2 o segunda-fciru, 17/12/90
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JORNAL DO BRASIL
Tres dias de show no Circo Voador preparam as ferias do compositor
P MARCIA CEZIMURA
OR apenas trćs dias — hojc. uma-nhi c quana-fcira — o compositor Caetano Vckvso trocara o scu histó-rko prazer dc “nio fazer nada” por outro tambćm intenso. dc cantar ao riolio pani o publico cartoca, as 21 h. no Circo Voador. O espet óculo, o mesmo Arinilco qoc Caetano Vclaso fi apresentou por dtus semanas cm outubro no Canccao. vai reituugurar o pal-pa o do Circo, agora com roesas c cadciras, alćm dat babituais arquibancadus. "Eu qucru ficar um IcmpJo sem fazer nada, mat cu gosto dessa ooda do Perfcito Fortuna, do rctstruturar o Circo Yoador. Gosto do tom do Ferfeito dc transar a cidade. Entao dci um tempo nas ferias. porquc cu fiquci mes-mo dc voltar ao Rio com o Aeustico. quc udorei fazer no Canccio". cxplica o artista. sem duvida na ultima cntrcvista antes dc umo intransfcriral tempo rada dc comcm-plaęao c calor, entre o Rio c Salvador. "Depois ć quc cu vou tirar mesmo ferias. Vou a Bahu “
O repertório bisko do show i o do LP dc ust ko Caetano Vetaso. lanęado nos Esta-dos Unidos cm 1986 c ha dois meses nacio-*ałt:odo pcla PołyGram: Trtlhos urbtmos. Cij>>. Coeaędo lOfśbmcb* Terra e Gd out o/ rou-w. esta dc Cole Porter, compdcm a historia do musico para os amerkanoa. O show, porem, vai muito akm do LP. com jóias riras da muska popular brasiletra como
Tref apłtas. dc Nod Rosa, cm plcno mes dos 80 anos do poeta dc Vila Isabd. Cacta-no Ydoso, quc icrapcc cantou c amou Nod Rosa. ochou “super bacana** a apanęao su-presa dc Jodo Gilberto nas radtos cariocas na ścinana passada. para ccdcr. dc madru-gada. urna gravaęuo inćdiU dc Pa/pite htfc* fc cm horocnagcm nos 80 anos dc Nocl Rosa. “Isso £ a cara dc Joio Gilberto. FJc nunca ttnha gravado Nod. Poi muito banita esta homenagem a Nocl Ro\a c ii tradi-ęao da MPB, justamente agora quc da foi tao dcsrocrccida neste Ikro dc Ruy Castro sobrca Bossa Nova (Gbrga de soutbde — A kistória e as históeias da Bossa NoraY\ diz.
A Bossa Nora nio teria o menor senlido sem a traćięao anterior ao movimcnto estć-tico criodo ha mnis dc 30 anos por Jolo Gilberto: “Li o livro com intcretsc. O os-sunto £ o mclhor possivd. mas o teslo £ arrogantc c a visio £ insuficicntc, sobrcludo cm rtiaęao i muska anterior i Bossa Nova. O livro do S£rpo Cabral sobcc o Almirantc. por cxctnpk>. ć muito mclhor do quc este do Ruy Castro”. Caetano Ydoso achou “cafo-na" o quc o autor fala dos compositorcs nordesnnos, cspccialmcnic a referenda pc-joratha aos sanfonctros c ao Vdho JunuA-no. pai dc Luiz Gonzaga:'isso £ urna cafa-jestada. Eu nlo sou nordestino. sou baiano. Mas o jcito quc cle fala dos nordestinos £ prcconccituoso. supostamente clcgantc. mas na vcrdadc muito cafona.”
Caetano Ydoso ironizou ainda a apre-
acntaędo do lisro como uma rardadcira historia da Bossa Novj. na rcalkladc chcia dc erros dc autonas. datas c cpisódios. “A nuior parte daqudas hislócias cu fi sabia. O Gilberto Gil iuo sabia porquc dc nio go*u muito dc histórias. Mas cu gosto c sabia de quasc todas. Nio fol só o Sćrgio Ricardo que sc manifestou contra o lino. Muitos do* mcus amigos tambćm, só quc nio vou citar nomes. O IWro ia contar tudo o que nio sc sabc c vcin chcio dc imprtci-sócs. O assunto £ quc £ nurasilhoso". diz. Ek sou be quc muitos artistas prefenram sc calar dianie do lino, mas dcddiu cornpra* pubUcamcnlc uma nova pokmica: “Pode pubbear tudo o quc cu digo.“
E. ao mesmo tempo, teata desfarer ou-tra. o dc quc teria brigado com autor teatrnl Gcrald Thomas, durantc a rcccntc maniona ammldtatt no Muscu dc Arie Moderna (MAM). “Eu chnmci cle dc Gtraldo para brincar com a historia do Mano dc Andra-dc quc ctumava Oswald dc Oswalda. Ele saiu da mesa porąuc tinha um comprontis-so. Nao brigamos. Ac ho o Gcrald Thomas um croquc quc troinc a quatio da cnccna-ęao para um nivd tio alto quc cIcyou toda a cnccnaęao no BrariT, doga. Os ingressas do Circo Yoador custam CrS 1.500 (arqui-bancada) c CrS 2.000 (lugar d mesa) c cstdo d \cnda tambćm nas lojas dc classificados do JORNAL DO BRASIL A banda £ for-mada por Maręalzinho (pcrcussao), Marcelo Cosiu (pcrcussao) c Toni Costa (violio).
Caetano
Bossa Nova
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ŁL \ um clima dc surprcia joOo^iłbenuma no show Gromki muucos. pMttf amigos. hojc as 2lh, no Scala II. para ajudar o canior Lucio Ahres, dc 63 anos. rccćm operado c. portanto, onpcdido dc trabolhar. O própńo canior Jodo Gilberto. quc tdcfooou dunntc um m£s loda i mi dr ugoda para o amigo Lucio para garaniir a sua presenęa. dceidiu cancdar a sua partkipaęio. O motiro ofktal seria um seposto acordo vcrbal com a grava-dora Pd>Gram de ndo rcalizar sbows antes do Unęimcruo dc um LP (o próumo dc Joao Gilberto saink cm maręo c o centralo formaI cstabclccc apenas quc Joao dc%c favorcccr a dmilgaędo do disco). O estraoficial koi urna radkal a\tnio a cspctaculo-fcsinal. com mui-los artistas e muita confusio. HA indicios, porem, de uma aparięio surpresa: o advogado de Joio, Roberto Akrami, nundou comprar ingressos, dc CrS 3.000, c estank na platćia. Surpresas i parte, es tio garantidos os numc-ros com Tom Jobim. Os Canocns, Tito Mndi. Albeno Chimcli. Leny Andradc. Alcionc. Maurkio Einhom c qucm mait chcgar.
O canior Lucio AUcs. quc estreou “d£ mc nor" em 1941 no Cassino AlUnuco num show sobrc Nod Roso. esta indignado com o bolo do “cx-nmigo“ Joio Gilberto. “Ek £ louco. £ docntc. Mc ligou um mes dc modni-gada paro dtzer qoc cu era o maior c quc U la cantar com u filha Debel. Eu nem podia a tender ao tdcfonc c dc mc tetefonondo nos boró-rioi maił estranbos. Agora \tm com cssa dc contrato com a gratudora. Meu negócio foi como Joio cek oio£ mon mcu amigo". disse o canior. cperado este ano dc um aocuhsma na aoru c, quc. cm fcmtiro. óot sc submeter a uma nova opcraęio dc bćrnas. Muito docn-Ic, Ludo Alves lamb£m nlo podera ir ao Scala II. “Acbo quc nio \ai dar. mas vou ccntar**, disse o c\-inicgrantc dos antdógicos coojun-
homenagem a Lucio Alves
_ Ovu<gaę4o — Sargk) Arauno
to* Namorados da Luj c Anjos do Infcmo “Ek rvk> rai fo/cr fału. Euou (diz com mcus amigo* que vao."
O espet aculo foi idealizado pe!os amigo* Albeno Chlmclh (diretor musical do cspcticu-lo) c Adilson Dias para ajudar o artista quc ju nao pode Irabalhar muis c sempre sńcu da sua soł Caetano Ydoso, quc lani bero foi consi-dado por Joio Gilberto duranic um m£s dc tdcfonc mas, nio podera Ir porqoc cstrćia hojc ro Circo Yoador. Lucio Alvcs. um memno prccocc quc ao* 14 ano* ja \ivia "ainigado" comcęou a cantar cm radio ainda crunęa c entrou pcla phmeira vcz num csludio em 1941 para fravar com luurinha Garda De tamten* em com er ut — cljiuco dc scu repertório qoc sera mterpretado pcla parccira dc shows Don* Monteiro. Euio ainda no repertório Fafui de
uma cidade. Pra dt:er aJeta. Copoeafhma. O hurytmho
Prccursor c integrante da Bossa Nova — “Eu. o Dick Farney. o Jo3o Donato c o Cirios L>ra not rcunuimos na cau da Nara“ — Lwno Alvcs sempre puuna a Usta dos bossa-novista* por ja ter um nonie estourado na ćpo«a ale no* Estados Unidos, como acompa-nhantc da cantom Carmcm Miranda. O canior. porem, entrou cm dcprcsslo com o apare-dmento da Jovcm Guarda c afastou-sc da midia. Yisc dctdc csu ćpoca dc shows periódi-cot pcio Brasii. Nao esta dcsiludido com o mocncoio atual da MPB — “boje tcmos Emilio Santiago. Iran Um c Gonziguinha“ — c nio pretende dciaor dc ca nur — “ossira q jc puder cu st>lto“— c. como sempre muito ro-mlntko. cantar i o amor.
Abert codifica etica na łuta pela audiencia
A V E N I D A
MAtS CENTRAL DA CJOADE.
mJRASlLlA — O nu frontal c o teso cipb-ato podcm ficar dcTmitivansefitc bantdos da programaedo das cmissora* bratileiras de idc-słsdo, liberaodo-se apenas "a msinuoęio (5e conjuncAo icsual sem csposiędo dc ato ou do* corpos. sem bei>>s lascisos ou crothmo eonu-derado *ułgar“ — cenas que poderum ir ao ar após as 20h —. c o nu dotsal ou laieral. “dctdc quc focaluado* a disianoa. ou desfocado. ou com tratomento quc roubc a deftmcao esata dos corpos. sem mostr.tr os órgao* c parte* scxuah“. e mesmo aisira apenas após a* 23h. Cenas qoc ensohim “o uso dc tóskos, o atcoolismo c o skio do jogo*" só poderao tr ao ar k “apresentadas como praticas condcni-scis, socut c moralmctuc. prosocadoras dc degradacjo c da ruina do ser hurtuno~ Cenas dc nrostituicJo c homos*exualitmo cMarao tob ngorcKj tśgilancia c definitisamcntc stda-das ao mc nos ate as 20h
Estas Go algunus das regras impotUs pdo noto Código dc Ltka da RadkHlifuGo Braw-kira preparado pcla Atsociaęao Braulcira dc l mit*oe.i\ de Ridks e Tcksklo (Aberu c en-tregue ao rmnistro da Jutiięa. Jarba% Pa%wm-nho. como jttcriutita a portarta do pncrm» quc inttiuiu j clastifcacao indicaiórta por
fairas ctarios c horirios para as di\acrsócs publicas. O Código, quc só óc\xri ser aprota-do formalmcntc pcla Abert era 17 dc janciro, prcv£ a mudanęa no Consclbo da institu^Jo. com os seszs filudos ccdcndo o ctpaęo de fiwaluadorcs a reprtscruantct da sockdadc.
Ao eon tri no da suscinta poctaria ossmada pdo mmistro Jarbos Pas*ariabo cm 19 dc outubro passado c quc as cmissoras esperam \tr c*quccśda. o Código dc trica. proposU de auto-rcguiamentaęao da Abert. £ estenu Sio 12 pigmas c inclui dctdc a fiucao dos crite-niH para quc as cmissoras potum com cUrc/a ta ber o quc pode ir ao ar c cm quc horano. ate uitu tenutira dc rrsoltcr as dnputa* entre as cmissoras por pessoaL Attim. tob pena dc ser ocutado dc comporumcnto actico. uma cmissora nao podera mait promom “o aliciamcn-to dc ortiaos c pesseul contratados. entenden-do-tc como lal o cdcrcctmcnto dc propos!j a (Vtvwl pcrtriKcnte aos quadrot de coocorrco-te*, cm plena tigćncia dos contratoa por pro/o det ermmado c larefa". T r watki o cm miiidos. a Abert propoc quc diegue ao fim a guerra dc htsiidom entre as cmitvor.it petot p.istcs das c^lrelas dc nosclu. jomalitmo c p/ogramas dc sanedades. uma dKpuia quc entoUc tempre propoMas c comratot milioiurun c acirra am-1 da nuis as dhput Jt entre ot toiworicnics
B
ELO HORIZONTE — Ao laoęar nes-la Capital o livro Chega de saudade. do jornalista Ruy Castro, o projeto Sempre um Papo nio estava complctando apenas 150 cncontros, um marketing cultural quc retirou dos limites acadćmicos discussócs sobrc livros c tcmos polćmicos Em quasc cinco anoo dc CKistciKtu. tornou-se uma dis mai* bem succdidas iniciativas do g£-nero no pals, sob a forma dc microempresa. com objciivo sobretudo de divulgar os lanęamcntos do mercado cditorial.
Com um publico Hel. Sempre um Papo j£ rcuniu — segundo cókulos do crltico li terano Afonso Borges, o pai da id£ta c coordcnador — 30 mil pctsoas c 400 coń-yidados. 138 dclcs vindo* dc outros estados c alć do cxtcbor, como o filósofo fran-c£s Jean Baudrillard.
Desfibram pcla mesa dc debates gćncros c cslilos tao ditparcs como Abgar Renault c Arnoldo Anluncs.
Paulo Coelho c Darcy Ribciro. Ha-roldo dc Campos c Adćlia Prado, c dczc-nas dc outros.
Praticamenie nc-nhum autor naoonal quc lc\c scu hvro nas lisia* dos mais \cndi-dos ficou dc fora. como Zucmr Yentura. quc comparcccu duas seret para Cahr dc 1968 - O ano que nóo terminon c sua premiad j serk dc reponagem sobrc o sindkaksu c sennguetro Chko Mendo. O projeto marcou pornos ao promorar um cncootro mcmorascl como o do jomalisu Gilberto Dimenstein. autor da RepMica doi padnrdioi. com o cvmtnrsiro Antbal Tcucira. na £poca, a gosto dc 1988. cmbaraęado com insotigaęóes sobrc apidnnhamcnto dc parentes na hbcraęao dc ser bas pubbeas.
O ponto masimo do Sempre um Papo foi ccnamcntc a rcuniao do CKntof Fernando Sabino com o pycanalistj H£lx> Pcllcgnno. numa das suas ultimas apanęóct publicas. A icntativa imcial era rcumr tambćm Otto Lara Resende c Paulo Mendo Campos, refa/endo. quatc 50 anos depois. o quurtcto dc amigos imortahzado no romance ftirrur-trn Mar codo. dc Fernando Sabino. Como no dcsfccho do romance, comparcccram Ipciun doi* amigos ao cncontro. mas foi o
prejuizo*
Num
Mjftocnic para cmocionar a platćia quc lo-tara a casa dc cspciacukyt Cabarć Mineiro.
“O pubbco \ai simpksmente porquc cunc , ji quc nJo k*m coquctd. nem bocudirrem. bnnea o jomahsta Afonso Borges. 29 anos. quc sc profissionalizou como produtor cultu-rai a partu dcvsi programoęao, cm 1986. quando era apenas uma consena dc Kar com escritores famosos. Gcralmcntc ao orgamrar lanęamcntos dc Ihros. ek tem apoio da cdi-tom do uwtor. qix bancu dopesas com pas-ugen* dc a\Go c hotci c dc jomms c cnikw ras dc radio kcais. quc fazem a diralpaędo. O retukado ć quc os Ihros tao toMunlc dmilpi-do*, o publico compurccc ao debate c Sempre lin Papo (oz sucesso.
“Pode nao dar lucro. mas tambćm nao di diz Afonso. NJo fot sempre assim. dos primdros cncootro*. ek tera dc parcclar cm II prcstaęócs as passigens dc aviiio para Dćoo Ptgnatan c %ju-se cm apu-rot para pajpr o it>^-pcnido cachć cobrado peło poeta.
Esse contato com intclcctuais agrada muito a Afonso Borges c ć um dos mon-sos quc o frzeram k-var cm frente o Sempre mn Papo. qtK tem apoio do jornal local Naje em Dia% no qual cle publka rcsc-nhas litcrórias. Com mais duas pessoas. ek acaba dc montar uma empresa. a Cultura BrasiSeira Marketing e Idćus. quc ęntre ou* tros projetos tocara o Sempre um Papo.
Afonso Borges nio pretende. porem, abandonar a principal caractcrislica do Sempre um Papo: sua infcrmahdadc. quc aproxima esaitores c pubbco. A iniciaura nasccu dc uma conrarsa entre dc c um amigo. quc comcniaram com simpatia o* show* do poetmha Vinkius dc Moraes. sempre regados a tibqoc c temperados com muita conrarsa.
O pubbco £ composto pnncipalmcntc dc unirarsitartos e cokgiais. mas pode ranar muito. dc acordo com o tema c o debatedor. O tui Ar na Ido Antunes rcuniu principal-menie roquciro* c tornou-se um dos maio-res succssot do Sempre um Papo: quasc 500 pessoas compareccrum. Sucesso ainda maior foi o debate com o antropólogo Darci Ribciro. cm 1987. quando quasc 700 pessoas foram racncontra-lo na \ua volta a Mina*.