4 o Cidade o teręu-fcira, 10/12/91 JORNAL DO BRASIL
—
Cartas
mdonados perambuhm, por seguranęa, geratmente cm grupos pelas ruas dc immmento
Em defesa das crianęas ameacadaą
B Juizado de Caxias łuta para salvar os ineninos e meninas que estao jurados de moruf*-
(...) Nao concordo com a tao pro-palada cficiencia do Correio por va-rios motivos. O atendimento ao publi* co 6 póssimo, sendo comum perder de 30 a 40 minutos para sc posiar uma unica carla. Enquanlo sc espera nas filas, assiste-se aos funcionarios brin-cando, convcrsando uns com os ou* tros, trabalhando propositalmcnte de maneira lentu. Ja ouvi, certa vcz, urn desses funcionarios dizer quc clcs fa-zem isso porquc ganham mai — o eterno problema do funcionalismo publico. E ainda ha quem seju contra as privalizaęóes. (...) E as.cmprcsas? Victor Dius Morcira
Chamo a atenęao do governador Lconel Brizolu para o dramatico problemu do abastccimento dc agua cni Araruama, na Rcgiao dos Lagos, c 'particularmente no bairro Vila Capri, ondc o problema sc agravu com a proximidade do vcrao. A própria Cc-dac ja rcconheccu a ncccssidadc dc substituir a obsoleta canalizaęao do bairro (...). obra prometida para o próximo ano. Enquanto isso. aguar-damos com grandę preocupaęao a chcgada do verao, enquanto se ar-mam em Araruama os preparativos dos carros-pipas. Para se ter uma idćia do drama quc nos ameaęa, só ncslcs ultimos dias mais de 80 carros-pipas. ao preęo dc Cr$ 15 mil cada, abasteccram casas do nosso bairro. Mas as contas mensais da Cedae che-gam com regularidade c sempre com valorcs cresccntes, sem a contra-parli-da do abastccimento. Impoe-sc uma soluęao urgentc para este problema. Carlos Góes
Os exlintos DGTC. BTC, DTC, entre outros, cxigiam das empresas concessionarias de transporle colctivo a proibięao do uso da buzina, o uso dc bancos estofados, canos de des-carga voltados cm dircęao ao chao. o uso de capellna com o nuraero da linha, proibięao de afuaęao de propa-gamda no vidro Iraseiro (...) Atonio observador, veril1quci que algumas daquelas dclerminuęóes estao deixan-do de ser cumpridas. A primcira delas foi a retirada das capeluilms que facili-tavam a idcntificaęao da linha. uma heranęa dos bondes c marca regis-
Irada do Rio dc Janeiro. Com cxccęlio dc alguns poucos veiculos das empresas Real e Amigos Unidos. prali-camcntc lodos os 6 mil veiculos da Capital passaram a trazer o numero du linha ao lado do destino (...). o que dificulta a idcntificaęao., Tcnho obscrvado tambem alguns ónibus com o cano dc dcscarga paru cima (...), o uso de buzina (...) e tambem de radios por alguns motoristas. (...) Mas duas atitudes tomadas vcrgonhosa-mente (...) foram a reduęao do numero de ordem. agora pintados bem pe-qucnos e em lugares escondidos na' corrcceria, o que torna mais dificil a fiscalizaęao c a possibilidadc dc de-nuncias dc irregularidades. e a climi-naęao da filcira dc janelas cnvidraęa-das. (...) Numa cidade qucntc como o Rio dc Janeiro na maior parte do ano isso e urn crimc. (...) Diantc desses fatos, liguei para a SMTU e la fui atendido por uma rccepcionista. (...) Ela mc disse quc lodas as dcnuncias tćm de ser acompanhadas pclo numero de ordem. nome da empresa, dia. hora e local da irrcgulandadc. (...) Por que nao vao as garagens para constatar as infraęoes por mim de-nunciadas? (...) Hercules Torres
Foi publicudo em urn jornal que o alargamento do canal do Jardim de Ala, o melhor c mais umbicioso projc-lo, dcsenvolvido pcla Coopcc Prelci* tura do Rio, ficara pronlo em maręo. Pergunto: Qual a cxpericncia da Cop-pe em rccuperaęao de lagoa? Quc eu saiba, nenhuma. Sera quc a Coppc-Prcfcilura sabem quc cxistc urn estudo para a Lagoa Rodrigo de Freitas fcito por uma cquipe sueca c cujo custo ć divcrsas vezes menor quc "os USS 15 milhdes” apresentados por eles? Quc no curriculum des-ta cquipe sueca constam diversas la-goas recuperadas no mundo inlci-ro? Esta nao ć a primcira “tese de mestrado” para a lagoa. E comple-tamenle fora da realidade. O bom senso recomenda que pclo menos haja urn debatc tecnico com outras solu-ęoes. Flavio Coutinho
Cartas para usta coluna devem traser assl-natura, enderoęo o. so posslval, letetono para confirmaęao. Elas podam sair na Integra ou em parto o estao sujeitas a nova ro-daęao, para maior dar cza e concisdo.
Adriana Cm stelo Branco
Ha quatro dias, a diretora dc uma inslituięao para menores a 15 quilómctros de Barra do Pirai aler-tou o Juizado de Menores dc Du-quc dc Caxias para a ameaęa de mortc que paira sobrc quatro meninas duquela comarca, com idades cnlre 12 e 15 anos. Urn taxi com quatro homens foi visto diversas vezcs cm frente ao abrigo, para ondc ęlus foram lcvadus justamente porque corriam risco de vida em Gramacho. A vida dessas meninas vale tanto quanto a de A., de 15 anos, sobrevivente da chacinu ocor-rida na Favelu Nova Jerusalem, cm 14 dc novembro. O assassinato de crianęas em Caxias, municipio co-nhecido como o mais violento do estado, ć uma rotina.
Desdc o dia em quc ocorrcu a chacina em Nova Jerusalem, ondc scis crianęas foram assassinadas a tirós — justamente quando a Co-missao Parlamentar de lnquerito da Camara dos Deputados, em Brasilia, apurava dcnuncias sobrc atrocidades contra menores—, dc-zenas delas tern comparecido ao Juizado de Menores dc Duque dc Caxias, para pedir proteęao. De la, os menores sao encaminhados a di-versas instituięoes, algumas fora do municipio. A juiza dc menores Lucia Maria Migucl da Silva Lima, tern hoje, alem dc A., pclo menos 10 crianęas sob sua proteęao, mui-tas sobrcviventes de lentativas de assassinato.
Os meninos M.A., de 13 anos, e A.C., dc 12, por exemplo, foram baleados no dia 28 de outubro na linha do trem, em Caxias, c hoje, depois de operados, vivcm escondidos em divcrsas instituięoes. Eles foram atacados uma dia depois que o menino M.O.S., de 10 anos. tambem protegido pelo Juizado, dc-nunciou no programu Fantastico. da TV Globo, que viu o seguranęa Flavio Nogueira, o Jiló, assassinar Clciton Ricardo Pereira Dias, de 14
>s menores a
anos, no Centro dc Duque de Ca-xias, no ano passado.
Urn mes antes de M.A. e AC. serem baleados, segundo o comis-sario de menores Jose Tavares Gabriel, a juiza da 2J Vara Criminal, Olimpia Rosa Lemos, ja tinha co-municado a 59J DP (Caxias) que os dois corriam risco de vida. “Inleliz-rnente, nada foi leito pela policia para evitar que eles morressem. Eles chegaram a ser ameaęados de mortc no hospital. E o piór ć que outras crianęas, quc estavam com os dois na linha do trem. só escapa-ram porque as balas dos rcvó!veres acabaram,\ disse Jose Gabriel. O alerta da juiza. quc chegou a pedir abertura de inqućrito policial, sur-giu porque no inicio de setem bro os seguranęas do Shopping Center de Duque de Caxias deram urn banho de querosene e passaram cola de sapateiro na cabeęa e órgaos geni-lais das duas crianęas, que a partir de entao ficarani juradas de mortc.
A juiza Lucia Maria contpu que oulro menor. W., de 14 anos, !cvoii urn tiro no peito, dentro de urn ónibus, ha pouco mais de 15 dias. "Ele esta intemado no hospital. fora de perigo. Mas nao podera sair de la para qualquer lugar, pois cor-rc o risco dc ser assassinado". disse ela. Assustada com as ameaęas aos menores daque!a comarca. depois da chacina na Favcla Nova Jerusa-lem, a juiza foi obrigada a translerir diversas crianęas do Centro de Rc-cursos Integrados de Atendimento a Menores (Criam), em Gramacho.
Entre elas estava R.O.S., de 15 anos. que passou a ser procurada por maladorcs depois de tambem ter denunciado Jiló como assassino de sua mac. no ano passado. "Uma semuna após a chacina, um matador tentou entrar no Criam. identi-ficando-se como reporter. Temós que levar as crianęas ale mesmo para outros municipios, mas nem
Fotos do Sónln D'Almoldu
■B
tam* .. ' ***
SI
a...
assim elas llcam seguras”, disse a i juiza, referindo-se a ameaęa as qua- l tro meninas levadas a uma institui- j ęao a 15 quilómetros de Barra do j Pirai.
A promotora da 4" Vara Criminal de Duque de Caxias, Tania Maria Salles Morcira. aflrmou que Jiló — ciiado no relatório de dcnuncias do ex-coordenudor regional do Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua. Volmer do Nas-cimcnto — esta com prisao preven-tiva decrelada. mas ainda nao foi cncpiurado pela policia. Segundo ela. em janeiro cle 89. por ironia, a entao juiza de menores Giscla de Lima e Silvn Rossi contratou o seguranęa. ja suspeito em varios as-siissinatos de crianęas, justatnente como comissario de menores de Duque de Caxias. A contralaęuo de Jiló para o cargo de oficjał de justi-ęa tul Iwę foi anulada ainda em abril de 89 pela juiza Lucia Maria.
Nkl.ANN
O QUE VOCE VAI TER PARA CONTAR NESTE ANO-NOYO SAO SEUS LUCROS. VEM Al O ESPECIAL PUBLICITARIO REYEILLON. UM ESPA^O DESTINADO A VOCE QUE E DONO DE HOTEL, CLUBE, RESTAURANTE, MOTEL E BARES CONVIDAR OS LEITORES A PASSAR O FIM DE 1991 COM VOCE. UM CADERNO QUE VAI SER CONSULTADO POR MAIS DE 380.000 LEITORES. RESERVE JA O SEU ESPAęO. ESPECIAL REVEILLON. VOCE NAO PODIA CONTAR COM UMA CHANCE MELHOR PARA COMEęAR 1992 COM [LUCROS.
f i c: m a t e c ir^i i c:
EDięAO DIA 20/12
Nao e preciso procurar niuiio no Centro de Duque de Caxias para encon-trar meninos de rua. Eles frcquentam os fliperamas, andam sempre em bandos — por medo dos mntadores —. dorrnem em bancos de praęas e em valas próximas a linha do trem e se alimentam de rcslos de comida doados por comerciantes. Em qualquer convcrsa rapida e possivel en-contrar gurotos que convivinm diaria-mente com Erivaldo Passos, 16 anos. e Cristiano Batalhu das Neves. o I 'wttpiri-nho, de 15. dois dos meninos que foram assassinados na chacina de Nosa Jerusa* lem.
Os meninos L.L.. de 12 anos; S.S. de 9; e G.A., de 12. raorndores da Vila Ideał, cm Caxias. contaram quc Erivaldo morava perto deles e costumava vender cocadu no Centro, junto com a irmii niais nova. “Ele largou a vida de pedir para ser pivele. A mac mandava ele car-regar agua e ele nao gostava. A genie aqui tern medo. mas nao pode fazer nada. Outro dia. um policial levou um ga-roto para o DPO e baieu muito nclc". disse L.L.. que, como os ouiros dois. mora com os puis. "Se eu nao voltar para cusa. mcu pai me mandu para a Paraj-ba", acrescentou o garoto.
No flipcrama do shopping center, em frente ao Supcmicrcado Rilinha, os meninos se divertem com jogos eletrónieos. quasc sempre vio!entos. cm que o herói matu o bandido sem piedade. L. de 12 anos. fugiu da casa dos pais. em Belo Horizonte, e hoje trubulha na Rodovia-
ria Novo Rio. Ele diz nao se lembrar de como foi queimado no pcscoęo e nos braęos com alcool. aos 9 anos. "Eu vim de trgutilut (caminhao quc transportu carros). donnindo dentro de um Fiat. mas vou vollar no Nalał. E a sexta vez qne venho aqui em Cuxias. para Bear com os meninos". diz ele.
Apesar de ter familia na Favcla do Jaeurezinho — o pai ć molorista de taxi —. W.S., de 14 anos, optou por viver nas ruas de Duque de Caxias. "Nao e melhor do quc viver em casa. mas nao posso fazer nada", diz ele. sem saber explicar porque lugiu de casa W. era umigo de J 11mipirinho. Eriealdo e Rosę dos Samos, l de 14 anos. a unica menina que morreu | na chacina. "Eu ja dormi junto com eles la nu favela, perto do rio. mus nunca mais vollo la. Quem malcu foi o Mttrtpii-nhos, lodo numdo sabe", diz ele, que hoje cosiunia ir comcr no Parque Sao i Jose, em Vila Paulina, Nova Iguaęu. "na ( casa da Tia Bealriz". K
W.S.J. e LC.P. ambos de 12 anos. [ moram numa favela próximu ao Hospi- l tal Infamii de Duquc de Caxias, mas \ eostumam dormir na Praęa do Pacifiea- ) dor. junto com outros meninos. Os dois. \ que vendem biscoiios na estaęao de trem. ja foram ameaęados pclos seguranęas do shopping center. "Eles dizem assim: se voces nao Ibrcm paru casa. nós pegumos voces. A genie ficu com muito medo". diz W.
Quundo nao correm o risco de serem assassinadas por grupos de exterminii>. muitas das crianęas que vivem em Du-que de Caxias enfrentam outro lipo de yiolćncia: os maus tratos familiarcs. Diariamentc. o Juizado de Menores da-quela comarca recebe dieersas queixas de menores queimados. espancados e ale mordidos pclos pais. ca sos mais graves lembra a juiza Lucia Maria Migucl foram o de um pai que colo cou a milo do lllho. dc 6 anos. dentro de uma panelu de fcijao fervendo e o de uma mac que mordcu o corpo lodo da nihil, de S meses.
Com apróximadamente cinco mil processos em andamento. entre eiveis e criminais. a juiza eoutou quc muitas vezes e obrigada a mundur crianęas para outros estados e ate mesmo para o cNtenor. O menino de 6 anos. segundo ela. sofreu tres ciruręias na mf\o qiiei-mada. no Hospital Santa Tcresibha. c em scguida fi>i Ieyddo para os eitidados
tla mae, numa cidade do Norie do Bra- | sil "O menino esta sendo acompanhu- \ do por nós. O maior problema que ) enfrentamos ć que. nos cusos de uban- \ dono. a.s crianęas nao lem para onde ir. } pois as instituięoes publicus e particula-res estao lotadas", diz ela.
Em alguns casos. como o do menino A., de 13 anos. jurado de mortc. o \ Juizado dc Menores de Duque de Ca- » \j;is. quc costumu reccber a visita de ( pclo menos 15 meninos de rua pedindo J comida na hora do almoęo. conta com \ o apoio do 15“ BEM. La. A. fez curso 1 dc mcc,imca. como outros garotos que [ agora ja podem exercer uma profissao. [ Alem disso. ate o firn do mes a prefcilu- j ra dc C‘axias dcvera inaugurar u primei- j ra ima-lnr do municipio. onde 12 crian- ■, ęas ficarao sob a guarda de um casal * quc esta sendo -elecionado pela Secre- ' (aria Mumcipal de Dcsenvolvimento Social.