6 o teręa-feira, 10/12/91 B JORNAL DO BRASIL
U tempo passa e o rock nacio-nal vai virando historia. Do fundo do bau dc um dc scus nomes fundamentais, Julio Barroso, esta saindo agora pcla editora Sicilia-no A vida sexual do sehogem, livro quc rcunc pocmas, letras, desenhos, tcxtos jomalisticos e memorabilia do agitador cultural c lider da Gang 90. Organizada por sua irma c ex-Absur-dette Denisc Barroso, a obra. quc sera lanęada hojc, no Parquc Lagę, as 20h, homcnngeia um dos precursores c principais rcsponsaveis pe!o surto rock/pop cmergido na musica brasi-lcira no principio da dćcada passada.
Morto cm 1984, Julio nao chcgou a ver a solidificaęao do genero no mcrcado. mas scu trabalho c suas cónccpęocs, quc incluiam rcvisocs an-tropofagicas c antccipavam conceitos como o de world musie, vćm sendo cada vez mais reconhecidos. Agora, na esteira da revalorizaęao do trabalho da Gang 90, a uew \vavc, quem diria, acabou virando onda retro. A gravadora BMG-Ariola, quc lanęou o primciro LP da Gang, pretende garantir a durabilidadc das musicas do grupo rclanęando o disco Essa t(d dc Gang 90 cm formato CD, com faixas rcmixadas.
Numa ćpoca cm que as novidades do rock internacjonał dcmoravam anos para chcgar ao Brasil e as gravu-doras nao investiam um niquel cm grupos nacionais, Julio deixou o pais
de cabclo cm pć ao apurcccr no lesti-vai MPB-82 cantando Perdidos mi selva. Ningućm entendeu muito bem, mas todo mundo sc divertiu. Era o quc bastnva. Pouco depois, a Gang 90 cmplacaria um megusucesso com Lanco a mor, tema de aberturu de no-vcla das oilo da Globo. E ajudnria a trazer informaęao musical ao atrusa-do mcio roqueiro da ćpoca, gravando vcrs5es de Blondie c Siouxsic and the Banshecs, atć entuo nomes mais do que obscuros por aqui.
Anlcs, cle ja havia agitado a im-prensa alternativa carioca com o jor-nal Musica do Planeta Terra (que tern alguns artigos reproduzidos cm A vi-da sexual do schagem) c embalado a noite de Sao Paulo como DJ da boale Lira Paulistana. Mais lardc, mesmo depois que a Gang 90 sniu da linhn de frente do pop nacional, Julio Barroso pcrmancccu como clcmcnto aglutina-dor e fonie dc idćias para outros artistas. Coraędes Psicodelicos, suces-so na voz de Lobao, ć de sua lavra.
Bem ao gosto da elervcsccnlc ca-bcęa dc Julio Bnrroso, A Vida Sexual dos Scłmgcns e como um fanzinc. Só que fcito com todos os recursos nc-cessarios para um projeto grafico dc alta qualidadc, assinado por Denisc Barroso, Liana Padilha c Rćgis Fadel (que tambćm colaboraram com ilu-traęócs). Alćm do materiał deixado por Julio, o livro conla com tcxtos dc amigos como Rita Lec, Nelson Motta, Tavinho Paes, Jorge Sulomao, Lciloca c Antonio Carlos Migucl. E ainda com fotografias de Vania Toledo, F!avio Colkcr e outros bambas do genero. Mas, a despeito do titulo c do materiał exlraido do diario, só vai dcccpcionar quem cstivcr interessado cm indiscrięóes c fofocas sobrc a in-quicta figura de Julio Barroso. A vida sexual dos schagcns trata dc trabalho.
Julio Barroso, morto em 1984, tein sua obra registrada em A vida sexual do selvagem
Os heróis morreram de overdose
AMARiLIA MARTINS
geraęao que hóje se apro.w-ma dos 40 anos carroga, como póticas. a dor dos seus mortos precoces. Dcsespcro, suicidio c violencia sao alguns dos enredos mclódicos desta sinfonia triigica, quc marcou a dćcada perdida dc 1980 como o tempo dos marlires da desesperanęa brasilcira. Quan-do Julio Barroso despencou da jancla, aos 31 anos, cm 1984, esta-vn repetindo o gęsto brutal dc rebeldia de tantos que se ma-taram on se dcixarnm matur, vio-lenta ou lentamente, pcla werduse de angustin num pais sem pers-pectivas. Nao foi outro o ceńńrio quc assistiu ao vóo latał da poeta Ana Cristina Cesar, aos 31 anos. do setimo andar de um edificio de Copacabana, em 1983. O mesmo Brasil acordou a ton i to com a no-licia do assassinalo brutal do di-retor de teatro Luiz Antonio Martincz Correa, as vćspcras do Nalał dc 1987. A estas brutalidu-des se somou a violencia da he-morragia quc matou Paulo Lc-minski. em 1989, ou do atuque cardiaco que lcvou o poeta Caca-so cm 1987. Mas ningućm mc-lhor do que Ca z u za. quę agoni/.pu cm praęa publica, vitima da Aids. para definir os anos 80: os heróis morreram de omdosc e os inimi-gos estao no poder.
Sonia D'Almoida
J C Comodo
? EVA SPITZ
E
AJ de chorar. De tanto rir. Hoje fi noite, as 21h30 (mesmo horfirio da eslreia de Amazonia, na Manchete), vai ao ar na Globo o melhor progra-ma de humor da televisao brasileira. Sob a direęao de Belisario Franca, um videomaker que deu certo, o Pro-grama Legał traz todos os gurus baianos (Caymmi, Caetano. Gal Costa e Gilberto Gil) e o famoso asiral da Bahia revirado ao avcsso pela dupla Regina Case e Luis Fernando Guimaraes. O riso ć garanti-do. Mas o inicio do Programu Legał, em muręo deste ano, foi de chorar. “Estavamos pisando em ovos. Acabou sendo muito bom termos comc-ęado maP’, diz Franca.
Agora o programu caiu na boca do povo: lachado desde cscatológi-co atć antológico, cle mistura a lin-guagem do videoclipe, da publici-dade, do humor e do jornalismo. Belisario — como todo bom vidco-maker — grava, edita, monta e ainda se mete cm toda a parte de jornalismo, incluindo direęao dos atores. “Mas e a quiinica da equipe que torna o programa instigante", rcssalva. A direęao-geral e de Guel Arraes. “O nosso maior desafio e conseguir popularidadc sem ser banał", diz.
Com o Programa Legał, Belisario Franca. 31 anos, alingiu a meta de todo eidcomaker que se preza: a televisao. Do ponto de vista pes-soal, ele tambćm esta realizando aquilo que semprc estcvc embriona-rio nos trabalhos que lcvaram sua assinatura, como o Video Casseta (que lanęou a perguma “voce cospe ou engole?"), com os meninos da
Casseta Popular, cm 1987; o AJrican pop (serie dc cinco capitulos e.\ibida na TV Manchete), fcita em 1988; o cxtinto TV pirata; e Dóris paru maiures.
Desde os tempos cm que fazia bailarina subir em predio ou danęar pelas ruas da cidade, usando o efei-to cromakcy de modo totalmente original, nos idos dc 1986. Franca invcste cm sua carreira sempre com um olho na tclevisao. Intcgrante da geraęao do VHS, ele participou de lodas as oportunidades ofcrccidas pelo campo emergente, como os festivais, tanto o Fest Rio como os promovidos pela Fotoplica. “Esses festivais mc abrirnm para uma arca de interesse grandę", conla. A partir destes eventos, Franca entrou no mcrcado dc videos empresariais e publicitarios e comeęou a ganhar dinheiro.
Antes de ingressar na TV, Belisario Fninca percorreu a via crucis normal de todo vidcomaker: a pro-
Marcelo Regua
Regina Case e Luis Fernando Guimaraes sao dirigidos por Belisario Franca (abaixo)
duęao independente. No Fest Rio dc 86. teve seis trabalhos selecionu-dos. “Eu era o diretor que mais apresenUwa trabalho”, se orgulha. E dessa fasę o famoso Vidco Casseta, ruseunho do que viria a ser o TV Pirata (do qual foi um dos reduto-res). A partir de entuo resoWeu in-vestir na carreira lelevisiva. Foi para Nova Iorque conhecer computaęao grfifica c lazcr conta-tos profissionais. facilitados pelo sucesso de scus trabalhos. Com Bailarina, Franca recebeu o premio de melhor musical no Festival de Havana dc 87. Foi la que pensou em fazer o AJrican Pop. Um pro-grama alegre e dinamico. com avanęos na linguagem de TV, exibi-do na TV Manchete cm 89.
A partir dc AJrican Pop, Franca ligou-se a tclevisao estrangeira. Seus documentarios em estilo an-tropológico, rapidos e sintćlicos, foram muito bem accitos pelos ca-nais rranceses e inglescs. “O quc me deu uma boa ideia de como pensa o produtor estrangeiro e me possibili-tou experimcntar documentarios diferentes. mais ageis, mais pops. numa linha auloral mais clara." Fez a serie Mega ndx para o La Sept e u serie Cułture ciul) para o Channcl 4. a USS 250 mil cada. Agora esta envoivido cm mais uma produęao para a teleyisao estran-gcira, o Buda, Carilw — serie de cinco programas gravados cni Cu-ba. Republica Dominicana, Haiti. Trinidad Tobago, Jamaica e Nova lorque com o melhor da musica latina. No Programa Legał, Belisario acha que cnconlrou uma formula para ser popular, e, sem nenhum rasgo de hermetismo vanguardeiro, conseguir avanęar na linguagem te-levisiva: “Quanto mais bem realiza-do e mais sofislicado. mais popular o programa lica."
A ousadia de dois ‘videomakers’
BELISARIO Franca nao e o linico ridcotnakcr bem sucedido no Brasil. Muita gente, que tem uma camara na mao e muitas idćias na cabeęa, sonha em ser Sandra Kogut c Marcelo Tas quundo crescer. Os dois deixarnm para tras o cir-cuito alternaiivo e fazem sucesso nu TV com clipes c programus ou-sados. Omem, a MTV exibiu os dois primeiros da serie de 11 video-elipes, cada um com tres minu-tos de duraęuo. do projeto Paraho-łic pcopłc (pessoas purabólicas), criado por Sandra com produęao do Centrę International de Crea-tion Vidćo Mombeliard Bel lord. li-gado ao Ministerio da Cullura franećs. Os clipes sao resuliudo da inslalaęao de cabines cąuipadas com camuras nas ruas de seis cida-des — Paris, Moscou, Nova lor-que. Tóquio, Dakar e Rio — unde as pessoas podium entrar e re-gistrar o seu rceado durantc 30 sc-gundos. Quem quiser ouvir as men-sagens deve sinionizar na MTV, das I9h30 as 22h, durantc 40 dias.
Sandra ć uma privilegiadu. assim como Marcelo Tas, popularizado na Copa do Mundo de 86 como o rc-pófler-personagem Marcelo Tas. Suas experimentaę5es semprc foram ao ar. para quem quisesse ver, aj>e-sar dos longos periodps de hibema-ęao. Dos Netos do Amand. serie de tres programas que inauguraram a MTV no Brasil. cle deu uma guina* da na vidn c atualmentc esta nos bastidores de Programu Legał como roteirista. "L.stavu ucostumado a aparecer e a botor a mao cm tudo. Esta sendo um novo aprendizado." E para coroar a nova fasę “nos bastidores'*, Taz estrein na area dos conierciais Um deles comeęou a ser vciculado outem na TV: e u primeira das quatro chumadas que dirigiu. pela primeira vcz em peliculu paru 35 mm, para o Hollywood Rock.
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Bia Lessa e Gerald Thomas participam do festival
MAR1SA YALtRIO BÓRONI
V4URITIBA — Alguns dos maiores nomes da produęao tea-tral brasileira estao classificados entre os 14 espetaculos que serii o cnccnados em maręo do ano quc vem. no 1° Festival de Teatro de Curitiba. lanęado oficialmente ontem no Aeroanta desta Capital, com a presenęa dos diretores sele-cionados. Entre clcs estao Antu-nes Filho, Gerald Thomas. Jose Cclso Martinez Correa, Caca Rosset c Bia Lessa. A realizaęao e direęao gcral do festival cabem a Arie de Fato Produęóes. empresa criadu especialmentc para o even-to por quatro esludantcs universi-tarios. que administru um oręa-mcmo dc USS 1.6 milhao.
Os espetaculos serao eneena-
dos de 20 a 28 de maręo. mas desde o dia 9 comeęa a programa-ęao paralela com mostra interna-cional de teatro em video, uficinu de fotografia de palco. oficina dc critica tcalraj, cxposięao internacjonał dc fotografia dc palco e seminario sobre o mcrcado internacjonał do teatro contcmpora-neo. Os organizadores esperant rcunir um publico dc 50 mil pessoas em cinco teatros.
O Bamerindus ć o unico patro-cinador. mas outras quotas de USS 300 mil estao abertas aos interessa-dos. As quotas dc apoio foram 11-xadasem USS 100 mil. A prefeitura de Curitiba. o Boticario e o American Express apóiam o cvcnlo. quc ainda conta com a colaboraęao do Aeroanta c do Colegio Positivo e a promoęao da Vcju Parano e do Sistema Sul de Comunicaęao.
Franęoise !mbro«si
■ Noro vclha historio — Do diretor paulista Antunes Filho. 62 anos. 41 de carreira. que revira o bau da memória coletiva c traz a historia ingenua de Clinpeuzinho Vermcllio para o piano da cxperiincntaęao teatral. Encenaęao do grupo Maeunuima.
■ M.O.R. T.E. — \fovimentos ohsessi-vos c redundantes pora tanta estedeo. espetaculo de Gerald Thomas. 37 anos. que lenta “resgutar dc forma descons-trutiva os mitos e arquelipos da cultura ocidental". Com Giulia Gam e a Com-panhia de Opera Scca.
■ .*1 Yida e sonho — Do diretor mineiro Gabriel Ville!a, um destaque da nova geraęao de enccńadores brasilciros, apresentando um vlgór primilivo e contagiante com esta peęa do barroco espanhol Calderon de la Barca. A Ironie do elenco, Regina Duarte.
■ d.v btm — O diretor Jose Celso Martinez Correa, 53 anos. fundador do lendario Teatro Oficina, rompc uma decada de silencio com essa montagem do texto de Jean Gonet. No elenco, alćm de Raul Cortez. o próprio Jose Celso.
■ Soiiho dc orno noite de vcrdo — O grupo Ornitorrinco apresenta o mais novo trabalho do diretor Caca Rosset. Montagem c.\troveriida e irreverente da peęa de Shakespeare.
■ Car las portuguesas — Aos 33 anos, a enccnadora Bia Lessu traz a adapta-ęao teatral das cartas de Mariana do Mcoforado. quc abordnm a relaęao desta freira do seculo 17 com uin
a mantę distame. A personagem ć inter-pretada por duas alrizcs. Carla Camu-rati e Luciana Brnga.
■ Escola dc hitfócs — A Companhia dc Encenaęao Teatral, do diretor Moucyr Gócs. 32 anos, prócura jogar a plateia num estado de tensao exlrema, propondo que o teatro “seja visto por dcnlro".
■ Miga mix— 0 argentino Osva!do Gnbrieili, 33 anos. e scu grupo XPTO, trazem uma selcęao dos melhores mo-mentos de scus quatro espetaculos.
■ O eohrador — Belli Lopes, 34 anos. apresenta. com u Cia. de Teatro em Quadrinhos, uma adaptaęao de conto de Rubem Fonscca.
■ A ha a qu — O carioca Enrique Diaz, 23 anos. e o mais jovcm partici-pante do festival. lanęando o scu primciro trabalho como diretor.
■ ARhł— O grupo carioca Intrćpida Trupę e u diretorn Stella Miranda apresentam um espetaculo para ator-doar o espcctador com sugestoes cćni-cos multiplas.
■ Wagom o Sołapino — O artista plas-tico Romero de Andrade Lima e o pernambucano Antonio Nóbrega trn-zem a peregrinaęao sobre uma carroęa.
■ .•! comćdla do ęsposa mado e Carra migmto e tempo — O grupo Galpao, criado ha dez anos em Belo Horizonte. faz teatro de rua.
B Cuim — O diretor parunaense F.d-son Bueno e o grupo Para Bmzilis estreiam em Curitiba com peęa basea-da numa te.se de Lord Bvmn sobre a historia bibhca.