numa posição que parece uma pilha normal sobre o piso de
pedra.

– Isso mesmo. Mas vamos ver para onde isto nos leva – sugeriu Frank.
Desligou a lanterna e cautelosamente abriu a porta. Ela não fez barulho, e mais uma vez

estava tudo escuro.

– Que coisa demorada – exclamou enquanto acendia a luz.
Outra passagem de pedra, levando a novo lance de escada, no fundo.
De repente, Frank pediu silêncio e fez uma advertência, colocando a mão no braço do

irmão.

– Estou ouvindo vozes.
Os rapazes escutaram atentamente. Podiam ouvir uma voz de homem a distância. Não

era possível distinguir o que diziam, porque ainda estavam muito longe, mas gradativamente a
voz se tornava mais audível. Então, para surpresa e susto dos irmãos Hardy, ouviram-se passos.
Rapidamente, voltaram para a caverna secreta.

– Rápido, a porta – disse Frank. A porta foi fechada em silêncio.
– Agora as caixas. Se esses caras vierem aqui, perceberão que as caixas foram tiradas do

lugar. – Acendeu a luz, mas protegeu-a com a mão.

Rapidamente, Joe empilhou as caixas vazias na plataforma de madeira da base da porta.

Fez isso com a maior rapidez e o maior silêncio, enquanto ouvia a aproximação dos passos, cada
vez mais perigosamente.

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Finalmente, a última caixa estava no lugar.
– Rápido, para a outra porta – Frank sussurrou no ouvido de Joe.
Correram pelo chão da caverna, rumo à outra porta que dava para a escada que haviam

subido há pouco. Mal eles haviam acabado de chegar a ela, quando ouviram o ruído da maçaneta
da porta disposta na parede oposta da sala subterrânea.

– Não dá tempo. Esconda-se – disse Frank.
Com a lanterna, descobriram uma grande quantidade de caixotes nas proximidades da

porta. Em cima deles, alguém jogara uma pesada peça de seda, cujas dobras iam-se desenrolando
até o chão. Os irmãos enfiaram-se rapidamente atrás daquelas caixas, espremendo-se contra a
parede. Mal tiveram tempo de se esconder e desligar a lanterna, quando a outra porta se abriu.

– Tem um bocado de drogas nessa carga que chegou há três semanas – ouviram alguém

dizer com voz áspera. – Vamos levá-la para cima. Burke disse que pode passar adiante
imediatamente. Não adianta deixá-la aqui embaixo. Além disso, é preciso arrumar lugar para a
nova remessa.

– É verdade – os Hardys ouviram outra pessoa afirmar. – Alguma coisa mais para retirar

daqui?

– Não. Vou acender a luz.
Houve um estalinho e, de repente, a caverna se inundou de luz. Havia instalação elétrica.
Frank e Joe se afundaram no esconderijo, segurando a respiração, aterrorizados. E se

fossem descobertos?

Devagar, os passos foram chegando cada vez mais perto das caixas atrás das quais eles

estavam escondidos.

13

Descoberta Espantosa


Frank e Joe tentavam abaixar-se ainda mais, escondidos naquele canto, à medida que os

homens se aproximavam. A lâmpada pendente do teto lançava uma luz tão difusa sobre toda a
caverna que os rapazes estavam certos de que seriam descobertos.

As caixas estavam um pouco afastadas entre si e apenas o fato de as dobras de seda

cobrirem os espaços abertos entre as caixas impedia que os irmãos Hardy fossem descobertos
imediatamente. Através de um pequeno espaço descoberto, Frank podia ver as silhuetas de duas
figuras humanas.

– Aqui está uma parte daquela seda japonesa – os rapazes ouviram um dos homens dizer.

– É melhor levar um pouco disso também lá para cima. Burke disse que tem condições de
colocar um pouco dela.

De repente, o mesmo pensamento ocupou as mentes dos dois irmãos. Se os homens

apanhassem a seda, é lógico que eles seriam descobertos.

– Não perca tempo – disse um dos homens. – Você sabe que não receberá nem

reconhecimento por forçar uma venda. Para que quebrar os braços levando tudo isso lá para
cima?

– É que – explicou o primeiro, em tom conciliador -– achei que podíamos nos desfazer

de um pouco mais dessa porcaria e ganhar um pouco de dinheiro.

– Ora – resmungou o companheiro –, você está com esta quadrilha há pouco tempo.

Ninguém por aqui lhe agradece por um pensamento. Se Burke não comprar a coisa, você terá de
trazer tudo para baixo, outra vez.

– Talvez você tenha razão.
– Claro que tenho. O que eu acho é que, nesta quadrilha, só devemos fazer o que

Snattman manda, e nada mais.

– Nisso concordo, Bud. Vamos levar apenas as drogas e deixar o resto.
Para alívio dos Hardys, os dois homens dirigiram-se ao outro lado da sala subterrânea.

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Frank e Joe não se arriscaram a respirar profundamente, mas continuavam ouvindo o ruído de
caixas que estavam sendo removidas.

Então, ouviram:
– Tudo separado. Já tenho tudo o que queremos. Vamos.
O interruptor foi acionado e a sala ficou escura. Os Hardys começaram a respirar

normalmente, outra vez. A porta para o corredor foi fechada e os rapazes podiam ouvir os passos
dos dois homens, cada vez mais distantes.

Quando não podiam ouvir mais nada, Frank acendeu a luz.
– Puxa. Dessa vez chegamos perto. Cheguei a pensar que era o fim – disse com alívio.
– Eu também – concordou Joe; – e o pior é que não conseguiríamos escapar daqueles

dois. Pareciam lutadores de luta livre.

– Vamos segui-los, para ver aonde foram?
– Claro. Acho que desvendamos o mistério do contrabando, mas ainda precisamos

descobrir se o Velho está em poder deles – acrescentou Joe com tristeza.

– Precisamos ser ainda mais cuidadosos. Não quero cair exatamente no meio de toda a

quadrilha de contrabandistas – lembrou Frank.

– É. Não posso imaginar nada mais dramático e difícil do que esse susto que acabamos de

levar. Pensei que fosse morrer de agonia enquanto aqueles dois caras estavam aqui.

Atravessaram a sala, abriram a porta e começaram a avançar pela escura passagem.

Acabavam de atingir o lance de escada. Mais ou menos no meio havia um pequeno patamar, e, a
seguir, novos degraus, até a outra porta, em cima.

– Vou primeiro – disse Frank –, enquanto você fica bem atrás. Acho que não vou

acender a lanterna.

– Certo. Snattman pode perfeitamente manter um guarda lá em cima, e não acho

necessário fazer publicidade em torno da nossa presença.

Degrau por degrau, os rapazes foram subindo, no meio da escuridão. Num dado

momento, foram de encontro a algumas pedras pontudas. Cuidadosamente, reencontraram o
caminho correto e, então, mantiveram-se encostados à parede, até chegar ao próximo lance de
degraus.

Pararam mais uma vez, perscrutando o espaço em redor. Silêncio.
– Até aqui, tudo bem – murmurou Frank. – Mas a coisa não está provocando em mim

uma satisfação muito grande, não. Sinto que estamos indo para uma armadilha.

– Não podemos desistir agora – acrescentou Joe –, mas admito que estou com um pouco

de medo.

Ainda tateando no escuro, os rapazes continuaram subindo até quase perder o fôlego. Joe

perguntou:

– Onde estamos? Estou tão cansado que tenho a impressão de estar subindo escada há

uma hora.

– Eu também – respondeu Frank –, e o pior é que o penhasco não parece assim tão alto,

visto de fora.

Descansaram um minuto e continuaram a jornada. Tateando, descobriram uma outra

porta. Frank procurou e encontrou a maçaneta, que virou vagarosa e cuidadosamente, para ver se
a porta estava trancada.

– Está destrancada, mas acho que devemos esperar um pouco.
– Cada segundo é importante, se papai estiver preso aí – disse Joe.
Frank estava a ponto de concordar com a pressa do irmão, quando ambos ouviram

passos do outro lado da porta. Um calafrio desceu por suas espinhas.

– Vamos correr? – perguntou Joe, com medo.
– Não vai adiantar nada. Vamos escutar.
Houve um som incompreensível e depois uma espécie de suspiro. Foi tudo.
– Há alguém lá – Frank sussurrou na escuridão. Joe concordou sem dizer nada.

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Os irmãos Hardy não sabiam o que fazer. Uma sentinela podia estar ali. Se fosse um só

homem, os dois poderiam agarrá-lo e desarmá-lo. Mas isso só seria possível com algum barulho,
que certamente atrairia a atenção dos outros.

Frank e Joe cerraram os dentes. Não podiam desistir, exatamente agora.
Enquanto procuravam decidir como agir, a situação assumiu uma direção completamente

inesperada. A distância, uma porta foi aberta. Então surgiram murmúrios de vozes e o som de
passos que se aproximavam.

– Essa loucura já está se alongando muito – disse um homem, com raiva. – Ou ele

escreve aquele bilhete, ou vai me explicar por que não.

Os rapazes se sobressaltaram. A voz era a do homem que os havia mandado embora do

lago da caverna, horas antes, à tarde.

– Tem razão, chefe – disse uma outra voz. – Faça com que ele lhe obedeça e afaste o

perigo, pelo menos até que os tenha nos desembaraçado da carga.

– Se ele não o escrever, jamais sairá daqui com vida – prometeu o primeiro homem, e,

pelo tom da voz, falava sério.

Imediatamente, Frank e Joe se lembraram do recado que sua mãe recebera. Seria a

respeito de seu pai que esses homens estavam falando? Ou seria outra pessoa – talvez Jones –
que teria de obedecer-lhes ou perderia a vida?

As duas pessoas afastaram-se um pouco da porta atrás da qual estavam Frank e Joe.

Então, ambos ouviram o ruído de um interruptor. Um fraco raio de luz apareceu por baixo da
porta. Os irmãos imaginaram que havia um outro corredor e que três ou quatro homens
entravam numa dependência contígua a ele.

– Então, você ainda está aqui? Você verá que é mais difícil sair daqui do que entrar –

disse o homem que havia sido chamado de chefe.

Uma voz amargurada respondeu. Como era muito baixa, os rapazes encostaram os

ouvidos na porta, para tentar ouvir mais alguma coisa.

– Você é nosso prisioneiro e ficará aqui até morrer, a menos que escreva o bilhete.
A voz amargurada disse mais alguma coisa, mas os tons ainda eram tão indistintos que os

rapazes não conseguiram ouvir a resposta.

– Não vai escrever, não é? Vamos ver o que podemos fazer para convencê-lo.
– Deixem-no passar fome por alguns dias. Talvez se convença – sugeriu um dos outros

homens. A sugestão provocou risadas sádicas dos outros homens.

– Você sentirá bastante fome, se não escrever o bilhete – concordou o chefe. – Como é,

vai ou não escrevê-lo?

– Não – foi só o que os rapazes ouviram o prisioneiro responder.
O chefe disse em tom azedo:
– Nós já concordamos demais. Não podemos mais permitir que se vá. Mas, se escrever a

mensagem, deixaremos um pouco de comida para que você não morra de fome. Você conseguirá
escapar, mas não a tempo de nos prejudicar. Então, o que diz? Quer comida?

Não houve nenhuma resposta do prisioneiro.
– Dê-lhe uma boa torcida de braço – sugeriu um dos contrabandistas.
Nesse ponto, o sangue dos Hardys ferveu. O primeiro impulso que sentiram foi de abrir a

porta apressadamente e correr para ajudar aquela pessoa que estava sendo atormentada. Mas
reconheceram que nada poderiam fazer contra tantos homens. Sua única esperança era que
chegassem os homens da guarda costeira, mas eles podiam chegar tarde demais.

– Chefe, cuido deste homem? – perguntou um dos contrabandistas.
– Não, nada de exageros – disse o chefe. – Faremos da forma mais fácil: a fome. Vou

proporcionar-lhe mais uma oportunidade. Ele ainda pode escrever o bilhete... agora!... ou nós o
deixaremos aqui, sem comida, para que morra de fome, depois da nossa partida.

Mais uma vez, não houve resposta.
Chegou aos ouvidos de Frank e Joe o som de uma cadeira que estava sendo arrastada.

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– Você não fala também, não é? – disse o chefe. Houve uma pausa de alguns segundos e

então ele gritou: – Escreva o recado ou você se arrependerá, Hardy. Ou não me chamo Snattman.

14

Aprisionados


Foi Joe quem começou:
– É o Velho. Ele descobriu o esconderijo dos contrabandistas.
Frank advertiu o irmão:
– Não fale tão alto.
Eram verdadeiros os temores dos irmãos Hardy. O pai não só era prisioneiro dos

contrabandistas, como também sua vida corria perigo.

– Escreva o bilhete – Snattman ordenou.
– Não vou escrever nada – Fenton Hardy respondeu em voz fraca, mas clara.
O chefe insistiu:
– Você ouviu o que eu disse. Escreva ou você vai morrer de fome, sem sair daqui.
– Então, acho que vou morrer de fome.
– Você mudará de opinião em um ou dois dias. Você sente fome agora, mas espere até

ficar sem alimento, completamente. Então, verá. Ficará disposto a vender a própria alma por uma
gota de água ou uma migalha de comida.

– Não vou escrever.
– Ouça, Hardy. Não estamos pedindo muito. Só o que queremos é que escreva à sua

mulher, dizendo que está bem e ordenando-lhe que mantenha a polícia e as suas crianças
afastadas disso tudo. Eles nos prejudicarão.

– Mais cedo ou mais tarde, alguém vai localizar-me – foi a resposta débil de Fenton

Hardy. – Quando isso acontecer contarei o suficiente para mandar você para a cadeia para o resto
da vida.

Houve um certo burburinho na sala e dois ou três dos contrabandistas começaram a falar

ao mesmo tempo.

– Você está louco! – disse Snattman, mas havia uma certa insegurança em sua voz. –

Você nada sabe a respeito da minha vida.

– Sei o suficiente para condená-lo por tentativa de assassínio. E exatamente agora você

está tentando outra vez.

– Você é muito esperto, Hardy. E isso é mais um motivo para você tentar sair daqui

depois que nós formos embora. E, se não cooperar, jamais conseguirá. Nosso próximo grande
embarque chegará esta noite, e logo depois vamos abandonar o país. Se você escrever o bilhete,
viverá. Se não escrever, é o seu fim.

Frank e Joe ficaram chocados com a ameaça direta. Mas precisavam decidir se iam

procurar ajuda ou se permaneciam ali, arriscando-se a ser capturados, mas tentando salvar o pai.

– Você não me assusta, Snattman. Sinto que chegou a sua hora. Algo me diz que você

não conseguirá receber essa carga.

Os rapazes sentiram que a voz do pai estava mais forte.
Snattman riu.
– Pensei que você fosse esperto, mas a sua parte do jogo já está perdida. O que você

pensa a respeito da sua família? Vai prejudicá-la dessa forma, só porque é tão teimoso?

Houve um momento de silêncio. Depois Fenton Hardy respondeu pausadamente:
– Minha mulher e meus filhos preferirão que eu morra cumprindo meu dever a ver-me de

volta como protetor de contrabandistas e criminosos.

– Você tem um elevadíssimo senso de dever. Mas vai acabar mudando de idéia. Já está

com sede?

Não houve resposta.

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– Tem fome?
Nenhuma resposta.
– Você sabe que sim. E sabe que será pior. Você vai morrer de sede e de fome, a menos

que escreva o bilhete.

– Jamais escreverei.
– Está bem. Vamos embora, pessoal. Vamos deixá-lo por conta própria por algum

tempo. Assim ele terá oportunidade de pensar melhor.

Frank apertou o braço de Joe, sentindo profundo alívio. Ainda havia a possibilidade de

salvar o pai.

Os passos ecoaram quando Snattman e seus homens saíram da sala e caminharam pelo

corredor. Finalmente os passos desapareceram. Uma porta bateu.

Joe adiantou-se na direção da porta, mas Frank o conteve.
– É melhor esperarmos um minuto – disse cautelosamente. – Alguém pode ter ficado de

guarda.

Os rapazes ficaram em silêncio, escutando cuidadosamente. Nenhum som procedia de

trás daquela porta. Depois de algum tempo, satisfeito porque o pai tinha sido deixado sozinho,
Frank girou a maçaneta.

Sem nenhum ruído, abriu a porta alguns centímetros para observar o corredor fracamente

iluminado por apenas uma lâmpada no teto. Não havia sinal da presença de nenhum guarda.

Três portas davam para o corredor – duas no lado oposto de onde se encontravam os

Hardys e uma na extremidade.

A passagem era pavimentada com lajotas e tinha o teto pontudo, como um celeiro de

fazenda, ou como um sótão. Frank e Joe imaginaram onde seu pai estaria e correram rumo à sala.
Abriram a porta da dependência, quase completamente escura, e procuraram ver lá dentro. Havia
uma mesa rústica e várias cadeiras. Num canto, havia uma cama de campanha. Nela estava
Fenton Hardy. Estava com as mãos e os pés amarrados à cama, de forma tão apertada que
dificilmente conseguia mexer-se alguns centímetros para um ou para o outro lado. Estava deitado
de costas, olhando fixamente para o teto de sua prisão.

Numa cadeira, ao lado da cama, havia uma folha de papel e um lápis, evidentemente o

material necessário para escrever a mensagem que Snattman queria.

– Papai – disseram Frank e Joe, ao mesmo tempo.
O detetive não ouvira a porta abrir-se, mas então encarou os filhos, com admiração e

alívio.

– Vocês estão aqui! Graças a Deus! – murmurou.
Os rapazes ficaram chocados com a mudança de fisionomia do pai. Normalmente um

homem de aparência forte e bem disposta, Fenton Hardy estava agora emagrecido e pálido. O
rosto estava chupado e os olhos sem brilho.

– Vamos tirá-lo daqui em um minuto – disse Frank.
– Rápido. Aqueles demônios podem voltar a qualquer momento – respondeu o Senhor

Hardy.

Frank apanhou a faca e começou a cortar as cordas que atavam o pai. Mas a faca não

estava bastante afiada e a corda era bastante grossa.

Joe descobriu que não tinha consigo a faca:
– Provavelmente caiu na água quando tiramos as roupas, a bordo do “Napoli”.
– Eu também não tenho faca. Snattman tirou tudo o que eu tinha em meu poder,

inclusive as rações alimentícias concentradas. Um de vocês tem um pedaço de qualquer coisa
doce? – perguntou o pai.

Joe tirou do bolso o doce que não comera quando Tony lhe dera, dando ao pai um

bocado de novas energias. Enquanto isso, todos os olhos percorriam a sala à procura de algo
pontudo que pudesse ser usado para cortar ou afrouxar todas aquelas dobras e aqueles nós. Mas
não se viu nada.

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Fenton Hardy comeu todo o doce, de mordida em mordida. Joe, agora com as mãos

livres, começou a ajudar Frank, tentando desatar os nós. Mas eram todos muito firmes e foi
impossível afrouxá-los.

Os minutos iam-se passando. Frank tentava cortar as cordas, mas a lâmina sem corte da

faca nada estava conseguindo. Fenton Hardy não estava em condições de fazer nada. Todos
estavam silenciosos. O único som audível era o da respiração pesada dos rapazes e o arranhar do
canivete contra a corda.

Finalmente Frank conseguiu “serrar” uma das dobras, soltando os pés do detetive. Seu

filho tirou as cordas e começou o trabalho para soltar mãos e braços. Quando começou a raspar a
lâmina na corda, percebeu um som que aterrorizou os três Hardys.

Era o barulho de passos, além, no corredor. Alguém se aproximava rapidamente.
Frank trabalhou desesperadamente com a lâmina sem corte da faca, mas a corda resistia

teimosamente. A lâmina, aparentemente, não estava nem mesmo marcando a corda. A custo,
algumas tramas se partiram. Afinal, com Fenton Hardy fazendo um esforço gigantesco e Joe
arranhando a corda com as próprias unhas, ela cedeu.

O detetive estava livre.
Mas os passos estavam mais próximos.
– Depressa – disse Frank, jogando as cordas para o lado.
– Não posso apressar-me – disse o pai. – Estive amarrado tanto tempo que os pés e as

pernas estão adormecidos.

– Mas temos de correr, pai. Tente ficar de pé – disse Frank.
– Vou fazer o possível – respondeu o pai, enquanto os rapazes faziam rápidas massagens

em suas pernas, para reativá-las e à sua circulação.

– Temos de correr antes que esses canalhas entrem aqui – afirmou Joe, nervoso.
Fenton Hardy pôs-se de pé como melhor conseguiu. Mas, ao ficar de pé, sentiu-se

completamente tonto, e teria caído, se Frank não o pegasse pelo braço. Estava tão fraco, de
fome, que uma onda de tontura o acometera. Deu uma boa sacudida de cabeça e a sensação de
zoeira passou.

– Tudo bem, vamos – disse, apoiando-se nos dois filhos. Os três empurraram a porta e

dirigiram-se ao corredor.

Quando acabaram de entrar no corredor, os joelhos de Fenton Hardy se dobraram.

Desesperados, os rapazes preferiram carregá-lo, quase arrastá-lo.

– Vão vocês – murmurou –, e deixem-me aqui.
– Estou certo de que todos conseguiremos ir juntos – respondeu Joe.
Chegaram à porta da extremidade, rumo à caverna de baixo, mas a demora foi prejudicial.

No momento em que Frank ia abrir a porta, desligando sua lanterna, a porta do corredor foi
aberta de um empurrão e a luz do teto se iluminou.

Frank e Joe tiveram uma visão confusa do homem de pele escura que viram no lago

subterrâneo naquela tarde. Snattman. Dois sujeitos muito mal-encarados vinham imediatamente
atrás.

Aparentemente sem reconhecer de imediato o grupo, Snattman indagou irritado:
– O que está acontecendo?
– São os Hardys – gritou um dos outros homens.
O trio fugitivo se lançou correndo pelos degraus abaixo, mas não fez progressos muito

grandes, porque, quando atingiu o patamar inferior, os três contrabandistas já estavam passando
pela porta superior e iniciando a descida.

– Parem – gritou Snattman, descendo de um salto os três últimos degraus daquele lance

de escada, enquanto sacava uma arma automática do bolso. O lugar estava feericamente
iluminado.

Quando Snattman chegou bem mais perto, Frank apanhou um pedaço de fita de aço, que,

usando como chicote, foi bater no punho de Snattman, lançando longe a sua arma. O revólver

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bateu na parede, caiu no chão e escorregou pela parte restante da escada, parando vários degraus
abaixo. Frank chegou bem perto de Snattman, que, completamente surpreendido, não teve
reação, permitindo que o rapaz o encantoasse quase indefeso.

Enquanto isso, Joe, aplicando um violento cruzado de direita, tirou da jogada um dos

outros homens. Fenton Hardy, com as forças repentinamente recuperadas, atacava violentamente
o terceiro contrabandista.

A certa altura os rapazes viram quando o adversário do pai correu para perto de uma

parede e apertou um botão qualquer. Instantaneamente soou uma sirena de alarma no corredor.
Em alguns segundos apareceram outros integrantes da quadrilha. Enquanto alguns apontavam
suas armas para os Hardys, os outros os dominaram completamente.

Diante das armas, pai e filhos viram-se forçados a se render e voltar para a dependência

em que Hardy tinha sido mantido preso até então.

Em menos de cinco minutos, Fenton Hardy estava novamente amarrado àquela cama de

campanha, enquanto Frank e Joe, completamente atados e incapazes de qualquer movimento,
eram amarrados a duas cadeiras.

15

Ameaças Ousadas


Snattman, recuperado da consternação e da surpresa que teve ao descobrir os rapazes

Hardy na sala subterrânea, estava de excelente bom humor. Voltou-se para seus homens e
comentou:

– Viemos na horinha certa – disse, esfregando as mãos de contentamento; – e se não

tivéssemos chegado naquele exato momento, eles todos teriam escapado.

Os Hardys permaneceram em silêncio, desesperados. Frank e Joe estavam certos de que

conseguiriam salvar o pai, e agora os três eram prisioneiros da quadrilha de contrabandistas.

– O que vamos fazer com esses caras? – perguntou um dos homens.
Aquela voz parecia familiar, e os rapazes ergueram os olhos. Não se surpreenderam ao

constatar que se tratava do ruivo que conheceram na Vila Pollitt quando Frank descobriu o boné
do pai.

– Vamos eliminá-los? – indagou Snattman com indecisão. – É realmente um problema.

Agora temos três, em vez de um. A melhor coisa que podemos fazer é deixá-los aqui e
trancarmos a porta.

– E montar algumas armadilhas – sugeriu um dos homens.
Red objetou:
– Enquanto os Hardys estiverem por aqui, haverá perigo. Eles quase conseguiram escapar

desta vez.

– E o que você sugere?
– Devemos fazer o que pretendíamos fazer com o velho, inicialmente – declarou Red,

ameaçador.

– Você quer dizer, livrarmo-nos deles? – perguntou Snattman, pensativo.
– Claro. De todos.
– Bem – disse Snattman, olhando sinistramente para Fenton Hardy.
– Acredito que você já tem bastante peso na consciência, Snattman – declarou o detetive.

– Não espero que me deixe partir – disse amargamente —, mas os rapazes podem ser libertados.
Tudo o que eles tentaram fazer foi resgatar o pai. Você também teria feito a mesma coisa.

– Será? – indagou Snattman. – Não se preocupe com a minha consciência. Ninguém, mas

ninguém mesmo, jamais se interpôs à minha frente. Você acha que eu sou um idiota para deixar
os rapazes livres? Se vocês três são tão amigos e companheiros, provavelmente gostarão de
morrer de fome, juntos.

O contrabandista riu ruidosamente do que considerou uma excelente anedota.

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As mentes de Frank e de Joe estavam em rebuliço, concatenando idéias. Uma coisa,

apenas, estava clara. Snattman dissera que os Hardys quase escaparam. Isso significava que não
havia ninguém montando guarda à entrada secreta.

“Se pudermos agüentar apenas mais um pouco”, pensaram, “o pessoal da guarda costeira

chegará. Não haverá ninguém para impedi-los de chegar até aqui em cima.”

De repente, ocorreu a ambos, ao mesmo tempo, uma possibilidade chocante. “E se a

guarda costeira não conseguir encontrar a porta camuflada que dá passagem do lago para as
escadas?”

Durante a conversa, quatro daqueles marginais permaneceram no corredor, murmurando

frases incompreensíveis. Um deles entrou no quarto, dirigindo-se a Snattman:

– Queria falar com você, chefe.
– O que há desta vez? – perguntou o chefe, com voz desconfiada.
– É a respeito do que faremos com os Hardys, agora que estão todos presos – disse o

homem, com alguma hesitação. – O que fazer com pessoas que dificultam as coisas é assunto
exclusivamente seu. O mesmo não acontece conosco. Estamos neste negócio apenas para tirar o
melhor proveito possível dos resultados do contrabando, mas não queremos nos envolver em
coisas mais complicadas e difíceis.

– É isso mesmo – disse um dos outros homens do grupo.
– É? De repente vocês decidiram assumir uma posição honesta? Tomem cuidado, ou dou

um jeito em vocês.

– Não, claro que não dará jeito nenhum – respondeu o primeiro que tinha falado. –

Somos sócios e vamos retirar exatamente a parte que nos cabe nesse negócio, e não vamos
arriscar vidas por amor. Você sabe.

– Temos outra idéia a respeito do que fazer com estes três. E acho que a idéia é boa –

disse um terceiro quadrilheiro.

– De que se trata? – perguntou Snattman, com impaciência.
– Estivemos conversando a respeito de Ali Singh.
Frank e Joe ficaram atentos ao que o homem diria.
– O que tem Ali Singh? – Snattman perguntou, impaciente.
– Entregamos os prisioneiros a ele. Ali Singh tem um amigo, o capitão Foster, cujo navio

parte hoje para o Extremo Oriente. Vamos embarcar os Hardys nesse navio.

Snattman estava pensativo. A idéia parece ter atraído sua atenção.
– Não é má idéia. Eu não me lembrara de Ali Singh. E, ele pode tomar conta dos três.

Eles jamais voltarão para cá – concluiu com um sorriso sarcástico.

– Pelo que ele me contou a respeito desse tal amigo, é provável que o capitão lance os

três ao mar antes de navegar muito. Segundo eu sei, ele não costuma dar comida a passageiros
dos quais se pode livrar.

– Melhor para nós. Não seremos os responsáveis.
– É, vamos entregá-los a Ali Singh – disse Red. – Ele saberá como cuidar desses três.
Snattman caminhava em redor da cama, olhando para Fenton Hardy.
– Foi uma pena que os rapazes tenham decidido vir bisbilhotar aqui. Agora vocês três

terão de fazer uma pequena viagem oceânica. Vocês jamais farão contato com a guarda costeira
para contar a história.

O detetive ficou quieto. Ele sabia que não conseguiria nada tentando convencer o

bandido.

– Então, você não vai dizer nada? – perguntou Snattman.
– Não, nada. Faça como quiser, mas deixe os rapazes livres.
– Ficaremos com o senhor, pai – disse Frank.
– Claro – acrescentou Joe.
– Certamente. Não darei a nenhum de vocês a oportunidade de voltar a Bayport com essa

história.

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O chefão da quadrilha permaneceu no meio da sala por algum tempo, contemplando os

seus prisioneiros com um sorriso irônico. Então, virou-se repentinamente.

– Bem, acho que está tudo em ordem – disse, dirigindo-se a Red. – Temos que cuidar de

nossos negócios com Burke. Vamos, pessoal, temos de carregar o caminhão de Burke. Se a
polícia encontrar aquele caminhão estacionado lá em cima, estamos perdidos.

– E esses sujeitos? – perguntou Red, indicando os Hardys. – Não devíamos deixar alguém

aqui, cuidando de guardá-los?

– Eles estão muito bem amarrados – disse Snattman, que acrescentou: – É, acho melhor

deixarmos um guarda. Malloy, você fica para tomar conta.

Malloy, um sujeito truculento e duro que estava de sobretudo e com uma malha grossa,

acedeu e sentou-se num caixote, perto da porta. Snattman parecia satisfeito com a decisão
tomada. Depois de advertir Malloy para não dormir em serviço e cuidar que os prisioneiros não
escapassem, saiu da sala. Acompanharam-no Red e os outros bandidos.

Caiu sobre a sala um pesado silêncio depois que os homens saíram. Malloy instalou-se

pesadamente sobre o caixote, olhando fixamente para o chão. O cabo de um revólver aparecia
debaixo do casaco pesado.

Frank tentou forçar as cordas que o amarravam à cadeira. Mas os contrabandistas tinham

feito seu serviço direito. Mal podia mover os músculos.

“Jamais conseguiremos sair desta”, pensou desanimado.
Joe era um sujeito normalmente otimista, mas não estava conseguindo ver uma saída. “A

situação está difícil”, pensou, “e, do jeito como as coisas vão, de manhã estaremos, todos, no tal
navio.”

Para aliviar os pensamentos, os Hardys decidiram que era melhor conversar um pouco,

esperando, contra todas as expectativas, conseguir distrair o homem que ficara de guarda e,
talvez, dominá-lo.

– Calem a boca – disse Malloy –, porque, se vocês não ficarem quietos, eu posso criar

encrencas. – Deu um tapinha sugestivo no revólver.

Depois disso, um silêncio melancólico dominou os prisioneiros. Todos ficaram

deprimidos. Parecia que chegara a hora de seu destino.

16

Trabalho Rápido


Desesperados, os rapazes olharam para o pai, na cama de campanha. Para sua surpresa,

ele estava sorrindo.

Frank já estava a ponto de lhe perguntar o que é que ele achava tão engraçado a respeito

da situação, quando Fenton Hardy sacudiu a cabeça, numa advertência. Olhou na direção do
guarda.

Malloy não estava observando os prisioneiros. Permanecia sentado, olhando fixamente

para o chão. De vez em quando sua cabeça pendia para a frente e ele se recompunha, como se
estivesse lutando para ficar acordado.

“Snattman fez uma péssima escolha quando indicou Malloy para ficar aqui, de guarda”,

pensaram os rapazes.

Várias vezes o homem espreguiçou-se, esticou os braços e esfregou os olhos. Mas,

sempre que sentava outra vez, a cabeça voltava a pender.

Enquanto isso, os rapazes perceberam que o pai estava tentando se desvencilhar das

cordas. Para surpresa geral, parecia que ele não estava tão fixamente amarrado. Os dois rapazes
tentaram, mas não conseguiram fazer o mínimo movimento.

Os rapazes trocaram olhares, imaginando o que estaria acontecendo. Enquanto Joe

permanecia quieto, sem nenhuma expressão, Frank pensou: “Acho que papai apelou para um
velho truque. Não sei como não pensei nisso.”

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Fenton Hardy fizera uso de sua larga experiência. Quando os contrabandistas dominaram

o prisioneiro, atando-o à cama de campanha pela segunda vez, ele usara um truque
freqüentemente utilizado por mágicos e prestidigitadores profissionais que afirmam que podem
desvencilhar-se de cordas fortemente apertadas e camisas de força.

O detetive expandira o tórax e enrijecera os músculos. Também mantivera os braços tão

afastados do corpo quanto fora possível, sem que ninguém percebesse. Dessa forma, quando
esvaziasse os pulmões, encostasse os braços e relaxasse o corpo, as cordas não o prenderiam tão
firmemente quanto os seus captores o desejariam.

“Mas, por que eu e Frank fomos tão idiotas?”, pensou Joe.
Frank mordeu os lábios, desgostoso por não se ter recordado do truque. Sentindo-se

aliviado, lembrou: “É, papai também não se lembrou disso da primeira vez em que o amarraram”.

Fenton Hardy descobriu que a corda que prendia seu pulso direito à cama tinha uma

pequena parte roída. Começou imediatamente a tentar afrouxar a corda. Isso demorou bastante e
a trama grossa da corda chegou a arranhar-lhe o braço, mas finalmente conseguir soltar a mão
direita.

Frank quase gritou de alegria. Olhou para o guarda e teve a impressão de que ele dormia

profundamente. “Espero que continue assim até que consigamos escapar”, pensou com fervor.

Frank e Joe observavam o pai, entusiasmados, enquanto ele tentava desatar mais um nó.

O detetive fez várias tentativas, durante longo tempo. Era um trabalho lento e difícil, que tinha
de executar com uma só mão. Mas os rapazes compreenderam, pela sua expressão facial, que os
contrabandistas não ataram tão firmemente as cordas.

Nesse momento o guarda levantou a cabeça ligeiramente e o detetive teve de recolocar a

mão rapidamente sobre a cama. Fechou os olhos, como se estivesse dormindo, e seus filhos
fizeram a mesma coisa. Mas, abrindo ligeiramente as pálpebras, observavam cuidadosamente o
guarda.

O guarda grunhiu:
– Está tudo em ordem.
Mais uma vez, tentou ficar acordado, mas não conseguiu. Pouco a pouco a cabeça foi

baixando, até que o queixo, finalmente, tocou o peito. A respiração profunda e ritmada revelou
aos prisioneiros que ele dormia profundamente.

Fenton Hardy reiniciou o trabalho no nó que mantinha sua mão esquerda presa à cama.

Em alguns minutos conseguiu soltá-lo, e sua mão esquerda ficou livre. Depois de certificar-se de
que o guarda dormia, sentou-se na cama e começou a soltar os pés. Era uma tarefa mais fácil. Os
contrabandistas apenas passaram uma corda pela cama para fixar as pernas do detetive. Em
apenas alguns segundos estava completamente livre.

“Agora ele vai nos libertar”, pensou Joe, “e vamos sair daqui.”
Quando caminhava na ponta dos pés, para onde estavam os filhos, Fenton Hardy

provocou leve ranger das tábuas do soalho. O guarda murmurou alguma coisa, como se estivesse
dormindo, sacudiu a cabeça e sentou, firme.

“Não, agora não”, disse Frank, temendo o que poderia acontecer. Viu seu pai apanhar do

chão um pedaço de pano branco que alguém deixara cair.

Uma expressão de estupefação apareceu no rosto de Malloy. Quando abriu a boca para

pedir socorro, Fenton Hardy aproveitou-se do espaço de que dispunha, saltando sobre o homem.

– Fique quieto – disse o detetive.
Malloy mal teve tempo de esboçar uma reação, e a mão do detetive já estava em sua boca.

Enfiou o trapo de pano na boca do guarda e jogou-o ao chão. Os dois rolaram de um lado para
outro, numa luta silenciosa, mas desesperada. Os rapazes impossibilitados, apenas olhavam,
enquanto seu temor aumentava. Eles sabiam que seu pai estava enfraquecido em conseqüência da
prisão e da fome, enquanto o guarda era forte e musculoso. Mesmo assim, o detetive gozava da
vantagem do ataque de surpresa. Malloy nem tivera tempo de reunir as idéias.

Frank e Joe observavam a batalha em agonia e suspense. Tudo o que desejavam era poder

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ajudar o pai.

O detetive ainda levava vantagem, porque podia respirar com maior facilidade do que o

adversário. Malloy cambaleou e levantou os dois braços, enquanto caía ao chão. O detetive
aproveitou-se para, lançando-se sobre ele, apanhar seu revólver.

– Acabou a brincadeira – disse o detetive em voz baixa. Sem que ninguém lhe ordenasse,

o guarda levantou os dois braços, sentando no chão, praticamente perdido.

– Ele tem uma faca, pai – disse Joe com cuidado. – Pegue a faca também.
– Obrigado, Joe. Muito bem, passe a faca para cá – disse a Malloy, apontando a arma,

ameaçadoramente.

Sem poder fazer outra coisa, o guarda tirou a faca da bainha de couro que levava no

cinto, entregando-a a Fenton Hardy.

Frank e Joe sentiam vontade de gritar de satisfação, mas apenas sorriram levemente para

o pai.

Sempre observando Malloy, o detetive caminhou para trás, até chegar ao lado de Joe. Sem

tirar os olhos do contrabandista, abaixou-se e, com a faca, cortou a corda que atava seu filho.
Felizmente a faca estava afiada e a corda rompeu-se logo.

– Agora, sim, está tudo bem. Obrigado, pai – murmurou Joe.
Levantou-se da cadeira, pegou a faca e, enquanto seu pai observava Malloy, cortou a

corda que amarrava Frank.

– Malloy – disse o detetive –, venha para cá. Dirigiu-se à cama e indicou, com

movimentos, que o contrabandista devia deitar-se na cama de campanha. Malloy sacudiu a cabeça
vigorosamente, mas foi empurrado por Joe. O guarda deitou-se.

As cordas que amarraram o detetive não tinham sido cortadas. Rapidamente, Frank e Joe

amarraram Malloy exatamente como seu pai tinha sido amarrado antes. Em menos de cinco
minutos, os Hardys estavam livres.

– E agora? – perguntou Frank, sem que Malloy ouvisse. – Vamos nos esconder até que a

guarda costeira chegue aqui? – Rapidamente, contou ao pai que enviara Tony a Bayport para
buscar socorro da polícia.

Joe observou:
– Já era tempo de eles terem chegado aqui. Pode ser que não tenham encontrado aquela

porta secreta. Vamos descer para ajudar.

Todos concordaram com o plano, mas, mal tinham chegado ao primeiro lance de escada,

ouviram vozes elevadas e aparentemente raivosas.

– Não é possível que sejam policiais da guarda costeira – disse o detetive. – Vamos

escutar um pouco. Talvez possamos correr na outra direção. Conheço o caminho para sair do
subterrâneo.

De baixo, chegavam as frases iradas da conversa:
– Seu traidor. Esse material pertence à quadrilha toda, e não se esqueça disso.
– Ouça – disse a segunda voz –, eu não preciso obedecer a ordens suas. Achei que

podíamos confiar um no outro. Agora você não quer dar prosseguimento ao nosso plano. Quem
vai ficar sabendo, se tirarmos uns dez ou cinco pacotes daquele amigo de Ali Singh?

– Está certo. O material é mais facilmente passável do que drogas. As drogas são muito

perigosas para mim. Snattman, se quiser, pode arcar com a responsabilidade do rapto. Eu não
quero.

As vozes já estavam tão próximas que os Hardys não ousaram continuar esperando por

mais tempo.

– Vamos embora – disse o pai.
Avançou de volta para o corredor, atravessando-o, rumo à porta da extremidade. De

repente, Frank e Joe perceberam que o pai cambaleava e tiveram medo de que desmaiasse. Joe
lembrou-se de que o pai só comera um pequeno doce nas últimas horas. Enfiou a mão no bolso e
apanhou outro doce e alguns pedaços de rosquinhas. Rapidamente colocou tudo nas mãos do

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pai. Fenton comeu tudo avidamente, enquanto seus filhos o apoiavam, conduzindo-o para a
porta.

Quando abriram cuidadosamente a porta, viram um novo lance de escada, que, de acordo

com a informação do pai, ia até o telheiro existente perto da Vila Pollitt, onde havia uma porta
disfarçada, um alçapão.

– Foi por lá que Snattman me trouxe para baixo. Têm uma lanterna? Não temos tempo a

perder – disse o detetive, que já se sentia mais forte. – Eu vou na frente.

Enquanto subiam, Frank e Joe ficaram imaginando se sairiam no telheiro de lenha onde

viram Klein apanhando pedaços de madeira.

Quando atingiu o fim da escada, Fenton Hardy mandou que desligassem a lanterna e

empurrou a porta. Mas não conseguiu movê-la.

– Tentem vocês, rapidamente – disse aos rapazes. – Aqueles homens que estavam

subindo podem ter encontrado Malloy.

– Se isso acontecer, tudo ficará mais difícil.
Os irmãos forçaram a porta com os ombros. Logo ouviu-se o ruído de toras de madeira

caindo. A porta cedeu rapidamente.

Frank saiu. Parecia não haver ninguém por perto. Foi para o lado do telheiro, seguido

pelos outros.

Os três permaneceram em silêncio. A noite estava escura. O vento, passando pela

vegetação, fazia ruídos surdos. Diante dos Hardys erguia-se a sombria massa da casa do rochedo.
Não se via nenhuma luz.

Da direção do pátio vinham ruídos monótonos, ritmados. Os rapazes e seu pai

imaginaram que o caminhão dos contrabandistas estava sendo carregado com as mercadorias que
deveriam ser colocadas no mercado pelo tal Burke.

De repente, os Hardys ouviram vozes procedentes da escada que acabavam de subir.

Rapidamente, Frank fechou a porta do alçapão e Joe empilhou lenha sobre ela. Então, em
silêncio, os Hardys dirigiram-se para o pátio.

17

Reféns


Ágeis como índios, os três Hardys correram através do pátio e desapareceram entre as

árvores. Dirigiram-se à estrada, bem distante dali.

“Espero que passe um ônibus. Então poderemos ir até um telefone para informar...”,

imaginou Frank.

Seu pensamento foi interrompido quando ouviram um barulho que lhes infundiu um

sentimento de terror – o ruído de toras de madeira rolando de cima da porta do alçapão.

Em um instante ouviu-se um grito ameaçador:
– Chefe, Red, os Hardys fugiram. Vamos encontrá-los.
“Esse deve ser um daqueles homens que vinham subindo da caverna. Provavelmente

encontraram Malloy amarrado”, pensou Joe.

Imediatamente o lugar assumiu o burburinho da vida, com os contrabandistas apontando

suas lanternas em todas as direções. Alguns dos homens correram do caminhão para a estrada,
aos gritos. Outros começaram a procurar entre as árvores. Outro homem surgiu do alçapão. Ele e
um outro companheiro rumaram para o lado do mar.

Dois musculosos quadrilheiros abriram a porta da cozinha e, saindo para o pátio,

anunciaram:

– Não há ninguém na casa.
– Também não estão na praia – disse uma outra voz. – Acabo de falar com Klein, pelo

telefone.

– Fenton Hardy tem uma arma. Ele pegou a de Malloy – advertiu uma voz procedente

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das proximidades da casa.

– É melhor que vocês não deixem os Hardys escapar, senão terão de acertar contas

comigo – gritou Snattman.

– Ele não perde sua marca pessoal – disse um dos quadrilheiros.
Quando começara a correria, o detetive obrigara seus dois filhos a deitar no chão,

dizendo-lhes que permanecessem em silêncio, sem fazer nenhum movimento. Naquele instante,
podiam ouvir as passadas rápidas dos contrabandistas que corriam entre as árvores. Seus corações
batiam desordenadamente. Não parecia possível que eles não fossem encontrados.

Mesmo assim, um depois do outro, vários homens passaram a apenas alguns metros dos

Hardys, correndo para a estrada. Fenton Hardy ergueu a cabeça e disse aos filhos, enquanto
olhava para a Vila Pollitt:

– Rapazes, vamos dar uma esticada até a porta da cozinha. Esses homens jamais

esperarão que a gente se esconda exatamente lá.

Os três se levantaram. Rápida e silenciosamente, atravessaram o pátio escuro e entraram,

sorrateiramente, na casa. Aparentemente, ninguém os viu.

– Quando Snattman não nos encontrar lá fora, será que não procurará aqui, pelo menos

para ter certeza? – perguntou Joe.

– Sim – respondeu o pai –, mas espero que até lá a guarda costeira e a polícia estadual

tenham chegado.

– Joe e eu descobrimos, no outro dia, uma escada dissimulada que leva ao sótão.

Snattman não se lembrará de procurar lá. Vamos para cima – disse Frank.

– Você se esqueceu do fantasma – disse Joe –, e ele sabe que nós descobrimos aquela

escada.

– Mesmo assim, acho boa a sugestão de Frank. Vamos para o sótão. Havia roupas no

armário, roupas que possam ser usadas para esconder a porta de entrada? – perguntou Fenton
Hardy.

– Sim, existe um roupão de banho, pendurado num cabide.
Os Hardys não ousaram usar a lanterna e percorreram todo o caminho tateando as

paredes e os corrimões das escadas, com Frank na frente e o detetive entre os dois filhos.
Chegando ao segundo andar, Frank observou através da janela que dava para a parte traseira da
casa.

– Os contrabandistas estão voltando. As luzes apontam para cá – disse em voz baixa.
Os Hardys dobraram a velocidade, mas mesmo assim avançavam pouco, porque

esbarravam em cadeiras, e logo deram de cara com um guarda-roupa enquanto procuravam
encontrar o caminho no hall superior, rumo ao dormitório onde existia a escada oculta.

Afinal o trio encontrou o local. Exatamente quando Frank ia abrir a porta para o sótão,

ouviu-se o ruído de outra porta que se abria no primeiro andar.

– Revistem tudo e procurem em todos os quartos – disse a voz de Snattman.
– Estamos encurralados – murmurou Joe.
– Talvez não – respondeu Frank. – Não sei por que, mas acho que o fantasma era Klein.

É possível que ele seja o único que sabe da existência desta escada, e por enquanto ele está lá
embaixo, na praia.

– Vamos arriscar-nos, indo lá para cima, mas é preciso. Não façam nenhum barulho –

disse o detetive, enquanto colocava o cabide do roupão bem na frente da porta disfarçada,
tentando escondê-la ainda mais.

– A escada range – foi a informação que Joe lhe deu. Fenton Hardy disse aos filhos que

forçassem decididamente cada degrau, com as mãos, firmemente, até colocar o pé no lugar, e,
então, levantassem o corpo de uma só vez e repentinamente.

– Inclinem-se para a frente, para não perder o equilíbrio – advertiu.
Temendo não conseguir fazer o que o pai dissera, Frank abriu a porta e iniciou a subida,

no mais absoluto silêncio e em plena escuridão. Mas o terrível medo de ser capturado fez com

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que usasse de extrema cautela, e ele conseguiu chegar ao sótão sem fazer o mínimo ruído.

Depois de fechar a porta, Joe e o pai seguiram seus passos, rapidamente. Os três se

deslocaram sem o mínimo ruído, dirigindo-se para um canto escondido e bem distante da escada,
atrás de uma grande arca. Sentaram-se e esperaram, sem ousar nem mesmo respirar com
normalidade e sem fazer o mínimo barulho. Lá de baixo, ouviam passos rápidos, o bater de
portas repetidas vezes e conversa em voz alta.

– Aqui, não.
– Ninguém aqui.
– Aqui também não.
A busca parecia estar chegando ao fim, pois o grupo que revistava o pavimento superior

estava reunido exatamente no quarto onde começava a escada disfarçada.

“É isso mesmo. Acho que é o fim. Eles agora vão subir para procurar aqui em cima”,

pensou Frank, preocupado.

O pai aproximou-se e colocou uma das mãos sobre o ombro de cada um dos filhos,

como se quisesse transmitir-lhes segurança. Alguém abriu a porta do armário embutido. Os
Hardys ficaram mais nervosos. Será que o roupão estava disfarçando suficientemente a passagem
para enganá-los?

– Vazio – anunciou o homem, que fechou a porta. Os quadrilheiros foram para o

pavimento térreo.

Houve acalorados apertos de mãos entre os rapazes e seu pai. Mas, além disso, não

moveram um só músculo do corpo, embora internamente se sentissem mais relaxados.

Agora os Hardys já tinham outras preocupações. É possível que Snattman e sua

quadrilha, agora alertados, preferissem ir embora, desaparecendo antes que a polícia estadual e a
guarda costeira pudessem chegar à casa do rochedo.

Frank teve um sobressalto. Repentinamente, ele percebeu que seu pai estava escondido

para proteger os filhos. Se estivesse sozinho, certamente o intrépido detetive estaria lá embaixo,
lutando para dominar Snattman e romper o elo da cadeia de contrabandistas.

“Ele é um pai muito legal”, pensou Frank, que, no entanto, logo teve uma idéia. “Talvez

não seja um plano tão ruim, ficar aqui onde estamos. Papai teria sido fatalmente morto, se
estivesse em algum outro lugar da propriedade.”

Um minuto depois, os Hardys perceberam que vinham vozes, novamente, do andar

superior. Uma das vozes era a de Snattman. A outra era a de Klein.

– Sim, existe uma escada secreta que leva ao sótão. Eu a encontrei quando me fazia de

fantasma. Os irmãos Hardy também a descobriram. Aposto todo o meu lucro nesse excelente
carregamento de drogas que temos hoje como o detetive e seus filhos estão lá em cima.

Os Hardys sentiram-se completamente perdidos. Afinal, seriam capturados novamente,

depois de tanto trabalho.

Ouviram quando se abriu a porta aos pés dos degraus, dentro do guarda-roupa.
– Suba e dê uma olhada lá, Klein – ordenou Snattman.
– Eu não, chefe. Hardy está com a arma de Malloy.
– Eu mandei você subir.
– Você não pode obrigar-me. Eu seria um alvo facílimo, porque inicialmente não teria

condições de vê-los. Ele está escondido e vai matar-me tão rapidamente que eu jamais ficarei
sabendo como foi.

A despeito da gravidade do momento, Frank e Joe estavam rindo da situação criada entre

os contrabandistas. Mas ficaram desanimados quando Snattman disse:

– Eu mesmo vou. Dê-me essa lanterna.
Daí a pouco um forte facho de luz iluminava o interior do sótão. Aumentava de

intensidade à medida que os passos subiam a escada.

– Hardy, se você quer viver, fale – advertiu Snattman, com entonação maldosa na voz.
O detetive não respondeu.

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– Desta vez você está encantoado.
Hardy não respondeu.
– Ouça, Hardy – gritou Snattman –, eu sei que você está aí em cima, porque mexeu no

roupão. Dou-lhe exatamente um minuto para sair daí do sótão.

Ainda não houve resposta e seguiu-se um intervalo de silêncio.
Então, ouviu-se novamente a voz de Snattman.
– Esta é a sua última oportunidade, Hardy.
Quase um minuto se passou sem o mínimo sinal de vida de nenhum dos lados

contendores. Então Snattman subiu mais alguns degraus da escada.

– Hardy, tenho uma proposta a fazer. Sei que não deseja morrer e que quer conservar a

vida dos seus meninos. Eu também quero viver. Digamos que estamos empatados.

O detetive manteve seu silêncio e Snattman continuou subindo.
– Dou-lhe minha palavra. Não vou disparar minha arma. Sei que você não atira, a menos

que seja atacado antes.

Um momento depois ele apareceu na ponta da escada, com as mãos vazias, com exceção

de uma lanterna.

– Eis a minha proposta: a sua vida e a de seus filhos, pela minha e pelas dos meus

homens.

– De que maneira? – perguntou Hardy friamente.
– Simples; vocês são meus reféns.
– Reféns! – gritaram Frank e Joe ao mesmo tempo.
– Sim. Se eu e meus homens conseguirmos tirar nossa mercadoria daqui antes que

cheguem a polícia e a guarda costeira, vocês estarão livres pouco depois.

– E se eles vierem? – perguntou Frank.
– Então vou negociar com eles. E não acho que desprezem minhas ofertas, pois farei o

possível para que compreendam que se trata de uma troca mesmo. Se tentarem me pegar, vocês
três morrerão.

Frank e Joe engasgaram. O famoso Fenton Hardy e seus filhos iriam ser usados como

escudo de proteção para uma grande quadrilha de bandidos.

Os rapazes olharam para o pai, consternados. Para sua admiração, ele parecia calmo,

embora sua boca estivesse apertada, numa linha de preocupação.

– Não adiantará nada você me matar, Hardy. Malloy disse que apenas uma bala está

inteira nessa arma. Se meus homens ouvirem um disparo, virão aqui imediatamente e matarão
vocês três.

Os Hardys compreenderam que, se Snattman estivesse falando a verdade a respeito da

arma, então os três estavam mesmo à mercê daqueles contrabandistas. Snattman começava a se
afastar para a escada.

– Acho que sou um sujeito muito justo – disse com um sorriso sarcástico.
“E um sujeito facilmente odiado e temido”, pensou Joe irado. “Temos de nos livrar desse

camarada, de qualquer maneira”, concluiu seu pensamento. Mas, no momento, não havia
possibilidade.

18

A Guarda Costeira Age


Enquanto os Hardys estiveram investigando o esconderijo dos contrabandistas, acabando

por ser capturados junto com o pai, Tony e Chet faziam o melhor que podiam para cumprir as
determinações de Joe e de Frank.

Durante a primeira parte da viagem de volta a Bayport para estabelecer contato com a

guarda costeira, o “Napoli” atravessara a escuridão como uma flecha. De repente, Tony
exclamou:

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– Ora vejam, minha luz de estibordo apagou.
Chet deu uma olhada a bombordo.
– Esta luz está em ordem. A lâmpada do outro lado deve ter queimado.
– Era o que eu temia. Aposto que não tenho outra.
– Você quer dizer que alguém poderia não nos enxergar e abalroar-nos? – perguntou

Chet, temeroso.

– Precisamos tomar muito cuidado – respondeu Tony. – Chet, dirija um pouco, sim? Vou

ver se encontro outra lâmpada.

Chet trocou de lugar com Tony, acelerou um pouco o motor e ficou observando

cuidadosamente à sua frente. A lua ainda não aparecera e era difícil ver alguma coisa.

– Encontrou? – perguntou Chet quando Tony acabou de procurar em todos os cantos e

começava a procurar no último.

– Ainda não – respondeu, enquanto puxava um saco de lona, algumas roupas e material

de pesca. Quando atingiu o cantinho posterior do compartimento, soltou um suspiro de alívio e
de satisfação. – Aqui há uma lâmpada... uma só. Faça figa, companheiro. Se não estiver boa,
estamos bem arrumados.

– E violando as leis, também – acrescentou Chet. Segurou a respiração, enquanto Tony

foi para a frente, ajoelhando-se na parte interna da proa. Com a ajuda de uma lanterna, localizou a
capa protetora da lâmpada de estibordo, soltando-a. Depois de retirar a lâmpada queimada,
rosqueou a nova. Quando a luz apareceu, Tony respirou aliviado e voltou da proa, engatinhando.

– Ótimo – disse Chet. – Se nós...
Mas não conseguiu terminar a frase. Nesse exato momento, viu surgir à sua frente um

outro barco, rápido. Como um relâmpago, virou rapidamente o volante, passando a alguns
centímetros da outra lancha.

– Seu idiota – gritou o piloto da outra lancha. – Porque não olha para a frente?
Chet não respondeu. Tremia. Além disso, ele tinha reduzido tanto a força do motor, que

este, não agüentando a resistência provocada pela curva excessivamente rápida, afogara
completamente, morrendo.

– Era só o que faltava – disse o rapaz.
Tony estivera em silêncio por longo tempo. Ele tinha sido lançado violentamente contra a

beira da lancha, no momento da curva rápida, e estava ainda meio tonto. Mas logo imaginou o
que estava acontecendo e engatinhou rapidamente para o lado de Chet.

– O que aconteceu? – perguntou.
Chet contou o que acontecera e disse:
– É melhor você assumir o comando. Sou um piloto falido.
Tony tomou o acento atrás do volante, deu nova partida e acelerou, rumo à baía de

Barmet.

– Perdemos um bocado de tempo, sem dúvida. Estou curioso de saber o que Frank e Joe

estão conseguindo fazer.

– Espero que tenham encontrado o pai – acrescentou Chet.
Não houve mais nenhuma conversa até que chegaram à baía. A estação da guarda costeira

para aquela região ficava a pequena distância, ao longo da costa sul da baía, e Tony levou o
“Napoli” diretamente para lá. Desembarcou rapidamente no ancoradouro, onde estavam
atracados dois patrulheiros e um pequeno veleiro.

Os dois rapazes saíram correndo na direção do edifício branco. Quando iam entrar no

prédio, Chet e Tony ficaram admirados ao ver que Biff Hooper e Phil Cohen vinham saindo.
Jerry Gilroy, outro amigo de Bayport e colega de escola, estava com eles.

– Afinal. Como estamos satisfeitos de vê-los de volta. Onde estão Frank e Joe? –

perguntou Biff.

– Ainda caçando contrabandistas – respondeu Chet. – Por que vocês estão aqui?
Biff explicou que há uma hora a Senhora Hardy telefonara, perguntando se tinha notícias

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de Frank e Joe. Ela confessara que estava profundamente preocupada por causa dos filhos. Ela
sabia que ambos tinham ido procurar o pai e estava em pânico, imaginando que poderiam ter
sido capturados pelos mesmos homens que, possivelmente, prenderam Fenton Hardy.

– Eu lhe disse que reuniria alguns amigos e tentaria encontrá-los. Jerry imaginou que

talvez Frank e Joe tivessem voltado à cidade e estivessem por aí, em alguma parte. Procuramos
bastante, mas não conseguimos localizá-los em nenhum lugar. Pedimos o carro do Senhor Gilroy
e viemos até aqui para avisar a guarda costeira. Eles vão enviar algumas lanchas. Melhor vocês
entrarem e explicarem a situação ao Oficial Robinson.

Os rapazes correram para dentro. Rapidamente, Chet e Tony relataram as suspeitas dos

Hardys de que teriam encontrado a entrada para o esconderijo dos contrabandistas.

– Vocês podem enviar ajuda para lá, imediatamente? – perguntou Chet. – Podemos

mostrar a vocês onde fica o túnel secreto.

– Isso tudo é de causar grande surpresa. Vou ordenar ao “Alice” que siga para lá,

imediatamente. Vocês poderão começar o trabalho em cinco minutos.

– Vou telefonar à Senhora Hardy – sugeriu Jerry. – Todavia, acho que a notícia não será

recebida com muita satisfação.

Quando Jerry foi embora, Chet contou ao Oficial Robinson que os Hardys acreditavam

saber os nomes de pelo menos dois dos homens que estavam envolvidos em contrabando. Chet
revelou as suspeitas dos Hardys a respeito de Snattman e do marinheiro indiano Ali Singh.

– Acreditamos que Ali esteja na tripulação do “Marco Polo”, navio que atracará amanhã

cedo em Bayport. Frank e Joe receberam informações que os levam a imaginar que seja este o
negócio: enquanto o navio estiver ao largo, Ali Singh apanha as drogas roubadas, a bordo, e um
dos contrabandistas recolhe a mercadoria, usando uma pequena lancha.

Robinson ergueu ligeiramente a sobrancelha.
– Aqueles rapazes Hardy, certamente, estão no mesmo caminho do pai. Eles têm tudo

para serem bons detetives.

Biff contou ao oficial da guarda costeira as aventuras dos rapazes na casa aparentemente

mal-assombrada do penhasco, durante sua primeira visita à Vila Pollitt.

– Frank e Joe estão certos de que existe alguma relação entre a casa e os contrabandistas.
– E provavelmente eles têm razão – observou o policial. – Vou telefonar já para a polícia

estadual, para contar-lhes os últimos fatos a respeito do caso.

Os rapazes esperaram, enquanto ele contava as novidades. Jerry, que acabara de telefonar

à Senhora Hardy, disse que ela parecia ainda mais preocupada do que da primeira vez, mas
aliviada por saber que a guarda costeira já estava tomando as providências necessárias.

Então o oficial disse aos rapazes que poderia entrar em contato com o comandante do

“Marco Polo”, por telefone. A ligação foi feita e os rapazes ouviram, com grande interesse, a
conversa. O comandante tinha uma voz forte que eles podiam ouvir perfeitamente.

– Sim, tenho um marinheiro chamado Ali Singh – disse em resposta à pergunta do Oficial

Robinson. – Ele é ajudante da cozinha.

Depois de ser informado de que havia suspeitas de que Ali Singh estava roubando drogas

que eram depois lançadas ao mar para serem recolhidas por um cúmplice, disse:

– É algo que ele poderia fazer facilmente. Singh provavelmente joga as drogas ao mar

quando lança o lixo para fora, embora não seja exatamente essa a sua função. As drogas
poderiam ser colocadas numa sacola cheia de ar e à prova de água.

– Comandante, o senhor pode mandar alguém observar esse Ali Singh, sem que ele saiba

que está sendo observado? – perguntou Robinson. – Enviarei uma patrulha para observar se
alguém de sua quadrilha estaria dirigindo-se para as proximidades do “Marco Polo” numa lancha
de pequenas dimensões com o objetivo de recolher esses sacos especiais. A que distância da costa
está o navio?

– Aproximadamente a vinte e quatro quilômetros da sua estação – foi a resposta.
– Por favor, fique em contato com a patrulheira, sim? Trata-se da “Henley”, sob o

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comando do Oficial Brown.

– Certo, de acordo.
– É possível que Ali Singh seja preso, quando seu navio atracar.
Concluída a conversa, entrou na sala um guarda uniformizado. Foi apresentado como

Oficial Bertram, no comando do “Alice”, que seguiria Tony e Chet até o ninho dos
contrabandistas.

– Estou pronto, senhor – disse ao seu superior, perguntando aos rapazes: – Está tudo

combinado?

Chet e Tony acederam. Virando-se para acompanhar Bertram, viram que Biff, Phil e Jerry

pareciam aborrecidos.

Notando a expressão de desânimo dos três rapazes, Robinson inclinou-se sobre sua mesa

e disse:

– Acho que vocês estavam esperando participar disso, não? Que tal irem a bordo do

“Henley”, com o Oficial Brown, para acompanhar a movimentação?

Os olhos dos três rapazes brilharam e se arregalaram; então Phil perguntou:
– O senhor está falando sério?
– O que querem vocês? Um convite formal e por escrito? – respondeu Robinson com um

largo sorriso.

Telefonou a Brown e, depois de apresentar os rapazes, explicou qual seria a missão do

“Henley”.

– Compreendi, senhor. Partiremos imediatamente – disse Brown.
Os três rapazes acompanharam-no até o ancoradouro e subiram a bordo. Lá já estavam

os patrulheiros, e a lancha partiu imediata e rapidamente. Para os rapazes, os vinte e quatro
quilômetros foram percorridos numa rapidez que parecia incrível. As luzes do “Marco Polo”
faiscavam a distância.

– Está-se deslocando muito lentamente, não? – perguntou Biff ao comandante.
– Sim, sua velocidade é de apenas quatro nós – respondeu Brown.
– Portanto, seria fácil para uma lancha aproximar-se por um dos flancos e receber até

mesmo uma carga de bordo, não é? – perguntou Phil.

– Sim, é possível. – Enquanto respondia, o oficial apanhou uma luneta, que apontou para

o navio. – O vento está à esquerda, para onde vai a corrente. A maré vai subir e tudo o que for
lançado à água flutuará rumo à praia.

Ordenou ao timoneiro que passasse pelo “Marco Polo” contornando-o pelo lado oposto,

a uma distância de duzentos e cinqüenta metros, para então desligar o motor e as luzes.

Quando atingiram o ponto previsto, Brown ordenou que todos a bordo do “Henley”

fizessem o mais absoluto silêncio. Ninguém devia falar ou fazer o mínimo movimento. Os
conveses do “Marco Polo” e pontos da água à sua volta eram iluminados pelos raios de luz
procedentes de suas janelas e escotilhas da ponte de comando. Biff, Phil e Jerry juntaram-se perto
do comandante, que apontava seu poderoso binóculo para as escotilhas do portaló, com o
objetivo de informar a todos o que estava se passando a bordo. O comandante disse que havia
pequena atividade no “Marco Polo” e os rapazes deduziram que ou os passageiros estavam
dormindo ou preparavam suas bagagens, esperando o desembarque da manhã seguinte.

De repente, o Comandante Brown percebeu que uma das escotilhas se abrira. Um

homem mirrado, de compleição fraca e de cabelos ligeiramente compridos e muito negros
apareceu na abertura redonda. Olhou em volta e, rapidamente, despejou no mar o conteúdo de
uma grande vasilha, fechando a escotilha a seguir.

“Ali Singh”, os três rapazes pensaram simultaneamente, assim que Brown contou o que

tinha visto.

Ficaram observando atentamente, para ver o que aconteceria a seguir.
Num dado momento, Phil sentiu que Biff apertava seu braço e apontava para o mar.

Vagamente eles perceberam que havia uma longa vara, com uma espécie de cesta de caça atada na

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extremidade. A vara surgiu no meio do círculo de luz projetado pela escotilha e “pescou” alguma
coisa. Brown informou que, aparentemente, a pessoa que sustentava a vara apanhou o que queria
no meio daquele lixo e rapidamente recolheu o instrumento, tirando-o do foco de luz.

Os rapazes aguçaram os ouvidos, à espera do ruído de um barco. Nada ouviram, o que os

deixou intrigados. Também se perguntaram por que o Comandante Brown não adotava nenhuma
medida destinada a capturar aquela pessoa.

O tenso comandante cedeu o binóculo para que Phil desse uma espiada. Sem dizer nada,

o intrigado rapaz observou através das oculares, focalizando o ponto indicado por Brown. Para
sua admiração, percebeu a silhueta de uma pequena lancha, com duas pessoas a bordo. Cada uma
tinha um remo, e ambas levavam a lancha para longe do “Marco Polo” o mais rapidamente
possível.

– Apanhamos os contrabandistas no momento do crime – disse Brown em voz baixa.
– O senhor não vai prendê-los? – perguntou Phil.
– Ainda não – respondeu o oficial. – Temo que nada se possa fazer sem que ocorra um

tiroteio. Não quero assustar os passageiros do “Marco Polo”. Vamos esperar um pouco mais.

De repente, o motor da lancha dos contrabandistas começou a roncar. Sem perder

tempo, Brown começou a dar ordens a seus homens. Os motores entraram em funcionamento
no mesmo instante.

Estava iniciada a caça!

19

A Caçada


Logo depois o holofote de buscas do “Henley” foi aceso. Captou logo a posição da

lancha, que se dirigia rapidamente para a praia, com potência máxima. Gradativamente o barco da
guarda costeira foi diminuindo a distância entre os dois.

O Comandante Brown apanhou um megafone e gritou aos fugitivos que parassem. Eles

não deram a mínima atenção.

– Temos de mostrar a eles que estamos falando sério. Vamos disparar sobre a cabina –

disse Brown, dirigindo-se a Phil, Biff e Jerry.

Ordenou-lhes que se afastassem da linha de tiro, para o caso de os bandidos responderem

ao fogo. Obedeceram, e, embora de seu abrigo não pudessem ver a lancha dos contrabandistas,
ouviam perfeitamente o que estava acontecendo.

O “Henley” acelerou para a frente e os rapazes ouviram o assobio de um disparo

cortando o ar.

– Desliguem o motor – ordenou Brown. Um segundo depois, acrescentou: – Larguem

essas armas.

Aparentemente os contrabandistas obedeceram às duas ordens, porque logo a seguir

Brown se dirigiu aos rapazes:

– Vocês já podem sair.
Os três foram para o lado do comandante. Biff chegou a tempo de ver que um dos

homens presos, ligeiramente voltado para o lado, levava a mão até o bolso grande de sua japona
esportiva. Biff esperava que ele tirasse dali um revólver, e já estava pronto para advertir Brown,
quando percebeu que o bandido jogara alguma coisa ao mar.

“As drogas raras”, pensou Biff.
Instintivamente começou a se despir e, quando os outros lhe perguntaram o que

pretendia fazer, disse:

– Tenho uma tarefa submarina a cumprir.
Num instante saltou a estibordo e nadou rapidamente, na direção da lancha dos

contrabandistas. Passou por ela, dirigindo-se ao outro lado.

Enquanto isso, Brown ordenara aos bandidos que colocassem as mãos sobre as cabeças.

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Na medida em que o “Henley” se aproximava, dois homens da guarda costeira fizeram a
abordagem e colocaram algemas nos dois bandidos. Brown ordenou a seus homens que levassem
os bandidos para a estação da guarda costeira, usando a própria lancha.

– Vocês não podem nos acusar de nada. Vocês não têm o direito de nos prender – gritou

um dos capturados.

Nesse exato momento, a cabeça de Biff Hooper surgiu ao lado da lancha, e num instante

ele estava a bordo. Falou bem alto:

– Há muitas acusações contra esses homens. Aqui está a prova.
Ele segurava uma sacola à prova de água, fortemente selada. Era transparente e podiam-

se facilmente ler os rótulos do conteúdo.

– Acontece que sei que o que está aí é uma droga extremamente rara. Ouvi referências a

ela há alguns dias – disse Biff.

Essa afirmação tirou o entusiasmo dos contrabandistas. Os dois homens insistiram que

haviam sido contratados apenas para dirigir a lancha e recolher a “encomenda”. Mas negaram-se
a revelar o nome da pessoa que os contratara e o local para onde deviam levar a mercadoria.

– Já sabemos as duas respostas – disse Brown aos bandidos, e, dirigindo-se ao seu

timoneiro, ordenou: – Vamos para a casa do rochedo. É possível que estejam precisando da
nossa ajuda, lá.

Biff tinha voltado para bordo e, enquanto vestia as roupas, o “Henley” voltou a sulcar as

águas. Ele murmurou para os companheiros:

– Acho que ainda vamos ver muita coisa interessante.
Um pouco antes desses acontecimentos, Chet e Tony tinham chegado à área onde se

encontrava o túnel secreto. A grande lancha patrulheira que os acompanhara estava com seu
holofote ligado, tentando descobrir o local exato.

– Vejam – gritou Chet.
Uma lancha com dois homens a bordo acabara de entrar nas águas agitadas e juncadas de

rochas, na frente do túnel.

– Parem – ordenou o Comandante Bertram, do “Alice”.
O homem que estava na direção obedeceu à ordem e desligou o motor. Mas, ao invés de

se entregarem, os dois homens saltaram na água, depois que um deles gritou:

– Mergulhe, Sneffen.
Rápidos como o raio, os dois contrabandistas desapareceram sob as águas, pelo lado

oposto de sua lancha. Não voltando eles à tona, Chet disse:

– Aposto que estão avançando de mergulho, rumo ao túnel. Não vamos persegui-los?
– Claro – disse o Comandante Bertram. – Tony, você seria capaz de encontrar o canal

que leva até aquele túnel?

– Acho que sim – respondeu Tony, olhando para a lancha dos contrabandistas, que, agora

abandonada, acabara de ser violentamente jogada pelas ondas contra as rochas.

– Então, iremos a bordo do seu barco – afirmou o oficial. Deixou dois dos seus homens

a bordo do “Alice”, tanto para cuidarem do barco como para permanecerem atentos à possível
chegada de outros bandidos.

– Os dois bandidos que nos escaparam devem ter dado o alarma – disse Bertram. –

Provavelmente colocaram alguma coisa pesada em cima da porta para nos atrasar.

O resto da tripulação, incluindo o Comandante Bertram, embarcou no “Napoli”, e Tony

dirigiu-se à estreita passagem entre as rochas, rumo ao túnel. Um dos patrulheiros, instalado na
proa da lancha, efetuava observações com um poderoso facho de luz. Todos procuravam os dois
homens que se haviam lançado ao mar, mas sem encontrá-los. Quando o “Napoli” chegou ao
lago interior, o homem da proa procurou localizá-los nas margens.

– Lá estão eles – gritou Chet.
Os dois contrabandistas, ensopados, acabavam de abrir a porta secreta que levava ao

interior do penhasco. Passaram e a porta se fechou.

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Tony virou sua lancha rumo à direção da porta, desligou o motor e saltou para terra,

junto com os outros. Para sua surpresa, a porta estava trancada.

– Vou na frente. – anunciou Bertram.
– Seja cuidadoso – advertiu Chet. – É possível que haja um homem armado do outro

lado.

O oficial ordenou a todos que se afastassem, enquanto ele próprio arrombava a porta.

Apontou a lanterna para dentro. Não havia ninguém lá.

– Venham, homens – disse entusiasmado.
Rapidamente o grupo todo percorreu o caminho anteriormente descoberto pelos Hardys.

Quando chegaram ao corredor e viram as três portas, Tony sugeriu que examinassem as
dependências, para ver se os Hardys não estavam presos numa delas. Um a um, os quartos foram
examinados. Estavam vazios.

Os homens avançaram pelo corredor e pelo próximo lance de escada que levava ao

telheiro de lenha da Vila Pollitt. Empurraram a porta do alçapão, mas não conseguiram abri-la. A
lanterna revelou que não havia trincos nem fechaduras.

– Então, podemos arrancá-la – sugeriu Chet.
Ele e Tony, com mais dois patrulheiros, encostaram os ombros na porta, empurrando-a o

mais que podiam. Finalmente ela se deslocou alguns centímetros, mas voltou à posição original.

– Não tem nada travando do outro lado. Vamos tentar mais uma vez – sugeriu Bertram.
Os quatro fizeram uma nova tentativa. Dessa vez, puderam ouvir alguma coisa pesada

rolando para um dos lados.

– Todos juntos agora – disse Chet, contando: – Um, dois e três.
Conseguiram. Um pesado objeto que estava em cima da porta caiu com grande ruído, e a

porta do alçapão se abriu. Como já acontecera antes, o Comandante Bertram insistiu em ser o
primeiro. Não havia o mínimo ruído, nem fora nem dentro da casa, e não havia nenhuma luz.
Disse aos outros para subir, mas advertiu cautelosamente:

– Isto pode ser uma emboscada. Andem com cuidado e, se alguma coisa começar a

pipocar, você dois, rapazes, voltem imediatamente para o subterrâneo.

De repente, ouviu-se o ruído de carros que se aproximavam pelo lado oposto do pátio,

rumo à Vila Pollitt. Eram tão brilhantes as luzes dos carros que Bertram observou:

– Deve ser a polícia estadual.
Um minuto mais e os carros paravam na parte traseira da casa, enquanto policiais desciam

apressadamente. Bertram apressou-se a se apresentar ao Capitão Ryder, da polícia estadual. Os
dois conversaram rapidamente, em voz baixa. Pelo que conseguiram entender, os rapazes
chegaram à conclusão de que a polícia estadual ia invadir a casa.

Quando pareciam ter chegado a uma decisão, todos se surpreenderam ao ver um homem

surgir na janela de trás, no hall do pavimento superior. Tinha uma arma na mão direita, mas com
a esquerda tentava atrair as atenções.

– Meu nome é Snattman. Antes que invadam esta casa, quero falar com vocês. Sei que

estão procurando por mim e por meus homens há muito tempo. Mas não permitirei que me
levem sem que alguém do seu próprio lado morra. – Então, parou de falar, dramaticamente.

– Diga logo o que quer, Snattman – disse o Capitão Ryder. Também ele tinha uma arma

preparada para disparar no caso de necessidade.

– O que quero dizer – gritou o chefe dos contrabandistas – é que tenho nesta casa três

reféns: Fenton Hardy e seus dois filhos.

Chet e Tony saltaram. Os rapazes haviam encontrado o pai, mas apenas para serem

presos, eles próprios. E agora os três estavam sendo usados como reféns.

– O que mais? – perguntou o Capitão Ryder, azedo.
– Isto: se permitir que eu e meus homens nos afastemos, iremos para longe daqui. Um de

nós ficará para dizer onde encontrar os Hardys. Mas, se alguém vier aqui e tentar nos pegar, os
Hardys morrerão.

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Chet e Tony não sabiam o que pensar. Qual acabaria sendo o resultado desse terrível

dilema?

Frank, Joe e o pai perderam as esperanças de escapar antes que Snattman tivesse tempo

de executar seu plano sinistro. Depois que os bandidos saíram do sótão, ouviram marteladas e
desconfiaram que os contrabandistas tinham pregado barras fechando a porta da escada
disfarçada dentro do armário embutido. Desceram cuidadosamente até a base da escada, só para
constatar que seus temores tinham fundamento.

– Se as barras forem de madeira – murmurou Frank –, talvez possamos tentar cortá-las

com nossas facas, sem muito barulho.

– Tentaremos – disse o pai –, e com aquela faca que tiramos de Malloy.
Enquanto o detetive Hardy permanecia sentado num degrau, recostado na parede, seus

dois filhos iniciavam o trabalho. Conseguiram passar as facas pelo vão existente entre as tábuas
da porta, perto da fechadura. Descobrindo a parte superior das pesadas travas, os rapazes
começaram a tentar o corte, sem produzir ruído algum. A faca de Frank já estava sem corte e não
demorou muito para que a de Joe também o perdesse. O progresso era muito pequeno.

Meia hora depois, os braços dos rapazes doíam tanto que Frank e Joe não estavam

conseguindo continuar. Mas, só de pensar que suas vidas corriam perigo, conseguiram forças para
prosseguir. Finalmente, Joe conseguiu cortar uma das tábuas e começou a cortar a segunda das
três que eles descobriram. Frank levou mais dez minutos para completar sua parte.

– Podemos fazer a coisa por etapas – disse ao irmão. Trabalhando por turnos, com

paradas para descanso, os rapazes acharam que o trabalho era menos árduo.

– Estamos quase livres – disse Joe, finalmente, com esperança.
Foi nessa altura que os Hardys ouviram o ruído dos carros chegando. Estavam

convencidos de que a polícia tinha chegado, por causa das luzes que iluminavam tudo por perto
da casa e até mesmo o interior da Vila Pollitt, onde alguns raios chegavam à porta do sótão.

Acompanharam o movimento dos carros e perceberam quando Snattman começou a

negociar a sua própria vida, em troca das vidas dos seus reféns.

– Vamos quebrar esta porta e assumir nossos riscos – disse Frank já meio irritado.
– Não – respondeu o pai. – Snattman ou um de seus homens nos mataria.
Nesse momento Frank teve uma surda expressão de contentamento. Sua faca acabara de

cortar a última das travas de madeira. Virando a maçaneta da porta, abriram-na em silêncio,
libertando-se da prisão.

Atravessaram o dormitório e chegaram ao local onde Snattman estava tentando

barganhar com a polícia. Não havia mais ninguém por perto. Os rapazes e seu pai deram uma
rápida piscada de olhos, numa espécie de telegrama de pensamentos. Atacariam o rei dos
contrabandistas, para dominá-lo.

20

O Pedido do Bandido


Quando os três Hardys se precipitaram com a esperança de dominar Snattman antes que

ele os visse, ouviram uma voz afirmar fora da casa:

– Você jamais conseguirá sair dessa, Snattman. É melhor você se entregar sem tiros.
– Jamais me entregarei.
– A casa está completamente cercada pela polícia e por homens da guarda costeira.
– Que me importa? – gritou Snattman, agitando os braços pela janela. – Tenho três

reféns, e já prendi também um patrulheiro.

– Ele também está aqui?
Snattman riu.
– Tentando me confundir, hein? Não vou responder a essa pergunta.
Houve silêncio fora da casa. Isso pareceu preocupar Snattman. Gritou:

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– Não adianta nada ficar discutindo. Eu arrastei vocês exatamente para onde eu queria e...
Como três panteras acuadas, Frank, Joe e Fenton Hardy saltaram sobre o bandido

desprevenido. Fenton tirou a arma da mão do homem, lançando-a pela janela. O revólver caiu no
chão, um andar abaixo. Os rapazes torceram-lhe os braços para trás e obrigaram-no a se ajoelhar.

De baixo ouviu-se um grito de alegria.
– Os Hardys dominaram Snattman. – Era Chet Morton, entusiasmado.
– Meus homens jamais deixarão vocês entrarem aqui – berrou Snattman. Ele se agitava,

torcendo-se entre as mãos dos captores.

O detetive, temendo que ele chamasse por seus homens, tapou-lhe a boca com uma das

mãos. Nesse momento surgiu uma terrível confusão dentro e fora da Vila Pollitt. Policiais e
patrulheiros tinham invadido a casa tanto pela frente como pela porta traseira.

Outros montavam guarda aos lados da casa, para impedir fugas pelas janelas. Houve

alguns disparos, mas logo a quadrilha inteira se entregou sem prosseguir a luta. A prisão do líder e
o repentino avanço da polícia foram suficientes para tirar-lhes o ânimo.

Os Hardys ficaram esperando em cima, com o prisioneiro. Em alguns segundos Chet e

Tony apareceram, e, atrás deles, para surpresa de Frank e de Joe, vinham Biff, Phil e Jerry.

Houve uma rápida troca de informações e Fenton Hardy agradeceu aos amigos de Frank

e de Joe pelos seus esforços. Durante todo o tempo, Snattman sorria maliciosamente.

Logo depois os Comandantes Bertram e Brown apareceram no pavimento superior,

seguidos do Capitão Ryder. Imediatamente o policial colocou algemas nos punhos do prisioneiro.
Estava pronto para levá-lo, quando Frank falou:

– Ainda há uma outra pessoa envolvida nesse contrabando e que ainda não foi presa.
– Você diz o homem que fugiu daqui com o caminhão? Já mandei efetuar um bloqueio

das estradas para apanhá-lo – disse Ryder.

Frank sacudiu a cabeça.
– Ali Singh, o tripulante do “Marco Polo”, tem um amigo que é proprietário de um

pequeno cargueiro que neste exato momento está fundeado ao largo da costa. Snattman
pretendia levar meu pai, eu e Joe para bordo, ajeitando as coisas para que nunca mais voltássemos
para casa.

O rei dos contrabandistas, que permanecera silencioso por algum tempo, pôs-se

imediatamente a gritar:

– Você está ficando maluco. Não há uma só palavra de verdade no que ele acaba de dizer.

Não há nenhum cargueiro ao largo.

Ninguém prestou atenção no que disse. Assim que parou de gritar, Joe entrou na

conversa.

– Tenho a ligeira impressão que descobrirá que seu patrulheiro está preso nesse barco. O

nome do comandante é Foster.

– Você insinua que nosso patrulheiro Ayres está nesse navio? – perguntou o Comandante

Brown, incrédulo.

– Não conhecemos ninguém chamado Ayres – respondeu Frank, olhando atentamente

para o irmão. Trocaram significativos acenos de cabeça. Então, Frank perguntou: – Será que
Ayres também usa o nome de Jones?

– Poderia, se fosse muito apertado. Ele é uma espécie de contra-espião da guarda costeira.

Ele se preparava para uma associação qualquer com os contrabandistas, e não temos notícias dele
desde sábado.

– Eu descobri tudo a respeito dele – interrompeu Snattman. – Usando o nome Jones ele

não conseguiu nos enganar. Eu vi quando ele fez uma viagem camuflada até o seu barco
patrulheiro.

Frank e Joe chegaram à conclusão de que fora essa a cena que presenciaram pelo

telescópio. Contaram a história do resgate de Jones depois que uma granada de mão quase o
matou. Também relataram como seus seqüestradores foram à fazenda dos Kanes, amarraram o

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fazendeiro e sua mulher e seqüestraram Jones.

O Comandante Brown disse que enviaria uma lancha patrulheira investigar as águas da

região, numa tentativa de localizar o navio de Foster.

– Esperaremos por vocês – disse o Capitão Ryder. – Este caso parece interessar aos

nossos dois ramos de serviços. Dois seqüestros em terra, um roubo no “Marco Polo” e a
presença em nossas águas de um navio sem matrícula.

Enquanto esperavam, os Hardys tentaram interrogar Snattman. Ele se recusava a admitir

qualquer culpa em relação às operações de contrabando, bem como em referência ao transporte
de mercadorias roubadas de um Estado para outro. Frank decidiu falar com o homem, seguindo
uma linha completamente diferente, esperando que, inadvertidamente, o contrabandista
confessasse algo que não pretendia fazer.

– Ouvi dizer que herdou esta casa de seu tio, o Senhor Pollitt – começou Frank.
– É verdade. O que você tem com isso?
Frank estava deliciado.
– Estava curioso a respeito do túnel, das escadas e da caverna. Foi seu tio que os

construiu? – perguntou com satisfação.

– Não, não construiu – respondeu o bandido. – Meu tio os encontrou por acaso. Ele

começou a escavar nas proximidades da parede da adega e deu com aquele corredor. A idéia era
apenas aumentar a construção.

– Interessante. O senhor tem alguma idéia de quem teria construído tudo aquilo?
Snattman disse que o tio chegara à conclusão de que o túnel, a caverna e as passagens

teriam sido feitos por piratas, há longo tempo. Eles, aparentemente, acharam que seria um
excelente esconderijo e resolveram construir o caminho até o alto do penhasco.

– É claro que não havia ainda o telheiro de lenha. Pelo menos não havia esse que aí está

agora. Havia a porta do alçapão, mas com um outro tipo de construção por cima – explicou
Snattman.

– E o corredor? Era desse tamanho, quando seu tio o descobriu?
– Sim – respondeu o contrabandista. – Meu tio achava que se tratava de uma residência

temporária usada pelos piratas, quando eles deixavam seus navios.

– História bonita e fascinante – observou Tony Prito.
Seguiram-se vários segundos de silêncio completo. Os olhos de Snattman se moviam de

um dos rapazes para o outro. Finalmente, fixaram-se em Frank Hardy, e ele disse:

– Agora que vou para a cadeia, as oculares do seu telescópio e as ferramentas das

motocicletas não terão mais utilidade. Pode apanhá-las numa gaveta, lá na cozinha.

– Obrigado – respondeu Frank.
Houve um período de silêncio. Então o bandido continuou, de cabeça baixa e com os

olhos quase fechados:

– Senhor Hardy, eu o invejo. Eu, eu jamais imaginei que um dia faria este tipo de

confissão. O senhor sabe praticamente tudo o que eu estive fazendo. Mais tarde contarei o resto
da história. Uma vez que eles vão mesmo encontrar aquele patrulheiro Ayres que está no navio
de Foster, não me adianta nada esconder os fatos.

“Eu disse que o invejo”, prosseguiu, “porque o senhor educou muito bem esses dois

rapazes e porque eles são excelentes amigos. Eu... bem, eu não tive essa sorte. Meu pai morreu
quando eu ainda era pequeno. Eu era muito cabeça-dura e minha mãe não conseguia me
controlar. Comecei a fazer o tipo errado de amizades e, depois disso, o senhor sabe como são as
coisas.”

“Meu tio, que possuía esta casa”, continuou Snattman, “poderia ter-me ajudado, mas ele

era egoísta e miserável e jamais nos ajudou com dinheiro. O máximo que fazia era convidar-nos,
a mim e à minha mãe, para passarmos temporadas esporádicas neste lugar. Eu o odiava, porque
ele obrigava minha mãe a trabalhar no pesado sempre que estávamos nesta casa. Para ela, não
havia temporada de férias.”

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“Numa das vezes em que estava aqui, meu tio me mostrou o esconderijo dos piratas, e eu

jamais o esqueci. Logo que me meti no meio de marginais, comecei a pensar neste lugar e no que
ele poderia representar para uma quadrilha de contrabandistas. Tinha medo de tentar enquanto
meu tio estava vivo. Mas, quando soube que tinha morrido, achei que havia chegado minha
oportunidade.”

“Não me preocupei em reclamar a propriedade como herdeiro legal. Mas agora acho que

vou fazê-lo. É claro que não terá muita utilidade para mim, porque sei que passarei um bocado de
tempo na cadeia. Mas vou pedir aos executores do testamento de meu tio que administrem esta
casa como lar de crianças. Um lugar onde os desprotegidos possam viver.”

O grupo que ouvia Snattman, o rei dos contrabandistas, estava ligeiramente abobalhado

com essa repentina mudança de intenções, e durante muito tempo ninguém conseguiu dizer uma
única palavra. Mas, quando o homem levantou a vista, quase pedindo aos ouvintes que
acreditassem em suas palavras, Fenton Hardy disse:

– É muito bom que faça isso, Snattman. Tenho certeza de que as crianças beneficiadas

pela estada aqui serão eternamente gratas a você.

A cena solene foi inesperadamente interrompida com a volta do Comandante Brown.
– Uma outra lancha patrulheira recebeu a mensagem a respeito do navio de Foster e em

alguns minutos informou que já o havia localizado. Um quarto de hora mais tarde fomos
informados de que o Capitão Foster já estava preso e que o patrulheiro desaparecido fora
encontrado no navio, bem como uma grande quantidade de mercadoria que Foster esperava que
Snattman apanhasse.

Os prisioneiros foram então removidos da Vila Pollitt, ficando sozinhos os Hardys e seus

amigos.

De repente, Chet perguntou:
– Como voltaremos para casa?
Tony respondeu:
– Acho que no “Napoli” há lugar para todos.
O grupo se dirigiu ao telheiro de lenha, abriu a porta do alçapão e começou a descer o

longo caminho para o lago subterrâneo. Subiram no “Napoli”, e Tony se colocou atrás do
volante. Os patrulheiros haviam esquecido o farolete de buscas na proa do barco, e Tony fez seu
caminho de volta pelo túnel e pelo estreito canal oceânico, sem acidente.

De repente, Frank perguntou:
– Pai, que houve com seu carro?
O Senhor Hardy sorriu:
– Está numa garagem, em Bayport. Eu estava sendo seguido. Por isso, decidi despistar e

tomei um ônibus. Mas não adiantou muito. Os homens de Snattman me atacaram e me
prenderam, na estrada.

O famoso detetive disse, então:
– Enquanto tenho a possibilidade, quero agradecer a cada um de vocês, rapazes,

individualmente, por tudo o que fizeram. Sem vocês sete, talvez este caso jamais pudesse ser
resolvido e eu talvez não tivesse sido encontrado com vida.

Modestamente, Frank e Joe e seus cinco amigos retribuíram o agradecimento, esperando

que brevemente tivessem pela frente um novo mistério. E foi o que aconteceu quando, ao
descobrir O SEGREDO DO VELHO MOINHO, os Hardys enfrentaram uma poderosa
quadrilha de malfeitores.

De repente, Joe observou:
– Os cumprimentos são muito importantes, mas parece que nos esquecemos de

mencionar uma pessoa sem a qual teria sido impossível encontrar papai.

– Quem é? – perguntou Biff.
– Peter Pretzel – respondeu Joe.
– Isso mesmo – disse Frank, e sugeriu: – Todos juntos, vamos dar um viva a Peter

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Pretzel.

Fim


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